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Coordenação: Alexandre Amorim COMISSÃO DE COMETAS https://uba-cometas.blogspot.com/

Nos dois artigos publicados nas edições anteriores do Boletim Ouranos, ano L, n°s 1 e 2, tratamos da avaliação de três parâmetros envolvendo a coma ou cabeleira de um cometa: fotometria visual, diâmetro aparente e grau de condensação. De fato, em quase todas as aparições de um cometa esses são os três parâmetros mais comuns de serem avaliados na

observação visual, destacando a estimativa de magnitude (fotometria

visual) que é a condição mínima para que um registro seja arquivado na Base de Dados da Comissão de Cometas/UBA e Secção de Cometas/REA. Quando um cometa apresenta uma cauda, essa formação também pode ser registrada por meio de dois parâmetros: o seu tamanho aparente e o seu ângulo de posição.

Medindo o tamanho aparente da cauda

Similar à estimativa do tamanho aparente da coma, a maneira mais fácil de avaliar o tamanho da cauda é usar a separação angular de algumas estrelas situadas no mesmo campo de visão de um instrumento. O mesmo vale para a observação a olho nu, caso tenhamos um cometa com uma cauda b e m visível

sem auxílio óptico, como foi o caso recente do Cometa C/2020 F3 (NEOWISE)

em julho de 2020. Dentre as 49 imagens submetidas à nossa Comissão, usaremos uma que foi obtida por Ednilson Oliveira (São Paulo/SP) mostrada na Figura 1. 25/07/2020 -22:11 U T - Munhoz - MG Nikon D5300 180 mm - 5s - ISO 3200 Ednilson Oliveira

A

#

B

• '

-i Figura 2: Mapa celeste com a posição do Cometa

Figura 1: Cometa C/2020 F3 (NEOWISE) , , , , ,

. , o m n ' oo 1 - 1 mTT C/2020 F3 (NEOWISE) na data e hora da foto ao

em 25 de julho de 2020, às 22:11 TU. 3

. . lado. ©SkyMap Pro 10.

Percebemos na Figura 1 que a cauda se estende até as proximidades da posição da estrela anotada como B. Consultando um mapa celeste gerado por meio de programas de computador (Stellarium, SkyMap, Carte du Ciel, etc.)

é possível medir a separação angular entre a posição do cometa e a estrela B, na data e na hora da observação. No caso do programa SkyMap (Figura 2)

ao clicar uma vez na posição do cometa e depois na estrela B , tal separação angular é de 46 minutos de arco ou 0,75 graus. Caso o observador use mapas impressos, recomendamos usar a escala informada em tais mapas ou mesmo as linhas de declinação contidas neles. Pode ocorrer que o tamanho da cauda seja inferior à separação angular entre o cometa e a estrela escolhida, então nesse caso podem-se avaliar frações desse segmento. No caso dos

registros visuais do Cometa C/2020 F3 (NEOWISE) na mesma noite em que foi

obtida a foto da Figura 1, Ednilson Oliveira avaliou o tamanho da cauda em 1,2 grau usando um binóculo 25x100. Na mesma noite os observadores Daniel Melo, José Aguiar, Willian Souza, Marco Goiato, Antônio Martini e Augusto de Souza avaliaram a cauda do cometa entre 1 e 1,7 grau por meio de binóculos de diversas aberturas. Essas diferentes avaliações dependem das condições de visibilidade reinantes no momento da observação, das características ópticas dos instrumentos usados e da sensibilidade do observador uma vez que o brilho da cauda diminui ao longo do seu tamanho aparente. Aplicando esses valores de 1° e 1,7° naquela data, 25 de julho de 2 0 2 0, usando as efemérides do mesmo cometa e mediante um cálculo trigonométrico é possível determinar a dimensão real da cauda, a saber, entre 1,8 e 3,1 milhões de quilômetros.

Medindo o ângulo de posição da cauda

Se prestarmos atenção nas Figuras 1 e 2 novamente, notamos que a

cauda assume uma determinada direção em relação à orientação equatorial da esfera celeste. A Figura 2 possui um pequeno diagrama mostrando a direção do Norte Celeste válido para aquele setor em que se encontrava o cometa na data e hora da observação. O ângulo de posição se refere à orientação precisa da cauda em relação ao Norte Celeste. Uma cauda orientada exatamente para o Norte Celeste tem seu ângulo de posição igual a 0° (zero grau). Caso ela esteja orientada para o Leste Celeste, o ângulo

de posição é igual a 90° (noventa g r a u s ) . Numa orientação exatamente para

0 Sul Celeste, o ângulo de posição é 180°. Por fim, uma orientação exatamente para o Oeste Celeste tem o ângulo de posição em 270°. Na Figura

1 notamos que a cauda está orientada para um ângulo entre o Norte e o

Leste. Programas de computador tais como o SkyMap permitem medir o ângulo de posição entre dois objetos. Ao clicar na posição do cometa e, em seguida, na posição da estrela B , o valor do ângulo de posição é de 62°

(sessenta e dois graus). Anotamos também a estrela A para servir de

referência. Fazendo o mesmo procedimento, o programa SkyMap indica que o

ângulo de posição do segmento "cometa - estrela A" é de 77° (setenta e

sete graus). Assim, com base na Figura 1 a cauda parece estar orientada

entre 62° e 77° de modo que uma estimativa situada nesse intervalo é

válida. Na mesma noite, 25 de julho de 2020, os observadores Daniel Melo e Ednilson Oliveira estimaram visualmente o ângulo de posição da cauda em 60 graus. Já o observador Marco Goiato avaliou tal ângulo em 70 graus. Augusto de Souza avaliou o ângulo em 43 graus, sugerindo um possível erro

Alguns cometas exibem caudas com certas peculiaridades, seja pela curvatura ou mesmo a existência de duas ou mais caudas. Sobre esses casos particulares trataremos num artigo posterior.

Conclusão

A avaliação do tamanho aparente e do ângulo de posição da cauda completa o registro observacional de um cometa. Assim, os observadores são encorajados a relatar os seguintes parâmetros:

Nome do cometa

Data e hora da observação (em Tempo Universal) Magnitude avaliada

Fonte das magnitudes das estrelas usadas na comparação Características do instrumento usado na avaliação

Diâmetro da coma (em minutos de arco) Grau de condensação da coma Tamanho da cauda (em graus) ângulo de posição da cauda (em graus)

Nome e localização do observador

Esses registros devem ser enviados à Comissão de Cometas/UBA no

seguinte e-mail: costeira1 @yahoo.com.

Bibliografia

AMORIM, A. e QUINTÃO, F. P. Observação visual de cometas: estimativas e

reportes. Disponível em: http://rea-brasil.org/cometas/registro.htm.

Acesso em 5 jul. 2020.

MOURÃO, Ronaldo R. de F., Como observar e fotografar o Cometa Halley. Petrópolis: Vozes, 1985.

MOURÃO, Ronaldo R. de F., Manual do Astrônomo: uma introdução à astronomia

observacional e construção de telescópios. Rio de Janeiro: J. Zahar

INFORMATIVO DA COMISSÃO DE