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Esta pesquisa apresenta algumas limitações. Primeiramente, é importante apontar que o desenvolvimento da avaliação multidimensional do PAGe, aqui estudada, decorreu de modo inverso. O processo de desenvolvimento de uma escala/instrumento deve idealmente iniciar com o estudo e a definição de quais serão suas bases conceituais, a fim de se definir claramente o que se quer medir, para em seguida gerar um grande pool (conjunto) de itens propensos para eventual inclusão na escala. Depois de definir o formato de respostas dos itens e padronizar as questões, a escala deve ser enviada para o comitê de especialistas para validação do conteúdo (DeVellis, 2012). A VBI do PAGe passou por um processo inverso à medida que a construção dos seus itens se deu antes da definição de suas bases conceituais e teóricas, como apresentado na introdução deste trabalho. A fim de minimizar esta questão, buscou-se no presente estudo analisar todo o desenvolvimento do conteúdo desta Avaliação, suas respectivas qualidades e pertinência ao construto latente identificado, para em seguida realizar todas as adequações / modificações que fossem necessárias nos itens.

No tocante aos participantes deste estudo, o comitê de especialistas, também se construíram algumas limitações. Diante o caráter inovador do instrumento, especialmente pelo seu construto e intrínseca integralidade, não foi possível selecionar profissionais especialistas na temática central da escala (ou seja, vulnerabilidade biopsicossocial), mas sim em avaliação multidimensional para idosos, cada qual com seus focos de formação, atuação, habilidades e experiência. Entretanto, buscou-se constituir um grupo variado e o mais completo possível quanto a estas características.

A Psicometria constitui um campo complexo e, apesar da busca por disciplinas especificas sobre o tema e do esforço para compreender melhor essa ciência e seus métodos ao longo desta pós-graduação, fica notável a necessidade de maior tempo de dedicação, o qual extrapola o tempo regular de um mestrado. Vale lembrar que algumas referências psicométricas, pouco ou nada exploradas nesta pesquisa, já foram identificadas como importantes para melhor embasar estudos futuros (Messick, 1989; Zumbo, 2014; Newton, 2016; Furr & Bacharach, 2014).

Como consequência da limitação posta a cima, dois critérios importantes para a validação do conteúdo da escala proposta não foram contemplados no presente estudo: relevância e dimensionalidade. Assim como foram avaliados clareza e pertinência, o comitê de especialistas deveria ter avaliado também estes critérios, para que a relevância conceitual de

cada variável em relação ao construto latente da escala (DeVellis, 2012), bem como a qual dimensão (biológica, psicológica ou socioambiental) e a qual domínio cada item pertence pudessem então ser definidos.

Outras limitações identificadas estão relacionadas às colocações feitas pelo especialistas psicometrista, as quais foram mencionadas na discussão dos resultados, mas não foram contempladas até o momento. Sendo assim, mesmo após todas as adequações feitas nos itens, a escala VBI do PAGe ainda apresenta multicolinearidade, questões inversas e cruzamento de questões que podem interferir negativamente em futuros trabalhos psicométricos, especialmente de validade de construto.

Diante o exposto neste tópico, vale ressaltar o caráter inovador da VBI, tanto pelo seu construto, quanto na tentativa de constituir-se como uma proposta intermediária e mais ampla aos instrumentos de rastreio multidimensional já existentes. Características essas que podem dificultar o processo total de validação desta escala. Contudo, acredita-se que mesmo que sejam necessárias modificações no conteúdo em próximos trabalhos, conseguiu-se confirmar a pertinência do construto proposto e suas respectivas variáveis para avaliação de rastreio de vulnerabilidade na população idosa.

6. CONCLUSÕES

O Plano de Atenção Gerontológica (PAGe) é uma proposta essencialmente gerontológica (holística e interdisciplinar) que possibilita, em um mesmo instrumento, realizar o rastreio de potenciais riscos biopsicossociais do idoso e dar sequência, sistematicamente, à gestão do caso (planejamento das ações, execução, monitoramento e acompanhamento), de forma a contribuir com a otimização do atendimento prestado à população idosa.

Desenvolver um instrumento é uma tarefa complexa, que requer empenho em compreender todo o construto teórico que o sustenta e todo seu processo de construção e validação. Apesar das limitações mencionadas no tópico anterior, esta pesquisa proporcionou a definição do construto latente medido pela escala de avaliação multidimensional do idoso pertencente ao PAGe, agora então denominada escala de Vulnerabilidade Biopsicossocial em Idosos (VBI), bem como os doze domínios conceitualmente relacionados e suas bases teóricas.

Vale observar que uma das finalidades em constituir um grupo de especialistas para revisar o conjunto de itens é poder confirmar ou invalidar a definição do construto/fenômeno proposto. Em essência, as ideias sobre o que a escala e cada item/domínio medem são as hipóteses, e as respostas dos especialistas são os dados que as confirmam ou não. Desta forma, a estrutura conceitual definida neste trabalho constitui-se como uma proposta que necessita ser confirmada com a conclusão do processo de validação da escala.

Com o presente trabalho, foi possível analisar, melhorar e proporcionar um registro fiel do desenvolvimento do PAGe e, especificamente, do seu módulo de Avaliação Multidimensional do Idoso. Além disso, todas as variáveis que constituem a escala são consideradas pertinentes ou muito pertinentes e seus itens foram melhorados quanto a clareza, simplicidade, objetividade e outras características desejáveis.

Entretanto, a VBI do PAGe ainda não tem sua validade de conteúdo concluída e confirmada, à medida que é necessário esgotar as considerações conteudistas e psicométricas do comitê de especialistas sobre as modificações realizadas, os critérios de relevância e dimensionalidade, bem como sobre as adequações que não foram possíveis de serem feitas dentro do tempo deste trabalho. Para finalizar a validação de conteúdo, planeja-se dar continuidade com as reavaliações necessárias junto ao comitê de especialistas e publicar os respectivos dados em artigo científico. Por hora, diante o trabalho sistemático, embasado e minucioso realizado sobre cada item, considera-se que a relevância e dimensionalidade propostas serão confirmadas pelo comitê de especialistas e que os itens que foram modificados e incluídos apresentam grande possibilidade de validade de conteúdo.