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2.2

Avaliações Envolvendo Professores

Diversos estudos têm sido feitos propondo novos métodos ou adaptações para ambientes educacionais [Squires & Preece, 1999]. Os métodos normalmente envolvem a equipe de design (projetistas ou avaliadores), alunos ou professores. Nesta seção, focamos nos trabalhos que envolvem o professor, permitindo que se tenha uma apreciação do sistema sob seu ponto de vista. Também foi feita uma classificação dos trabalhos que propuseram novos critérios de avaliação a partir de métodos de avaliação de interface existentes, ou adaptaram estes métodos para avaliar sistemas educacionais.

2.2.1

Novos Métodos

Visando integrar aspectos de usabilidade e aprendizagem, Squires & Preece [1999] propuseram um método de avaliação por inspeção para professores, por meio da adap- tação das heurísticas, propostas por Molich & Nielsen [1990], para uma perspectiva de aprendizagem sócio-construtuvista. Neste artigo, os autores sugerem uma abordagem que provê um modelo de avaliação preditiva para professores. Segundo os autores, a avaliação heurística é apenas uma parte da avaliação de usabilidade. Assim, o uso inadequado da avaliação heurística pode fazer com que o professor não cubra parte da avaliação, pois é necessário que o professor avalie o sistema por meio do seu conhe- cimento prévio, de como ele o apresentará aos alunos e de como os alunos poderão aprender com ele.

O modelo proposto por Squires & Preece [1999] consiste em analisar um sistema educacional considerando:

• necessidade de uma correspondência entre os modelos do projetista e do aluno; • fidelidade da navegação;

• necessidade de considerar os níveis adequados de controle do aluno, o que resulta numa análise de controle do aprendiz e de responsabilidade compartilhada; • prevenção de erros cognitivos;

• representação simbólica e compreensível para os alunos; • apoio a aprendizagem;

• necessidade de estratégias para o reconhecimento de erros cognitivos; • correspondência com o currículo escolar adotado.

Assim, este modelo oferece um apoio ao professor para analisar características importantes de serem consideradas num sistema educacional.

Outra proposta para apoiar o professor na avaliação de um sistema educacional foi a criação de um ponto de encontro através do ambiente Comunidade de Análise de Software Educativo (CASE) para uma comunidade de profissionais brasileiros - edu- cadores e projetistas - interessados na análise e design de sistemas educativos [Lyra et al., 2003]. O ambiente permite ao professor avaliar um sistema educacional de inter- esse sob diferentes perspectivas: aprendizagem do aluno e currículo, aspectos técnicos e pedagógicos e prática docente. Todo usuário do sistema CASE pode cadastrar sis- temas educativos e fazer avaliação de qualquer sistema cadastrado. As avaliações são realizadas por meio do preenchimento de um questionário, e disponibilizadas no am- biente CASE, para que outros usuários (professores, especialistas e visitantes) tenham acesso. A ferramenta procura atender a duas necessidades educacionais: (1) auxiliar o professor na seleção de sistemas educacionais e (2) fornecer ao projetista as análises feitas por educadores, a partir da prática efetiva em contextos de uso.

2.2.2

Métodos Adaptados

Squires & Preece [1996] apontam para a dificuldade que professores têm ao selecionar um sistema para uso e falam da necessidade de apoiá-los na escolha de um bom sis- tema educacional. Neste trabalho, os autores realizaram um estudo de caso baseado em inspeção de usabilidade em sistemas educacionais. Segundo os autores, a forma mais conhecida de realizar a avaliação preditiva é por meio de checklists. Entretanto, a análise realizada apontou as falhas da abordagem baseada em um checklist, específico para usabilidade, para integrar aspectos relacionados à usabilidade e questões edu- cacionais. Assim, um modelo de avaliação que procura integrar estas características (usabilidade e questões educacionais) ajuda os professores a se concentrar em questões referentes ao aprendizado dos alunos e na usabilidade do sistema avaliado.

Neste trabalho, os autores utilizaram o modelo Jigsaw [Squires, 1994]. Este mo- delo consiste em integrar aspectos de usabilidade e questões educacionais. Segundo os autores, o uso de um sistema educacional é dependente de contexto, ou seja, não é possível avaliar uma aplicação educacional preditivamente sem referencia a um cenário educacional. Para isso, o modelo Jigsaw [Squires, 1994] consiste em três níveis. No nível 1, as tarefas de aprendizagem são pensadas como conceitos de aprendizagem individual que precisam ser específicas para um determinado tema ou que estão relacionados com a área geral de estudo. O nível 2 consiste em integrar conceitos específico e geral (relacionamento entre sistema e aplicação). Enquanto no nível 3 ocorre a integração

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entre a aprendizagem e a tarefa operacional. Esses níveis levam a uma avaliação crítica sobre o quão bem as funções previstas no sistema e a usabilidade do seu design de interação corresponde às necessidades dos alunos ao usá-lo.

De Villiers [2004] fez uma revisão das heurísticas propostas por Squires & Preece [1999]. Nesta revisão, identificou-se a necessidade de duas novas categorias: categorias distintivas, exclusivas para o ambiente avaliado; e capacidade do sistema para envolver os alunos e prender sua atenção. Além da criação destas novas categorias, o estudo identificou problemas relacionados à interação e à aprendizagem dos alunos.

2.2.3

Métodos Existentes

Pardo et al. [2006] por meio de uma avaliação de sistema envolvendo professor, especia- lista e aluno, mostrou a importância da participação do professor como facilitador em avaliação centrada no usuário, já que o professor tem melhores condições de entender o comportamento e as percepções dos alunos que o especialista. Para uma familiarização com os sistemas avaliados, os professores os utilizaram por uma semana. Realizaram-se oito avaliações que continham uma lista de tarefas executadas por alunos. Em cada avaliação, o professor ou o especialista atuava como facilitador. Apesar de utilizarem um roteiro, ambos faziam perguntas de acordo sua percepção. As percepções foram classificadas em: usabilidade, aprendizagem, ambas e outras. Essas avaliações foram gravadas e analisadas posteriormente pelo professor e especialista. A análise baseou- se no cruzamento das percepções do professor e especialista, de forma a comparar o comportamento deles durante a avaliação, bem como avaliar os sistemas. Pela análise concluiu-se que professores são melhores facilitadores, segundo o ponto de vista do aluno, na avaliação de ambientes educacionais.

Os trabalhos citados, direta ou indiretamente, consideram que várias decisões relativas a estratégias de ensino e planos pedagógicos cabem ao professor, e não ao projetista [Andres, 2005; Jones et al., 1999]. A importância do professor na avaliação de um sistema educacional é percebida nos esforços de adaptar os métodos para serem utilizados pelos professores. No entanto, a avaliação de sistemas educacionais requer habilidades que o professor geralmente não possui [Pardo et al., 2006] e preparação para considerar aspectos tecnológicos [Jones et al., 1999]. Portanto, para contar com a contribuição de todos os especialistas, é importante considerar as diferentes perspec- tivas - professor, aluno e projetista, de forma conjunta ou não, para que os aspectos relevantes relacionados à avaliação do sistema possam ser considerados.