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Experimento 2: foi empregado o mesmo procedimento do Experimento 1, porém utilizando-se 100 mL de solvente teste e substituindo-se os tu-

5 APLICAÇÃO DO MÉTODO PARA DETERMINAÇÃO DE COCAÍNA EM CÉDULAS MONETÁRIAS UTILIZANDO

5.4 Resultados e discussão 1 Método analítico aplicado

6.4.2 Avaliação da retenção cutânea da cocaína

Ao final da realização dos experimentos de permeação, analisa- ram-se as quantidades finais retidas na epiderme e na derme.

Os resultados da retenção cutânea da cocaína na pele da orelha de porco são apresentados na Figura 6.5, expressos como porcentagem

de cocaína retida na derme, epiderme e quantidade permeada após 6 ho- ras de experimento. Foram comparadas ambas as soluções doadoras tes- tadas e, após a aplicação do teste t-não pareado, diferenças foram consi- deradas significativas quando p<0,05.

Como pode ser observado, a cocaína proveniente de ambas as soluções ficaram retida nas duas camadas da pele. Comparando-se os va- lores de p, pode-se dizer que não houve diferença sigificativa entre a quantidade permeada na epiderme por ambas as soluções (p = 0,8264). Também não houve diferença entre as soluções em relação à quantidade permeada após 6 horas de experimento (p = 0,1023).

Como a cocaína é hidrofílica, era esperada uma maior retenção na derme (esta camada é mais hidrofílica), o que foi comprovado. Entre- tanto, houve uma diferença significativa entre a quantidade de cocaína retida na derme entre a solução padrão de cocaína e o extrato da nota (p = 0.0108), este fato também poderia ser atribuído a influência de outros compostos extraídos da nota.

Figura 6.5. Quantidade (%) de cocaína retida na epiderme, derme e após 6 horas de experimento. Cada ponto representa a média ± desvio padrão (n = 4).

6.5 Conclusão

Enfim, o objetivo principal deste estudo foi atingido, uma vez que foi possível demonstrar que a cocaína extraída de uma cédula mone- tária permeia pela pele. Entretanto, este fato não oferece riscos a pessoas que manuseiam um grande volume de dinheiro diariamente, pois a quan- tidade de cocaína passada das notas de dinheiro para as mãos é tão pe- quena, que mesmo que seja permeada, não trará prejuízos à pessoa.

Foi possível calcular os parâmetros de permeabilidade: fluxo constante, tempo de latência e coeficiente de permeabilidade para as duas soluções de cocaína testadas e a única diferença entre elas foi em relação ao tempo de latência, que foi maior para o extrato da nota, fato atribuído à maior retenção do analito na derme, comprovado depois pela análise de retenção cutânea.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta tese de doutorado surgiu do conhecimento de que pratica- mente todas as notas em circulação no Brasil e no mundo estão contami- nadas com cocaína. E este fato levantou vários questionamento: será que a cocaína sai das notas e vem para as mãos? Será que uma pessoa que manipula um grande volume de cédulas monetárias diariamente fica com uma quantidade de cocaína maior do que uma pessoa que manipula cé- dulas monetárias eventualmente? Será que a cocaína extraída de uma nota permeia pela pele oferecendo algum risco à saúde das pessoas?

Para responder essas perguntas foram desenvolvidos dois méto- dos analíticos com duas técnicas de separação que se baseiam em meca- nismos e fenômenos diferentes: eletroforese capilar com detecção UV (CE-UV) e cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas em tandem (LC-MSMS).

Com o método por CE-UV foi possível determinar que do total de 46 cédulas monetárias da cidade de Florianópolis/SC, a cocaína estava presente em 28 amostras (93%), sendo que 30 notas foram obtidas dire- tamente da circulação em geral. Em relação as 16 cédulas coletadas em caixas eletrônicos, estas eram praticamente novas, o que explica os bai- xos valores encontrados. Os resultados deste estudo destacam a CE como uma alternativa ao GC ou LC na determinação de cocaína em cédulas monetárias. Embora, o LD obtido para este método não seja muito baixo em comparação com o relatado por estudos anteriores usando GC-MS, LC-MS/MS ou CE-ECL. No entanto, o valor de 0,2 mg L-1 parece ser

aceitável para a determinação da cocaína em extratos de notas brasileiras, uma vez que as quantidades encontradas nas notas são muito mais eleva- das do que este valor de LD.

O método por LC-MS/MS foi aplicado em 55 cédulas monetá- rias de cinco cidades brasileiras e em cinco notas de um dólar americano provenientes da cidade de Baltimore/USA. Durante os ensaios prelimi- nares foram identificadas a presença de lidocaína e cafeína nas cédulas que passaram a ser também objetos do estudo. Embora, já exista alguns trabalhos reportados na literatura utilizando a mesma técnica e a mesma matriz, esse método se diferencia porque procurou-se por um meio de extração que fosse rápido, de baixo custo e, principalmente, atóxico e que não danificasse as marcas de segurança das notas e isto foi obtido com

um procedimento de preparo de amostra simples que consiste na submer- são da nota em 400 mL de água desionizada por 15 min sob agitação magnética constante. Foram realizados experimentos para comprovar que o uso da água não compromete a eficiência da extração e que a coca- ína não hidrolisa nas condições experimentais utilizadas.

As menores quantidades de cocaína, lidocaína e cafeína foram encontradas nas notas de dólares. Mas fazendo uma comparação entre as notas provenientes das cinco cidades brasileiras, excluindo-se as notas em que foi detectado mais de 1,0 mg de cocaína, as cidades que apresen- taram a menor e a maior quantidade média de cocaína por nota foram Fortaleza e Rio de Janeiro, respectivamente. A cidade que apresentou as menores quantidades de cafeína e lidocaína também foi Fortaleza. Em contrapartida, a cidade em que foram encontradas as maiores quantidades médias de cafeína e lidocaína por nota foi São Paulo.

Entretanto, o fator primordial que influenciou no desejo de se desenvolver um método para a determinação de cocaína por LC-MSMS foi querer aplicá-lo na análise das mãos da população em geral, mas prin- cipalmente nas mãos de pessoas que manipulam uma grande quantidade de notas de dinheiro diariamente, como bancários, taxistas, cobradores de ônibus, caixas de agências lotéricas. Porém, somente 4 bancários acei- taram participar do experimento e, portanto, o grande grupo amostral foi composto basicamente por estudantes do Departamento de Química.

Dos 98 extratos (49 voluntários), foi detectada cocaína em 49% das amostras. Acredita-se que o grupo amostral que não apresentou co- caína nas mãos não tenha tido contato com algum tipo de fonte de conta- minação (dinheiro ou a própria droga) ou tenha lavado as mãos no dia do experimento. Os extratos das mãos dos 4 bancários resultaram positivo para a cocaína, no entanto a quantidade de cocaína encontrada nos extra- tos das mãos dos bancários foi muito semelhante à encontrada nas amos- tras da população em geral e em baixa concentração.

Através dos experimentos de permeação e retenção cutâneafoi possível demonstrar que a cocaína extraída de uma cédula monetária per- meia pela pele. Entretanto, este fato não oferece riscos a pessoas que ma- nuseiam um grande volume de dinheiro diariamente, pois a quantidade de cocaína passada das notas de dinheiro para as mãos é tão pequena, que mesmo que seja permeada, não trará prejuízos à pessoa.

Finalmente, o objetivo principal deste trabalho foi atingido, pois foi possível demonstrar que a cocaína pode estar presente nas mãos de qualquer pessoa, independente de ser usuária da droga ou não, ou ainda de ser uma pessoa que manipule um grande volume de dinheiro diaria- mente. Por outro lado, esse manuseio não oferece riscos à saúde da po- pulação em geral, pois a quantidade de cocaína passada das notas de di- nheiro para as mãos é tão pequena, que mesmo que eventualmente seja metabolizada, não trará prejuízos à saúde das pessoas.