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PRODUTIVIDADE, CÂMBIO REAL E CUSTO DO TRABALHO NA ZONA DO

CAPITULO III: A UNIÃO MONETÁRIA E SUA CRISE RECENTE

3.10 DISCUTINDO A CRISE DO EURO

3.10.1 PRODUTIVIDADE, CÂMBIO REAL E CUSTO DO TRABALHO NA ZONA DO

da zona do Euro (destaque para Espanha) e ao risco iminente de calote de alguns bônus estatais (destaque para Grécia), é que se dá o nome de “crise do Euro”, que nada mais é que os efeitos da crise global iniciada em 2008 sobre os modelos de crescimento adotado por esses países. As duas questões que ficam em aberto são: i) foi a participação desses países na zona do Euro levou (ou cooperou) para tal situação? ii) Participar da zona do Euro dificulta a recuperação de tais economias? Tentaremos encontrar algumas pistas a seguir.

3.10 DISCUTINDO A CRISE DO EURO

3.10.1 PRODUTIVIDADE, CÂMBIO REAL E CUSTO DO TRABALHO NA ZONA DO EURO

Uma das mais contundentes críticas que se faz à zona do Euro é aquela que traz a questão cambial ao centro do debate. Sob uma única moeda a taxa de cambio entre os países membros é, por definição, fixa. Isso em termos nominais. Em termos reais o câmbio se move. Pode-se dizer que há uma valorização real quando os preços relativos de um país em questão sobem mais do que no país ou grupo de países que servem de comparação. Dessa forma, um dado importante para os membros da união europeia é a taxa de inflação. Ganha competitividade aquele que conseguir os menores índices de crescimento de preços.

GRAFICO 6 – INDICE HARMONIZADO DE PREÇOS AO CONSUMIDOR (HICP) NA ZONA DO EURO, PAISES SELECIONADOS, 2000 A 2013 (2005=100).

Fonte: EUROSTAT

Percebe-se que desde a introdução do Euro comparativamente os preços subiram mais depressa na Grécia, Espanha, Portugal e Itália do que na França ou na Alemanha. Efetivamente, porém, a diferença é muito pequena. Entre 2005 e 2012, somente a Grécia passa de uma base 100 para 120. Há disparidades, mas elas são muito estreitas. Não obstante, é admissível que uma moeda mais desvalorizada no momento de introdução do Euro acabe produzindo uma inflação maior, em função da nova condição de paridade cambial baseada na livre circulação de bens. Não parece haver indícios de que a inflação seja aplicável para a zona do Euro como critério da perda de competitividade de alguns países.

Entretanto, persiste a defesa de que o Euro em si esteve sobrevalorizado. A visão de que os países em dificuldades fiscal na zona do Euro precisariam de uma desvalorização no câmbio foram bastante difundidas. John Authers, colunista do jornal Britânico Financial Times afirmava em dezembro de 201116 que “Vários países da zona do euro precisam urgentemente de uma grande desvalorização, mas o Euro continua forte”. Ele argumenta que “[...] quando o Euro estreou, algumas moedas anteriores estavam superavaliadas e outras, subavaliadas. Desde então, as taxas de inflação divergiram na zona do euro.” Dessa forma, apropria a explicação de que as taxas de inflação teriam variado como forma de ajuste de preços relativos dentro do bloco.

Com países como a Grécia mostrando todos os sintomas de precisar de uma desvalorização para aumentar a competitividade, fica claro que o euro continua solidamente supervalorizado e que os fundamentos econômicos deveriam empurrá-lo para baixo. (Ibid.)

Porém, se isto for verdade, temos de procurar compreender: o que faz a Alemanha e outros países poderem lidar melhor com a sobrevalorização do Euro – produzindo, inclusive, fortes superávits comerciais – do que a Grécia, que mostra “todos os sintomas de precisar de uma desvalorização para aumentar a competitividade”?

Vimos que por anos antes da introdução do Euro os países europeus buscaram a todo custo defender o valor de suas moedas. Da mesma forma, desde o nascimento da PAC se buscou minimizar a oscilação das medas nacionais. Este fator, consumado definitivamente pelo Euro, fora a base do desenvolvimento dos países europeus com relação ao comércio intrabloco e políticas de cooperação regional. Jamais saberemos os efeitos da crise global se o Dracma grego ou a Peseta espanhola ainda existissem, mas é factível supor que mesmo que houvessem fortes desvalorizações de suas moedas, é de se supor que tais países lutariam contra o fenômeno, certamente com ajuda de outros países da zona do Euro. Um dos argumentos a favor do Euro quando da sua criação havia sido justamente o “fim” da especulação entre as moedas da união Europeia.

Assim, portanto, a questão cambial não pode ser compreendida no sentido de que bastariam os estados mais fracos desvalorizarem suas moedas. Na Europa, a base econômica assentada no comercio intrabloco e na integração produtiva não permite essa compreensão.

Na zona do Euro é inegável posição da Alemanha como grande credora, carregando sucessivos e volumosos superávits em conta corrente desde a introdução do SME no início dos anos 90, enquanto as nações mais debilitadas pela crise mantiveram nos últimos anos um déficit crônico. As entradas de poupança externa nestes países foram acompanhadas de endividamento crescente das famílias e empresas, e, no despertar da crise, também dos governos. Podemos dizer posição mais cômoda da Alemanha (em verdade acompanhada por outros países como Holanda) se reduz ao fator cambial?

O próprio Authers concorda que não é bem assim. Para embasar sua argumentação acerca da subvalorização do Euro, usa o dado do FMI para o chamado “preço justo”, onde são comparados os custos de vida em diferentes países, chegando-se a um preço em dólar que mantém a paridade do poder de compra em relação a alguma

moeda. “[...] em Luxemburgo 1 euro compra US$ 0,99 em mercadorias, enquanto na Eslovênia [...] US$ 1,53 [...] O valor justo da Alemanha subiu persistentemente, para cerca de US$ 1,20 (o da França está em US$ 1,11).” Quanto mais alto, mais sobrevalorizada está a moeda local.

Ora, se o “valor justo” é, por exemplo, maior na Alemanha do que na França, o que explica a tendência quase contraditória de aprofundamento do déficit externo Frances com a alta do superávit alemão?

Ao que tudo indica, a matemática do câmbio real não é tão simples quanto parece, entre os limites dessa visão encontram-se o tamanho da economia (definindo-a como tomadora de preços ou não), as análises setoriais e a produtividade do trabalho nos diferentes setores. É o que veremos adiante.