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A AVALIAÇÃO SEGUNDO THOMPSON E HUNSTON (2000) Thompson e Hunston, no capítulo introdutório do livro Evaluation in Text: Authorial

Movimento 3: Apresentar o trabalho

1.5 A AVALIAÇÃO SEGUNDO THOMPSON E HUNSTON (2000) Thompson e Hunston, no capítulo introdutório do livro Evaluation in Text: Authorial

Stance and the Construction of discourse (2000), apresentam sua abordagem ao estudo do fenômeno lingüístico da avaliação, a qual adoto neste trabalho.

Thompson e Hunston apontam, inicialmente, para o fato de que diferentes autores têm utilizado termos distintos para se referirem à linguagem avaliativa, o que dificulta seu estudo. Entre esses autores estão Lyons (1977), que adota o termo connotation; Besnier (1993), que usa affect; e Halliday (1994), que adota o termo attitude. A diferença principal entre o primeiro termo e os outros dois é que o primeiro enfoca os itens lingüísticos, enquanto que os dois últimos enfocam o usuário da língua. Dentro de uma

perspectiva sistêmico-funcional da língua, à qual Thompson e Hunston pertencem, o foco é sempre no usuário. No entanto, mesmo compartilhando a visão de língua e o foco, ainda assim alguns sistemicistas adotam diferentes termos para o mesmo fenômeno: Lemke (1998) utiliza o termo attidudinal meaning, Martin (2000) fala em

appraisal, e Thompson e Hunston adotam o termo evaluation (avaliação).

Todos os termos acima são usados para descrever o mesmo tipo de opinião, aquele que oferece um julgamento de valor. Mas além desse tipo, há, ainda, um outro tipo de opinião, a do falante ou escritor quanto à probabilidade de algo ocorrer ou não. O termo tradicional para esse tipo de opinião é modalidade, embora o termo evidencialidade (por exemplo, Chafe e Nichols, 1986) também descreva basicamente o mesmo fenômeno.

Thompson e Hunston afirmam que a diferença mais significativa entre esses dois tipos de opinião é que o primeiro se relaciona a entidades (expressas por um grupo nominal), enquanto o segundo se relaciona a proposições (expressas por orações), e parece ser mais “gramaticalizado” do que o primeiro, ou seja, é “mais integrado à estrutura da oração, com suas próprias estruturas (por exemplo, verbos modais)” (2000: 3). No entanto, lembram que os dois tipos podem ser expressos, em inglês, através do mesmo tipo de construção, com a utilização do pronome “it” em substituição ao sujeito, como nos exemplos abaixo:

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Existem dois modos de conceber o relacionamento entre esses dois tipos de opinião. Um enfatiza as diferenças entre elas, dá a cada uma um nome diferente e as analisa como fenômenos separados; Thompson e Hunston dão a essa abordagem o nome de

separating approach. A outra forma de ver a avaliação, ao contrário, enfatiza suas semelhanças, incluindo-as sob um mesmo nome geral e analisando-as, ao menos em parte, como aspectos do mesmo fenômeno; os autores a denominam combining

approach. Halliday (1994) pertence ao primeiro grupo: ele explora a modalidade com

5 No português, o mesmo tipo de construção pode ser realizado através de uma oração substantiva, como

grande detalhe, subdividindo-a em modalização e modulação (falarei mais detalhadamente a respeito de sua visão da modalidade na próxima seção); para ele, tanto a modalidade quanto a linguagem atitudinal pertencem à categoria dos significados interpessoais, porém essa categoria também inclui outros elementos, como o Modo, e Halliday não propõe um termo que cubra somente os dois tipos de opinião. Outro autor que faz essa separação é Martin (2000), porém este expande a categoria de significados atitudinais, usando o termo appraisal e estabelecendo três sub-categorias: affect,

judgement e appreciation.

Thompson e Hunston adotam a segunda abordagem, utilizando o termo avaliação para se referirem aos dois tipos de opinião. Eles definem a avaliação como sendo

(...) the broad cover term for the expression of the speaker or writer’s attitude or stance towards, viewpoint on, or feelings about the entities or propositions that he or she is talking about. (2000:5)

Segundo essa visão, a modalidade é uma sub-categoria da avaliação. Embora admitam que o termo “avaliação” pode gerar alguma confusão, já que existe uma tradição estabelecida na análise do discurso que utiliza o termo para se referir a elementos de padrões textuais (por exemplo Labov, 1972; Hoey, 1983), os autores defendem o seu uso com base em sua flexibilidade sintática e morfológica: além de enfocar o usuário, pois é ele quem avalia, o termo avaliação permite falar tanto sobre os valores dados às

entidades, como sobre as proposições que são avaliadas.

Thompson e Hunston argumentam que a avaliação tem três funções:

1. expressar a opinião do falante ou escritor e, ao fazê-lo, refletir o sistema de valores deste e de sua comunidade;

2. construir e manter relações entre o falante ou escritor e o ouvinte/leitor; 3. organizar o discurso.

Essas funções não são exclusivas, de modo que uma instância de avaliação pode executar duas ou até três funções concomitantemente.

A avaliação para a expressão da opinião é, segundo Thompson e Hunston, a função mais óbvia da avaliação, ou seja, a de transmitir ao ouvinte/leitor o que o falante ou escritor sente ou pensa a respeito de algo. No entanto, embora pessoal, cada ato de avaliação expressa um sistema comum de valores e, assim o fazendo, contribui para o fortalecimento desse sistema. Como o sistema de valores é um componente da ideologia subjacente a qualquer texto, a identificação da opinião do autor revela a ideologia da sociedade que o produziu. Por isso, afirmam os autores, a avaliação é um conceito- chave no estudo da ideologia.

As três principais áreas através das quais se tem estudado a manutenção de relações

entre escritor e leitor são: manipulação, hedging e polidez (por exemplo, Brown e Levinson, 1987; Myers, 1989). Segundo Thompson e Hunston, em cada uma dessas áreas se pode dizer que o escritor “explora os recursos da avaliação para construir um tipo particular de relacionamento com o leitor” (2000:8).

Primeiramente, a avaliação pode ser utilizada para manipular o leitor e persuadi-lo. Hoey (2000) mostrou que quando a avaliação não é o ponto mais importante da oração ela é particularmente difícil de contestar, já que rompe com o esperado padrão situação-

avaliação da situação que ocorre, por exemplo, na oração abaixo:

Esses comentários são bastante óbvios.

Para ilustrar esse ponto, Hoey utiliza parte de uma palestra de Chomsky, durante a qual este último se refere a seus próprios comentários feitos anteriormente do seguinte modo:

Esses comentários bastante óbvios se aplicam diretamente ao estudo da linguagem...

Desse modo, uma informação “dada” (que não é nova informação) é expressa de modo

avaliativo, o que faz com que essa avaliação seja difícil de negar. Thompson e Hunston lembram que outro modo pelo qual escritores utilizam essa estratégia é através da transformação de epítetos avaliativos em substantivos, como em “pomposidade”, “frivolidade” ou “trivialidade” (2000: 8). Para os autores, quanto menos explícita for a avaliação, maior o seu poder de persuasão. Essa é a premissa adotada por Hunston em

Além de seu papel na persuasão, a avaliação tem sido estudada por seu papel no ajuste do valor de verdade atribuído a uma proposição, geralmente sob o rótulo de hedging. Discutirei as visões mais influentes sobre o hedging no discurso científico na seção 1.6.2.

Além das duas funções acima, Sinclair (1987, apud Thompson e Hunston, 2000) afirma que a avaliação, tanto na escrita quanto na fala, tende a acontecer em pontos delimitadores de unidades do discurso, fornecendo uma pista quanto à sua organização. Especificamente no caso do texto escrito, a avaliação no final de um parágrafo indica que algo importante foi dito e pressupõe a aceitação do leitor quanto a esse ponto. Thompson e Hunston argumentam que

The evaluation in the paragraph organizes, and does so interactively. As the relationship between writer and reader is built up, part of that relationship is a mutual awareness of the boundaries in the discourse and the nature of the connection between its various parts (2000:12).

Discutirei em maiores detalhes a relação entre avaliação e organização do discurso quando apresentar o modelo de avaliação de Hunston (1993, 1994).

A partir da próxima seção, apresentarei um resumo das abordagens ao estudo da modalidade que são mais relevantes para minha pesquisa, quais sejam: a visão de Halliday (1994) e a teoria do hedging no discurso acadêmico, em especial as visões de Salager-Meyer (1994) e Hyland (1996).