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2. Revisão da Literatura

2.5 Avaliação e diagnóstico do Síndrome de Asperger

A Síndrome de Asperger é geralmente diagnosticada quando a criança entra para a escola, dado ser nesta fase que se tornam evidentes algumas alterações no seu comportamento: perturbação da interação social, reportório reduzido de interesses e comportamentos estereotipados, não havendo défices significativos das funções linguísticas ou cognitivas. De acordo com o DSM-IV-TR (2002:81),

“Dado que a linguagem precoce e as aptidões cognitivas se encontram dentro dos limites normais durante os primeiros anos de vida os pais e os educadores em regra não se preocupam (…) até que a criança entra no jardim de infância; neste momento as dificuldades sociais da criança com os companheiros da mesma idade podem começar a tornar-se aparentes”

Tal como acontece no diagnóstico do autismo, não existe nenhuma análise sanguínea ou TAC cerebral que permita um diagnóstico preciso do Síndrome de Asperger, pelo que também não é possível identificar esta síndrome pela aparência do indivíduo. Tanto num caso como no outro, ainda só é possível o seu reconhecimento, através de observação de comportamentos, não um comportamento específico, mas deduzido mediante análise de um padrão comportamental. Os investigadores têm-se associado de forma a elaborar critérios coerentes para o diagnóstico do autismo e da Síndrome de Asperger. A identificação por Lorna Wing (1981) da “tríade das limitações”, constitui um marco na procura de critérios de diagnóstico necessários e suficientes para descrever e especificar o autismo. Todos os aspetos desta tríade - limitação da interação social, limitação da comunicação social e limitação do pensamento flexível e do jogo simbólico - conjugam-se para definir o autismo, estando presentes em todos os indivíduos com autismo e ausentes noutros grupos.

Esta combinação constitui a base dos critérios de diagnóstico do autismo nos Sistemas de Classificação Internacional. Em 1992 foram definidos pela OMS critérios de diagnóstico distintos para o autismo e para a Síndrome de Asperger. Em 1994, o SA foi reconhecido pela primeira vez no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais na sua quarta edição (DSM-IV), e é definido na secção 299.80 por seis critérios principais:

“A. Prejuízo qualitativo na interação social, manifestado pelo menos por dois seguintes requisitos: (1) prejuízo acentuado no uso de múltiplos comportamentos não-verbais, tais como contato visual direto, expressão facial, posturas corporais e

gestos para regular a interação social; (2) fracasso para desenvolver relacionamentos apropriados ao nível de desenvolvimento com os seus pares; (3) ausência da tentativa espontânea de partilhar prazer, interesses ou realizações com outras pessoas (mostrar ou apontar objetos de interesse); (4) falta de reciprocidade social e emocional;

B. Padrões restritos, repetitivos e estereotipados do comportamento, interesses e atividades pelo menos de um dos seguintes requisitos: (1) insistente preocupação com um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesses, anormal em intensidade ou foco; (2) adesão aparentemente inflexível a rotinas e rituais específicos e não funcionais; (3) formas motoras estereotipadas e repetitivas (dar pancadinhas ou torcer as mãos ou os dedos, movimentos complexos de todo o corpo); (4) insistente preocupação com partes de objetos;

C. A perturbação causa prejuízo clinicamente na área social e ocupacional ou áreas importantes de funcionamento;

D. Não existe um atraso geral clinicamente significativo na linguagem (por exemplo, palavras isoladas são usadas aos dois anos, frases comunicativas são usadas aos três anos);

E. Não existe um atraso clinicamente significativo no desenvolvimento cognitivo ou de habilidades de autoajuda apropriadas à idade, comportamento adaptativo e curiosidade acerca do ambiente na infância;

F. Não são satisfeitos os critérios para um outro Transtorno Invasivo do Desenvolvimento ou Esquizofrenia.”

As características mais comuns e importantes do Síndrome de Asperger incidem em categorias amplas como as dificuldades sociais, os interesses específicos e intensos, e as peculiaridades na fala e na linguagem. Embora o DSM-IV tenha contribuído para a organização nos critérios de diagnóstico, com o decorrer do tempo e paralelamente, desenvolveram-se questionários, checklists dirigidos para a avaliação psicológica e comportamental. Esta secção reflete principalmente as visões de Attwood, Gillberg e Szatmari sobre as características mais importantes do Síndrome de Asperger.

Tendo por base o estudo realizado por Gillberge Gillberg (1989) foram identificadas seis dimensões, duas das quais descrevem aspetos relacionados com o comportamento social e a comunicação verbal. Na primeira dimensão, sobre a alteração do comportamento social, a criança manifesta duas das seguintes condutas: dificuldades de socialização e egocentrismo; dificuldade em interagir com os pares; falta de vontade em interagir com os pares; falta de entendimento de comportamentos sociais; comportamento social e emocional inapropriado. Relativamente aos problemas de comunicação não-verbal: uso limitado da linguagem gestual; linguagem corporal desajeitada; expressão facial limitada; expressões desapropriadas; olhar fixo ou

pasmado. O DSM-IV destaca estes aspetos relativos aos problemas de comunicação não-verbal, mas considera que haja atraso na linguagem, no entanto, no critério 4) aponta para o desenvolvimento tardio da linguagem.

Szatmari et al. (1989) citaram outros aspetos não referidos por Gillberg, como por exemplo o facto da criança se isolar, de não olhar diretamente para as pessoas, de ser incapaz de comunicar através do olhar e ter alterações no seu discurso (critérios 1,3 e 4). De acordo com Attwood (1998), no diagnóstico de Síndrome de Asperger, devem ser tidas em conta duas fases: a primeira envolve a utilização da escala australiana, a ser preenchida pelos educadores, com o objetivo de identificar comportamentos sugestivos de SA durante os primeiros anos escolares. Aqui testam-se as capacidades sociais, emocionais, de comunicação concentração e cognitivas da criança. A segunda fase envolve uma avaliação clínica ou de diagnóstico, a ser efetuada por médicos ou psicólogos, de aspetos específicos relacionados com as competências sociais, linguísticas, cognitivas e motoras, bem como de aspetos qualitativos dos interesses das crianças; baterias de testes; questionário aos pais para historial do desenvolvimento da criança e do seu comportamento em situações específicas; relatórios dos professores, terapeutas da fala e terapeutas ocupacionais.

Avaliar para diagnosticar é um processo algo complexo. Numa segunda fase de avaliação, importa avaliar para intervir. Por conseguinte, é importante que se elabore uma apreciaçãodetalhada da criança quanto ao seu nível de desenvolvimento funcional o seu padrão de dificuldades e limitações, tendo em conta o que preocupa seriamente os pais. A prática da avaliação psicoeducacional pode favorecer a deteção precoce e a identificação das áreas educativas em que se verificam mais dificuldades e permitem analisar discrepâncias entre o funcionamento corrente e o desempenho esperado.