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3. Avaliação do programa social RVCC

3.4. Avaliação do impacto do programa

Como referimos no subcapítulo 1.3.4., a avaliação do(s) impacto(s) de um determinado programa social nos seus utentes e nas condições sociais que pretende melhorar é a tarefa mais crítica no domínio da avaliação, ao visar objectivos últimos de qualquer programa social.

Iniciamos esta avaliação do impacto do programa RVCC, com a explicitação do que se entende por impacto: este conceito remete para o estado de uma determinada população-alvo ou das condições sociais que um programa social pretende mudar (Rossi, Lipsey & Freeman, 2004).

Também referimos, na nossa revisão de literatura sobre o assunto, que para a identificação de impactos relevantes num programa social, poderíamos recorrer à perspectiva dos stakeholders (i.e., os impactos que se esperam atingir com este programa de reconhecimento de adquiridos), através da leitura de documentos específicos do programa (teoria de impacto do programa, por exemplo) e, ainda, através de pesquisas relevantes de outras avaliações efectuadas sobre o programa. Por último, foi, também, afirmado que deveríamos considerar a possibilidade de existirem outros impactos não esperados (idem).

Se, para as duas primeiras fontes de identificação de impactos (i.e., perspectiva dos stakeholders e leitura de documentos do programa), foram já apresentados os impactos esperados por este programa, iremos de seguida debruçar-nos, nos impactos apresentados pelo Centro Interdisciplinar de Estudos Económicos (DGFV, 2004, 2007) e pela avaliação externa da Iniciativa Novas Oportunidades, levada a cabo pela equipa de investigadores da Universidade Católica Portuguesa, liderada pelo Eng. Roberto Carneiro (ANQ, 2009b, 2010).

O estudo “pioneiro” realizado pelo Centro Interdisciplinar de Estudos Económicos (CIDEC), entre Agosto de 2003 e Janeiro de 2004, a pedido da Direcção Geral de Formação Vocacional (DGFV), centrou-se na análise do percurso sócio- profissional dos adultos certificados até 31 de Dezembro de 2002. Os resultados revelaram que a probabilidade de um adulto desempregado encontrar uma ocupação remunerada aumentava de forma significativa (“a taxa de desemprego, que no início do processo é próxima dos 17%, é actualmente de apenas 13% para adultos certificados (…) num período (2001-2003) desfavorável do ponto de vista do mercado de trabalho em Portugal”; DGFV, 2004, p.61); paralelamente, nos indivíduos empregados os efeitos apontavam para um aumento salarial, essencialmente ao nível dos rendimentos mais

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baixos e entre os indivíduos trabalhadores por conta de outrem, após a certificação neste programa social. No último trimestre de 2004, o mesmo CIDEC levou a cabo outra investigação que, mais do que actualizar, veio “validar e reforçar os resultados alcançados com o anterior estudo, (…) tendo-se verificado, ao longo do período analisado, um decréscimo de 5,1 pontos percentuais da taxa de desemprego dos adultos certificados” (DGFV, 2007, p.51).

Relativamente à avaliação externa da Iniciativa Novas Oportunidades (ANQ, 2009b, 2010), levada a cabo pela Universidade Católica Portuguesa, antes de apresentarmos os resultados deste estudo de impacto, iremos descrever, os objectivos e metodologia utilizada, por esta equipa de investigadores. No que diz respeito aos principais objectivos, eles foram definidos da seguinte maneira: “pesquisar possíveis impactos entre os inscritos na Iniciativa Novas Oportunidades em diversas vertentes da sua vida; procurar diferenças entre os vários percursos da Iniciativa Novas Oportunidades; procurar características próprias do ciclo secundário; verificar se há modificações face aos padrões identificados no estudo anterior” (ANQ, 2010b, p.47). De salientar que os resultados do estudo anteriormente referido foram publicados em 2009 (ANQ, 2009b).

Relativamente à metodologia, o sistema de recolha de dados utilizado, por este estudo de impacto, foram as entrevistas telefónicas assistidas por computador (CATI), com cobertura territorial de Portugal Continental, tendo sido realizadas “1359 entrevistas válidas” (ANQ, 2010b, p.47). Mais se refere que a “amostra foi extraída aleatoriamente da base de dados SIGO, tendo um grau de fidedignidade cujo intervalo de confiança é de 2,71% a 95%, (…) no ano anterior, através do mesmo sistema e com comparabilidade, haviam sido realizadas 1500 entrevistas” (idem, p.47).

No que diz respeito aos impactos nas pessoas que frequentaram/certificaram processos RVCC, encontram-se os de nível pessoal, social e profissional.

Quanto aos impactos pessoais (chamados “ganhos do eu”), entre os principais ganhos detectados, encontram-se os ganhos de cultura geral (para 55,5% dos respondentes), “a vontade de continuar a estudar, o sentimento de segurança perante a vida e as competências sociais; maior vontade própria e melhoria das capacidades de relação conjugal, parentalidade, acompanhamento escolar dos filhos e cidadania” (p.51).

Ao nível dos impactos sociais e profissionais, nomeadamente nos saberes profissionais, “destaca-se como ganho generalizado uma meta-competência: 56% dos

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respondentes manifesta vontade de continuar a aprender profissionalmente” (ANQ, 2010b, p.52; Ilustração 24)

Ilustração 24 - Sentimento ao nível da formação profissional

Outro impacto verificado foi o aumento da procura de aprendizagem pós passagem pela Iniciativa Novas Oportunidades (Ilustração 25), parecendo contribuir para o “desenvolvimento de competências críticas na era da sociedade de informação e da economia do conhecimento” (idem, p.53).

Ilustração 25 - Procura de aprendizagem

ANQ, 2010b, p.52

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Por outro lado, a maioria das pessoas que responderam à entrevista telefónica atribui à sua passagem por esta política

pública o aumento de utilização da Internet para fins pessoais e profissionais (Ilustração 26), havendo incrementos em relação ao estudo anterior (67% para 83%).

Quanto à existência de outros impactos na vida profissional, esta avaliação externa revelou que, “32%4 das pessoas declararam “ganhos” (de competências, de relação com pares e chefias, de estabilidade no emprego e de aumento de responsabilidades sobre

terceiros)” (ANQ, 2010b, p.56), cerca de 10% declararam aumento de salários e 19% refere ter havido progressão na carreira devido à Iniciativa Novas Oportunidades. De salientar o facto de que ninguém relatou perdas profissionais decorrentes da sua adesão a esta iniciativa (Ilustração 27).

Ilustração 27 - Tipificação dos impactos positivos

4 Resolvemos manter este resultado de impacto profissional apesar de não encontramos a tradução desta percentagem no Quadro

“Tipificação dos impactos positivos”

ANQ, 2010b, p.54

ANQ, 2010b, p.57 Ilustração 26 - Utilização de

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Por último, refere-se a existência, em potência, de uma capacidade de reprodutibilidade analógica entre casais e intergeracional. Se, no primeiro caso, se verificou que quando um cônjuge se encontrava num processo de reconhecimento de adquiridos, existia uma “probabilidade superior a 12% de que o outro membro do casal também se inscrevesse nas Novas Oportunidades” (idem, p.59), no segundo caso, os dados no painel de avaliação de diferenciação entre inscritos e não inscritos na Iniciativa Novas Oportunidades, parecem indicar que, “atrair os adultos com filhos em fase escolar ou pré-escolar representa um ganho inequívoco no sistema de ensino clássico direccionado para as crianças”; ANQ, 2009f, p.16).

Para finalizar esta temática sobre avaliação de impacto, da mesma equipa de investigadores da Universidade Católica Portuguesa, saiu um outro estudo, em que mencionava a existência de “referências entre administradores de empresas reconhecendo que quem se envolvia na Iniciativa Novas Oportunidades tornava-se melhor trabalhador” (Lopes, 2011, p.311).

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