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AVALIAÇÃO E CONCLUSÕES DOS REPRESENTANTES INDÍGENAS

No documento LUIS ALBERTO TRINDADE MÉD. VETERINÁRIO (páginas 52-67)

Na avaliação dos representantes Guarani houve um crescimento considerável na motivação das famílias Guarani, devido ao fortalecimento do seu sistema cultural proporcionado pelas ações de Ater, visando fundamentalmente a sustentabilidade cultural e, conseqüentemente, econômica, social e ambiental.

A seguir, reproduzimos algumas falas importantes que sintetizam a avaliação dos representantes indígenas:

Achei bom, reconhece o índio Guarani, o próprio dono da terra. Desde o princípio do mundo habitam a terra, depois veio o Cabral, e depois os brancos veio destruir a terra, o mato. Algum abriu o coração, reconhece. Essa maneira tá certa. Destruiu tudo, não tem taquara, não tem capim, tem que comprar com o quê? Algum vizinho reconhece. Esse pra sempre Deus vai acompanhá. É importante uma opÿ pequena, nem que seja só pra mim, uma capelinha... (Karaí Adolfo: Reserva do Itapuã-Viamão).

A Emater acompanha mais na comunidade, vai mais na comunidade, conversa com as comunidades, visita mais nas comunidades. Tem que fazer mais trabalho assim, não pode terminar aqui, tem que continuar. (Karaí Avelino: Terra Indígena Ñhum Porã- Maquiné).

7 CONSIDERAÇÕES SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA

COMUNIDADES INDÍGENAS

A ação indigenista junto às comunidades indígenas foi marcada, historicamente, por concepções paternalistas e assistencialistas, partindo do pressuposto que elas eram incapazes de construir seus próprios projetos de vida. Para tanto, atualmente, o maior desafio dos mediadores sociais, incluindo instituições governamentais (União, estados e municípios) e não-governamentais é: Como construir uma nova relação com os indígenas?

A experiência da Emater/RS-Ascar junto às comunidades Guarani no estado do Rio Grande do Sul é um exemplo de que, com o apoio do poder público, é possível construir propostas de trabalho participativas, envolvendo seus agentes, as próprias famílias indígenas e as instituições parceiras, visando a efetiva melhoria das suas condições de vida, e a construção da sua própria autonomia.

Para a construção de uma Ater diferenciada foi necessário um processo permanente de diálogo com o órgão financiador, os extensionistas rurais, as próprias comunidades Guarani, as instituições parceiras e as comunidades do entorno às áreas indígenas.

Primeiramente, foi indispensável que a Emater/RS-Ascar demonstrasse ao órgão financiador tanto a relevância do trabalho quanto a sua diferença, uma vez que se estava propondo uma construção participativa, que envolvia o diálogo intercultural (entre extensionistas rurais, Guarani e parceiros), onde todos foram considerados sujeitos ativos no processo de elaboração, execução, monitoramento e avaliação do projeto. Além disso, houve um processo de negociação e de convencimento do Ministério para que os aportes financeiros fossem repassados sem rubricas engessadas, ao contrário da maioria dos financiamentos, para que se pudesse financiar, por exemplo, as casas de rezas (opÿ).

Além da relação dialógica com o agente externo (financiador), foi necessária a construção de um espaço institucional permanente, envolvendo os extensionistas rurais, para discussão, trocas de experiências e avaliação das ações de Ater desenvolvidas junto

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às famílias Guarani. Para isso, entende-se que a capacitação dos agentes envolvidos seja um processo contínuo, visando uma atuação qualificada e diferenciada junto a esse público.

Uma outra relação que teve que ser intensificada foi entre a instituição e as famílias do entorno às áreas indígenas. Isto, devido ao descontentamento dos não-índios com a atuação mais permanente dos extensionistas rurais nas comunidades Guarani. Por um lado, pelos próprios limites institucionais de ter uma equipe de técnicos capazes de atender a diversidade dos públicos no meio rural dos municípios, cuja maioria são agricultores familiares, e, por outro lado, o seu próprio preconceito em relação aos indígenas, acusados de preguiçosos, indolentes e bêbados. Para isso, também foi necessário estabelecer um diálogo permanente com os não-índios no sentido de desconstruir tais esteriótipos, e buscar incluí-los como agentes no próprio processo.

Além dessa relação com os não-índios, a Emater/RS-Ascar intensificou sua ação com as demais instituições que atuam junto às comunidades Guarani, visando à construção de um trabalho integrado e convergente para o fortalecimento do sistema cultural Guarani. Tanto nos encontros com os representantes Guarani como nas capacitações dos extensionistas rurais, estiveram presentes nas discussões e no processo de construção do trabalho a Funai, a Funasa, a Universidade e as ONGs.

Um último aspecto, não menos importante, que deve ser salientado, foi à relação de confiança e credibilidade construída entre a instituição e as próprias comunidades Guarani. Não só devido à experiência anterior vivenciada pelas famílias indígenas com a execução do Programa RS Rural, mas também pela trajetória histórica de ações assistencialistas e por projetos elaborados “de cima para baixo”, o projeto de Ater acabou construindo uma nova relação entre indígenas e instituições, conforme demonstra o depoimento de uma liderança indígena, relatado a seguir:

No início a EMATER/RS queria ensinar a plantar, trouxeram calcário. Pra nós não serve. Minha mãe plantou, pediu pra Deus e a planta cresce. A terra era fraca, tinha eucalipto antes, não tinha saúde. Agora tem opÿ, lavoura, o técnico da EMATER/RS entendeu a necessidade, levou no coração. Não pode sair da reunião e esquecer nossa necessidade. Tem que vir o recurso permanente. Nosso sistema tem que cada ano renovar (José Cirilo Pires Morinico, Cacique Geral do Povo Guarani, Reserva Indígena Tekoá Anhetenguá).

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Esse processo, sem dúvida nenhuma, instrumentalizou os próprios representantes Guarani a buscarem nas demais instituições que também atuam junto às famílias indígenas, esse modelo de trabalho.

Todos esses fatores, aqui apontados, reiteram a viabilidade de uma nova relação entre a ação indigenista e os indígenas, contribuindo para a construção de políticas públicas específicas para as comunidades indígenas.

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Vol. 3 O Setor Primário do Rio Grande do Sul - Diagnóstico e Perspectivas Sócio-Econômicas (Análises por Atividades). – Publicado em 1991.

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Vol. 17 Diagnóstico do Setor Leiteiro do Rio Grande do Sul no Âmbito do MERCOSUL. – Publicado em 1995. Vol. 18 O Milho no Contexto Mundial, Nacional e do Rio Grande do Sul. – Publicado em 1995.

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Vol. 20 Acompanhamento Técnico das Lavouras de Soja Assistidas pela EMATER/RS - 1994/95. – Publicado em 1996. Vol. 21 Diagnóstico do Setor Vitivinícola. – Publicado em 1996.

Vol. 22 MERCOSUL em Números (I Parte). – Publicado em 1997.

Vol. 23 Panorama do Setor de Grãos no MERCOSUL. – Publicado em 1998.

Vol. 24 Política Agrícola Comum na União Européia. – Publicado em 1998.

Vol. 25 A Produção de Grãos e o Comércio Agrícola na Área de Livre Comércio das Américas – ALCA. – Publicado em 1998. Vol. 26 Elementos do Comércio Internacional. – Publicado em 1998.

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Vol. 29 Estudo da Cadeia Produtiva dos Citros no Vale do Caí/RS. – Publicado em 2002.

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29 (30) Região Administrativa de Porto Alegre: leitura da paisagem regional. – Publicado em 2002.

...continuação

Vol. 31 Panorama do Conselho de Desenvolvimento da Região do Médio Alto Uruguai. 2ª edição atualizada – Publicado em 2003. Vol. 32 Trigo. – Publicado em 2003.

Vol. 33 Safras de Verão – 2002/2003. – Publicado em 2003. Vol. 34 Pecuária Familiar. – Publicado em 2003.

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Vol. 38 Turismo Rural – Publicado em 2004.

Vol. 39 Ação Extensionista e Formação de Capital Social. – Publicado em 2004. Vol. 40 Programa de Desenvolvimento da Pecuária Familiar. – Publicado em 2004. Vol. 41 Desenvolvimento Local Sustentável. – Publicado em 2004.

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Vol. 43 Ação Coletiva para Viabilização da Agricultura Familiar no Município de São Paulo das Missões – Noroeste do RS. – Publicado em 2005.

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Vol. 45 A importância da Pluriatividade como Estratégia de Reprodução da Agricultura Familiar – O Caso da Comunidade de Aguapés no Município de Osório/RS. – Publicado em 2006.

Vol. 46 Jogos Rurais Sol a Sol – O Lazer e a Recreação no Desenvolvimento do Meio Rural – Publicado em 2006.

Vol. 47 Diagnóstico das Unidades Agroindustriais – Área de abrangência da Mesorregião Grande Fronteira do MERCOSUL – Rio Grande do Sul. – Publicado em 2006.

Vol. 48 Processo de Desenvolvimento do Turismo em Nova Esperança do Sul/RS e Microrregião. – Publicado em 2007. Vol. 49 Sistematização de Experiências, Uma Nova Prática na EMATER/RS-ASCAR. – Publicado em 2007. Vol. 50 Um novo Olhar sobre a ATER indígena no Rio Grande do Sul. – Publicado em 2008.

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