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Capítulo III – O Estágio Pedagógico: uma Aprendizagem entre a Teoria e a Prática

2. Saberes próprios à formação na construção da profissão

2.4. Avaliar para compreender e ajustar

«A avaliação, pela sua importância e pela sua complexidade, constitui actualmente uma das matérias mais presentes na agenda das preocupações dos docentes e de todos os intervenientes nos sistemas educativos» (Morgado, 2001, p. 23).

Entende-se por avaliação «(…) o elemento integrador da prática educativa que permite a recolha da informação e a formulação das decisões adaptadas às necessidades e capacidades do aluno» (Nova, 1997, p. 14). No mesmo sentido, para Roldão (2004, p. 41) «Avaliar é um conjunto organizado de processos que visam o acompanhamento regulador de qualquer aprendizagem pretendida, e que incorporam, por isso mesmo a verificação da sua consecução».

No que diz respeito à avaliação, no decurso do processo das sequências didáticas, apesar da observação em contexto educativo ser bastante contributária na avaliação das crianças, não é suficiente, sentindo-se necessidade de construir instrumentos de avaliação que facilitem o registo e a tarefa de avaliar.

A avaliação, como parte integrante do processo ensino-aprendizagem, é fundamental para que o docente tenha conhecimento das aprendizagens realizadas com sucesso ou insucesso dos seus alunos. No momento de estágio, tanto no Pré-escolar como o no 1.º Ciclo, os instrumentos de avaliação utilizados foram, essencialmente, listas de verificação (anexo n.º 6), com indicadores de aprendizagem; grelhas de avaliação referentes às metas de aprendizagem (anexo n.º 7); fichas de aplicação de conhecimentos (anexo n.º 8); resultados de jogos utilizados para síntese de conteúdos; grelhas de registo da avaliação das fichas de

69 trabalho (anexo n.º 9); registos momentâneos não-estruturados; e os momentos de reflexão (auto e heteroavaliação) das crianças sobre o seu desempenho nas atividades.

A avaliação pressupõe uma análise e acompanhamento do percurso de ensino- aprendizagem das crianças, referente às suas capacidades/competências. Os instrumentos utilizados para a obtenção de dados sobre cada aluno, além de nos fornecerem informação sobre as suas aprendizagens (sucessos e insucessos), concederam oportunidades para reajustar a nossa ação, tendo sempre como base as necessidades das crianças. Através da análise dos resultados das crianças, a estagiária refletiu criticamente a sua atuação, as suas estratégias, as suas decisões.

«A avaliação (…) deverá dar a conhecer o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças no decorrer das actividades diárias, encarando-se desenvolvimento/aprendizagem e ensino/avaliação de forma contínua e interrelacionada. Deverá considerar diferentes formas de inteligência, diversos estilos de aprendizagem e variados contextos onde ocorrem as aprendizagens, de forma a compreender a grande variabilidade humana, permitindo oportunidades para educadores e crianças reflectirem sobre os objectivos e formas de os atingir. A avaliação permitirá:

- analisar a informação recolhida;

- a adaptação das práticas e dos processos de ensino/aprendizagem; - tomar decisões;

- reformular posições sempre que necessário» (Dias, 2009, pp. 30-31).

Na sucessão da elaboração das sequências didácticas, era elaborado um documento com o intuito de refletir/avaliar não só os resultados obtidos pelas crianças, como também a pertinência de refletir sobre o nosso próprio desempenho. No documento pós-ação, eram refletidos os resultados das aprendizagens das crianças, registados nos instrumentos de avaliação já mencionados, para posterior análise e interpretação. Neste documento, também, se anteviam soluções e hipóteses de melhoria de algum problema ou insucesso a colmatar numa futura intervenção, tanto para as crianças como para a estagiária. «Para que o professor possa assumir o papel de solucionar os seus próprios problemas da acção concreta (se possível, através de um trabalho conjunto com os colegas), conforme preconiza o paradigma do professor reflexivo, é necessário que o professor assuma um processo de reflexão crítica sobre a sua prática docente (…)» (Nunes, 2000, p. 15). Tome-se como exemplo um excerto do documento da avaliação elaborada em consequência do decorrer da semana intensiva no 1.º Ciclo:

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«O “Joaquim” e o “Francisco” são alunos que se encontram no nível dois e precisam constantemente de incentivo e presença de um adulto para se concentrarem e realizarem as tarefas propostas. Tentei ao máximo apoiar os dois, na medida do possível, e constatei ainda algumas dificuldades na identificação dos tipos de frase, nomeadamente o imperativo e o declarativo. Embora tenha explorado em grande grupo os sinais de pontuação a utilizar em cada tipo de frase e ter dado alguns exemplos de frases, não foi suficiente para clarificar totalmente os alunos mencionados. No entanto, os tipos de frase é um conteúdo que pode ser trabalhado durante o ano letivo todo e em vários momentos como: numa exploração de um texto, numa exploração do enunciado de uma ficha de trabalho, nas respostas orais/escritas dos alunos, etc.Assim o pretendo fazer numa próxima intervenção».

A avaliação é, também, essencial para que a criança aprenda a regular e a tomar consciência da sua aprendizagem. É importante que se consciencialize das suas dificuldades, reflita sobre os seus erros e reoriente a sua ação quando não alcançar os objetivos idealizados. Este mecanismo contribui para a construção da sua autonomia. A avaliação «Deve trazer benefícios para a criança, deve reflectir ou esboçar o progresso dos objectivos principais da aprendizagem, deve ser realizada de acordo com o seu propósito específico. Nunca pode classificar, clivar ou rotular a criança. Os métodos utilizados devem ser apropriados ao desenvolvimento e às experiências das crianças, implicando, sempre que possível, a criança nesse mesmo processo de avaliação» (Dias, 2009, p. 30).

De acordo com Morgado (2001, p. 62) «(…) a avaliação constitui-se necessariamente como a forma mais coerente de perceber e regular o trabalho desenvolvido por todos os intervenientes na relação pedagógica (…)». O mesmo autor acrescenta ainda que «(…) parece-nos oportuno considerar que em cada situação de avaliação apenas é possível ter acesso a uma amostra do que o aluno sabe, compreende ou realiza, o que não fornece uma verdadeira imagem da sua capacidade de sucesso, ou seja, na hipótese mais optimista, não é mais do que a melhor informação que se pode obter» (ibidem, p. 66).

Deste modo, cabe-nos a nós, educadores/professores, adequar os instrumentos de avaliação à realidade educativa e avaliar com rigor as informações que se obtêm. Seguindo a mesma linha, Serpa (2010) diz-nos que qualquer ato avaliativo exige sentido àquilo que se avalia, procurando identificar e clarificar os objetivos e as suas funções.

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