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Capítulo II Revisão da Literatura

2.4. Sustentabilidade do Turismo de Surf

2.4.2. Planeamento Sustentável do Turismo de Surf

Após a reflecção sobre os impactes negativos e positivos directamente provocados pelo surf, enquanto desporto, indústria e actividade turística, interessa aprofundar o planeamento sustentável do turismo de surf, complementando com alguns exemplos concretos de acções a implementar.

Tantamjarik (2004) retrata a dependência e interacção entre os sectores público e privado e organizações não-governamentais na implementação de um destino turístico de surf sustentável. O governo local implementa políticas nacionais de turismo sustentável, para tal a sua relação com as organizações não-governamentais é uma mais- valia. As organizações não-governamentais tem essencialmente o papel de estabelecer programas de educação e de conservação, bem como patrocinar circuitos e concursos de surf, promovendo uma imagem positiva do surf na região ou país em questão. A relação entre o governo local e o sector privado relativo à indústria do turismo resulta em parcerias público-privadas que promovam esforços de marketing comuns e a criação de

boas práticas. O sector privado proporciona serviços que devem estar em consonância

com os princípios da sustentabilidade, detém responsabilidades ao nível das estratégias de marketing, promovendo comportamentos responsáveis e aderindo a boas práticas na indústria. A sua relação com as organizações não-governamentais advêm na formação e educação para as questões relacionadas com o surf.

Figura 8 Interacção dos Sectores do Turismo de Surf Sustentável

Legenda:

Parcerias Público-Privadas

Todavia, o esquema de Tantamjarik (2004) não refere a população local enquanto interveniente no processo. Assim sendo, as comunidades locais devem ser envolvidas em qualquer projecto turístico, embora a sua opinião seja raramente homogénea quanto ao desenvolvimento turístico devido à variedade de grupos de interesse. Swarbrooke (1999) desenvolveu uma "progressão da influência da comunidade‖, demonstrando na tabela seguinte, os vários níveis em que as comunidades podem se envolver no sector turístico (Swarbrooke, 1999 citado por Ponting, 2001, s.p.).

Tabela 5 Influência da Comunidade no Turismo

Fonte: Swarbrooke, 1999 citado por Ponting, 2001, s.p.

No entanto, a tabela de Swarbrooke (1999) considera que o desenvolvimento turístico é apenas objecto do sector público, não tendo em conta a importância do sector privado, especialmente no que se refere a destinos de surf (Ponting, 2001). O autor acrescenta que o implemento de boas práticas, de sistemas de avaliação por parte do sector público e envolvimento das comunidades locais são iniciativas opcionais e inovadores de melhores práticas de gestão, não esquecendo que a capacitação de todos os intervenientes no processo de planeamento e gestão como um princípio fundamental da sustentabilidade no turismo (Ponting, 2001).

Após a explicação sobre a integração dos principais sectores dentro do turismo de surf, de modo a fomentar um desenvolvimento sustentável, Tantamjarik (2004) apresenta no seu estudo de investigação recomendações que podem contribuir para o desenvolvimento sustentável do turismo de surf na Costa Rica. Tais recomendações são As comunidades locais têm total controlo das políticas estratégicas e tácticas do turismo local;

As comunidades têm direito ao veto sobre as decisões políticas de turismo e decisões correspondentes ao sector público;

As comunidades devem estabelecer prioridades e parametros para a política e/ou decisões do sector público;

As comunidades devem ter a possibilidade de escolher uma política ou estratégia dentro de um conjunto de opções geradas pelo sector público e decisores políticos;

Os pontos de vista das comunidades locais são úteis para justificar a tomada de decisões do sector público;

A comunidade deve ser consultada, mas sua opinião não influencia significativamente a política do sector público.

P rog re ssão d a In flu ên ci a d a Co m u n id ad e n o T u rismo

apresentadas na tabela 6, que exibe os principais conceitos associados às questões ambientais, socioculturais e económicas, nomeadamente: desenvolvimento de infra- estruturas; lotação de surfistas (crowdedness); poluição; desempenho do governo; desenvolvimento das comunidades locais e experiência do visitante. Na tabela 6, as recomendações estão separadas por sector público e sector privado. Porém, a sustentabilidade só é possível de assegurar pela cooperação entre os dois sectores, sendo esta a maior recomendação: a compreensão dos seus papéis de desempenho e o trabalho conjunto em parcerias público-privadas.

Tabela 6 Turismo de Surf Sustentável - Recomendações

Conceitos Sector Público Sector Privado

Desenvolvimento de Infra-estruturas

Cumprir regulamentos relativos à zona

marítima Cooperação com agentes de segurança

Lotação (Crowdedness) Uso de limite de recursos públicos;

zoneamento das áreas de recreação

Auto-impor limites no tamanho dos grupos; pagamento de taxas para manutenção das áreas públicas

Poluição Cumprimentos das leis de protecção do

ambiente

Educar consumidores a agir com responsabilidade ambiental; unir esforços para conservação local

Desempenho do Governo

Criar brochuras/mapas do turismo de surf; apoiar e incentivar à participação na indústria do turismo de surf

Colaborar com a entidade nacional de turismo para promover o turismo de surf ao nível do marketing nacional/regional

Envolvimento das

Comunidades Locais Patrocinar eventos locais e surfistas Estabelecer associações de turismo

Experiência do Visitante

Obter informação estatística mais específica sobre os turistas surfistas; segmentar

estratégias de marketing para turistas surfistas

Estabelecer e aderir a padrões de segurança; Criar estatísticas sobre surfistas

Recomendação: Cooperação Entre Sectores

Fonte: Adaptado de Tantamjarik, 2004, p.81

No que diz respeito ao crowd, são necessárias medidas mais restritivas para garantir a sustentabilidade local, mas avaliar o excesso de surfistas não é fácil, quanto a esta problemática não existem estudos científicos publicados, não havendo um limite entre

crowd e uncrowd. Contudo, verifica-se na prática pela relação entre número de ondas

em que o surfista está em posição de arranque, mas que são usurpadas ou estragadas por outro surfista. Desta forma Buckley (2002b) defende um sistema de gestão de quotas, ou seja, um sistema de gestão da capacidade de carga fundamental para a sustentabilidade de uma determinada região ou país, sendo essencial a criação de

Tantamjarik, 2004). Mathieson & Wall (1982) definem capacidade de carga como ―o número máximo de pessoas que podem usar um lugar sem provocar alterações inaceitáveis no ambiente físico e sem causar um declínio inaceitável na qualidade da experiência adquirida pelos visitantes‖ (Mathieson & Wall, 1982, p.21).

Noutra perspectiva, Ponting (2001) afirma que o conceito de capacidade de carga tem sido difícil de implementar, apresentando o Growth Management Planning e Modelo de Gestão e Optimização do Turismo como uma extensão do conceito de capacidade de carga, em que a definição de número máximo de turistas é substituída por uma gestão orientada para a concretização de metas, com base em noções de sustentabilidade e pela resposta às mudanças de prioridades segundo informações resultantes de feedbacks, gerindo a performance através de indicadores e sistemas de monotorização. Tendo uma opinião concordante, quanto ao envolvimento de todos os stakeholders nos sistemas com o intuito de um desenvolvimento de plano de gestão eficaz (Ponting, 2001).

Por conseguinte, o desenvolvimento e a implementação de políticas para um turismo sustentável devem basear-se me princípios orientadores que englobam uma visão global-local pelo comprometimento dos múltiplos intervenientes, de modo a proporcionar um equilíbrio entre sustentabilidade e qualidade (OMT, 2006).

Segundo a OMT (2006), a Austrália desenvolveu projectos pioneiros no desenvolvimento do ecoturismo e a sustentabilidade com base na qualidade e no desenvolvimento de estratégias e mecanismos que interligam o turismo e a conservação. Destacando os principais resultados tangíveis como: um programa de certificação de ecoturismo; publicações de investigação sobre ecoturismo; um conjunto de oportunidades educativas de ecoturismo; vídeos de sensibilização ambiental dirigidos aos visitantes nos voos de chegada; um guia para a educação eco turística da comunidade local; publicações sobre práticas de gestão de resíduos e energias no sector privado; conferências sobre planeamento regional integrado e desenvolvimento regional.

No que concerne ao surf, a Austrália desenvolveu um plano de acção de 2009 a 2012 para o turismo de surf em NSW, Catching the Waves com três objectivos principais: consolidar o posicionamento de NSW como primeiro destino de surf na Austrália;

aumentar a quota de mercado de NSW com o mercado australiano de turismo de surf; aumentar os visitantes domésticos e internacionais para Sydney e destinos regionais costeiros NSW. Como tal, o estudo refere a existência de seis reservas nacionais de surf, consistindo em áreas protegidas para o público em geral e obviamente a comunidade de surf, acreditação de escolas de surf, a qualidade e diversidade de praias e a capacidade como vantagens competitivas para potencializar o turismo de surf. O projecto deriva da diversidade de locais, sendo que o turismo de surf tem o potencial de gerar benefícios sociais, económicos e ambientais nos seus destinos costeiros. O envolvimento do governo local tem um papel determinante na criação de reservas nacionais de surf, visto dar a conhecer os locais de importância ambiental, cultural e histórica relacionado com o surf, assim como permite uma maior consciencialização para a necessidade de protecção dos ambientes costeiros [Tourism New South Wales, (s.d.)].

Assim sendo, o planeamento sustentável possibilita potencializar os benefícios do turismo de surf, identificando oportunidades e respostas alternativas aos impactes negativos que a actividade turística e o surf provocam. Todavia, uma vez que o turismo surf constitui um nicho de mercado, a literatura reconhece potencial de sustentabilidade de um destino de surf, desde que exista um planeamento que considere os princípios de sustentabilidade, a interligação entre os diversos sectores que compõem a indústria do turismo de surf e as parcerias público-privadas são elementares na sua concretização.