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1. INTRODUÇÃO

3.8. Avaliação da deleção CFHR3/CFHR1

A genotipagem da deleção CFHR3/CFHR1 foi realizada por meio de PCR. Com apenas 1 par de primers foi possível amplificar produtos de regiões diferentes, uma região no gene CFH e outra que abrange os genes CFHR3/CFHR1, sendo possível devido a quase idêntica homologia que há entre essas regiões, resultando em dois fragmentos de tamanhos diferentes, com 325 pb e 381 pb respectivamente. Foi utilizado, então, um par de primers cujo sense foi 5’-

CTCTTCTTTTTCTGCATCTGC-3’ e antisense 5’-

ATTGCTGCTTATGGTAGATCAGG-3’,137 tampão da enzima (Tris-HCl 20mM (pH

8,4), KCl 50mM, MgCl2 1.5mM, gelatina 0,01%), mistura de nucleotídios (dATP, dCTP, dTTP, dGTP) 0,2mM e 1 unidade de Taq DNA polimerase (Invitrogen Life Technology, Gaithersburg, MD, EUA), somados a 0,5µg de DNA genômico. As temperaturas e duração dos ciclos foram: desnaturação inicial a 95°C durante 1 minuto; 35 ciclos de desnaturação a 94°C durante um minuto, anelamento a 58°C durante um minuto e alongamento a 72°C durante um minuto; extensão final de 72°C durante 7 minutos e conservação a 4°C.

Ao final da reação, 3 μL do produto da PCR foram misturados a 1 μL do tampão de corrida 10X Blue Juice·Gel Loading Buffer (InvitrogenTM·Life Technologies, Carlsbad, CA, USA) e submetidos à eletroforese em gel de agarose 1,5% corado com brometo de etídeo e observados sob iluminação ultravioleta. Os fragmentos amplificados foram comparados ao marcador de peso molecular 100bp DNA Ladder (InvitrogenTM·Life Technologies, Carlsbad, CA, USA). Figura 11.

Figura 11. Eletroforese em gel de agarose 1,5% para visualização dos genótipos da deleção CFHR3/CFHR1. Indivíduos com bandas visíveis para ambos os amplicons (1, 2 e 3) foram classificados como não homozigotos para a deleção e o indivíduo apresentando somente a banda do gene CFH (325 pb) (4) foi classificado como homozigoto para a deleção. O número 5 se refere ao marcador de peso molecular 100bp DNA Ladder (InvitrogenTM·Life Technologies, Carlsbad, CA, USA).

3.9 Análise estatística

A análise estatística foi realizada por meio do software estatístico SAS (Statistical Analysis System, versão 9.4, SAS Institute Inc, 2002-2008, Cary, NC, USA)138, 139, 140 para investigar a interação entre as variáveis idade, tabagismo, sexo, polimorfismo no gene CFH e deleção e a DMRI e seus estágios. Os testes do chi- quadrado e exato de Fisher foram utilizados para comparar variáveis categóricas. Os testes de Kruskal - Wallis e Mann – Whitney foram utilizados para comparar variáveis quantitativas. As análises de regressão logística univariada e multivariada foram utilizadas para investigar fatores de risco para a DMRI. Valores menores que 0,05 foram considerados estatisticamente significativos. O equilíbrio de Hardy- Weinberg foi utilizado para analisar a distribuição genotípica nos grupos caso e controle. O cálculo “post-hoc” do poder da amostra foi realizado por meio do programa ClinCalc, disponível em http://clincalc.com/Stats/Power.aspx.

4. RESULTADOS

4.1 Dados demográficos

Trezentos e quarenta pacientes não relacionados foram envolvidos nesse estudo, sendo 175 pacientes com DMRI (grupo caso) e 165 sem DMRI (grupo controle). 130 pacientes tinham a forma avançada da doença, 45 tinham a forma não avançada, 66 tinham DMRI seca e 109 tinham DMRI úmida. Dados sobre idade, gênero e tabagismo, referentes aos estágios e formas da doença e ao grupo controle encontram-se descritos na tabela 1. A média da idade no grupo caso foi significativamente diferente do grupo controle (p = 0,047) (teste de Mann Whitney). Quando os casos foram estratificados por estágios da doença e tipos de DMRI, a diferença se manteve, com p = 0,01 e p = 0,048, respectivamente (Teste de Kruskal- Wallis) (Tabela 2).

Quando as variáveis idade, gênero e tabagismo foram avaliadas em relação ao risco de desenvolvimento de DMRI, não houve diferença entre gênero e tabagismo para nenhuma das categorias da doença, mantendo-se significativa a variável idade (p = 0,0007; OR = 1,05) (Tabela 3).

Tabela 1. Características de idade, gênero e tabagismo para pacientes e controles. Dados Descritivos

Gênero Tabagismo* n Média Idade (anos) Homens (%) Mulheres (%) Sim (%) Não (%)

Casos 175 74,44 74 (42) 101 (58) 78 (45) 97 (55) Avançado 130 74,45 58 (45) 72 (55) 60 (46) 70 (54) Não avançado 45 74,42 16 (36) 29 (64) 18 (40) 27 (60) Seca 66 75,27 31 (47) 35 (53) 32 (48) 34 (52) Úmida 109 73,94 43 (39) 66 (61) 46 (42) 63 (58) Controle - 165 71,40 78 (47) 87 (53) 42 (25) 54 (33)

Tabela 2. Características e comparação da idade dos pacientes entre as categorias de

DMRI e controles.

Variável Categoria N Média Mediana D.P Min. Max. p Método

Idade Casos 175 74,44 76,00 8,02 46 92 0,047 Whitney Mann - Controles 165 71,56 72,00 7,10 55 89 Avançada 130 74,45 76,00 8,04 51 92 0,01 Kruskal- Wallis N AV 45 74,42 76,00 8,08 46 87 Controle 165 71,56 72,00 7,10 55 89 Úmida 109 73,94 75,00 7,92 51 90 0,048 Kruskal-Wallis Seca 66 75,27 77,00 8,19 46 92 Controle 165 71,55 72,00 7,10 55 89

N AV= Não avançada; N= número; DP= desvio padrão; Min= mínimo; Max= máximo; p= probabilidade.

Tabela 3. Avaliação de fatores de risco associados à DMRI por meio de análise de

regressão logística.

Regressão logística univariada

Variável n Categoria p OR IC 95%

Sexo 340 M X F 0,3028 1,253 0,816 – 1,925

Idade 340 - 0,0007 1,051 1,021 – 1,082

Tabagismo 271 Sim x Não 0,8965 1,034 0,626 – 1,707 Genótipos CFH 340 CC x TT < 0,0001 3,829 1,920 – 7,635 TC x TT 2,269 1,409 – 3,655 TC/CC x TT < 0,0001 2,563 1,630 – 4,031 Del. CFHR3/CFH R1 340 Sim x Não 0,0097 5,315 1,499 – 18,850 Regressão Multivariada Idade 340 - 0,0022 1,048 1,017 – 1,079 Genótipos CFH 340 CC/TC x TT 0,0001 2,442 1,542 – 3,867

Del= deleção; CFH= Fator H do complemento; CFHR3= gene da proteína 3 relacionada ao gene CFH; CFHR1= gene da proteína 1 relacionada ao gene CFH; N= número; M = masculino; F = feminino; p= probabilidade; OR= Odds Ratio (razão das chances); IC= intervalo de confiança de 95%.

4.2 Análise genética

4.2.1 Polimorfismo Y402H no gene CFH

Através do teste chi-quadrado foi comparada a frequência do alelo de risco (C) da variante entre os grupos caso e controle, obtendo-se resultado estatisticamente significativo, sendo que a variante de risco C apareceu com maior frequência no grupo caso (47%) do que no grupo controle (31%) (p = 0,000014) (Tabela 4, gráfico 1), mostrando associação com a DMRI. Os resultados referentes à distribuição dos alelos antes e após a estratificação em estágios avançado e não avançado, formas seca e úmida quando comparados com o grupo controle ou entre si encontram-se na tabela 5.

A frequência genotípica também foi diferente entre casos e controles, sendo que os genótipos CC e TC apareceram com maior frequência no grupo caso (20% e 53%, respectivamente) do que no grupo controle (10% e 42%, respectivamente) (p = 0,0002) (Tabela 4, gráfico 2). Ambos os genótipos foram estatisticamente diferentes quando comparados ao genótipo de tipo selvagem TT (p < 0,0001), onde o risco maior foi obtido para a comparação entre os genótipos CC e TT (OR = 3,83). A combinação dos genótipos CC e TC versus o genótipo TT também resultou em um valor estatisticamente significativo (p < 0,0001). Após a regressão logística multivariada, a associação permaneceu somente entre os genótipos combinados CC e TC versus TT do gene CFH (p = 0,0001) (Tabela 3). Para verificar se houve estratificação no grupo caso e no grupo controle, nós avaliamos o equilíbrio de Hardy–Weinberg e encontramos equilíbrio em ambos os grupos, com p = 0,76 e p = 0,98 respectivamente.

Após estratificação do grupo caso em tipo (úmida e seca) e forma (avançada e não avançada) de DMRI os resultados mostraram-se estatisticamente significativos para os genótipos do gene CFH tanto para a comparação de DMRI úmida versus o grupo controle quanto para DMRI seca versus controle (p = 0,0004). A OR mais alta foi alcançada pelo genótipo CC versus TT quando comparamos o tipo úmida versus o controle (OR = 4,4). Somente o genótipo CC versus TT foi associado à DMRI seca comparada ao grupo controle. Quando combinamos os genótipos CC e TC versus o

genótipo TT nós observamos associação com ambos os tipos de DMRI (p = 0,0001). Porém, quando comparados os tipos seca versus úmida da doença, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos. Após a regressão multivariada a associação permaneceu somente entre os genótipos combinados CC/TC x TT do gene CFH na comparação DMRI úmida versus o grupo controle (p < 0,0001). Dados detalhados encontram-se na tabela 6.

Quando analisamos o grupo caso estratificado nas formas avançada e não avançada com relação aos genótipos do gene CFH, observamos que o genótipo CC foi significativamente associado com ambas as formas da doença quando comparado ao grupo controle (p < 0,0001), com o risco maior para a forma avançada (OR = 4,17). O genótipo TC versus TT foi associado somente à forma avançada comparada ao grupo controle. Quando comparamos a forma avançada versus não avançada observamos uma tendência maior de associação do genótipo TC versus TT para a forma avançada. Na combinação dos genótipos CC e TC comparados ao genótipo TT, os resultados mostraram que a presença de um alelo C é suficiente para aumentar o risco de desenvolver a forma avançada da doença quando comparado ao grupo controle (p < 0,0001). Quando as formas avançada e não avançada da doença foram comparadas entre si, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos. Após a análise de regressão multivariada, a associação permaneceu somente entre a combinação dos genótipos CC/TC versus TT do gene CFH na comparação DMRI de forma avançada versus o grupo controle (p = 0,0002) (Tabela 6). O cálculo post-hoc do poder desta amostra foi de 85,9% considerando-se um alfa de 0,05.

Tabela 4. Dados e análise das frequências alélica e genotípica da variante Y402H do gene

CFH entre o grupo caso e o grupo controle e entre os grupos estratificados por meio do teste chi - quadrado.

Genótipos CFH N (%) Dados Estatísticos

Casos [n = 175] Controles [n = 165] p OR IC (95%) CC 36 (20) 16 (10) 0,0002 3,83 1,92 – 7,64 TC 92 (53) 69 (42) 2,27 1,41 – 3,66 TT 47 (27) 80 (48) Referência Avançado [n = 130] Não avançado [n = 45] CC 25 (19) 11 (24) 0,06 1,29 0,51- 3,25 TC 75 (58) 17 (38) 2,5 1,13 – 5,53 TT 30 (23) 17 (38) Referência Úmida [n = 109] Seca [n = 66] CC 22 (20) 14 (21) 0,26 1,38 0,57 – 3,34 TC 62 (57) 30 (46) 1,82 0,89 – 3,74 TT 25 (23) 22 (33) Referência Alelos CFH N (%) Casos [n = 175] Controles [n = 165] C 164 (47) 101 (31) 0,000014 1,99 1,46 – 2,74 T 186 (53) 229 (69) Referência Avançado [n = 130] Não avançado [n = 45] C 125 (48) 39 (43) 0,4 1,21 0,75 – 1,96 T 135 (52) 51 (57) Referência Úmida [n = 109] Seca [n = 66] C 106 (49) 58 (44) 0,4 1,21 0,78 – 1,86 T 112 (51) 74 (56) Referência

CFH = Fator H do complemento; OR = Odds ratio (razão de chances); p = probabilidade; IC = intervalo de confiança de 95%.

Gráfico 1. Frequência alélica da variante Y402H no gene CFH em

casos e controles indicando que o alelo C apareceu com maior frequencia no grupo caso do que no grupo controle.

Tabela 5. Relação entre o alelo de risco C da variante Y402H e DMRI antes e após a

estratificação por meio de análise de regressão logística.

Variável Categoria p OR IC 95% Alelo C Alelo C Presença x Ausência < 0,0001 2,563 1,630 – 4,031 NA X Controle < 0,0001 1,550 0,789 – 3,046 A X Controle 3,137 1,885 – 5,222 A X NA 2,024 0,977 – 4,190 Úmida X Controle 0,0001 3,162 1,841 – 5,432 Seca X Controle 1,882 1,037 – 3,416 Úmida X Seca 1,680 0,852 – 3,313

AV= avançada; NA= não avançada; p= probabilidade; OR = Odds ratio (razão de chances); IC= intervalo de confiança de 95%.

47 53 31 69 0 10 20 30 40 50 60 70 80 C T n ( % ) Casos Controles

Gráfico 2. Frequência genotípica da variante Y402H do gene CFH em

casos e controles indicando que os genótipos CC e TC apareceram com maior frequência no grupo caso do que no grupo controle.

20 53 27 31 42 48 0 10 20 30 40 50 60 CC TC TT n ( % ) Casos Controles

Tabela 6. Avaliação de fatores de risco associados a DMRI após estratificação em tipos

úmida e seca e formas avançada e não avançada por meior de análise de regressão logística.

Variável Categoria p OR IC 95%

Regressão Logística Univariada

Úmida x Controle Genótipos CFH CC x TT 0,0004 4,400 2,007 – 9,648 TC x TT 2,875 1,634 – 5,059 Seca x Controle CC x TT 3,182 1,348 – 7,508 TC x TT 1,581 0,836 – 2,991 Úmida x Seca CC x TT 1,383 0,573 – 3,339 TC x TT 1,819 0,885 – 3,736 Úmida x Controle CC/TC x TT 0,0001 3,162 1,841 – 5,432 Seca x Controle CC/TC x TT 1,882 1,037 – 3,416 Úmida x Seca CC/TC x TT 1,680 0,852 – 3,313 Úmida x Controle

Del. CFHR3/CFHR1 Sim x Não 0,0423

10,013 1,297 – 77,286 Seca x Controle 2,967 0,655 – 13,432 Úmida x Seca 3,375 0,300 – 37,961 Regressão Multivariada Úmida x Controle Gene CFH CC/TC x TT < 0,0001 3,029 1,756 – 5,223

Regressão Logística Univariada

NA x Controle Genótipos CFH CC x TT < 0,0001 3,235 1,278 – 8,193 TC x TT 1,159 0,559 – 2,443 A x Controle CC x TT 4,167 1,959 – 8,864 TC x TT 2,899 1,703 – 4,934 A x NA CC x TT 1,288 0,510 – 3,250 TC x TT 2,500 1,130 – 5,533 NA x Controle CC/TC x TT < 0,0001 1,550 0,789 – 3,046 A x Controle CC/TC x TT 3,137 1,885 – 5,222 A x NA CC/TC x TT 2,024 0,977 – 4,190 NA x Controle

Del. CFHR3/CFHR1 Sim x Não 0,0560

1,993 0,436 – 9,113

A x Controle 11,957 1,552 – 92,153

A x NA 5,999 0,531 – 67,795

Regressão Multivariada

A x Controle Genótipos CFH CC/TC x TT 0,0002 2,989 1,795 – 5,006 NA= não avançada; A= avançada; Del= deleção; CFH= Fator H do complemento; CFHR3= gene da proteína 3 relacionada ao gene CFH; CFHR1= gene da proteína 1 relacionada ao gene CFH; p= probabilidade; OR= Odds Ratio (razão de risco); IC= intervalo de confiança de 95%.

4.2.2 Deleção dos genes CFHR3/CFHR1

A frequência geral da deleção dos genes relacionados ao CFH, CFHR1 e

CFHR3, em nossa amostra da população foi de 5% (17 indivíduos) e foi

significativamente maior no grupo controle (8,5%) (p = 0,0097). A ausência da deleção mostrou-se como fator de risco para o desenvolvimento da DMRI (Tabela 3, gráfico 3). Porém, quando o grupo caso foi estratificado por estágios avançado e não avançado e formas seca e úmida, os resultados não foram estatisticamente significativos (Tabela 6).

Após a análise de regressão logística univariada, nós observamos que a deleção foi associada com o tipo de DMRI úmida versus o grupo controle e tipo seca versus controle (p = 0,0423), onde o risco da sua ausência foi maior no tipo úmida versus controle (OR = 10,013). Porém, na regressão logística univariada das formas avançada e não avançada, a deleção não mostrou associação com nenhum dos grupos (Tabela 6). O cálculo post-hoc do poder desta amostra foi de 81,8% considerando-se um alfa de 0,05.

Gráfico 3. Frequência da deleção CFHR3/CFHR1 entre casos e

controles indicando que a deleção apareceu com maior frequência no grupo controle comparada ao grupo caso.

1,7 98,3 8,5 91,5 0 20 40 60 80 100 120 C/ deleção S/ deleção n ( % ) Casos Controles

5. DISCUSSÃO

O sistema complemento é o componente do sistema imune que ajuda na proteção contra patógenos e contribui para a homeostase fisiológica geral pela eliminação de células alteradas, necróticas e apoptóticas. Ele consiste de 40 proteínas e receptores de superfície celular e é dividido em três vias: a clássica, a lectina e a via alternativa que envolve o Fator H.141, 142 O principal papel do sistema complemento é de identificar e marcar as células como necróticas e apoptóticas para permitir uma limpeza não inflamatória.143

O CFH é um importante regulador do sistema complemento da imunidade inata.99 A variante Y402H afeta a ligação da proteína CFH à proteína C reativa e à heparina. A troca do aminoácido de tirosina para histidina afeta o domínio 7 da proteína, e consequentemente diminui sua capacidade regulatória.118 As proteínas CFHR1 e CFHR3 são também reguladoras do complemento e competem com o CFH pela ligação à sítios similares em C3b, diminuindo a função regulatória do CFH e consequentemente aumentando o dano celular. A deleção dessas duas proteínas aumenta a capacidade do CFH de se ligar à C3b devido à falta de competição, conferindo proteção contra processos inflamatórios e consequentemente contra o desenvolvimento da DMRI.96

Nosso estudo envolveu um total de 340 indivíduos: 175 apresentando DMRI (grupo caso) e 165 indivíduos não mostrando nenhum sinal da doença (grupo controle). O grupo caso foi estratificado por tipo (seca e úmida) e forma (avançada e não avançada); as frequências genotípica e alélica da variante Y402H e frequência da deleção CFHR3/CFHR1 foram calculadas em cada subgrupo.

Os resultados com relação ao tabagismo e a DMRI não foram significativos, estando de acordo com os resultados de Sepp e cols123 e contrário aos estudos de Seddon e cols71 onde o tabagismo foi associado ao estágio avançado da doença e Myers e cols,28 onde o hábito de fumar foi associado à progressão da doença e risco de morte. O hábito de fumar em nosso estudo foi calculado qualitativamente (fumante/não fumante), devido à falta de informações detalhadas tais como quantidade de cigarros por dia, anos de tabagismo e se os indivíduos eram ex-

fumantes. A falta de associação pode ter ocorrido devido às informações limitadas de cada paciente.

Alguns grupos de pesquisa têm encontrado diferenças significativas na frequência da DMRI entre homens e mulheres, apontando as mulheres como o grupo mais afetado pela doença.72, 73No entanto, nosso estudo não encontrou qualquer associação entre o gênero e o desenvolvimento da doença.

Em relação aos aspectos genéticos, o alelo C mostrou um OR de 2,56, que significa que indivíduos que carregam esse alelo apresentam mais de duas vezes a chance de desenvolver a DMRI quando comparados àqueles que carregam o alelo T. Indivíduos com os genótipos CC e TC tem 3,83 e 2,27 vezes mais chances, respectivamente, de desenvolver a doença quando comparados aos que carregam o genótipo TT. Esses resultados são similares aos observados na cidade de São Paulo, onde pacientes com o alelo C tinham 2,24 vezes o risco de DMRI quando comparados aos que carregavam o alelo T. Com respeito aos genótipos, indivíduos com somente uma cópia do alelo C tinham 1,36 vezes mais risco de desenvolver a DMRI, e pacientes com dois alelos C tinham 4,63 mais risco de desenvolver a doença.144 Os resultados foram semelhantes aos observados por Almeida e cols em uma população do estado de Minas Gerais, onde os pacientes carregando o genótipo CC tinham 7,2 vezes mais chances de desenvolver a doença.145

Os resultados em nosso estudo também foram similares aos do estudo de Soysal e cols em uma população da Turquia,146 onde o alelo C e os genótipos CC e TC mostraram riscos de 2,12; 4,12 e 2,22, respectivamente. Schaumberg e cols147 também apontaram um risco de 1,46 a 2,13 para os genótipos TC e CC, respectivamente, e Zareparsi e cols148 observaram riscos de 4,36 e 5,52 para os genótipos TC e CC, respectivamente. As associações estatisticamente significativas observadas em outras populações caucasianas mostraram ORs variando entre 2,4 e 4,6 para os portadores do genótipo TC e entre 3,3 e 7,4 para os portadores do genótipo CC.97, 99, 100

Após a estratificação dos casos em tipos e formas de DMRI, quando os subgrupos foram comparados com os controles, a presença do alelo de risco esteve associada tanto com a DMRI úmida como com a seca. Na literatura, a estratificação com relação aos tipos de DMRI é conflitante, com alguns estudos apontando o maior risco da variante para a DMRI úmida,149, 150 enquanto outros associam maior risco

para a DMRI seca.151, 152 Em relação aos genótipos, ambos (CC e TC) mostraram uma associação com a forma úmida, mas somente o genótipo CC foi associado com a forma seca. Quando a presença de pelo menos um alelo de risco com relação ao tipo da doença foi avaliado, novamente ambos os tipos, seca e úmida, mostraram associação.

Quando avaliamos a relação entre os genótipos do CFH nas formas avançada e não avançada da DMRI comparados aos controles, observamos que somente o genótipo CC foi associado com a forma não avançada e que os genótipos CC e TC foram associados com a forma avançada da doença, resultados semelhantes aos relatados por Chen e colaboradores.153Quando comparamos a forma avançada versus a não avançada, a única significância foi alcançada para o genótipo TC, que foi mais frequente na forma avançada. As frequências genotípicas da variante Y402H foram calculadas entre a DMRI seca e úmida, mas nenhum resultado significativo foi observado, similarmente a estudos anteriores.93

A deleção CFHR3/CFHR1 ocorreu mais frequentemente no grupo controle do que no grupo caso (8,5% e 1,7%, respectivamente). Sua ausência conferiu 5 vezes mais risco de desenvolver a DMRI quando todos os casos foram avaliados. Valores menores foram observados no estudo de Kubista e cols em uma população caucasiana (5,4% no grupo controle e 1,4% no grupo caso)135 e no estudo de Hageman e cols com descendentes europeus e finlandeses (5,7% no grupo controle e 1,1% no grupo caso) 129 e valores maiores foram encontrados por Hughes e cols com descendentes europeus (20% no grupo controle e 8% no grupo caso.133No entanto, o OR observado em nosso estudo foi maior, 5,32, contra 3,09. Após a estratificação, a presença da deleção permaneceu associada com o tipo úmido da doença quando comparada com o grupo controle, mas nenhum resultado significativo foi observado quando as formas avançada e não avançada foram analisadas.

Alguns estudos mencionados acima também analisaram a variante Y402H com a deleção CFHR3/CFHR1 para verificar se esses dois fatores apresentaram, respectivamente, risco e proteção contra o desenvolvimento da doença independentemente.

Hughes e cols realizaram uma análise de regressão logística para avaliar a contribuição relativa da variante Y402H e a presença ou ausência da deleção

CFHR3/CFHR1. Eles relataram que a deleção, quando combinada com a variante C,

o OR da variante diminuiu de 2,13 para 1,79. Do mesmo modo, adicionando a variante ao modelo de presença/ausência da deleção somente, o OR da deleção foi reduzido de 3,09 para 2,40, mostrando que a variante Y402H mostrou efeito sobre a deleção e vice-versa. Os autores concluíram que ambos os fatores apresentam riscos independentes para o desenvolvimento da DMRI.133

Contradizendo esse estudo, Kubista e cols lançaram a hipótese de que a deleção poderia ter um efeito protetor parcialmente causado pelo forte efeito de risco do alelo C da variante Y402H. Eles analisaram o comportamento da deleção

CFHR3/CFHR1, marcando um determinado haplótipo, combinado com as variantes

Y402 e H402 do CFH. Eles observaram que a presença da deleção e da variante H402 não ocorriam simultaneamente, aumentando a possibilidade de explicar um efeito protetor da deleção através da ausência de um haplótipo de risco. Os ORs para a deleção foram menores na ausência do alelo de risco C, confirmando que o efeito protetor da deleção ocorre parcialmente devido a uma ausência do alelo de risco nos indivíduos estudados. A regressão logística não mostrou qualquer efeito da deleção no risco da doença, enquanto a variante Y402H permaneceu altamente significativa.134

Essa analise não foi possível nesse estudo devido ao pequeno número de indivíduos apresentando a deleção no grupo caso. Todos os indivíduos que eram positivos para a deleção apresentavam o genótipo TT, indo de acordo com Kubista e cols.134 Futuros estudos com amostras maiores podem fornecer informações concretas e confiáveis com relação a essa questão.

Esse estudo apresentou algumas limitações. Não foi possível obter informações do hábito de fumar em vários pacientes, e entre aqueles que não fumavam os dados estavam incompletos com relação a quantidade de cigarros usados por dia, anos de tabagismo e outros hábitos. O tamanho da amostra pode ter sido um fator limitante para resultados significativos na diferença genotípica para a variante Y402H entre os grupos estratificados, bem como para a avaliação do risco relacionado a presença da variante Y402H e da deleção concomitantemente.

Há poucos estudos envolvendo a deleção CFHR3/CFHR1 e a DMRI. Isso significa que mais estudos, com amostras maiores, são necessários para uma compreensão maior do mecanismo dessas proteínas no controle do sistema

complemento. Para o nosso conhecimento, essa é a primeira avaliação do

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