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Após leitura de vários trabalhos sobre avaliação, foi possível abstrair que Scriven (1967), em suas análises das metodologias dos programas sociais, quando sugere a distinção entre os tipos de avaliação, ele concebe a ideia de uma avaliação cuja função é promover o desenvolvimento e melhoria dentro de uma atividade em curso, quer seja um projeto, um programa, uma pessoa, um produto etc., o que ele identifica como avaliação formativa.

Sua importância se evidencia pelo fato de ser utilizada para avaliar o projeto ou programa enquanto as suas atividades estão se formando ou em andamento, de modo que é neste momento onde ocorre a avaliação de seu valor. Logo, esta avaliação centra-se no processo. Esta modalidade de avaliação demonstra aos interessados como os objetivos estão sendo alcançados e possibilita identificar as deficiências de maneira que as intervenções necessárias sejam feitas.

Aludindo a Scriven (1967), concernente ao papel da avaliação formativa, Boniniol e Vial (2001, p.163) traduzem-na como avaliação baseada no processo e interna. Dizem que ela "consiste em uma apreciação global ou setorial das mudanças ocorridas em uma ação de formação com relação às pessoas que têm a responsabilidade de realizar a ação e que devem orientá-la, melhorá-la, fazer com que seja bem sucedida no tempo em que ela se desenvolve".

Saettler (1990, pp.430-431), em sua abordagem sobre os dois tipos de avaliações no contexto do desenvolvimento de um projeto, comenta que a avaliação formativa é usada para identificar e definir projetos de programas que pudessem fornecer um indicador confiável da aprendizagem para o seu público, e acrescenta que, a avaliação formativa neste contexto "é usada para refinar os objetivos e desenvolver estratégias de modo que as metas possam ser atingidas, uma vez que o ato de avaliar com intenções formativas difere grandemente do ato de medir, qualificar e também de corrigir embora ela lance mão de atividades com este teor". O

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autor ainda nos diz que a avaliação com função formativa se caracteriza como um processo no qual a aprendizagem se evidencia em todos os atores que participam do projeto.

Trata-se de um "processo de aprendizagem mútua através da prática durante o qual se verifica uma espécie de vaivém entre a ação e a análise crítica possibilitando a regulação das atividades no decurso da sua própria realização" (Estrela & Nóvoa, 1993, p.122). Na visão destes autores, as características principais de uma avaliação formativa, neste contexto, são de criar as condições mútuas de uma aprendizagem através da prática, além de favorecer o diálogo e tomada de consciência coletiva ao serviço da eficácia da própria ação.

Deste modo, entendemos que, uma vez utilizando a avaliação formativa em projetos, o que por definição segundo (Cortesão, Leite & Pacheco, 2002, p.53) "é um trabalho coletivo com que se procura intervir no contexto educativo e/ou social e/ou resolver um problema", e por assim ser, ter a participação de vários atores, os pontos de vista tanto do avaliador quanto dos seus atores são colocadas à mostra, de modo que os vários olhares sejam contemplados, conduzindo assim a viabilizar medidas viáveis de ação eficaz para sua melhoria e, por conseguinte, para todos os envolvidos no projeto, pois o objeto que está sob avaliação é melhorado tendo em consideração como ele será utilizado, qual o seu efeito desejado e como ele será entregue e avaliado. Neste contexto, segundo Hadji (2001, p.68) "embora a avaliação com intenção formativa deva imperativamente tornar-se informativa, ela só existe com a condição de se pronunciar sobre a adequação da realidade às expectativas".

Inicialmente, dentro da pedagogia, a avaliação formativa é definida por Cortesão (1993, p.12) como "um conjunto de práticas variadas que se integram no processo de ensino/ aprendizagem e que procuram contribuir para que os alunos se apropriem melhor das aprendizagens curriculares estabelecidas como importantes, assumindo como ponto de diferença com a avaliação sumativa o fato de ela assumir um caráter privado".

Nesta linha de pensamento, Abrecht (1986, pp 71 – 72) aborda a abertura da avaliação formativa sobre a diversidade (individual) dos modos de aprender; a extensão, diversificação e pluralização dos percursos e o imprevisto, o inesperado, o secundário. Para ele, a avaliação formativa deve ser um "instrumento de ajuda o qual torna-se mais importante à medida que ela se torna pertinente, ou seja, se adéqua aos problemas que vão surgindo e multidimensional no momento em que se é designado, integrado e implicado os mais diversos elementos do contexto interativo no qual a aprendizagem vai se processando". Assim, a avaliação formativa implica um

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feedback reflexivo sobre o percurso da aprendizagem, propiciando uma consciência desse processo abrangendo os objetivos e as dificuldades pessoais.

Neste contexto, abstraímos a ideia de que a avaliação formativa se perfaz num espaço, independente de ser uma sala de aula, onde estão inseridos professores e alunos. A função é regular, durante o processo de aprendizagem, todos os procedimentos que aconteçam naquele ambiente para que aquele que está sendo instruído seja estimulado a aprender coisas que tenham significado para ele.

Dentro desta perspetiva, Hadji (2001, p.19) aborda a temporalidade da avaliação formativa como aquela que "ocorre no centro da ação formativa". Isto porque sua função principal é "[…] contribuir para uma boa regulação da atividade de ensino (ou de formação no sentido amplo)".

A regulação da aprendizagem também é contemplada na avaliação formativa. "Toda ação pedagógica repousa sobre uma parcela intuitiva de avaliação formativa, no sentido de que, inevitavelmente, há um mínimo de regulação em função das aprendizagens ou, ao menos, dos funcionamentos observáveis dos alunos" (Perrenoud, 1999, p.14).

Ainda neste contexto, a avaliação formativa integrada ao processo de aprendizagem, segundo Alves (2004, p.67) "pretende-se reguladora. Ela faz-se acompanhar de procedimentos de remediação que são mais de índole pedagógica do que avaliativa na medida em que o seu objetivo é o de ajustar o tratamento didático à natureza das dificuldades encontradas no momento do diagnóstico". A autora também esclarece que o objetivo da avaliação formativa não repousa apenas neste aspeto, mas também, na obtenção de uma dupla retroação: sobre os alunos e professores, sobre os alunos servindo de indicador do caminho que eles já percorreram mostrando-lhes as etapas vencidas e as dificuldades que eles necessitam superar, no que tange aos professores, indicando-lhes como se desenvolve o programa pedagógico que estão utilizando e os obstáculos que eles enfrentam e pontua sua contribuição para uma boa regulação das atividades de ensino e aprendizagem dos alunos e professores, classificando esta visão reguladora nos níveis de regular o dispositivo pedagógico e a atividade do aluno1.

1 "Uma regulação do dispositivo pedagógico: O professor informado dos efeitos do seu trabalho pedagógico modifica a ação ajustando as suas intervenções; Uma regulação das deficiências do aluno que lhe permite tomar consciência das dificuldades com que se depara no seu percurso de formação, a fim de reconhecer e corrigir os erros" (Alves,2004, p.61).

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Este tipo de avaliação impacta positivamente o ensino aprendizagem pelo fato de avaliar no contexto e intervalo da construção do conhecimento. Esteban (2004, p.19), faz apreciação neste aspecto:

"Avaliar o aluno deixa de significar fazer um julgamento sobre a sua aprendizagem, para servir como momento capaz de revelar o que o aluno já sabe os caminhos que percorreu para alcançar o conhecimento demonstrado, seu processo de construção do conhecimento, o que o aluno não sabe e o caminho que deve percorrer para vir, a saber, o que é potencialmente revelado em seu processo, suas possibilidades de avanço e suas necessidades para a superação, sempre transitória, do não saber, possa ocorrer".

Segundo De Ketele (1993), a avaliação formativa possui três etapas essências:

1- O recolhimento de informações relativas aos progressos e às dificuldades de aprendizagem encontradas por aluno;

2- A interpretação destas informações numa perspectiva à referência criterial e, na medida do possível, o diagnóstico dos fatores que deram origem as dificuldades de aprendizagem observadas no aluno;

3- A adaptação das atividades de ensino e de aprendizagem em função da interpretação feita das informações recolhidas.

Perrenoud (1999) diz que é formativa toda avaliação que ajuda o aluno a aprender e a se desenvolver, ou melhor, que participa da regulação das aprendizagens e do desenvolvimento no sentido de um projeto educativo.

No tocante ao progresso da aprendizagem, Pacheco (1994, p.75) menciona que "sendo parte integrante do processo avaliativo, determina em termos qualitativos o progresso de aprendizagem e fornece feedback para a sua regulação permitindo identificar as correções a realizar".

Em uma avaliação formativa, o avaliador que assim se intitula, concebe a avaliação, segundo Stake (2006, p.62), "como parte de um processo de mudança que aporta informação que contribui para mudar o avaliando que está, todavia, em processo de desenvolvimento", servindo também como instrumento de medição da qualidade desta aprendizagem, conforme infere Quebeque (1982b, p.35 apud Abrecht, 1986, p.31) ao dizer que "a avaliação formativa é um sistema de avaliação que consiste em recolher, em ocasiões diferentes, no decorrer de um programa de estudos ou de curso, informações úteis para verificar, periodicamente, a qualidade da aprendizagem". Para o referido autor, a avaliação formativa tem por objetivo detetar as decorrências ou as eventuais dificuldades de aprendizagem.

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Segundo Fernandes (2006), o entendimento sobre avaliação formativa dos anos 1960 e 1970 apresentado por autores, como por exemplo, Scriven (1967), Bloom, Hasting e Madaus (1971), era de uma avaliação mais restritiva, centrada em objetivos comportamentais e resultados obtidos pelos alunos. Não tinha muita interatividade e normalmente sua realização ocorria após o período de ensino e de aprendizagem. Para o autor, a visão atual da avaliação formativa apresentada por alguns outros autores como, por exemplo, Earl (2003), Torrance e Prior (2001) dentre outros, é diferente pelo fato de apresentar uma maior complexidade e, do ponto de vista teórico, é mais rica. Deste modo, hoje, a avaliação formativa é mais interativa, focada nos processos cognitivos associados aos processos de feedback, regulação, auto- avaliação e auto-regulação das aprendizagens dos alunos.

No que tange à avaliação de programa, para (Ala-Harja & Helgason, 2000 apud Trevisan & Bellen, 2008, p.541), a avaliação formativa é feita durante a sua implementação, usada como "instrumento para se adquirir mais conhecimento sobre o processo de aprendizagem para o qual se deseja contribuir, de modo a melhorar não apenas a gestão como também a implementação e desenvolvimento do programa com ênfase voltada para a aplicação direta dos resultados".