• Nenhum resultado encontrado

VIRULÊNCIA DE S. MUTANS EM BIOFILME MADURO

A avaliação da expressão dos genes de virulência incluídos no presente estudo (gtfB, gtfC, gtfD, ldh e brpa) não demonstrou diferença estatísticamente significante (ANOVA, p>0,05) entre os grupos testes (Adrenalina, Noradrenalina e Cortisol) e o grupo controle (Tabela 2).

Tabela 2 – Efeito da adrenalina, noradrenalina e cortisol na expressão dos genes gtfB, gtfC, gtfD, ldh e brpA em S. mutans

Gene Grupos

(Quantificação relativa - média±dp)

p

Controle Adrenalina Noradrenalina Cortisol

gtfB 1 1,07±0,61 0,85±0,42 0,59±0,25 ns gtfC 1 1,15±0,46 0,81±0,41 0,75±0,27 ns gtfD 1 1,20±0,59 0,86±0,39 1,11±0,60 ns Ldh 1 1,14±0,44 1,25±0,47 0,99±0,42 ns brpA 1 1,25±0,42 0,84±0,22 1,36±0,46 ns

-Os níveis de expressão dos genes testados foram normalizados em função da expressão do gene 16S rRNA. Os valores representam a média (±dp) de cinco experimentos independentes realizados em duplicata. A quantificação relativa foi estimada pela equação RQ = 2-ΔΔCT

- ns - Diferença não estatisticamente significante (p>0,05, t-Student) em relação ao grupo controle.

5 DISCUSSÃO

Hoje, a cada três habitantes, pelo menos um sofre de estresse. Com o estilo de vida que levamos e a correria para dar conta das diversas atividades nos mais variados âmbitos, o estresse atinge cada vez mais pessoas, sejam elas adultas, idosas ou até mesmo crianças (International Stress Management Association, 2001).

Esta patologia é caracterizada por um aumento na produção/liberação de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) e cortisol, sendo o estresse considerado um importante fator de risco para o desenvolvimento de diferentes doenças da cavidade bucal, dentre elas a doença periodontal e a cárie (Borysenko et al., 1980; Peruzzo et al., 2007; Rosania et al., 2009).

A cárie, das doenças infecciosas que afetam os humanos, é uma das mais prevalentes sendo Streptococcus mutans um dos principais microrganismos responsáveis pela doença (Takahashi & Nyvad, 2008).

Roberts et al. (2002) demonstraram, em um experimento in vitro, que a adrenalina e noradrenalina foram capazes de alterar o perfil de crescimento de diferentes bactérias orais na forma planctônica – 24 horas (43 microrganismos avaliados), dentre elas S. mutans (aumento de 13,1% com a adição de adrenalina e 16,7% com a adição de noradrenalina). A semelhança destes achados, o presente estudo demonstrou que estas catecolaminas também foram capazes de alterar o perfil de virulência de S. mutans, representado por um aumento na contagem do número de colônias formadas sobre discos de hidroxiapatita após cinco dias de crescimento. Em acréscimo aos dados encontrados até o presente momento na literatura, em nosso estudo, constatamos que o cortisol (hormônio liberado no

estresse juntamente com as catecolaminas) também foi capaz de aumentar a formação do biofilme de S. mutans.

A opção pela utilização de discos de hidroxiapatita (Zezhang et al., 2006) simulam o processo inicial da doença cárie (adesão das bactérias e formação do biofilme) na superfície do dente. Bactérias encontradas na cavidade oral, principalmente S. mutans, presentes no biofilme produzem ácidos orgânicos como um subproduto do metabolismo de carboidratos fermentáveis. Isso faz com que o pH caia a valores críticos (valores menores do que 5,0), resultando em desmineralização dos tecidos dentais (Selwitz et al., 2007). Portanto, a produção de ácidos, principalmente o ácido lático através da ação da enzima Desidrogenase Lática (LDH), é considerado um fator determinante para a patogenicidade da bactéria e responsável pela desmineralização do esmalte na etapa inicial da cárie (Kobayashi, 1985; Bender et al., 1986; Loesche, 1986; Quivey et al., 2000). Desta forma, em nosso trabalho buscamos a avaliar o efeito das catecolaminas/cortisol sobre a produção de ácido pelo S. mutans.

A análise do pH durante todo o processo de formação do biofilme maduro (cinco dias) permitiu a avaliação do comportamento do S. mutans na presença das catecolaminas e do cortisol quanto à possibilidade de alteração na produção de ácidos pela bactéria. Foi possível confirmar a significativa queda dos valores iniciais chegando próximo a quatro em todos os grupos avaliados (adrenalina, noradrenalina e cortisol) e grupo controle. A maior queda do pH foi observada nos primeiros 15 minutos seguido de uma queda mais discreta durante a primeira hora e este valor praticamente se manteve constante até o final da avaliação, indicando que não houve alteração na produção de ácidos por S. mutans na presença das substâncias citadas.

Na tentativa de uma melhor compreensão dos resultados obtidos de contagem bacteriana e produção de ácidos foi realizada a avaliação da expressão de genes relacionados com os processos mencionados. Neste sentido, a expressão

de gtfB, gtfC, gtfD e brpA (relacionados formação do biofilme), e ldh (relacionado

com a produção de ácido) foram avaliados por RT-qPCR. Estudos apresentados na literatura sugerem que S. mutans mutantes que sofreram inibição dos genes relacionados (gtfB, gtfC, gtfD e brpA) apresentam uma diminuição na formação do biofilme (Koo et al., 2010).

Yamashita et al. (1993), em experimento com ratos mutantes para os genes gtfB e gtfC, exibiram marcadamente níveis reduzidos de lesões de superfície lisa de cárie. Porém, nenhuma destas mutações alterou significativamente a taxa de indução de cárie em sulco, sugerindo que estes genes são importantes para a formação de cáries de superfície lisa.

Em estudo int vitro, Zezhang et al. (2006), utilizando uma estirpe de S.mutans brpa deficiente, observaram defeito na formação de biofilme sobre discos de hidroxiapatita que também foi facilmente perceptível na análise por microscopia de varredura e laser confocal.

Em nosso estudo, os resultados não mostraram diferença estatísticamente significativa para genes avaliados na presença das substâncias teste (adrenalina, noradrenalina e cortisol) e grupo controle. A ausência de alteração quanto ao gene ldh que também foi avaliado em nosso experimento, confirmam os resultados obtidos quanto a análise dos valores do pH verificados nos testes de queda de pH em biofilme.

6 CONCLUSÃO

Os achados do presente estudo demonstram que a adrenalina a noradrenalina e o cortisol contribuem para um aumento na formação de colônias de

S. mutans sobre a superfície de discos de hidroxiapatita. Porém não alteram os

REFERÊNCIAS

1

1. Shimura N, Nakamura C, Hirayama Y, Yonemitsu M. Anxiety and dental caries. Community Dent Oral Epidemiol 1983; 11:224-227.

2. Honkala E, Maidi D, Kolmakow S. Dental caries and stress among South African political refugees. Quintessence Int 1992; 23:579-583.

3. Roberts A, Matthews JB, Socransky SS, Freestone PP, Williams PH, Chapple IL. Stress and the periodontal diseases: growth responses of periodontal bacteria to Escherichia coli stress-associated autoinducer and exogenous Fe. Oral Microbiol Immunol 2005; 20:147-53.

4. Suman M, Spalj S, Plancak D, Dukic W, Juric H. The influence of war on the oral health of professional soldiers. Int Dent J 2008; 58:71-74.

5. Takada T, Yoshinari N, Sugiishi S, Kawase H, Yamane T, Noguchi T. Effect of Restraint Stress on the Progression of Experimental Periodontitis in Rats. J Periodontol 2004; 75:306-313.

6. Nakagima K, Hamada N, Takahashi Y, Sasaguri K, Tukinoki K, Umemoto T, et al. Restraint stress enhances alveolar bone loss in an experimental rat model. J

Periodont Res 2006; 41:527-534.

7. Peruzzzo DC, Benatti BB, Ambrosano GMB, Nogueira-Filho GR, Sallum EA, Casati MZ, et al. A Systematic Review of Stress and Psychological Factors as Possible Risk Factors for Periodontal Disease. J Periodontol 2007; 78:1491-1504. 8. Selwitz RH, Ismail IA, Pitts N. Dental Caries. Lancet 2007; 369:51-59.

9. Clarke FB. Poliomyelitis, with especial reference to treatment with rosenow's serum. Cal West Med 1924; 22:437-441.

10. Marsh PD. Microbial ecology of dental plaque and its significance in health and disease. Adv Dent Res 1994; 8:263-271.

1

11. Narvai PC, Frazão P, Roncalli AG, Antunes JLF. Cárie dentária no Brasil:

declínio, polarização, iniquidade e exclusão social. Rev Panam Salud Publica 2006; 19:385-393.

12. Featherstone JD, Adair SM, Anderson MH, Berkowitz RJ, Bird WF, Crall JJ, et al. Caries management by risk assessment: consensus statement. J Calif Dent Assoc 2003; 31:257-269.

13. Fejerskov O. Changing Paradigms in Concepts on Dental Caries: consequences for oral health care. Caries Res 2004; 38:182-191.

14. Kawashima M, Hanada N, Hamada T, Tagami J, Senpuku H. Real-time interaction of oral streptococci with human salivary components. Oral Microbiol Immunol 2003; 18:220-225.

15. Hamada S, Slade HD. Biology, immunology, and cariogenicity of Streptococcus mutans. Microbiol Rev 1980; 44:331-384.

16. Loesche WJ. Role of Streptococcus mutans in human dental decay. Microbiol Rev 1986; 50:353-380.

17. Fozo EM, Quivey RG Jr. The fabM gene product of Streptococcus mutans is responsible for the synthesis of monounsaturated fatty acids and is necessary for survival at low pH. J Bacteriol 2004; 186:4152-4158.

18. Kobayashi H. A proton-translocating ATPase regulates pH of the bacterial cytoplasm. J Biol Chem 1985; 260:72-76.

19. Bender GR, Sutton SV, Marquis RE. Acid tolerance, proton permeabilities and membrane ATPases of oral streptococci. Infect Immun 1986; 53:331-338.

20. Quivey RG Jr, Kuhnert WL, Hahn K. Adaptation of oral streptococci to low pH. Adv Microb Physiol 2000; 42:239–274.

21. Hanada N, Karamitsu HK. Isolation and characterization of the Streptococcus mutans gtfD gene, coding for primer-dependet soluble glucan synthesis. Infect Immun 1989; 57:2079-2085.

22. Matsumara M, Izumi T, Tsuji M, Fujiwara T, Ooshima T. The role of glucan-binding proteins in the cariogenicit of Streptococcus mutans. Microbiol Immunol 2003; 47:213-215.

23. O'Toole G, Kaplan HB, Kolter R. Biofilm formation as microbial development. Annu Rev Microbiol 2000; 54:49-79.

24. Wen ZT, Baker HV, Burne RA. Influence of BrpA on critical virulence attributes of Streptococcus mutans. J Bacteriol 2006; 188:2983-2992.

25. Wen ZT, Burne RA. Functional genomics approach to identifying genes required for biofilm development by Streptococcus mutans. Appl Environ Microbiol 2002; 68:1196-1203.

26. Reyna LJ, DiMascio A, Berezin N. Psychological Stress and Experimental caries. Psychosomatics 1966; 8:138-140.

27. Natelson BH, Ottenweller JE, Cook JA, Pitman D, McCarty R, TappWN. Effect of stressor intensity on habituation of the adrenocortical stress response. Physiol Behav 1988; 43:41-46.

28. Schommer NC, Hellhammer DH, Kirschbaum C. Dissociation between reactivity of the hypothalamus-pituitary-adrenal axis and the sympathetic-adrenal-medullary system to repeated psychosocial stress. Psychosom Med 2003; 65:450-460.

29. Axelrod J, Reisine TD. Stress hormones: their interaction and regulation. Science 1984; 224:452-459.

30. Cryer PE. Physiology and pathophysiology of the human sympathoadrenal neuroendocrine system. N Engl J Med 1980; 303:436-444.

31. Selye H. A syndrome produced by diverse nocuous agents. J Neuropsychiatry Clin Neurosci 1998; 10:230-231.

32. Rosania AE, Low KG, McCormick CM, Rosania DA. Stress, depression, cortisol, and periodontal disease. J Periodontol 2009; 80:260-266.

33. Rai K, Hegde AM, Shetty S, Shetty S. Estimation of salivary cortisol in children with Rampant Caries. J Clin Pediatr Dent 2010; 34:249-252.

34. Lyte M, Ernst S. Catecholamine induced growth of gram negative bacteria. Life Sci 1992; 50:203-212.

35. Lyte M. The role of microbial endocrinology in infectious disease. J Endocrinol 1993; 137:343-345.

36. Cogan TA, Thomas AO, Rees LE, Taylor AH, Jepson MA, Williams PH, et al. Norepinephrine increases the pathogenic potential of Campylobacter jejuni. Gut 2007; 56:1060-1065.

37. Karavolos MH, Spencer H, Bulmer DM, Thompson A, Winzer K, Williams P, et al. Adrenaline modulates the global transcriptional profile of Salmonella revealing a role in the antimicrobial peptide and oxidative stress resistance responses. BMC

Genomics 2008; 9:458.

38. Bansal T, Englert D, Lee J, Hegde M, Wood TK, Jayaraman A. Differential effects of epinephrine, norepinephrine, and indole on Escherichia coli O157:H7 chemotaxis, colonization, and gene expression. Infect Immun 2007; 75:4597-4607.

39. Dowd SE. Escherichia coli O157:H7 gene expression in the presence of catecholamine norepinephrine. FEMS Microbiol Lett 2007; 273:214-223.

40. Roberts A, Matthews JB, Socransky SS, Freestone PP, Williams PH, Chapple IL. Stress and the periodontal diseases: effects of catecholamines on the growth of periodontal bacteria in vitro. Oral Microbiol Immunol 2002; 17:296-303.

41. Koo H, Pearson SK, Scott-Anne K, Abranches J, Cury JA, Rosalen PL, et al. Effects of apigenin and tt-farnesol on glucosyltransferase activity, biofilm viability and caries development in rats. Oral Microbiol Immunol 2002; 17:337-343.

42. Chia JS, Lee YY, Huang PT, Chen JY. Identification of stress – responsive genes in streptococcus mutans by differential display reverse Transcription – PCR. Infection and Immunity 2001; 69:2493-2501.

43. Shemesh M, Tam A, Steinberg D. Expression of biofilm-associated genes of Streptococcus mutans in response to glucose and sucrose. J Med Microbiol 2007; 56:1528-1535.

44. Fujiwara T, Hoshino T, Ooshima T, Hamada S. Differential and quantitative analyses of mRNA expression of glucosyltransferases from Streptococcus mutans MT8148. J Dent Res 2002; 81:109-113.

45. Mattos-Graner RO, Porter KA, Smith DJ, Hosogi Y, Duncan MJ. Functional analysis of glucan binding protein B from Streptococcus mutans. J Bacteriol 2006; 188:3813-3825.

46. International Stress Management Association. Porto Alegre: ISMA-BR, 2001. Disponível em: <http://www.ismabrasil.com.br>. Acesso em: 25 jun 2011.

47. Borysenko M, Turesky S, Borysenko JZ, Quimby F, Benson H. Stress and dental caries in the rat. J Behav Med 1980; 3:233-243.

48. Takahashi N, Nyvad B. Caries ecology revisited: microbial dynamics and the caries process. Caries Res 2008; 42:409-418.

49. Zezhang W, Henry B, Robert B. Influence of BrpA on Critical Virulence Attributes of Streptococcus mutans. Journal of Bacteriology 2006; 8:2983–2992.

50. Koo H, Xiao J, Klein MI, Jeon JG. Exopolysaccharides produced by

Streptococcus mutans Glucosyltransferases Modulate the Establishment of

Microcolonies within Multispecies Biofilms. J Bacteriol 2010;192:3024-3032.

51. Yamashita Y, Bowen WH, Burne RE, Kuramitsu HK. Role of the Streptococcus mutans gtf genes in caries induction in the specific-pathogen-free rat model. Infect Immun 1993; 61:3811-3817.

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial desta obra, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte

Denise Leda Pedrini

Documentos relacionados