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Capítulo I: As bases científicas da restauração ecológica

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.2. Avaliação dos indicadores pelos atores da restauração na Mata Atlântica

a) Critério de seleção dos atores

Posteriormente à fase de listagem dos indicadores, foi iniciado um processo de identificação e seleção de profissionais, considerados “atores na restauração da Mata Atlântica Brasileira”, de diferentes instituições, em diferentes estados e regiões do país. Essas pessoas foram selecionadas por serem atuantes no universo da restauração, por desempenharem diferentes papéis, e por representarem diferentes setores da sociedade, a saber: (i) universidades, (ii) instituições públicas e privadas de pesquisa e desenvolvimento, (iii) órgãos governamentais – instância federal e estadual, (iv) terceiro setor, (v) prestadores de serviço ou consultores em projetos de restauração. Foram contatadas 42 pessoas, em 28 instituições, em 8 estados brasileiros (Quadro 9).

b) Coleta de dados

Os dados utilizados nesta pesquisa podem ser descritos como procedentes de fonte primária, coletados a partir do envio de formulários auto-administráveis (de acordo com NEIVA, 2009), no período de setembro a dezembro de 2010. Foi enviada uma carta aos especialistas (atores da restauração), explicando o processo e convidando-as a participar da pesquisa, e um formulário para avaliação dos indicadores Todas as etapas no processo de avaliação, do contato ao recebimento das notas foram realizadas via correio

Solicitou-se aos participantes que avaliassem o grau de importância (como em NARDELLI, 2001; NARDELLI & GRIFFITH, 2003), dos indicadores listados, numa escala crescente de 0 a 3, onde:

0 = o indicador não é importante, não deve ser considerado ou não serve para o contexto proposto;

1= Pouco importante; 2 = Importante; 3 = Muito importante.

Os indicadores listados foram avaliados, segundo sua importância relativa em momentos diferentes do processo de restauração, nas fisionomias presentes no Bioma Mata Atlântica, sendo:

Avaliação inicial = 2 a 3 anos; A curto prazo = até 10 anos; A médio prazo = 10 a 50 anos; A longo prazo = superior a 50 anos.

Ficou aberta também a sugestão de outros indicadores pelos profissionais, se considerado necessário, e ainda a possibilidade de fazer comentários gerais sobre os indicadores listados.

Os questionários recebidos foram separados por categoria e lidos, todos os comentários realizados pelos especialistas foram anotados, e as notas fornecidas foram transcritas para planilhas eletrônicas, utilizando-se o programa Excel.

Quadro 9: Lista das instituições dos atores envolvidos na restauração, selecionados para essa

pesquisa, sua categorização e estados de origem (OG = órgãos governamentais, e = estaduais e f = federais, PS = prestadores de serviço ou consultores, IPPD = institutos de pesquisa e desenvolvimento, UNI = universidades, TS = organizações de terceiro setor)

Instituições onde se inserem os atores consultados Categoria Estado 1. APTA OGe SP 2. BioFlora PS SP 3. CESP OGe SP 4. EMBRAPA IPPD RJ 5. EMBRAPA IPPD PI 6. ESALQ/USP UNI SP 7. FCA/UNESP UNI SP 8. Fundação Boticário TS PR

9. Fundação Florestal OGe SP

10. FURB UNI SC

11. Galopes PS SP

12. GTZ PS SP

13. IBAMA OGf RJ

14. Instituto Casa da Floresta PS SP 15. Instituto de Botânica de São Paulo OGe SP 16. Instituto de Pesquisas Ecológicas TS SP 17. Instituto Florestal OGe SP 18. Instituto Refloresta TS SP

19. LABRE - UEL UNI PR

20. Práxis Socioambiental TS SP 21. Seiva Projetos Ambientais PS SP

22. SOS Mata Atlântica TS SP

23. TNC TS SP 24. UFPE UNI PE 25. UFRJ UNI RJ 26. UFRN UNI RN 27. UFSC UNI SC 28. UFV UNI MG 29. WWF TS SP

Para avaliação do grau de importância dos indicadores, optou-se por utilizar a nota média, calculada para as notas fornecida pelos diferentes atores sociais. É importante colocar que essa média não foi avaliada como um valor quantitativo, já que se refere a uma variável qualitativa ordinal. A partir dessa nota média, foram analisados os diferentes tipos e categorias de indicadores, em diferentes tempos da restauração, considerando o contexto da Mata Atlântica brasileira, e as ações atuais de restauração no bioma.

A análise estatística neste trabalho foi realizada por meio do teste de Kruskall-Wallis. O cálculo das diferenças observadas entre grupos e dos seus respectivos valores críticos foram realizados seguindo a metodologia descrita por Siegel e Castellan (1988).

Foram levantados, dessa forma, os indicadores considerados passíveis de utilização na Mata Atlântica e, através deles, quais os aspectos a serem considerados tanto para o planejamento, quanto para a avaliação e monitoramento das áreas restauradas e em processo de restauração, segundo os atores incluídos nesta pesquisa.

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Seleção de indicadores para avaliação da restauração florestal

A partir da revisão bibliográfica realizada, e da discussão com vários pesquisadores e atores na restauração em diversas instituições, foi construída uma lista, incluindo 53 indicadores, referentes a 28 aspectos (ecológicos, econômicos e sociais) para o monitoramento da restauração, em 6 categorias (Quadro 10).

Foram listados 16 indicadores categorizados como físicos e estruturais, nove indicadores de biodiversidade, 13 de processos ecológicos, três de serviços ecossistêmicos, oito indicadores econômicos e quatro indicadores sociais. Ou seja, a grande maioria dos indicadores listados refere-se a aspectos ecológicos.

Como já discutido aqui, a SER (2004) considera os aspectos referentes à estrutura e diversidade, à presença de espécies nativas e de grupos funcionais e a um ambiente físico adequado como relevantes a serem observados numa área restaurada.

Foram levantados por Ruiz-Jaen & Aide (2005) indicadores relativos principalmente à diversidade, estrutura da vegetação e processos ecológicos, em ações de

As florestas tropicais são reconhecidas por serem altamente biodiversas e heterogêneas, por apresentarem altos níveis de endemismo, pela presença de interações planta animal complexas e altamente especializadas, pela ocorrência de processos sucessionais associados à dinâmica de clareiras, que garantem importantes mecanismos de regeneração. A cicatrização de áreas abertas através da regeneração depende da ocorrência de várias fases do desenvolvimento das espécies vegetais, desde a dispersão e germinação de sementes, diferentes fases de recrutamento e crescimento dos indivíduos, e mecanismos de reprodução das espécies. Esse ciclo é suportado por agentes polinizadores e dispersores, por mecanismos de herbivoria e competição, pela deposição de matéria e nutrientes sobre o piso florestal, entre outros processos.

A presença de diferentes formas de vida, animais e vegetais, de grupos funcionais diferentes são fundamentais para o funcionamento e dinâmica dessas florestas. A sustentabilidade desses ecossistemas está assim associada á estrutura e diversidade de espécies, à ocorrência de múltiplos processos e à sua resiliência, por isso a abordagem a vários indicadores que buscam enfocar esses aspectos.

Os indicadores encontrados nesta pesquisa, relativos ao monitoramento da restauração na Mata Atlântica brasileira, abordam os aspectos discutidos acima. A estrutura da vegetação está enfocada em indicadores como cobertura de copa, altura da vegetação, índice de área foliar, estratificação presente, área basal e biomassa, etc. Outros indicadores referem-se à avaliação do ambiente físico, como aqueles referentes a características do solo (como estrutura, fertilidade, teor de matéria orgânica e capacidade de retenção de água) e do microclima. A biodiversidade foi enfocada em parâmetros de riqueza de espécies (para espécies vegetais introduzidas e não introduzidas na área, arbóreas e não arbóreas, e para espécies de fauna de vários grupos). Foi abordada ainda a presença de grupos funcionais, como espécies de diferentes grupos sucessionais e com diferentes síndromes de dispersão. São vários ainda os indicadores de processos ecológicos, que se referem a interações (principalmente interações planta-animal), a mecanismos de regeneração natural (número de espécies regenerantes e densidade de plântulas, e presença de mecanismos como banco e chuva de sementes), e à produção de matéria orgânica e ciclagem de nutrientes.

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