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C. Avaliação e impactes percecionados na comunidade educativa e na sociedade portuguesa em geral.

1. Avaliação interna da Implementação do Currículo

A direção e a administração apresentam algumas formas de avaliação da implementação do Currículo, que apesar de ainda não terem sido concretizadas, serão passíveis de fornecer informações sobre como está a ser implementado o currículo. Verifica-se que cada elemento apresenta uma perspetiva diferente da forma de conseguir essa avaliação. Enquanto os elementos da direção têm uma visão da avaliação do ponto de vista pedagógico, em que se pretende que os alunos adquiram competências no domínio do saber fazer e saber ser, a administração sugere uma avaliação mais baseada nos resultados académicos, mas também na adesão dos alunos a atividades propostas pela escola, por exemplo, atividades desportivas em meio aquático. Esta diferença de visões pode ser explicada pela cultura profissional de cada um dos elementos. De referir que o elemento (D1) tem uma visão pedagógica global da escola, enquanto o elemento (D2) acumula funções de direção com funções de docência.

Acho que era uma coisa engraçada de se avaliar no fim, por exemplo, se no final do ano os alunos tiverem que apresentar a toda a escola qualquer coisa que tenham feito ou que tenha aprendido durante o ano (…) dois ou três dias não será muito exagerado… (D1)

128 … não estamos aqui a falar de avaliação sumativa. Porque a avaliação sumativa, nós isso temos um currículo normal, não é?... Normal, num desenho curricular as disciplinas no geral avaliam dados quantitativos, aqui… queremos que os alunos adquiram competências, competências para a vida, que eles aprendam fazendo, não apenas vendo o lado do conhecimento, do conhecer, mas do ser, do saber, do querer ser, do transportar para o dia a dia aquilo que fazem nestas atividades. (D2)

Duas formas, para já, sem prejuízo de todo este tema ser novo e em construção e, portanto, em evolução. A primeira tem a ver com as questões que em cada disciplina sejam incluídas e com a avaliação que se fará, aí, dum modo semelhante às demais questões do programa curricular. A outra, pelo aumento da curiosidade científica, pelo aumento do gosto pelo conhecimento em geral e que se percebe pela atitude mais ou menos generalizada dos alunos e a adesão destes às propostas apresentadas e à participação ativa nas mesmas. (AD)

Os professores de primeiro ciclo e da área de Línguas e Humanidades referem que não avaliaram de uma forma geral os trabalhos dos alunos, à exceção do ensino secundário, e que não notaram mudanças especiais, com algumas exceções, nos seus conhecimentos sobre a importância estratégica do mar. Além de considerarem ser muito cedo para conseguirem avaliar com correção, apenas com um ano letivo de trabalho. No entanto consideram que os alunos têm uma perceção bastante positiva sobre a implementação do Currículo do Mar.

Não sentimos mudanças no modo de aprender dos alunos para a importância estratégica do mar. (P1)

Daquilo que fui ouvindo por parte deles, acho que foi de forma positiva, mas acho que ainda pode ser muito mais positiva. Também é o primeiro ano, até para nós foi difícil. (P5)

Assim, uma avaliação concreta não a fiz, mas consigo perceber interiormente que aquilo em que apostei teve frutos positivos na aprendizagem deles, sim. (P7)

129 Eu fiz avaliação concetual, procedimental e atitudinal e em todos os campos, todos foram positivos e eles estiveram… foram ao encontro das minhas expectativas, corresponderam, portanto foi bem sucedido. (P8)

Os professores de Ciências e Tecnologias pensam que a avaliação não é positiva, uma vez que se consideraram as atividades desenvolvidas sobre o mar, como atividades extra e não como inerentes a um currículo próprio da escola.

Acaba por ser uma atividade extra e o objetivo se for devidamente implementado não deve ser visto como algo extra, deve ser visto como algo que consta num alinhamento de um programa, portanto deveria ser reformulado, deveria estar nas nossas aulas, os blocos deveriam estar já pensados dessa forma, devia ser… eu agora tenho estas aulas e ainda vou criar uma aula extra para… não! Deveria sair naturalmente,(…) obriga um professor de uma disciplina andar à procura de uma atividade inteira para fazer mas pode participar… fica mais simples, distribui-se o trabalho e estamos a trabalhar todos juntos. É um projeto. (P10)

Portanto se é para implementar um currículo eu acho que parte muito de termos um guião do que é que é que nós poderemos fazer, que dizer só o objetivo é muito subjetivo, (…) temos que preparar toda uma aula extra, para além de todas as aulas que temos que preparar temos outra aula completamente diferente, porque não é a mesma coisa do que lecionar um conteúdo que está no programa e que já estamos habituados a dar ou que é novo, mas que nós usamos frequentemente (…) se nós não tivermos um suporte que nos ajude a desenvolver essas atividades acabamos por limitar muito o que podemos fazer. Porque vamos perder imenso tempo que não temos. (P11)

Estas duas últimas respostas parecem-nos paradoxais, uma vez que a decisão do currículo e a sua gestão passa necessariamente pela vontade do professor. Como nos refere Pacheco (2008), “o professor é a pedra angular do currículo por mais prescritiva que possa ser a política curricular.” Embora a natureza individual da ação docente, a balcanização do trabalho possa ser uma ameaça, pois poderá refletir a escola como um organismo debilmente articulado, existe sempre espaço também para a partilha com os colegas, no

130 dia a dia e depende de cada professor, tomar também essa iniciativa, pois é a forma de aprender a ser educador. Torna-se necessário que o professor passe “de executor” a “decisor e gestor de currículo, exercendo a atividade que lhe é própria – ensinar, isto é, fazer aprender.” (Roldão, M. C. 1999)