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Capítulo V Análise Empírica de Dados II – Fontes Primárias

5.3. Avaliação e Integração dos Conteúdos Qualitativos

A informação qualitativa adquirida através dos instrumentos de instigação inventários e entrevistas são avaliados e integrados seguidamente, simplificando a análise para as futuras considerações finais.

5.3.1. Oferta Turística: Avaliação Geral dos Recursos de Surf28

A observação directa na investigação por inventário permitiu a análise específica de cada spot de surf, através da elaboração de um quadro que compreende as características para a prática deste desporto.

Por conseguinte, a análise global dos recursos de surf são mais inteligíveis, demonstrando o potencial de Peniche enquanto ―Capital da Onda‖, uma vez que a sua qualidade global corresponde a 4 (escala de 1 a 5), sendo o substrato destas praias ou

spots maioritariamente de fundo de areia, designado como beach break, com excepção

de alguns locais de fundo rochoso.

A variedade de níveis de dificuldade, geral facilidade de acesso, frequência de funcionamento e direcção da onda, na medida em que de um modo geral, tanto funciona para a direita como para a esquerda, resulta na atractividade de Peniche possibilitando uma diversidade de níveis experiência de surf, agradando tanto iniciados como surfistas muito experientes e exigentes quanto à sua qualidade.

O facto de Peniche ser uma península reflecte-se de forma muito positiva nas condições para o surf, porque o lado Sul (Porto Batel, Consolação, Supertubos, Molhe Leste), requere de vento na direcção quadrante Norte, sendo a direcção da ondulação variável mas de preferência sul /oeste, particularmente em Supertubos e Molhe Leste. Por sua vez, o lado Norte carece de vento na direcção Sul / Leste e direcção de ondulação geral de Oeste / Norte. Desta forma, existem sempre boas condições ou do lado norte ou do lado sul.

No que respeita aos principais perigos são o excesso de crowd avaliado em 4 (escala de 1 a 5) variando consoante o local, as rochas, as correntes e algumas espécies de fauna como peixe-aranha e ouriços-do-mar. A avaliação das infra-estruturas permitiu observar que estas estão mais concentradas na zona do Baleal e na zona sul da península, durante a época alta: a vigilância, pontos de depósito de lixo, de forma permanente a restauração, o estacionamento, e os passadiços dunares. Contudo, é notória a falta de infra-estruturas durante todo o ano e nas restantes zonas balneares ou spots de surf. As

principais observações têm que ver com a falta de identificação das praias, de posto de primeiros socorros presente todo o ano, bem como maior preocupação com as questões relativas à mobilidade reduzida, porém de ressaltar a qualidade ambiental de 6 zonas balneares certificadas pelo programa Bandeira Azul (Baleal Norte, Baleal Sul, Cova da Alfarroba, Gambôa, Consolação e Supertubos).

5.3.2. Perspectivas Relativas ao Turismo de Surf em Peniche29

As entrevistas realizadas foram dirigidas a profissionais de diferentes áreas mas que de uma forma directa ou indirecta estão envolvidos no turismo de surf. Nesta perspectiva, a análise geral dos testemunhos e opiniões dos entrevistados evidencia o facto de considerarem Portugal um dos principais destinos de surf da Europa, devendo estruturar a sua oferta através da criação de infra-estruturas, facilidades e promoções locais, como a possibilidade de aluguer de material a preços razoáveis e apostando na criação de marcas regionais, como por exemplo no produto golfe.

O surf é assumido como uma vantagem competitiva para o turismo português, contudo é necessário desenvolver mais acções de protecção das zonas costeiras, recuperando ondas e promovendo a qualidade ambiental, o que resulta em benefícios gerais inclusivamente para o sector turístico. Mais do que um desporto, o surf já em 1969 foi considerado por Pedro Martins de Lima uma actividade muito interessante para Portugal enquanto país de mar e uma actividade extremamente saudável.

Peniche tem excelentes condições naturais para a prática de desportos de deslize, particularmente o surf, justificando a prioridade atribuída a este produto turístico por parte da Câmara Municipal de Peniche, uma vez que este já é considerado um importante pólo para o surf ao nível nacional e internacional. As mais-valias do turismo de surf em Peniche na opinião dos entrevistados são: o facto de Peniche ser uma península, particularidade que confere mais do que uma resposta em termos de condições para a prática da modalidade; o reconhecimento nacional e internacional fundamentado e potencializado pela realização de uma das onze etapas do circuito

mundial de surf, Rip Curl Pro Portugal, afirmando a qualidade “premium” das ondas; e a oferta turística especializada. Desta forma, o surf é actualmente um mercado em evolução em Peniche, gerando uma forte atractividade e dinâmica local privada, especialmente no sector da hotelaria, alojamento e equipamentos desportivos. No que respeita aos pontos fracos de Peniche enquanto destino de surf, a necessidade de uma maior integração social do surf e colmatar o défice de oferta de alojamento específico são identificados como as maiores carências actualmente.

A construção de uma imagem de marca associada à onda, enquanto elemento diferenciador da oferta turística, espelha o potencial económico deste recurso para Peniche. A Capital da Onda é reconhecida e consolidada através realização do circuito mundial, pela criação do primeiro Centro de Alto Rendimento de Surf [CAR Surf] europeu e no conceito da Aldeia do Surf, um espaço onde se concentram a indústria e os serviços relacionados com o este segmento de mercado.

O surf contribui para o desenvolvimento sustentável de Peniche aproveitando a onda para diferenciar a oferta turística, complementando com outras actividades económicas essenciais para o concelho. Este desporto possibilita também uma consciencialização para o ―valor esgotável da natureza‖. Neste sentido, os eventos têm um papel importante na sensibilização para as boas práticas ambientais. Por outro lado, o turismo de surf pode contribuir para minimizar a sazonalidade, através da aposta das entidades públicas e privadas na estimulação e apoio de uma oferta turística diferenciada de alojamento e de turismo activo, assim como na organização de acontecimentos e eventos ao longo do ano.