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AVALIAÇÃO DO PERCURSO FORMATIVO

No documento RELATÓRIO FINAL (páginas 54-58)

A elaboração deste relatório surge de uma ambição que passou pela construção de um projeto. Projeto esse que se transformou numa ação refletida, esclarecida e planeada com o intuito de atingir objetivos na prática clínica que permitam concretizar saberes e atingir competências. A realização deste relatório demonstra todo o percurso de autoformação que implicou a aquisição, mobilização de conhecimentos e desenvolvimento de competências, através das aprendizagens e das atividades efetuadas em contexto de ensino clínico, culminando assim, numa nova maturidade pessoal e profissional que se concretiza na passagem de enfermeira generalista para EEER.

Ambos os campos de estágio permitiram-me interiorizar a dinâmica e a extensão das intervenções do EEER, que se concretizam não só ao nível das competências técnicas e científicas, mas também ao nível de competências na área da relação interpessoal, da comunicação e da relação de ajuda, numa abordagem holística do cuidar. A mobilização destas competências na prestação de cuidados, possibilita a promoção do autocuidado, o alcance da autonomia na realização das AVD, assim como a aquisição de estilos de vida saudáveis. Através destas intervenções verifiquei como é possível à pessoa/família reajustar-se e até suprir limitações, alcançando assim, o seu lugar no seio familiar e social.

Ao refletir sobre os aspetos facilitadores deste percurso de aprendizagem, ressalvo a importância dos dois campos de estágio na comunidade, que me permitiram observar por um lado a realidade do EEER da comunidade com défice de recursos físicos e humanos, por outro, a realidade de uma equipa de enfermagem organizada com três EEER gestores de caso. Estas duas oportunidades de estágio permitiram-me observar e interiorizar a capacidade do EEER em adaptar-se à realidade onde presta cuidados e da importância em focar-se na qualidade dos mesmo, sabendo contornar as dificuldades com que se depara diariamente. Para

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além deste aspeto, destaco igualmente o contexto comunitário, como um local de diversidade de experiências, na minha opinião, muitas vezes desvalorizado em comparação ao contexto hospitalar.

Durante o ensino clínico posso salientar como constrangimento o facto da UCSP de Marvila dispor de recursos humanos escassos, sendo a orientadora a única EEER para dar apoio a toda a população inscrita na unidade; associados à escassez de recursos humanos, existe também neste local de estágio, limitados recursos físicos e materiais. Neste contexto como estratégia de resolução para contornar este constrangimento saliento a capacidade de adaptação a situações novas que desenvolvi, e que é indispensável ao EEER, e que me permitiu ser capaz de prestar cuidados de qualidade, isto porque, não são só as estruturas físicas e materiais que definem a qualidade dos cuidados, a postura e intervenção do enfermeiro é muitas vezes o mais determinante.

No que diz respeito a dificuldades sentidas, estas remeteram-se para a gestão de prioridades. No decorrer do estágio compreendi que a implementação de um plano de reabilitação, pressupõe que a introdução de intervenções não deverá ser em simultâneo, para que no final se obtenham ganhos em saúde produtivos. Ainda como dificuldades e limitações ocorridas no decorrer do ensino clínico, destaco a dificuldade em coordenar o estágio com a atividade profissional, dado que a direção do ACES à qual pertence a USF Oriente, não autorizou de bolsa para a realização de ensino clínico, o que levou a situações de alguma angústia e cansaço pela necessidade de compensar horas no serviço, que implicou prestação de cuidados durante um mês interruptamente, contudo, o apoio das colegas de equipa e das enfermeiras orientadoras, assim como, a componente motivacional, foi determinante no superar deste obstáculo.

Ressalvo igualmente as lacunas existentes no que diz respeito à ponte entre o contexto hospitalar e comunitário. Esta realidade é vivida diariamente no meu contexto da prática e foi transversal em relação aos campos de estágio. Observei notas de altas pouco detalhadas, num modelo biomédico e a carecer de intervenções de enfermagem realizadas, o que dificulta o trabalho do EEER na

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comunidade e exige que o mesmo dedique tempo a contatos telefónicos, com o objetivo de obter mais informações para melhor intervir.

No que concerne a propostas e sugestões de mudança remeto as mesmas para o nível pessoal, através da atualização dos conhecimentos e valorização que a formação não fica pelo términus da especialidade. A nível profissional, considero de extrema importância a realização de investigação, pois durante a elaboração do projeto de formação como principal limitação/constrangimento detetei o facto de na realização da revisão de literatura ter encontrado apenas 6 artigos científicos que remetem para a intervenção de enfermagem de reabilitação à pessoa após AVC em contexto domiciliário. Tendo em conta a lacuna anteriormente mencionada, senti necessidade durante o estágio de realizar uma avaliação dos ganhos em saúde nas pessoas após AVC na UCC Cuidar + (Apêndice XI), que apesar de não assumir todas as componentes de um trabalho de investigação, permitiu dar visibilidade a esses mesmos ganhos, cujos resultados, quando comparados com outros estudos realizados, são corroborados. Deste modo, enquanto futura EEER pretendo integrar grupos de trabalho por forma a dar visibilidade ao trabalho do EEER da comunidade, e da sua importância da sua intervenção junto da pessoa e família.

Tendo em conta a lacuna já mencionada, relativamente à articulação entre o EEER em contexto da comunidade e em contexto hospitalar; considero que será importante não só para a visibilidade do trabalho dos EEER, mas principalmente com vista à melhoria dos cuidados, que se invista definitivamente numa comunicação efetiva entre o hospital e as unidades da comunidade. Assim, aproveitando o recente estabelecimento de protocolos entre a USF e diversas unidades do centro hospitalar lisboa central, enquanto futura EEER pretendo junto da coordenação da USF Oriente propor um protocolo de articulação, não só entre os EEER do ACES Lisboa central, como também, entre as unidades hospitalares do centro hospitalar de Lisboa central. Considero, que um projeto desta natureza iria potenciar uma reflexão sobre a prática e, posteriormente, cimentar alicerces que permitissem ao EEER assumir-se como mediador, otimizando recursos de modo a que o planeamento e continuidade de cuidados fossem mais eficazes, com vista a uma melhoria da qualidade nos cuidados prestados.

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Para finalizar, considero positiva a avaliação do meu percurso formativo, tendo alcançado os objetivos propostos no projeto de formação. Para a concretização destes objetivos, revelou-se importante a escolha dos locais de estágio, a realização de planos de cuidados e dos jornais de aprendizagem, como uma oportunidade de partilha de experiências, emoções, sentimentos, confirmação de aquisição de conhecimentos, desenvolvimento de uma compreensão do processo de aprendizagem, bem como projetar ações futuras, que me permitiram melhorar a qualidade dos cuidados prestados enquanto enfermeira e futura EEER. Deste modo, através da reflexão crítica descrevi e analisei as aprendizagens vivenciadas recorrendo ao ciclo reflexivo de Gibbs como modelo orientador.

Considero igualmente, que desenvolvi uma atitude crítica e de reflexão, tendo adquirido competências que se assumiram como linhas orientadoras do meu percurso pessoal e profissional. Considero ter atingido o nível de perita tal como é proposto por Benner (2005) no seu modelo de aquisição de competências, no qual a enfermeira perita não se apoia num princípio analítico para passar do estado de compreensão da situação ao ato apropriado e compreende de maneira intuitiva cada situação.

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No documento RELATÓRIO FINAL (páginas 54-58)

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