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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento RELATÓRIO FINAL (páginas 58-61)

O aumento da prevalência do AVC associado à complexidade dos problemas sociais, económicos e culturais, trazem repercussões a nível da pessoa e sua família tais como limitações e restrições na sua participação na comunidade, sendo que estas requerem maiores cuidados no domicílio, onde a família é frequentemente sobrecarregada. Esta situação está diretamente relacionada com a enfermagem de reabilitação na comunidade que privilegia a reintegração comunitária da pessoa após AVC e sua família, promovendo o seu autocuidado e independência.

Segundo Rice (2004), prestar cuidados em contexto domiciliário significa conhecer e vivenciar a realidade da pessoa e família É um ambiente potenciador da proximidade, cooperação e estabelecimento de relações terapêuticas, tão importantes na promoção e educação para a saúde. Possibilitar à pessoa após AVC os cuidados no seu contexto, revela-se menos penoso para a mesma, permite a sua participação e envolve a família. Assim, o domicílio assume-se como um local de destaque na prevenção e promoção da saúde, que permite a centralidade dos cuidados, associada a uma visão holística da díade pessoa-família, onde a personalização dos cuidados alia e o respeito pelos princípios éticos e deontológicos revelam-se promotores da reabilitação.

Tal como nos diz Burton & Gibbon (2005) um programa de reabilitação realizado com pessoa após AVC em domicílio, possibilita uma melhor compreensão da patologia, menor isolamento social e redução de stress emocional. Verifiquei que o domicílio proporciona bem-estar, potencia cuidados individualizados. Por seu lado, a evidência científica permite concluir que programas de educação para a saúde no domicílio, sugerem a assimilação de conhecimentos, no que se refere à patologia fatores de risco, aquisição de hábitos de vida saudáveis, bem como uma melhoria dos conhecimentos relativamente à gestão e adesão terapêutica que, posteriormente, permitem uma diminuição do risco de um novo AVC. Pude constatar durante todo o ensino clínico que esta evidência científica também se verificou

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durante o meu percurso de estágio, deste modo, a educação para a saúde será sempre uma premissa na minha prestação de cuidados enquanto futura EEER.

No que concerne à motivação a evidência científica aponta para a importância de encorajar e motivar a pessoa após AVC a melhorar a qualidade da comunicação e interação social, o que implica reenquadrar vivências individuais e aprender a viver com a sua nova situação. Assim, para além das necessidades de intervenção a nível da reabilitação funcional, há necessidade de um acompanhamento para minimizar o impacto do stress emocional da pessoa e família, motivando-a para a sua recuperação, sendo o domicílio um local privilegiado para que esta minimização do stress aconteça, facto que constatei em ambos os campos de estágio.

A prática de enfermagem rege-se na equidade designada para cada um, no que necessita ou pode tolerar, tendo como fim uma complementaridade, entre o cuidado prestado e as reais necessidades da pessoa/família. Assim, considero que as pessoas após AVC têm várias necessidades de cuidados de enfermagem, dependendo das alterações à sua saúde provocadas pelas diferentes lesões. Para minimizar essas alterações vão ter que encontrar formas de readaptação à sua nova condição de modo a satisfazer às suas necessidades de autocuidado. Neste contexto quando as diferentes atividades de autocuidado estão afetadas ou limitadas, a pessoa após AVC torna-se dependente de outros para as realizar, sendo aqui que a enfermagem de reabilitação ganha relevo, como detentora de saberes que lhe permitem avaliar os diferentes graus de dependência e implementar estratégias de intervenção com recurso aos métodos de ajuda propostos por Orem. Estes métodos podem ir desde a substituição da pessoa (agir ou fazer pelo outro); à transmissão de conhecimentos (educar); ao ensino de estratégias (instruir) ou treino de capacidades e AVD (treinar); ao apoiar física e psicologicamente e ao proporcionar um ambiente que promova o desenvolvimento pessoal, tornando a pessoa apta a satisfazer as suas necessidades de autocuidado.

De acordo com a DGS (2013) as doenças cérebro-cardiovasculares constituem a causa de morte mais relevante em toda a Europa, incluindo Portugal, destacando-se pela sua especial relevância o AVC. Em contexto de estágio da

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vertente sensório-motora, pude constatar esta realidade, sendo o diagnóstico de AVC o segundo predominante.

As incapacidades que advém do AVC levam a que a pessoa necessite de requerer ajuda para as AVD. No decorrer do estágio na UCC pude concluir que na admissão existiam 41,6% pessoas com grau de dependência total e apenas 8,4% eram independentes. Também o estudo de Ricardo (2012), demonstra resultados semelhantes aos encontrados em estágio, nomeadamente, 42% das pessoas no seu estudo, apresentavam dependência total na admissão. Na alta, verifica-se uma diminuição da dependência total e um aumento significativo da independência, com um valor percentual a evoluir positivamente dos 8,4% para os 58,3%. Estes resultados são demonstrativos de uma melhoria funcional das pessoas através da intervenção de enfermagem de reabilitação, indo de encontro aos resultados obtidos por Ricardo (2012), que demonstraram uma evolução de 3,7% para 19,2% em relação ao grau de independência. Tal como nos diz Legg (2004), existe evidência que a reabilitação de qualquer tipo de AVC reduz a incidência da deterioração funcional e mantém ou melhora as capacidades na realização das AVD, facto demonstrado na avaliação dos ganhos em saúde efetuada em contexto de estágio.

Através do conhecimento das intervenções promotoras do autocuidado, detenho um conjunto de saberes e competências que me permitem melhorar o cuidar da pessoa e família, conhecer as suas necessidades, barreiras e recursos, assim como possibilitam desenvolver estratégias, que permitam à pessoa alcançar a autonomia e a independência no autocuidado.

É através da produção de evidência científica que a profissão de enfermagem se destaca, sendo que de futuro pretendo apostar na área de investigação com o intuito de dar visibilidade aos ganhos em saúde, potenciados pelas intervenções do EEER promotoras do autocuidado.

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No documento RELATÓRIO FINAL (páginas 58-61)

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