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3. GESTÃO DE RESÍDUOS HOSPITALARES

3.4. Impactes dos resíduos hospitalares para a saúde pública

A exposição aos RH pode provocar doenças e danos à saúde, podendo a natureza dos riscos dever- se a uma ou mais das seguintes características: presença de agentes infeciosos e de materiais invasivos (agulhas), presença de citostáticos, de fármacos e químicos perigosos ou tóxicos e, nalgumas situações mais específicas, presença de radioatividade (Tavares et. al., 2007).

Todos os indivíduos expostos a RHP podem estar potencialmente em risco, em consequência da sua gestão deficiente, incluindo os produtores de resíduos no interior das UPCS, até aos operadores das instalações de destino final. Os principais grupos de risco são os seguintes (Prüss et. al., 1999):

 Médicos, enfermeiros, assistentes operacionais e pessoal da manutenção hospitalar;

 Funcionários de empresas que prestam serviços de apoio à atividade hospitalar (lavandaria, limpeza, recolha e transporte de resíduos);

 Utentes das UPCS e dos cuidados domiciliários;  Pessoas que visitam os utentes nas UPCS;

 Funcionários relacionados com a deposição final dos resíduos.

Dentro dos RH perigosos existem alguns tipos que carecem de uma maior preocupação e, consequentemente uma melhor atenção para o risco que lhe está associado, designadamente os resíduos que contêm agentes infeciosos, os citostáticos, os químicos, fármacos perigosos e os especiais perigosos.

Resíduos com agentes infeciosos

Os resíduos contaminados podem possuir uma grande variedade de microrganismos patogénicos, que podem entrar no corpo humano pelas seguintes vias (Tavares, 2004):

- Através de picada, abrasão ou corte na pele; - Através das membranas das mucosas; - Por inalação;

- Por ingestão.

Os fluídos orgânicos são os veículos de transmissão de doença com maior perigosidade, por exemplo, as fezes e vómitos podem transmitir microrganismos responsáveis por infeções gastrointestinais, e no caso das fezes, pode também ser transmitida a hepatite A viral. A saliva pode transmitir agentes responsáveis por infeções respiratórias e as secreções genitais por infeções genitais. O sangue é sem dúvida o veículo de transmissão dos agentes mais perigosos, capazes de originar septicémias, bacteriemias, síndroma da imunodeficiência adquirida, hepatites B e C virais, entre outras (Prüss et. al., 1999).

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A existência, nas UPCS, de bactérias resistentes a antibióticos e a desinfetantes químicos, pode também contribuir para aumentar a perigosidade dos resíduos, visto que são dificilmente destruídas dentro e fora do corpo humano (Tavares, 2004).

As culturas concentradas de microrganismos patogénicos ou agulhas contaminadas (particularmente as agulhas hipodérmicas) são, provavelmente, as fileiras de resíduos que representam um maior risco potencial de transmissão de doença (Prüss et. al., 1999).

Resíduos citostáticos

A gravidade dos riscos relacionados com citostáticos varia em função da conjugação da extensão e da duração da exposição. Esta pode ocorrer na prestação de cuidados de saúde, durante a preparação e administração dos tratamentos (Tavares et. al., 2007). Os veículos de propagação destes produtos são as poeiras e aerossóis, que são inalados ou absorvidos através da pele. A exposição também pode ocorrer através do contacto com fluídos corporais e secreções de utentes durante os ciclos de quimioterapia (Tavares, 2004).

Estudos experimentais demonstram que muitos citostáticos são cancerígenos e mutagénicos; uma segunda neoplasia, que ocorre depois do cancro original ter sido eliminado, está associada com algumas formas de quimioterapia. Muitas drogas citotóxicas são extremamente irritantes e possuem efeitos locais significativos após o contacto direto com a pele e olhos. Podem também originar tonturas, náuseas, enxaquecas ou dermatite (Tavares, 2004).

Um especial cuidado no manuseamento deste tipo de resíduos é essencial, qualquer descarga destes resíduos no ambiente pode originar consequências ecológicas desastrosas.

Resíduos químicos e fármacos perigosos ou tóxicos

Muitos dos fármacos e químicos usados nos estabelecimentos de saúde, são perigosos (tóxicos, corrosivos, inflamáveis e explosivos). Estas substâncias são produzidas, geralmente, em pequenas quantidades em relação ao total de resíduos hospitalares produzidos. Estes resíduos podem originar intoxicações resultantes da absorção ou contacto, através da pele, membranas das mucosas e ingestão (Tavares, 2004).

Os desinfetantes são particularmente importantes neste grupo de resíduos, pois são usados em grandes quantidades e são, muitas vezes, corrosivos, por outro lado, alguns químicos são reativos e podem formar componentes secundários altamente tóxicos (Tavares, 2004).

Os resíduos químicos rejeitados no sistema de esgotos, têm efeitos adversos nas operações que têm lugar nas estações de tratamento de águas residuais, uma vez que alteram e destroem a flora biológica, para além de provocarem efeitos tóxicos nos ecossistemas dos cursos de água que os

recebem. Problemas similares podem ser causados por resíduos farmacêuticos, onde se incluem antibióticos e outras drogas, metais pesados (e.g. mercúrio), fenóis e derivados, desinfetantes e antissépticos (Tavares, 2004).

Resíduos especiais perigosos

O manuseamento dos resíduos especiais perigosos (REP), como por exemplo: o álcool, formol, xilol, ácidos e bases em que a perigosidade destes resíduos é igual à da substância química original, deve ser efetuado tendo em consideração a perigosidade associada a cada tipo de resíduo, assim como se deve ter em linha de conta os efeitos que podem surgir quando os resíduos são sujeitos a um manuseamento incorreto.

Nas UPCS, todos os funcionários devem assumir a responsabilidade pela execução do seu trabalho, de acordo com as boas práticas de segurança e estar preparados para a ocorrência de eventuais situações acidentais.

Devem ter à sua disposição equipamento de proteção individual (EPI) adequado ao tipo de resíduo que estão a manusear, e ter conhecimento das fichas de dados de segurança de cada substância, de modo a manusear e armazenar todos os produtos em segurança.

Para evitar os riscos inerentes aos RH, devem os diplomas legais ser, também, aplicáveis, exigentes e adequados, não só ao nível da gestão de RH como, também, relacioná-los com a segurança e saúde no trabalho, uma vez que todos os grupos de risco, com exceção dos utentes e visitas, encontram-se expostos potencialmente ao risco e devem prestar as suas funções nas melhores condições, de modo a não prejudicar a sua saúde.