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No processo educativo, a avaliação feita do e pelo aluno é de extrema importância. Para Moreira (1981, p.110), “é difícil conceber-se uma avaliação da qualidade do ensino sem levar em conta o que pensam os alunos, pois eles constituem a audiência para a qual o ensino é dirigido”.

Entretanto, conforme sugere o mesmo autor, devido à complexidade da avaliação, ela não deve ser feita somente pelo aluno, mas também pelo próprio professor (autoavaliação) ou pelo colega.

Moreira (1981), Tejedor e Monteiro (1990) consideram a avaliação feita pelo discente como a principal fonte de informação sobre a atuação do docente. O aluno, como bem apropria-se Brandalise (2012), deve se sentir sujeito da avaliação, ele não pode sentir a avaliação como algo externo.

Para Bouth (2013, p. 377), a avaliação docente feita pelo discente é necessária para garantir qualidade. Os autores recomendam a utilização de uma escala de frequência, na qual consta a repetição dos valores atribuídos aos indicadores de qualidade.

Segundo McIntyre (1977), o aluno pode julgar de maneira fidedigna o quanto o ensino do professor foi satisfatório. Entretanto, o autor alerta para o fato de que os estudantes não têm competências para avaliar o professor no que se refere a domínio de conteúdo e adequação do conteúdo às técnicas de ensino utilizados.

Nesse processo, o interesse central é o aluno e o professor deve se interessar sobre ele e atender às suas expectativas. Nardeau (1988) afirma que o aluno tem direito e obrigação de avaliar o professor.

Por ser o discente que está em contato direto e diário com o professor, Rippey (1975) defende que a avaliação do docente pelo discente tem razão de ser, pois o aluno pode observar o professor com olhar de cliente e de julgamento.

Na visão de Santo e Santos (2010), o professor durão sente um mal-estar na avaliação feita pelo discente, pois acredita que os alunos não são aptos para avaliá-los. É o que Bouth (2013, p. 378) chama de caráter retaliador hierárquico, no qual o aluno, muitas vezes, é o ponto fraco da relação, mas é responsável por julgar os professores.

Por sua vez, para resistir a fama de bonzinho, os docentes realizam uma avaliação injusta que “tendem a tratar os alunos conforme os juízos que vão fazendo a seu respeito, quando começa a ser jogado o destino desses discentes, para o sucesso ou para o fracasso” (BOUTH, 2013, p. 377).

Bouth (2013) entende que, nas instituições particulares, o ponto fraco da relação professor – aluno é o professor que se sente acuado ao ser avaliado pelo consumidor (aluno) quem deve ter seus interesses atendidos em razão do capital despendido.

Leite e Kager (2009) entendem que essas relações veladas entre professor e aluno gera sentimentos de rancor e ódio e vingança por parte dos professores. Para Moreira (1981), a avaliação não deve ser uma ameaça ao professor, mas uma oportunidade de contribuir para o seu crescimento pessoal e profissional.

Bouth (2013), Costa (2007), Santo e Santos (2010) citam o caráter punitivo de capital. “Esse ocorre quando o alunado usa da avaliação como instrumento de vingança por opor-se às práticas pedagógicas de alguns professores” (BOUTH, 2013, p. 377). Conforme o caráter punitivo, o professor pode ser trocado de turma, ter sua carga horária diminuída, ou mesmo ser demitido, tudo dependendo de como a gestão trata dos problemas mostrados pela avaliação docente pelo discente e pelo interesse que se tem em manter alunos e, com isso, o capital.

Os gestores devem explicar os objetivos da avaliação docente. Entretanto, Bouth (2013) descobriu em suas pesquisas que a gestão aplica o questionário docente bem apressadamente, sem esclarecer de maneira adequada o significado de cada pergunta e a importância da avaliação para o processo de ensino-aprendizagem, “é como se eles quisessem livrar-se o mais rápido possível dessa tarefa” (BOUTH, 2013, p.383).

A interação professor-aluno no contexto avaliativo, segundo Afonso (2005), é tida como uma relação de poder e imposição por parte do docente. Mas também pode ocorrer o inverso, já que, quando o professor passa a ser avaliado, eles julgam que os alunos não estão em condições de medir sua forma de agir e o seu saber.

O professor pode argumentar que os alunos não sabem avaliar e assim não usar os resultados da avaliação. É preciso que o docente use a avaliação como “um instrumento para averiguar o nível de proficiência da turma e orientar os futuros planejamentos pedagógicos; e, finalmente, uma forma de motivar e incentivar os alunos” (PAIVA; SADE, 2006, p.34).

Tahim (2011) acrescenta que cabe ao professor fazer escolhas, utilizando-se dos seus conhecimentos e experiências, de forma imparcial, buscando edificar o saber apreendido pelos alunos. E cabe ao discente utilizar a avaliação docente como forma de contribuir com a melhoria nas práticas de ensino. Entretanto, Moreira (1986), De Bem (2004) e Musetti (2007) acreditam que os alunos não possam avaliar o docente, devido à falta de maturidade.

Com o objetivo de que se compreenda melhor o tema abordado, apresenta-se o Quadro 2 com o resumo dos principais pontos sobre a avaliação na educação e a avaliação docente pelo discente.

Quadro 2 - Quadro resumo sobre a avaliação docente pelo discente.

Avaliação na educação Avaliação docente Avaliação docente pelo discente

Objetivos: definir estilos de gestão, valorizar currículos, identificar programas e legitimar saberes e competências.

Objetivos: melhorar o desempenho docente e ajudar na tomada de decisão.

Pode ser feita pela comunidade, egressos, discentes e os próprios docentes, dentre outros.

Objetivos: principal fonte de informação, melhorar a atuação docente, desenvolvimento de projetos de capacitação e consequente elevação da qualidade de ensino.

Avalia: a escola, o ensino, o professor, a estrutura, as relações, o compromisso social, o atendimento ao estudante, as atividades, as finalidades e as responsabilidades da instituição, dentre outros.

-Institucionalizada pela Lei nº 10.861 (SINAES), que exige a realização da avaliação a todos as instituições de nível superior

Avalia: Planejamento e gestão das atividades de ensino; o uso e a adequação dos recursos didáticos; o estilo de avaliar do professor; Comunicação e Interação com os alunos; a clareza e a objetividade na apresentação e no desenvolvimento do conteúdo ministrado, a pontualidade e a assiduidade do professor, dentre outros.

Avalia o docente.

-o docente pode não reconhecer a avaliação feita pelo discente

-pode ser motivo de vingança por parte do aluno para um professor que o deu uma nota baixa;

-existem os professores bonzinhos (bons de notas) e os durões (ruins de notas) e o aluno percebe essa diferença.