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AVANÇOS INSTITUCIONAIS DO MERCOSUL: IMPLICAÇÕES PARA A MOEDA

CAÍTULO IV A Viabilidade da União Monetária para o MERCOSUL

4.6 AVANÇOS INSTITUCIONAIS DO MERCOSUL: IMPLICAÇÕES PARA A MOEDA

Segundo MENDONÇA e SILVA (2004), o primeiro passo rumo à integração monetária no MERCOSUL foi dado com o surgimento da TEC (Tarifa Externa Comum) no âmbito da União Aduaneira. Para estes autores é fundamental que estejam harmonizadas e bem definidas as políticas comerciais a fim de evitar assimetrias entre os países. Tal passo foi alcançado, coexistindo apenas uma lista relativamente pequena de exceções. Por uma serie de questões pertinentes principalmente aos problemas argentinos de déficit em conta corrente, avançou-se menos a liberalização comercial, que, como vimos no capitulo II, não é exatamente um problema à adoção de uma moeda única, mas precisa ter os critérios para salvaguardas e barreiras discutidas entre os membros, buscando dar previsibilidade às políticas comerciais e aos investimentos.

Para GIAMBIAGI (1999) os passos para instituição de uma moeda única no MERCOSUL passariam por "a) estabelecer mecanismos de coordenação macroeconômica entre os países, sem os quais os entraves à própria integração comercial intra-regional podem proliferar; b) aprofundar os estudos para a criação de uma cidadania comum, mediante a instituição de um passaporte do Mercosul; c) trabalhar em conjunto com os países da região para harmonizar as legislações tributária, trabalhista, de mercado de capitais, etc."

No que se refere à cidadania comum o MERCOSUL avançou ao permitir a livre circulação de pessoas por 3 meses sem a necessidade de passaporte, mas quando se trata de obter permissão para residir e trabalhar permanentemente ou temporariamente em um pais ou outro, os cidadãos ainda passam por maiores dificuldades. O mesmo vale para empresas que queiram se instalar em um país ou outro, sendo que o Brasil apresenta legislação mais permissiva para o tema, cuja experiência poderia ser discutida com vias a sua implantação a nível regional.

O tema da adequação das legislações talvez seja o que mais se discutiu desde a implementação do MERCOSUL. A própria TEC é um exemplo de hegemonização bem sucedida neste campo. Outras ainda permanecessem na pauta, sendo atualmente a discussão mais avançada a legislação pertinente à movimentação de capitais, que possivelmente será implementada. Cabe ressaltar que esta proposta difere da simples liberalização ou flexibilização de regras, sejam trabalhistas, tributárias ou relativas aos movimentos de capitais. Todos os países do MERCOSUL têm suas experiências

históricas nesses quesitos que podem ser levadas em conta com vistas a construir um aparato legal conveniente ao bom funcionamento do mercado comum e a uma possível área monetária única.

O tema menos avançado é, sem duvida, o primeiro ponto elencado pelo autor supracitado, qual seja: adoção de mecanismos de cooperação macroeconômica. Ressaltamos que adotar mecanismos de cooperação é diferente de ter políticas macroeconômicas homogêneas. Ainda que muitos defendam a necessidade de indicadores macroeconômicos homogêneos, nos parece que adoção de mecanismos de cooperação sejam mais importantes, como um primeiro passo na busca de arranjos macroeconômicos mais parecidos. Não é correto dizer, por exemplo, que Argentina deva perseguir uma taxa de inflação convergente à taxa brasileira, mas sim que o MERCOSUL deveria adotar mecanismos que auxiliem os países a manter o poder de compra de suas moedas. Um bom exemplo de mecanismo de cooperação nesse quadro seria a compensação mutua dos choques nas balanças de pagamentos, tal como ocorreu na União Europeia antes da adoção do Euro, garantindo maior confiabilidade e menores choques especulativos contra as moedas da região.

Outro fator importante, conforme dissemos no capitulo II, é a convergência e integração estrutural do MERCOSUL. Atualmente existe um fundo estruturante no qual o Brasil participa com 70%, Argentina com um pouco menos de 30% e Uruguai e Paraguai com o restante. Com a entrada da Venezuela, preconiza-se que aporte uma soma idêntica a da Argentina. A obra em andamento mais importante deste fundo são as linhas de transmissão de energia da usina de Itaipu até a capital paraguaia. Tal fundo ainda carece de recursos, mas pode se tornar um fator importante da integração estrutural do bloco ao passo que obras como interligação de ferrovias, hidrovias e estradas, novas usinas de energia binacionais, portos de uso comum, gasodutos e tantos outros projetos possíveis e viáveis venham a ser construídos. Tal fator foi crucial, por exemplo, na construção do dólar americano como moeda única dos estados confederados. Alexander Hamilton, em seu “Relatório sobre as manufaturas” de 1791 escreveu sobre a construção de infraestrutura básica ao transporte de mercadorias:

“Dificilmente, haverá empresa que mereça mais atenção dos governos locais e seria desejável que não houvesse qualquer duvida sobre a faculdade do governo nacional para prestar a sua ajuda direta, dentro de um plano geral. Este é um destes melhoramentos que poderia ser realizado mais eficazmente pelo conjunto do que por uma ou varias partes da União. Existem casos nos quais haverá o perigo de se sacrificar o interesse geral em beneficio de presumidos interesses locais. Em assuntos como este as invejas são tão comuns quanto equivocadas.”

O que Hamilton argumenta é que uma avançada rede de infraestrutura comum entre os membros de uma dada região permite o maior fluxo comercial entre estes ao reduzir custos, aumentar a integração de parques produtivos e de fornecimento de matérias primas, o que beneficiaria todas as partes e, frisa Hamilton, reduz a capacidade dos monopólios locais de imporem suas regras e seus preços.

Por ultimo, é claro, a cooperação monetária que ainda é recente e pouco representativa no âmbito do MERCOSUL, e mais significativa, por exemplo, no âmbito dos países signatários do SUCRE20, que podem nos servir de exemplo. Atualmente, existe um sistema de mutua compensação envolvendo as moedas do Brasil e Argentina, permitindo que os agentes efetuem trocas comerciais em suas respectivas moedas, cuja liquidação em Dólares é feita diariamente pelos bancos centrais locais, o que teoricamente reduz os custos de transação. O mecanismo ainda pode ser aperfeiçoado até a instalação de uma moeda comum, como antecedente possível de uma moeda única. A moeda comum serviria para dar sustentação a um comercio regional com menores custos entre todos os países do MERCOSUL, mas ainda resistiria a necessidade da liquidação e conversão em dólares ou em outra moeda conversível, o que não precisaria existir no caso de uma moeda única.

Segundo RUBINI e GIAMBIAGI (2003), a adoção de uma moeda única no MERCOSUL necessitaria de avanços significativos que, segundo este autor, podem vir ex-post a construção desta moeda. Entre os mecanismos necessários estariam a necessidade de um Banco Central unificado e multilateral, gestor das políticas monetárias e cambial, uma legislação única para as instituições financeiras e normas do sistema financeiro como um todo, entre outras.