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1 INTRODUÇÃO

1.3 A AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DO PLANO DE

GERONTOLÓGICA (PAGe)

O instrumento objeto de estudo desta pesquisa, o Plano de Atenção Gerontológica (PAGe), teve sua construção iniciada em 2006, pelos docentes e discentes do curso de Bacharelado em Gerontologia da Universidade de São Paulo, com objetivo de constituir uma ferramenta norteadora para a prática do profissional gerontólogo quanto a avaliação multidimensional do idoso e gestão de caso. Neste mesmo ano, concluiu-se sua primeira versão (anexo 1). Deste então, o PAGe sofreu diversas modificações baseadas nas experiências práticas dos estágios obrigatórios do curso, originando uma segunda versão para uso em ambiente hospitalar (anexo 2).

Tal iniciativa surgiu da necessidade de se ter uma ferramenta gerontológica que norteasse a prática do profissional Gerontólogo. No início de sua utilização, o módulo de avaliação do PAGe seguia a lógica da Avaliação Multidimensional do Idoso clássica, onde diversas escalas consagradas na literatura Gerontológica e Geriátrica eram aplicadas, com o objetivo de levantar possíveis demandas e necessidades do idoso. As escalas eram escolhidas de acordo com uma entrevista, onde o Gerontólogo questionava o idoso sobre aspectos biopsicossociais de forma aberta e não estruturada. Durante a utilização dessa versão, foi constatado que algumas demandas importantes não eram identificadas, enquanto, ao mesmo tempo, perdia-se muito tempo aplicando diversas escalas. Limitações estas já documentadas na literatura em relação à Avaliação Multidimensional do Idoso (Osterweil, 2003).

Em 2010, no primeiro oferecimento da disciplina de Avaliação Gerontológica Ampla, o PAGe recebeu maior atenção e foi totalmente reestruturado e aprimorado através das discussões e considerações de diversos docentes e alunos participantes da referida disciplina sobre os aspectos/itens/variáveis essenciais a serem avaliados dentro de cada área/domínio, o que exatamente se pretendia medir com cada questão e qual sua relevância para o plano de

gestão. A docente responsável pela disciplina, Profa Dra Ruth Caldeira de Melo, orientadora deste mestrado, reuniu e organizou os resultados deste trabalho, originando-se o denominado PAGe versão 2.1.

O PAGe passou então a ser dividido em quatro grandes módulos: I) Avaliação Multidimensional do Idoso; II) Planejamento das ações; III) Coordenação e Implementação das ações; IV) Controle e Reavaliação. O módulo de Avaliação Multidimensional do Idoso foi definido como uma ferramenta que permite reunir informações dos mais diversos aspectos relacionados ao indivíduo, com o objetivo de constituir um rastreio multidimensional, biopsicossocial, averiguando possíveis riscos psicossociais e de saúde, para apontar encaminhamentos necessários e/ou avaliações mais profundas (Cezar, 2012).

Todo aprimoramento feito neste instrumento foi conduzido pela busca de uma avaliação que fosse destinada para um rastreio de risco nos diferentes aspectos/domínios biopsicossociais, definindo-se quais eram os principais aspectos de cada área para identificar determinado risco, e não para uma avaliação aprofundada. Desta forma, o módulo de Avaliação passou a ser norteado pela ideia e propósito de uma Avaliação Multidimensional Rápida (Ministério da Saúde, 2006; Moore & Siu, 1996), a qual precede a aplicação de escalas de rastreio específicos. Com o intuito de garantir ou facilitar uma futura validação, mediante os conhecimentos e orientações sobre validade de instrumentos adquiridos e recebidos na época, a maioria das perguntas de cada domínio foi extraída das escalas e instrumentos específicos e amplamente utilizados na prática gerontológica (Cezar, 2012). Já para a construção dos módulos voltados para o desenvolvimento do plano de gestão (planejamento, implementação e monitoramento das ações sugeridas com base na avaliação), os quais não serão objetos de estudo neste mestrado, o Projeto Terapêutico Singular do Caderno nº 19 de Atenção Básica (Ministério da Saúde, 2006) serviu como norte.

Em 2011 e 2015, visando sua readequação para uma futura validação, o módulo de avaliação multidimensional da versão 2.1. passou por dois estudos preliminares, que exploraram dentro de trabalhos de conclusão de curso, com amostras distintas e pequenas (respectivamente 78 idosos, sendo 36 institucionalizados e 36 residentes na comunidade, e aproximadamente 40 idosos residentes na comunidade), análises de confiabilidade (consistência interna por alfa de Cronbach e correlações), validade de construto por análise fatorial, e validades de face e conteúdo pela revisão da literatura e discussão com estudiosos da própria graduação em Gerontologia. Estes trabalhos deram origem às versões 2.2 e 2.3 do instrumento (anexo 3) (Cezar, 2012; Zomparelli, 2016). Esta última teve seus resultados parcialmente divulgados no VII Seminário de Pesquisa em Gerontologia e Geriatria da

UNICAMP com o tema “Avaliação Geriátrica Ampla”, sendo o trabalho premiado em primeiro lugar entre os apresentados na área de Biologia e Saúde (Zomparelli et al., 2015).

Na prática do Gerontólogo, o PAGe se mostrou muito útil, a ponto do mesmo ter sido utilizado em publicações científicas antes mesmos da sua real validação (Lima-Silva & Senaga, 2012; Paulo & Neves, 2011; Pivoezan & Bestetti, 2011), assim como nos estágios curriculares do curso de Bacharelado em Gerontologia desta universidade. Além destes, um trabalho de iniciação científica realizou uma análise exploratória do domínio de risco de quedas, com uma amostra de 40 PAGes aplicados em idosos da comunidade. Foram definidos critérios para preenchimento de cada fator de risco e uso das mesmas análises já mencionadas no estudo de Zomparelli (2016), verificando boa consistência interna e indícios de validade de construto condizentes com o caráter multifatorial do domínio, destacando-se os fatores intrínsecos para quedas (Pedro, Zomparelli & Melo, 2015).

Até o início desta pesquisa, a escala de Avaliação Multidimensional do Idoso do PAGe era constituída por 124 questões, em sua maioria, fechadas, dos tipos Likert e dicotômicas, distribuídas em 14 domínios: 1) Atitudes em relação ao envelhecimento; 2) Qualidade de Vida; 3) Sentidos; 4) Desnutrição; 5) Capacidade Funcional; 6) Depressão; 7) Cognição; 8) Fatores Cardiovasculares; 9) Administração de Medicamento; 10) Ambiente; 11) Quedas; 12) Violência; 13) Vulnerabilidade social; e 14) Fragilidade. Assim como, estabeleceu-se que ao final da avaliação, as pontuações devem ser normalizadas (em porcentagem) e apresentadas em um gráfico de radar com escala de 0 a 100, o que permite a visualização dos domínios com maior e menor pontuações; contendo também a descrição da avaliação do profissional, indicando se há ou não a necessidade de maior investigação e/ou intervenção em algum domínio, além de uma breve descrição do caso (Cezar, 2012; Zomparelli, 2016). Um resumo comparativo dos resultados dos dois estudos preliminares realizados com a Avaliação multidimensional do PAGe completa, mencionados a cima, podem ser visualizados no apêndice A.

Diante do exposto, considerou-se a importância em dar continuidade ao processo de validação da escala pertencente ao módulo de Avaliação Multidimensional do Idoso do PAGe.