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AVALIANDO A IMPORTÂNCIA DAS GARANTIAS: UMA COMPARAÇÃO ENTRE DIFERENTES LINHAS E OPERAÇÕES DE CRÉDITO

Ilustrando o papel das garantias na redução das taxas de juros nas concessões de crédito, esclarece o Banco Central do Brasil, em publicação recente, intitulada “Garantias e

diferenças nas taxas de juros de crédito” (Estudo Especial nº 43/201933), a importância e

as características desejadas das garantias. O estudo da autoridade monetária reforça o diagnóstico de que a inadimplência é o principal componente do spread bancário, ensejando a necessidade de melhorar o processo de recuperação de garantias no sistema financeiro:

“As perdas com inadimplência são um dos principais elementos na formação do custo do

crédito [...] Diversos fatores podem potencializar ou mitigar o efeito da inadimplência sobre o custo do crédito, entre eles a existência de garantias oferecidas pelo tomador de crédito. As garantias estão diretamente relacionadas à capacidade das instituições financeiras de recuperar a dívida não paga. As garantias variam de acordo com o seu grau de liquidez, a facilidade de precificação, o custo de execução, a segurança jurídica na execução e o risco de depreciação, entre outros fatores. Espera-se assim que o valor recuperado e, consequentemente, o custo do crédito estejam diretamente relacionados às características e à qualidade da garantia apresentada. Em outras palavras, o montante que a instituição perde no caso de uma dívida não paga depende muito do valor e da qualidade da garantia vinculada ao empréstimo. Esses fatores afetam o risco da operação e, portanto, a taxa de juros cobrada pela instituição”.

Para ilustrar a tese proposta, a autoridade monetária apresenta exercícios empíricos comparando os custos de diferentes linhas de crédito com e sem garantia – ou seja, com diferentes níveis de risco atrelados às operações. Com isso, busca investigação a presença de uma relação entre, de um lado, a existência das garantias e de suas características e,

de outro, as taxas de juros anuais praticadas nas concessões de crédito a pessoas físicas.

A esse respeito, o Gráfico 11, a seguir, reproduz os resultados de um dos exercícios presentes na publicação, comparando as taxas de juros anuais praticadas nas concessões

33 Disponível em:

<https://www.bcb.gov.br/conteudo/relatorioinflacao/EstudosEspeciais/EE043_Garantias_e_diferencas_na s_taxas_de_juros_de_credito.pdf> Acesso em dezembro de 2020.

de crédito a pessoas físicas para seis grupos distintos de linhas de operação: crédito

rotativo (como cartão de crédito e cheque especial), crédito pessoal não consignado sem garantia, crédito não consignado com garantia, crédito consignado, crédito para financiamento de veículos e crédito para financiamento imobiliário.

Gráfico 11: Comparativo de taxas de juros por grupos distintos de operações de crédito

Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: Fipe. Notas: (1). As taxas de modalidades rotativas, consignado, veículos e imobiliário foram extraídas do Sistema Gerenciador de Séries Temporais do Banco Central do Brasil. As demais foram extraídas do Sistema de Informações de Crédito (SCR) e se referem apenas a operações prefixadas. (2) Médias mensais do período compreendido entre janeiro/16 e

dezembro/18.

O levantamento da autoridade monetária demonstra que as taxas de juros cobradas são menores em linhas que tradicionalmente operam com garantias (destacando-se, no caso, a taxa de juros do financiamento imobiliário), condição que – como já explicitado – torna mais fácil a recuperação dos valores em caso de inadimplência e reduz o risco implícito à operação de crédito.

Em um segundo exercício, o Banco Central avaliou o custo de linhas de crédito para o mesmo tomador de crédito, com o objetivo de mitigar possíveis diferenças entre os grupos de tomadores que prevalecem na captação ou acesso a cada tipo de operação. Segundo números apresentados no Gráfico 12, a seguir, para um mesmo grupo de tomadores, a

271,0% 111,2% 30,5% 27,4% 24,1% 9,3% 0% 50% 100% 150% 200% 250% 300% Modalidades Rotativas Crédito pessoal não consignado sem garantia Crédito pessoal não consignado com garantia

Consignado Veículos Imobiliário

T a xa m é d ia d e j u ro s (% a .a .) 2

taxa de juros cobrada em linhas rotativas (como cartão de crédito e cheque especial) é 300,5 pontos percentuais superior (em média), à cobrada no financiamento de veículos, chegando a 333,7 pontos percentuais no caso do financiamento imobiliário (a linha menos onerosa e que opera com garantias reais de melhor qualidade, graças à prevalência da alienação fiduciária).

Gráfico 12: Comparativo do diferencial de taxas de juros do crédito pessoal rotativo em relação a outras operações de crédito

Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: Fipe.

Com base nos dados apresentados, o estudo evidencia que as taxas de juros cobradas são consideravelmente maiores para as modalidades rotativas e para o crédito pessoal não consignado sem garantia, em comparação a operações dotadas de maior segurança e celeridade na recuperação do crédito (casos do crédito pessoal consignado, crédito para aquisição de veículos e crédito imobiliário). Nos termos apresentados pelo Banco Central do Brasil: “[...] por meio de diferentes comparações feitas a partir de conjunto robusto

de operações no Sistema Financeiro Nacional (SFN), foram encontradas evidências de que operações de crédito com garantias têm taxas de juros significativamente menores. Adicionalmente, observa-se que o valor da taxa de juros é inversamente proporcional à qualidade da garantia fornecida pelo tomador de crédito”.

+113,7 +213,9 +202,7 +300,5 +333,7 0 50 100 150 200 250 300 350 400

Crédito pessoal não consignado sem

garantia

Crédito pessoal não consignado com garantia Crédito pessoal consignado Veículos Imobiliário D if e re n c ia l d e t a xa d e j u ro s (p .p .) Operação de Crédito

Transportando essa análise para o financiamento de imóveis, como já discutido anteriormente, tanto a hipoteca quanto a alienação fiduciária oferecem o próprio imóvel como garantia da operação de crédito. Supondo que o imóvel e o tomador sejam os mesmos, é esperado que os riscos e as taxas de juros para concessão do crédito sejam distintos, dado que cada modalidade apresenta características peculiares no que se refere à probabilidade, rapidez, custos, prazos e etapas burocráticas para consolidação/execução do imóvel e recuperação do crédito. Em outras palavras, como o risco envolvido na alienação fiduciária é minorado, as taxas de juros (e demais condições do empréstimo, como prazos e limites) são flexibilizadas e mais favoráveis ao tomador, que passa a assumir a plena responsabilidade pela sua própria e eventual incapacidade de cumprir as obrigações contratuais.

7. IMPACTOS ESPERADOS DO ENFRAQUECIMENTO DA ALIENAÇÃO

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