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Capítulo I: As bases científicas da restauração ecológica

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Avaliação das publicações relacionadas com a ciência e a prática da restauração de ecossistemas

2.1.1. Ecologia da Restauração

Para observação dos rumos das pesquisas em restauração ecológica, em diferentes ecossistemas, num contexto mundial, foi feito um levantamento, utilizando a base bibliográfica ISI Web of Knowledge, dos artigos científicos, publicados em inglês, que apresentassem, em seus títulos, o termo “restoration”. O intervalo de tempo analisado foi de vinte e oito anos, de 1980 a 2008.

Para incluir artigos que se relacionassem diretamente à discussão sobre a restauração ecológica, ou à descrição de projetos de restauração em diferentes ecossistemas, optou-se pela seleção de treze periódicos referentes à área ecológica/biológica, disponíveis na base utilizada. Foram selecionados, os seguintes periódicos: Restoration Ecology; Ecological Engineering; Conservation Biology; Biodiversity and Conservation; Journal of Applied Ecology; Forest Ecology and Management; Environmental Management; Science; Applied

Todos os artigos foram incluídos numa lista para verificação, e, a partir dos seus títulos, foi feita uma primeira triagem, de forma a excluir os artigos que não se referiam à restauração ecológica ou restauração de ecossistemas. Dessa forma, foram excluídos artigos referentes à área médica e odontológica, a obras de engenharia ecológica, e também artigos na área biológica, cujo enfoque do termo restauração não condizia com aquele proposto para esta pesquisa.

Os artigos selecionados foram categorizados, inicialmente, em “artigos teóricos ou conceituais” (AT) e “estudos de caso” (EC), como em Petenon & Pivello (2008).

O intuito aqui foi o de selecionar e categorizar os arquivos em (i) aqueles que poderiam embasar a discussão sobre as bases teóricas da restauração ecológica, bem como seus principais conceitos e definições, e auxiliar na construção de um histórico e linha do tempo sobre a restauração ecológica (AT); e (ii) aqueles que apresentassem métodos e técnicas para a restauração de diferentes ecossistemas, e que discutissem o planejamento da restauração, bem como o processo de avaliação do sucesso da restauração, a seleção de indicadores, e outras questões pertinentes para a restauração desses ecossistemas (EC).

Todos os artigos foram ordenados no tempo, a partir do ano de publicação, e foi feita a contabilização de artigos por periódico.

Os artigos teóricos e/ou conceituais foram acessados e checados um a um, para confirmação da categorização. Vários categorizados inicialmente como ATs foram repassados para a categoria ECs. O mesmo ocorreu para vários artigos inicialmente categorizados como ECs. Para os artigos cujo acesso via internet não foi permitido, foram checados os abstracts disponíveis.

Como muitos dos artigos inicialmente classificados em “estudos de caso”, referiam-se à recuperação de áreas degradadas e a métodos e projetos de remediação ambiental, e não necessariamente ao assumido aqui como “restauração ecológica” (tendo por base a definição de restauração ecológica difundida pela SER – Society for Ecological Restoration), os artigos foram divididos em três categorias: estudos de caso em “restauração”, com enfoque na restauração ecológica, “recuperação de áreas degradadas” e “remediação ou biorremediação”.

O enfoque dos estudos de caso foi investigado, inicialmente, a partir dos títulos dos mesmos, a partir da busca por palavras-chave (por exemplo: evaluation, success, indicators, soil, forest, policies ou political, social, participation, alien ou exotic species

Os artigos categorizados como estudos de caso em restauração ecológica foram checados ainda, para registro do tipo e localização (ocorrência) do ecossistema-alvo.

Os ecossistemas restaurados ou em processo de restauração descritos foram agrupados em: (i) Campos, pradarias, e outros ecossistemas dominados por gramíneas e herbáceas; (ii) Ecossistemas florestais (florestas nativas e plantações florestais); (iii) Ecossistemas Costeiros; (iv) Áreas úmidas; (iv) Ecossistemas ripários; v) Ecossistemas lóticos (rios, riachos e canais); (v) Ecossistemas lênticos (lagos) e (vi) Outros ecossistemas.

Nos estudos de caso (ECs) levantados, foi feita uma verificação, a partir dos títulos e abstracts, para saber quantos e quais desses artigos (i) referem-se a discussões ou estudos e projetos em ecossistemas florestais, (ii) referem-se a ecossistemas florestais em regiões tropicais.

No que concerne aos artigos teóricos e/ou conceituais, pretendeu-se que a leitura criteriosa e avaliação dos mesmos pudessem auxiliar na definição dos principais pressupostos teóricos, e bases conceituais, que relacionem a ciência ecológica com a restauração de ecossistemas naturais degradados.

2.1.2. Restauração ecológica de ecossistemas

Para a avaliação dos artigos referentes à restauração de ecossistemas florestais, a idéia foi a de se fazer uma análise mais aprofundada dos estudos de caso, quanto ao enfoque principal, pressupostos, métodos descritos, dificuldades, demandas e desafios.

Foram listados todos os artigos categorizados como estudos de caso, que abordaram a restauração de ecossistemas florestais, em vários países. Destes, foram selecionados os artigos que apresentaram ou discutiram ações de restauração realizadas, a fim de suplantar características específicas advindas do processo de degradação e conseqüente necessidade de restauração, ou aqueles que apontaram enfoques específicos para a necessidade

Como nem todos os artigos estão disponíveis na íntegra para consulta, e a intenção foi a de se utilizar a mesma metodologia de análise para todos os artigos, optou-se por consultar os abstracts dos mesmos, onde foram checadas as práticas e ações de restauração apontadas (ou mesmo citadas) pelos autores.

Essas ações foram analisadas e categorizadas segundo as doze categorias de filtros ecológicos propostos por Hobbs & Norton (2004) e Nuttle (2007) – Quadro 02.

As ações descritas foram categorizadas pelo tipo de filtro a que se referiram, dentro das categorias de filtros bióticos e abióticos. As ações que teriam ou tiveram efeito sobre mais de um filtro, foram classificadas em mais de uma categoria. Posteriormente, os artigos que se referiram à restauração de ecossistemas florestais tropicais, foram ainda lidos e analisados segundo seu enfoque principal.

Os critérios adotados para a avaliação e classificação dos artigos analisados nesta pesquisa encontram-se resumidos na Figura 2.

2.2. Análise cronológica das pesquisas

A análise da ciência ou área da restauração ecológica, a partir de uma perspectiva temporal, foi considerada interessante para compreender os rumos dessa área do conhecimento nas últimas décadas. Essa análise compreende, inicialmente, e de forma muito incipiente, uma descrição das discussões sobre restauração ecológica e ecologia da restauração, e uma tentativa de se construir uma linha do tempo, com os principais avanços e tendências, no período definido para essa pesquisa, ou seja, de 1980 até o presente.

Essa análise foi dividida em dois temas-chave: (i) o conceito de restauração, e (ii) o conteúdo da restauração, ao longo do tempo.

Para desenvolvimento do item (i) conceito, foi feita uma coletânea, dos diferentes conceitos e definições publicados para a Restauração Ecológica, no tempo, e avaliação de suas principais abordagens e enfoques.

E, para discutir o item (ii) conteúdo, foram lidos e analisados os editoriais publicados, no período, em dois periódicos-referência na área, e que têm a restauração como “carro-chefe”, ou como temática principal: Ecological Restoration (publicada desde 1981) e a Restoration Ecology (publicada desde 1993).

A partir da leitura criteriosa dos editoriais, foram levantadas as questões discutidas, década a década, pelos autores (editores das revistas e convidados).

Complementarmente, foi feito um levantamento quantitativo das palavras-chave mais utilizadas, nos artigos categorizados como artigos teóricos, por década analisada. Para isso, foram levantadas todas as palavras-chave, em todos os 78 artigos teóricos e conceituais (ATs), e levantado o número total de vezes em que as mesmas foram citadas, assim como o número de citações por década analisada.

Quadro 2: Filtros ecológicos em que foram categorizadas as ações de restauração, descritas

nos trabalhos analisados.

Tipos de filtros enfocados pelas ações

de restauração

Descrição Referência

Filtros abióticos

Clima Gradientes de chuva e temperatura, especialmente tolerância a condições locais (congelamento, por exemplo).

Hobbs & Norton, 2004

Substrato Fertilidade, disponibilidade de água no solo, toxicidade.

Hobbs & Norton, 2004

Estrutura da paisagem Posição na paisagem, prévio uso do solo, tamanho

de manchas ou fragmentos, isolamento. Hobbs & Norton, 2004

Filtros bióticos

Competição Com espécies preexistentes e potencialmente invasoras e entre espécies plantadas e introduzidas.

Hobbs & Norton, 2004

Predação/herbivoria Não descritos pelo autor, mas supostamente

envolvem interações tróficas entre espécies Nuttle, 2007

Disponibilidade de propágulos

Refere-se à disponibilidade de sementes (de fora do sítio ou presente no local), presença de banco de sementes ou proximidade a fontes de sementes

Hobbs & Norton, 2004

Mutualismos Micorrizas, rizóbios, polinização e dispersão,

defesa. Hobbs & Norton, 2004

Distúrbios Presença de regimes de perturbação (novos ou prévios)

Hobbs & Norton, 2004

Ordem de chegada de

espécies Facilitação, inibição, tolerância, efeitos de prioridade, efeitos aleatórios. Hobbs & Norton, 2004

Legado ambiental Refere-se a quanto da biodiversidade original e estrutura biótica e abiótica permanecem. Considera efeito da biodiversidade do passado.

Hobbs & Norton, 2004; Nuttle, 2007.

Pools de espécies Três tipos: interno, externo ou estabelecido. Refere-se a ações que envolvem introdução ou remoção de indivíduos (e não de sementes e outros propágulos).

Nuttle, 2007 (adaptado)*.

Remoção de espécies indesejáveis

Não descrito pelo autor – considera-se aqui a remoção de espécies exóticas ou invasoras.

Nuttle, 2007.

* “Adaptado” no sentido de considerar a introdução de indivíduos (como plantios e enriquecimento), alterando o pool de espécies no local. Nuttle (2007) utilizou essa categoria especificamente para a introdução e remoção de indivíduos adultos.

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