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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.5. Análise das diferentes operações de gestão de RH e propostas de melhoria

4.5.6. Avaliação da eficácia da autoclavagem

No âmbito do tratamento dos RHP, a autoclavagem pode ser definida como um sistema de "esterilização" ou descontaminação dos resíduos por vapor saturado a alta temperatura e em sobrepressão, capaz de atingir uma inativação microbiológica de nível 4 (EPA, 1994), destinado à descontaminação dos RH do Grupo III.

A aplicação da autoclavagem pressupõe a existência de triagem (Tavares, 2004), que garanta que no local de produção dos resíduos sejam separados aqueles que pela sua natureza não sejam suscetíveis de tratamento por este método como, por exemplo, os reagentes, fármacos e citostáticos, cuja perigosidade é química e não biológica.

Os benefícios decorrentes da triagem efetuada justificam-se plenamente, se levarmos em conta, além das inegáveis vantagens para o ambiente, o custo diferenciado dos métodos de tratamento aplicáveis.

Apesar de, após o tratamento por autoclavagem, os RH ficarem deformados e com diminuição de volume por efeito conjugado da pressão e temperatura (aproximadamente uma diminuição de 40%), leva a que lhe seja, normalmente, associado um sistema de trituração e muitas vezes também de compactação final, tanto mais importantes quanto o facto de os resíduos depois de descontaminados possam integrar o circuito de destino final dado aos RSU.

Estes últimos dois processos (trituração e compactação) são aconselháveis após a autoclavagem por motivos ligados à perceção de “resíduo hospitalar”, e questões ambientais relativas ao aumento do tempo de vida útil dos aterros onde os resíduos, após tratamento, são depositados (Ambimed, 2006). Existem, essencialmente, dois tipos de autoclaves que se distinguem pela remoção do ar presente na câmara de esterilização que são por gravidade ou por pré-vácuo, No primeiro caso, a extração do ar da câmara é obtida através da injeção do próprio vapor saturado, sendo o ar removido através de uma válvula ativada pela pressão obtida. No segundo caso, a remoção do ar é realizada previamente à introdução de vapor, por realização de um vácuo controlado na câmara de esterilização (Ambimed, 2006).

Considerando o tipo de RH que se pretende esterilizar e os tipos de autoclaves existentes, o autoclave mais recomendado é o de pré-vácuo, pois apresenta características de pré-vácuos com controlo dos mesmos, através da cota física a atingir (99,8% de vapor e 0,02% de ar), programada na própria autoclave, para fazer o vácuo o tempo necessário para cada carga específica, até se atingir o nível de eficácia que garanta a descontaminação do resíduo a tratar (Ambimed, 20006).

É de salientar que caso o pré-vácuo seja definido pelo tempo corre-se o risco de, no caso de haver cargas com maior quantidade de vazios, a falta de eficácia da retirada do ar da câmara poder inibir o contacto do vapor e a temperatura (agentes destruidores dos microrganismos), com o resíduo. A autoclavagem é considerada uma tecnologia limpa e totalmente aceitável em termos ambientais porque o tratamento dos RH assenta essencialmente na utilização de (Ambimed, 2006):

• Vapor de água como agente esterilizante, não produzindo nenhum resíduo tóxico ou perigoso; • Tratamento dos efluentes líquidos e gasosos de modo a garantir a sua inocuidade antes da

sua rejeição;

• Garantia de inativação microbiológica dos resíduos a tratar – descontaminação de nível 4 (i.e. inativação de bactérias vegetativas, fungos e vírus lipofílicos e hidrofílicos, parasitas e micobactérias e inativação de esporos de Bacillus Stearothermophilus ou Bacillus Subtillis, com uma redução maior ou igual a 6 Log10 que significa uma probabilidade de sobrevivência de 0,000001) (Tavares, 2004).

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Os autoclaves para resíduos devem também possibilitar a esterilização do ar expulso da câmara, por ação de um filtro HEPA, e esterilização do ar que passa no filtro, sujeitando-o aí também à mesma ação de esterilização com vapor e temperatura (Ambimed, 2006).

Outra medida importante de “minimização do impacte ambiental” é a esterilização do efluente líquido resultante da condensação do vapor do ciclo de autoclavagem, antes da sua rejeição para a rede de drenagem de águas residuais. A esterilização prévia dos efluentes líquidos, antes da sua descarga na rede, é obtida com a incorporação no sistema de autoclavagem de um "digestor" específico que acumula os condensados resultantes de cerca de 10 ciclos, após o que efetua um ciclo mais longo para sujeitar à ação de esterilização com vapor e temperatura, todo o efluente contido no "digestor" (Ambimed, 2006).

O equipamento deverá ainda possibilitar a adaptação dos programas de funcionamento do ciclo de esterilização à natureza da carga cujo conteúdo específico possa requerer aumentar o nível de exigência de descontaminação (Ambimed, 2006).

A Figura 4.6 apresenta a variação dos parâmetros temperatura/pressão/tempo para um ciclo típico de descontaminação/esterilização:

Figura 4.6 - Fases do processo de esterilização (Ambimed, 2006)

Avaliação da eficácia do tratamento:

Qualquer sistema de tratamento de resíduos por autoclavagem deveria ter como obrigatório a avaliação da sua eficácia através das seguintes monitorizações (Ambimed, 2006):

Ana Teresa C. Santos, Engª Ambiente/P.G.Eng.Sanitária

Fases do ciclo de esterilização

0 10 20 30 40 0 -0,85 0,45 -0,85 0,45 -0,85 0,45 Diagrama do Ciclo de Esterilização2,2 2,2 2,2 2,2 2,2 2,2 2,2 2,2 2,2 2,2 -0,9 -0,9

-1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 10 20 30 40 50 Tempo (minutos) P re ss ão ( kg /cm 2)

1ª FASE - Pressão relativa -0,85 Atm

proporção no interior da câmara:

99,80% de vapor e 0,20% de ar 2ª FASE - Aquecimento com tempe- ratura de 134º C e uma pressão de +2,2 Atm

3ª FASE - Esterilização mantendo as condições de temperatura e pressão durante o tempo necessário

4ª FASE- Desvaporização num vácuo de -0,90 Atm, passando-se gradual- mente à pressão atmosférica.

Monitorização Paramétrica (Figura 4.7): Cada ciclo de tratamento é monitorizado pelo equipamento de controlo do autoclave e todos os dados relativos a pressão, temperatura e duração do ciclo são registados, em tempo real e em contínuo. O equipamento efetua o controlo dos parâmetros por microprocessador com “impressão” contínua de dados sobre os diferentes estádios do ciclo de autoclavagem, o que possibilita a manutenção de dados comprovativos dos tratamentos efetuados.

Figura 4.7 - Monitorização paramétrica (Ambimed, 2006)

Desta forma é possível saber se atingiram os valores necessários relativamente aos parâmetros que intervêm na descontaminação dos resíduos (temperatura, pressão e tempo).

Indicadores Biológicos (Figura 4.8): Esta monitorização poderá ser realizada utilizando vários tipos de controle, entre os quais os Indicadores Biológicos. A EPA recomenda a utilização do B. stearotermophillus como indicador biológico para o controle destes métodos de tratamento térmico.

O critério mínimo de eficácia (Quadro 4.15) a obedecer diz respeito à inativação de bactérias vegetativas, fungos e vírus (lipofílicos e hidrofílicos), parasitas e micobactérias, com uma redução maior ou igual a 6 Log10 em relação à população inicial, bem como a inativação em esporos de Bacillus Stearothermophilus ou Bacillus Subtilis, com uma redução maior ou igual a 4 Log10 (Tavares, 2004).

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Quadro 4.15 - Níveis de inativação microbiana exigidos para o tratamento de RH (Tavares, 2004) Nível de

Inativação Descrição

Nível 1 Inativação de bactérias vegetativas, fungos e vírus lipofílicos com uma redução maior ou igual a 6 Log10

Nível 2 Inativação de bactérias vegetativas, fungos e vírus lipofílicos e hidrofílicos, parasitas e micobactérias com uma redução maior ou igual a 6 Log10

Nível 3 Inativação de bactérias vegetativas, fungos e vírus lipofílicos e hidrofílicos, parasitas e micobactérias com uma redução maior ou igual a 6 Log10 e inativação de esporos de Bacillus Stearothermophilus ou Bacillus Subtillis, com uma redução maior ou igual a 4 Log10

Nível 4 Inativação de bactérias vegetativas, fungos e vírus lipofílicos e hidrofílicos, parasitas e micobactérias e inativação de esporos de Bacillus Stearothermophilus ou Bacillus Subtillis, com uma redução maior ou igual a 6 Log10

Análises microbiológicas em laboratório externo (Figura 4.9): recolha e envio de uma amostra de resíduo já tratado, para análise em laboratório externo. Estas análises são efetuadas de acordo com o procedimento e método analítico previamente estabelecido pelo laboratório.

Figura 4.9 - Amostra de resíduo para análise em laboratório externo (Ambimed, 2006)

A redução de volume resultante da operação de autoclavagem é de 40%, esta redução deve-se em especial à diminuição do teor de humidade dos resíduos. Se os resíduos forem sujeitos a trituração e compactação ainda obterão mais de 30% de redução do seu volume, assim obtendo-se um valor de redução final de volume, antes da deposição em Aterro, de 70% (Ambimed, 2006).

Os resíduos, assim descontaminados, apresentam-se totalmente inócuos, sendo por isso passíveis de integrar o circuito normal dos RSU, para o que serão colocados em contentores/compactadores, fechados, para remoção e deposição final em aterro sanitário (ou outra solução de destino final dos RSU). Esta redução de volume constitui mais uma medida de “minimização de impacte ambiental” uma vez que dada a redução do volume de resíduos depositados em aterro pode-se contribuir para o aumento do tempo de vida útil do mesmo.