• Nenhum resultado encontrado

AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS E DAS AÇÕES DE SAÚDE DIRECIONADAS ÀS PESSOAS IDOSAS

4 AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS E AÇÕES DO CEASI E O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO PELAS PESSOAS IDOSAS USUÁRIAS

4.1 AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS E DAS AÇÕES DE SAÚDE DIRECIONADAS ÀS PESSOAS IDOSAS

O crescimento demográfico da população brasileira na faixa etária de 60 anos e mais, verificada mais precisamente nos grandes centros urbanos, tem motivado o interesse para se estudar e investigar a questão do envelhecimento humano em nível nacional e internacional.

O Brasil atualmente é visto como um país cuja população encontra- se em um processo de envelhecimento humano muito rápido. Nesse sentido, Natal/RN é vista como a quarta cidade com maior quantidade de pessoas idosas do Nordeste e a 2ª maior do Brasil com pessoas de mais de um século de vida. Segundo o IBGE (2007):

A contagem da população, realizada pelo IBGE em 5.435 municípios, revelou que o número de idosos com 100 ou mais chega a 11.422. Deste total, 7.950 são mulheres e 3.472, homens. Entre os 20 municípios contados pelo IBGE que concentraram a maior quantidade de idosos com mais de um século de vida, os destaques foram as cidades de São Luís (144), seguida de Natal (118), Maceió (93) e Manaus (89). O impacto dos problemas causados pelo envelhecimento humano, presente em todos os continentes, adquire características de progressão geométrica nos países ditos em desenvolvimento e tem se tornado uma preocupação atual e alarmante no futuro.

Tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento, ocorre a necessidade de profundas transformações

socioeconômicas visando a melhoria da qualidade de vida às pessoas idosas e àquelas que se encontram em processo de envelhecimento. Como afirmam Netto e Pontes (1996, p. 9): ―Nos países do Terceiro Mundo este objetivo está longe de ser atingido, pois, além de ser política e economicamente dependentes de outras nações, possuem uma estrutura socioeconômica arcaica que privilegia alguns em detrimentos da maioria‖.

Assim, é visto que o Brasil atualmente enfrenta o impacto encarado pelos países da Europa em décadas anteriores, mas de forma diferente, pois, o crescimento humano vivenciado pela sociedade brasileira é muito mais intenso do que o vivenciado pela sociedade europeia. Esse fato indica que medidas urgentes devem ser tomadas para o enfrentamento dos desafios que a sociedade brasileira poderá ter futuramente de forma mais acirrada.

Um dos mais prementes desafios do país consiste na atenção à saúde da pessoa idosa, uma vez que a saúde é condição indispensável para o envelhecimento e para a velhice ativa.

A saúde é uma política pública e, dessa forma, constitui-se em uma forma de intervenção na realidade social que envolve relações de poder de diferentes sujeitos, portanto condicionada a interesses e expectativas diversas. Desse modo, é compreendida como mecanismo que contém contradições, e, por tal razão, não pode ser vista como mero recurso de legitimação política do bloco hegemônico por contemplar também estratégias políticas de contra- poder ou de contra-hegemonia.

Nesse sentido, a intervenção estatal não está subordinada tão somente à lógica da acumulação, envolve também vários outros elementos como: mobilização e alocação de recursos, divisão de trabalho, uso de controles, interação entre sujeitos (gestores, financiadores, técnicos e usuários), interesses diversos, adaptações, riscos e incertezas sobre processos e resultados, sucessos e fracassos.

Com base nesse entendimento, situa-se a Política Nacional de Saúde do Idoso na efetivação de mudanças nas condições sociais de saúde desse segmento. No conjunto dessa Política tomou-se como ponto de partida

investigativo a discussão sobre a avaliação de programas, ações, projetos e serviços de assistência à saúde do idoso desenvolvidos no CEASI/Natal/RN.

Historicamente, o estudo de avaliação de políticas e de programas sociais ocorreu a partir dos anos 1960 nos Estados Unidos, marcado pelo viés comportamental e neutralista com ênfase na eficiência e eficácia das políticas sem considerar a avaliação de princípios e fundamentos ou seu conteúdo substantivo.

No Brasil, a avaliação de políticas e de programas sociais passa a ter uma maior ênfase a partir dos anos 1980. Alguns fatores contribuíram para isso: a pressão dos movimentos sociais na luta por políticas sociais universalizadoras, mais equânimes e com direito de cidadania.

Esses movimentos aprofundaram as críticas às formas de implementação das políticas sociais desenvolvidas na América Latina e no Brasil tais como: mau uso do dinheiro público; falta de direcionamento dos projetos sociais em relação à população mais necessitada; escassez de recursos; caráter focalista, clientelista e excludente.

Posteriormente, outros fatores contribuíram para o reconhecimento da necessidade da avaliação dos programas, dos projetos, dos serviços e das ações sociais, tais como: a descentralização dos programas, que passam a ser implementados de forma mais próxima da população via a municipalização; a instituição financiadora de programas sociais, sobretudo o Banco Mundial, FMI, BID entre outros, passando a incluir a avaliação como exigência para seu financiamento.

No entanto, a avaliação de políticas sociais e das suas unidades programáticas é usada ainda de forma muito restrita e desenvolve-se mais para controle de gastos públicos do que para realimentar programas. Embasa- se no mérito da punição e na cultura do medo, quando deveria ter uma concepção político-pedagógica ampliada.

Nessa perspectiva ampla, cita-se Silva e Silva (1997, p.75), ―A avaliação de políticas sociais envolve princípios políticos fundamentais sobre

alguma concepção referente ao bem-estar humano, destacando os princípios de igualdade e de democracia, bem como a concepção de cidadania‖.

Ademais, a avaliação não se restringe a uma mera análise superficial, conceitual de princípios. Ela é parte essencial da formulação e implementação dos programas sociais, contribuindo para seu aperfeiçoamento. Além de ser um dos momentos de intervenção técnica do processo de implementação das políticas sociais, a avaliação também consiste em um processo de investigação cientifica, de produção de conhecimento.

No caso da avaliação da atenção à saúde da pessoa idosa, parte-se do marco legal da Lei nº 8.842/94 que regula a Política Nacional do Idoso (PNI), para o acesso das pessoas idosas aos serviços e ações direcionados à promoção, proteção e recuperação da saúde. Para tanto, estabeleceu-se os instrumentos necessários para o alcance dessas finalidades.

A PNI tem como propósito principal a promoção do envelhecimento saudável, a preservação e/ou a melhoria, ao máximo possível, da capacidade funcional das pessoas idosas, a prevenção de doenças, a recuperação da saúde funcional restringida, de modo a garantir-lhes permanência no meio em que vivem exercendo, de forma independente, suas funções na sociedade.

Para atingir ao que é proposto na PNI, foram definidas as diretrizes essenciais para a promoção do envelhecimento saudável, a manutenção da capacidade funcional comprometida, a capacidade de recursos humanos especializados como também o apoio ao desenvolvimento de cuidados informais (cuidador) e o apoio ao estudo e à pesquisa.

Fundamentado na PNI, foi elaborado o Programa de Atenção Integral a Saúde do Idoso (PASI), instituído pela Portaria pela GM/MS n. º 1.395 de 10 de dezembro de 1999 que propõe

[...] o cumprimento dessa diretriz compreende o desenvolvimento de ações que orientem os idosos e os indivíduos em processo de envelhecimento quanto à importância da melhoria constante de suas habilidades funcionais, mediante a adoção precoce de hábitos saudáveis de vida e a eliminação de comportamentos nocivos à saúde. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999, p.27)

Outro mecanismo de intervenção estatal sobre a saúde da pessoa idosa consiste no Programa de Saúde da Família (PSF) que se caracteriza como modelo de atenção à saúde da população, estruturado de forma a melhorar o acesso aos serviços de saúde, priorizando o domicílio.

O PSF configura-se como excelente estratégia de estratificação de risco e de identificação das pessoas idosas fragilizadas, minorando as suas dificuldades em conseguir assistência adequada em relação aos problemas de saúde. Em princípio, esse modelo de atenção é capaz de desenvolver ações preventivas no plano primário e no secundário.

De acordo com dados desta Pesquisa, constatou-se que o modelo implantado não corresponde às necessidades da população idosa. Durante as entrevistas, foi bastante citada pelos usuários idosos a falta de profissionais da saúde, inclusive de médicos e de especialistas nas unidades básicas do PSF e do CEASI.

Nota-se que, no Brasil, existe uma escassez de médicos especialistas em geriatria para atender a demanda das pessoas idosas, pois o atendimento é realizado por médicos, independente da formação específica.

Segundo Veras (2003), é evidente que excelentes médicos atendam as pessoas idosas, sem estes, no entanto, serem portadores de certificação da Sociedade de Geriatria. Mas, a relação de 15 milhões de pessoas idosas para 500 médicos geriátricos não pode ser desconsiderada. Na cidade do Natal/RN e mais precisamente no CEASI, há um profissional com formação em geriatria atuando na rede de saúde pública para atender diariamente uma demanda de aproximadamente 400 pessoas idosas.

Diante das particularidades dos vários aspectos relacionados à saúde da pessoa idosa, é sabido que sua assistência não pode ser de outra forma que seja a diferenciada. O acolhimento humanizado por toda equipe de saúde, respeitando as limitações biopsicossociais da pessoa idosa é importante para a formação de vínculos afetivos, comunitários e societais.

Os relatos dos usuários envolvem as manifestações de bom acolhimento bem como o reconhecimento de serem bem atendidos pelos

profissionais de saúde do CEASI, apesar de todas as dificuldades enfrentadas na gestão e na prestação dos serviços. As manifestações de ótimo atendimento foram expressas quase que de forma unânime pelos entrevistados.

As ações e serviços de saúde do SUS são organizados de maneira regionalizados e hierarquizados em níveis de complexidades crescentes. Na regionalização os serviços são distribuídos, levando-se em consideração os tipos de serviços oferecidos e sua a capacidade de atender à população, de modo a evitar, assim, a duplicidade de ações. Na organização hierarquizada, a divisão dos serviços consiste em atenção primária (prevenção), secundária (assistência médica) e terciária (hospitalar).

Além da assistência curativa, é importante para melhorar a qualidade de vida da população idosa o oferecimento de serviços de promoção e prevenção da saúde por intermédio de ações e de programas de atenção básica. Nota-se que na prática há falta de atendimento na rede básica de saúde como a consulta ambulatorial e domiciliar. Desse modo, torna-se impossível prevenir ou restabelecer a saúde da pessoa idosa.

A Norma Operacional de Assistência à Saúde do Sistema Único de Saúde (NOAS/SUS 01/02) enfatiza as responsabilidades e as ações estratégicas mínimas de atenção básica, constituindo os sete eixos: controle da tuberculose, eliminação da hanseníase, controle de hipertensão, controle de diabetes melittus, ações de saúde bucal, ações de saúde da criança e da mulher, observando-se que a pessoa idosa, nominalmente, não está incluída nos eixos, mas ela é assistida ao ser atendida nos cinco primeiros eixos.

De acordo com os pontos de vista das pessoas idosas entrevistadas, pode-se dizer que, apesar das dificuldades enfrentadas, o CEASI está conseguindo prestar uma assistência que minimiza o sofrimento dessas pessoas. No entanto, reconhece-se a necessidade de melhorar a qualidade de assistência à saúde das pessoas idosas em todas as dimensões. Segundo Costa e Maeda (2001), a Rede Básica de Saúde vem respondendo de modo pouco satisfatório às demandas e às necessidades da

população, uma vez que se restringe ao nível de atenção do Sistema que desenvolve ações voltadas para grupos marginalizados, utilizando-se de tecnologias simplificadas, gerando baixo impacto nos níveis de saúde.

As Unidades Básicas de Saúde - UBS, por serem a porta de entrada do Sistema de Saúde, devem proporcionar um acolhimento humanizado tão necessário para o estabelecimento do compromisso entre o profissional e o usuário. O objetivo principal das UBS é evitar que problemas relacionados à saúde primária sejam encaminhados para as unidades especializadas do CEASI.

Constatou-se que a necessidade de profissionais qualificados para atender as pessoas idosas configura-se como um dos grandes desafios. A própria Política Nacional de Saúde do Idoso (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999) assim dispõe:

O desenvolvimento e a capacitação de recursos humanos constituem diretriz que perpassará todas as demais definidas nesta Política, de forma que o setor saúde possa dispor de pessoal em qualidade e quantidade adequadas, e cujo provimento é de responsabilidade das três esferas do governo. Essa própria lei que criou a PNSI atribui responsabilidades institucionais cabendo aos gestores do SUS, dentro de suas competências, proverem os meios necessários de forma articulada para viabilizar o alcance de que se propõe essa Política.

A capacitação de recursos humanos merece atenção especial, sobretudo no tocante ao que define a Lei nº 8.080/90 – que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes - em seu art. 14, parágrafo Único. Segundo essa Lei: deverão ser criadas Comissões Permanentes de Integração entre os serviços de saúde e as instituições de ensino profissionais e superiores e cada uma dessas comissões terá por finalidade propor prioridades, métodos e estratégias para a formação e a educação continuada dos recursos humanos do Sistema Único de Saúde (SUS) na esfera correspondente assim como em relação à pesquisa e à cooperação entre essas instituições.

Essa preocupação foi reforçada pelos Princípios e Diretrizes para a NOB/RH - SUS ao abordar a necessidade de implementar o SUS com base em novos modelos assistenciais e de gestão. Nesse caso, é imprescindível que o modelo de educação permanente seja baseado nas atribuições e competências institucionais dos três âmbitos de gestão de sistemas.

O modelo de educação para a capacitação dos recursos humanos do SUS também deve ser baseado nas atribuições e competências definidas para os diferentes trabalhadores do SUS e para as equipes de trabalho conforme sua localização no Sistema de Saúde, que facilite uma interlocução permanente entre educação, trabalho e regulação (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003a).

Em seu Plano de Saúde (2006-2008) o município de Natal/RN definiu como uma das suas prioridades a ampliação do acesso com qualificação e humanização, promovendo a qualificação técnica adequada à execução das ações e dos serviços de saúde. Esse Plano também prevê o investimento na capacitação de profissionais nas unidades básicas de saúde que compõem os eixos programáticos definidos pela NOAS-02/2002. Pelo fato de a NOAS-02/2002 não fazer menção a Ações de Saúde do Idoso, indica-se um repensar no planejamento dessas ações e serviços a fim de que contemplem os profissionais envolvidos na assistência à saúde da pessoa idosa.

4.2 AVALIAÇÃO DAS FORMAS DE ACESSIBILIDADE AOS SERVIÇOS E ÀS