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O processo de articulação das políticas de desenvolvimento rural com as políticas de desenvolvimento social é um processo que se acelera com a implementação das ações de inclusão produtiva rural do BSM e no qual o Cadastro Único tem desempenhado um papel articulador estratégico.

Por meio do Cadastro Único tem sido possível para a política de desenvolvimento rural identificar e conhecer melhor o perfil das famílias da agricultura familiar e reforma agrária, identificando a incidência da situação de pobreza e extrema pobreza nesse público, além de sua distribuição espacial. Também tem sido possível, por meio do Cadastro Único, inferir a demanda desse público rural por algumas políticas públicas, a exemplo das políticas de habitação, acesso a luz e água.

Adicionalmente, a capilaridade dos órgãos que implementam as políticas públicas de promoção do desenvolvimento rural – MDA e INCRA – tem permitido realimentar o processo de busca ativa no âmbito do Cadastro Único ao indicar áreas e até mesmo famílias que ainda não eram “visíveis” para a gestão do Cadastro Único e, consequen-temente, para as políticas públicas que ele ajuda a organizar. Essa interação entre os órgãos tem contribuído também para incrementar a correta identificação dos grupos que compõem

Em outra frente de atuação, as políticas de desenvolvimento rural têm direcionado um conjunto maior de suas ações para esse público rural no Cadastro Único ou in-tegrando ações existentes a partir desse instrumento. Assim, foi possível identificar políticas de desenvolvimento rural que já apresentam como condição de acesso que as famílias estejam no Cadastro Único e em situação de pobreza ou extrema pobreza. Também foram criadas algumas condições mais vantajosas de inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento rural para as famílias inseridas no Cadastro Único. Todos esses avanços são importantes e começam a dar resultados, ao mesmo tempo que apontam para novas possibilidades de agenda de trabalho entre os gestores das polícias sociais e de desenvolvimento rural.

Dentro dessa nova agenda, uma questão é como promover um incremento da mar-cação específica dos grupos que compõem a agricultura familiar no Cadastro Único, de maneira que o uso das bases externas ao Cadastro Único tenha um papel mais reduzido na identificação da agricultura familiar no cadastro. Nessa agenda, poderia ser incluída uma análise mais aprofundada da estrutura dos formulários do Cadastro

Único, uma avaliação da necessidade de destacar mais algum público específico da agricultura familiar ou definir melhor alguns dos grupos já existentes, como o caso de famílias acampadas que, pela definição atual do Cadastro Único, podem incluir tanto famílias rurais, que têm sido a maioria, como famílias urbanas.

Outra linha de trabalho seria aprofundar a integração da política social com a de reforma agrária desde o início da implantação dos assentamentos. Isso incluiria, por exemplo, estudar a possibilidade de garantir alguma priorização de famílias acampa-das rurais no PBF, assim como ocorre hoje com famílias quilombolas e indígenas, ou, pelo menos, de priorizar as que já recebem cestas de alimentos pelas ações de segurança alimentar e nutricional.

Finalmente, outro campo de atuação estratégico é o aprofundamento dos usos das informações do Cadastro Único para direcionar o acesso desse público a um conjunto de políticas públicas.

Conforme foi apresentado nesse artigo, o Cadastro Único consegue trazer a conhe-cimento dos gestores das políticas de desenvolvimento rural um conjunto de infor-mações que possibilita diagnosticar as principais demandas desse público com relação aos serviços de educação, água, habitação e luz, informações que não são extraídas dos atuais cadastros da agricultura familiar e reforma agrária, que focam mais nas condi-ções de produção. Assim, o desafio é pensar como, com base nesse conhecimento, é possível planejar e articular melhor a chegada desses serviços públicos a essa parte da população rural, com prioridade para as localidades de maior concentração dessas demandas e maior incidência de pobreza.

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