• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II: ANÁLISE EXPLORATÓRIA

2. TENDÊNCIAS E FATORES DE SUCESSO

2.3. Avaliação

A categoria Avaliação refere-se à produção de conhecimento sobre um dado projeto e ao ajuste do mesmo segundo as aprendizagens obtidas. Os temas aqui apresentados referem-se à reflexão sobre as práticas do projeto, à capacitação das equipas e dos parceiros nas práticas de comunicação de ciência e práticas intergeracionais no contexto em que o projeto se insere, e à construção de conhecimento sobre estas práticas. A fase de avaliação de impacto (e respetiva categoria) remete para a necessidade ajustar as abordagens dentro e além contexto, responsabilizar projetos e equipas – uma recomendação do Entre Gerações –, e uniformizar os critérios de sucesso entre projetos congéneres, no sentido de replicar bons resultados em outros contextos.

2.3.1. Reflexão

- Recomendação 16: refletir sobre o trabalho realizado, antes e depois -

Qualquer proposta de intervenção social que procure influenciar criação de políticas públicas ou de programas sociais requer a apresentação de resultados: por exemplo, as escolas querem saber como é que a prática intergeracional vai ajudar a cumprir os seus objetivos (seja na estratégia educativa, sucesso escolar, etc.); decisores políticos querem saber como é que a prática intergeracional pode ajudar a concretizar objetivos de educação ou de intervenção social (40). Esta é também uma consideração do Sachi2. De facto, com a divulgação do projeto, do seu sucesso e benefícios, esperam vir a ganhar o interesse das instituições (parceiros) e a resolver vários impedimentos burocráticos com que se depararam na fase de planeamento. Por esta razão, o Sachi2 tem uma metodologia de avaliação marcadamente orientada para a produção científica: os participantes preencheram os questionários pré-teste, no sentido de perceber quais as perceções de cada um dos grupos etários em relação ao outro e como estas mudam em consequência do projeto, já que a mudança de perceções em relação ao outro grupo etário é um dos objetivos do projeto. Existem ainda grupos de controlo, composto por alunos de turmas diferentes da mesma escola.

De igual forma, o Olhó Peixe Fresquinho reconhece a importância da avaliação de um projeto como forma de refletir sobre o impacto do mesmo. Neste caso, a avaliação foi feita porque a equipa do projeto tinha consciência de ser um fator importante, mas não foi aplicada a melhor metodologia,

uma vez que as colegas reconhecem não ter formação neste tipo de análise mais aproximada às ciências sociais. Ainda assim, no ano do projeto-piloto, as atividades culminaram com a apresentação dos trabalhos dos alunos à comunidade escolar numa miniconferência, que se tornou uma medida qualitativa do projeto: a qualidade das apresentações demonstra o interesse das pessoas, mesmo aqueles (professores e alunos) que no início estavam mais céticos. As colegas tiveram o cuidado de partilhar os resultados que obtiveram em de eventos de divulgação científica, como o SciCom 2015. Além de influenciar políticas públicas e verificar a concretização dos objetivos do projeto, dimensões que remetem para a importância de refletir sobre o impacto de um projeto, são os projetos Arquivo de Memória e Digital Age que propõem uma razão interna para a realização de uma tal avaliação: “identificar formas de melhorar as atividades”, uma das recomendações do Arquivo de Memória. De facto, os participantes do Sachi2, a par dos questionários, devem preencher um caderno diário com a sua avaliação das atividades, com o objetivo de indicar à equipa do projeto o que funciona e como pode ser melhorado. Esta é uma prática que o Digital tem vindo a implementar e melhorar desde a sua génese: neste terceiro ano, o projeto assume novas dimensões, com base na avaliação realizada no fim dos anos anteriores, que revelou à reformulação do projeto para o que é o Digital Age atualmente, em que os tutores de informática são os alunos do ensino pós-primário e séniores e tutores decidem em conjunto os assuntos a explorar durante as sessões intergeracionais.

- Recomendação 17: ajustar de acordo com a avaliação e feedback recebido - Por fim, numa ótica de sustentabilidade, refletir sobre as práticas do projeto permite ajustar a abordagem dentro e além contexto, razão pela qual os mestrandos que desenvolvem o Ciência para Públicos Incomuns fazem a avaliação dos respetivos programas de atividade realizados em parceria com o STOL, ao longo da componente não-curricular do Mestrado. Todas as atividades são sistematicamente avaliadas, no sentido de fazer ajustes à metodologia, atendendo ao que funciona e não funciona com o público específico em questão; os mestrandos procedem a uma autoavaliação em, em alguns casos, à avaliação da instituição de acolhimento. Esta abordagem, apesar de por vezes exploratória e subjetiva, produz conhecimento e estimula a capacitação dos participantes, podendo, no entanto, não ser reprodutível, mudando o contexto. É nesta consideração que a nossa primeira tentativa de identificar o que estes projetos têm em comum pode devolver conclusões interessantes acerca de como implementar projetos de intervenção social com base na formação ou na ciência.

2.3.2. Capacitação

- Recomendação 18: divulgar melhores práticas, no sentido de capacitar equipas e promover a reprodutibilidade do projeto -

Além de identificar como implementar projetos congéneres do PIC, a avaliação sistemática de projetos, incluindo as suas características e respetivos fatores de sucesso, tem como consequência o segundo tema nesta categoria, que é a capacitação de pessoas e equipas para reproduzir estas práticas noutros contextos. Este era inclusive o objetivo da avaliação feita no âmbito do programa Entre Gerações: realizar um acompanhamento próximo de forma a dar apoio à realização e concretização do projeto, para que as equipas possam beneficiar da experiência de outros atores. Na prática, este acompanhamento materializou-se em três visitas ao terreno: uma primeira visita para formação das equipas; e nas fases intermédia e final, visando avaliar o trabalho desenvolvido.

A importância de capacitar as equipas na prática intergeracional, baseada na reflexão realizada durante uma avaliação ao impacto do projeto, é-nos proporcionada pelo Arquivo de Memória: “lidar com pessoas é sempre imprevisível”, daí a importância de uma equipa coesa que possa desenvolver procedimentos e conhecimento de forma sustentada, bem como ganhar a confiança dos participantes e, assim, facilitar a mediação. Igualmente importante é a centralização da informação, garantindo o desenvolvimento do projeto, independentemente da equipa de gestão. Por sua vez, Sachi2 oferece uma sugestão de como pôr o processo de capacitação de pessoas e equipas. O objetivo geral do projeto é pôr os participantes a conversar entre si, mas a dinâmica particular de cada sessão fica ao critério do professor da turma de acolhimento, visando assim capacitá-los para dar continuidade à prática intergeracional fora do contexto do projeto europeu.

Adicionalmente, a equipa do projeto planeia criar um caderno de melhores práticas onde partilham as suas experiências e aprendizagens na criação de atividades intergeracionais. Esta é também uma recomendação do Digital Age: nas atividades, utilizam o Digital Age Toolkit já que os séniores referiram, na sua avaliação, que nunca se iriam lembrar dos conteúdos ensinados, o que motivou a LGNI a criar um manual de conteúdos praticados nas sessões intergeracionais. Qualquer pessoa pode utilizar o primeiro módulo do Toolkit para montar o curso (escolas, por exemplo) e os outros são conteúdos para que os alunos (e séniores) possam utilizar para aprender e recordar. Para as comunidades e instituições, a existência de um Toolkit significa que as organizações têm maior tendência a continuar a prática intergeracional, pois têm acesso à investigação e um guia prático. O Digital Age Toolkit já foi descarregado por 155 pessoas, uma das quais a autora desta dissertação.

Também o Arquivo de Memória, que mantém o registo das histórias de vida, de pequenos arquivos familiares, e da base de dados, permite a fruição da informação por todos.

___________________________

Em suma, através da análise acima apresentada, fundamentada por entrevistas às equipas dos projetos identificados, projetos analisados na literatura disponível, e trabalhos de avaliação realizados sobre os projetos e domínios em análise, podemos extrair os fatores de sucesso, ou recomendações, que devem guiar o Programa Intergeracional de Ciência (PIC). Nenhuma destas recomendações se circunscreve a uma tipologia de projeto – como se pode verificar com a ajuda da Tabela 3 – o que nos sugere que estas recomendações prevalecem além do seu contexto específico. No futuro, seria importante estudar estes fatores de sucesso em maior detalhe, com uma amostra maior de projetos e instrumentos de avaliação ajustados com base nas aprendizagens retiradas da nossa análise exploratória. De forma sucinta, identificámos três categorias de fatores de sucesso, até algo intuitivas: Organização, Implementação e Avaliação. No domínio da Organização, identificámos como critérios de sucesso o planeamento por objetivos, um diagnóstico preciso e detalhado (Objetivos), a manutenção de uma rede de parceiros e equipas capazes de levar o projeto adiante (Institucionalidade), o estudo aprofundado do público-alvo (Públicos), bem como assegurar a sustentabilidade do projeto (Tempo), dimensão que passa, em parte, por assegurar todas as anteriores. No domínio da Implementação, referimo-nos à importância de definir tópicos de forma refletida (Tópicos), do desenho participativo das atividades (Forma) e das vitórias no decorrer das atividades (Motivação), no sentido de motivar a participação continuada destes públicos-alvo. Por fim, no domínio da Avaliação, identificámos a importância de refletir sobre a nossa prática, seja no sentido de proporcionar base científica ao nosso trabalho ou retirar aprendizagens sobre a sua implementação (Reflexão), sendo que esta reflexão deve ser partilhada no sentido de capacitar equipas e instituições para reproduzir a nossa prática (capacitação) e, assim, permitir que mais indivíduos possam recolher os benefícios da abordagem que propomos. É desta exposição surgem as linhas orientadores da nossa primeira abordagem a um programa intergeracional de ciência.

Tabela 3. Fatores de sucesso, organizados por tema e categoria, referenciando o projeto em causa e o entrevistado.

Tema Fatores de Sucesso Projetos Entrevistas

O rg a n iza çã o Objetivos

- Definir objetivos com base nas necessidades da população e usar esses objetivos para determinar metodologia de avaliação - Definir uma problemática específica para intervenção

Arquivo de Memória, Aldeia Pedagógica de Portela, Sachi2, Desafios com Biologia, Olhó Peixe Fresquinho, Ciência no Dia-a- Dia

8

“Institucionalidade” - Criar e manter uma rede de parceiros segura - Fazer uso dos recursos e valências de uma instituição

Ciência para Públicos Incomuns, Entre Gerações, Arquivo de Memória, Aldeia Pedagógica de Portela, Sachi2, Digital Age, Glen Helen, Desafios com Biologia, Tecnico Codemove, Olhó Peixe Fresquinho, Ciência Não Tem Idade, 60+Ciência

19

Públicos

- Conhecer profundamente os públicos-alvo (estratégias) - Assegurar a presença do mesmo facilitador nas atividades - Adaptar as atividades aos públicos-alvo

Entre Gerações, Arquivo de Memória, Sachi2, Digital Age, Desafios com Biologia, Ciência Não tem Idade, Ciência no Dia-a-Dia 8

Tempo - Assegurar a continuidade do projeto Arquivo de Memória, Sachi2, Desafios com Biologia, Tecnico

Codemove, Ciência Não Tem Idade 7

Im p lem en ta çã o Tópicos

- Adotar temas atraentes, que convidem à participação - Escolher desafios com que todos se possam identificar

- Criar dinâmicas que deixem a ciência dos participantes emergir

Ciência para Públicos Incomuns, CAF do Lumiar, Arquivo de Memória, Aldeia Pedagógica de Portela, Sachi2, Digital Age, Glen Helen, Desafios com Biologia, Ciência Não Tem Idade, 60+Ciência

14

Forma

- Implementar um design participativo nas atividades - Criar dinâmicas que estabeleçam a ponte entre as gerações - Dinâmicas realizadas em grupos pequenos parecem funcionar - Dar tempo aos participantes para se conhecerem

Ciência para Públicos Incomuns, Aldeia Pedagógica de Portela, Sachi2, Digital Age, Glen Helen, Tecnico Codemove, Ciência no Dia-a-Dia

11

Motivação - Criar oportunidades para experimentar a própria competência - Criar oportunidades para concretizar momentos de sucesso

Centro de Artes e Formação do Lumiar, Aldeia Pedagógica de Portela, Sachi2, Digital Age, Olhó Peixe Fresquinho, Ciência Não Tem Idade, Ciência no Dia-a-Dia

10

Ava

liaç

ã

o Reflexão - Refletir sobre o trabalho realizado antes e depois

- Adaptação em função do feedback recebido

Ciência para Públicos Incomuns, Arquivo de Memória, Sachi2, Digital Age, Olhó Peixe Fresquinho, Ciência Não Tem Idade, Ciência no Dia-a-Dia

8

Capacitação - Divulgar melhores práticas, no sentido de capacitar equipas e reproduzir o projeto

Entre Gerações, Arquivo de Memória, Aldeia Pedagógica de