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1456-1460

Nome: Diogo Gomes ou Diogo Gomes de Sintra.

Data de nascimento: c. 1425.

Local de nascimento: Talvez em Lagos.

Data de morte: Antes de 6 de dezembro de 1502. Local de morte: Provavelmente em Sintra. Família: Marido de Isabel Gomes.

Maior feito: Foi o primeiro navegador a subir os rios Geba

(Guiné-Bissau), Gâmbia (Gâmbia e Senegal) e Salum (Senegal). Foi um dos descobridores, em 1460, do arquipélago de Cabo Verde.

Vida e feitos

Diogo Gomes, também por vezes conhecido como Diogo Gomes de Sintra, terá nascido em Lagos, no Algarve, por volta de 1425. Ao longo da vida, foi acumulando cargos e funções, recebendo benesses e servindo ora o infante D. Henrique ora a Coroa. Fez de tudo um pouco: navegou por mares e rios desconhecidos, desco- briu novas terras, fez comércio com os nativos ao longo da costa ocidental africana e, em Portugal, desempenhou cargos de justiça ou relacionados com a gestão de dinheiro. No essencial, a sua car- reira permitiu-lhe subir alguns degraus sociais, terminando a vida, por volta de 1502, como cavaleiro da casa real.

Muito pouco se sabe sobre a vida pessoal de Diogo Gomes. Na verdade, sabe-se apenas que casou com Isabel Gomes que, em 1502 e tendo o marido já falecido, procurou pagar rituais religiosos para garantir a salvação da sua alma.

Diogo Gomes terá começado a sua carreira enquanto moço de câmara do infante D. Henrique (1394-1460). Seria, nessa altura, ainda muito jovem e a sua carreira posterior irá demonstrar que se tornou num servidor próximo do infante.

Em 1445, comandou uma caravela na armada que se dirigiu à ilha de Tider, perto do cabo Branco, na atual Mauritânia. A armada era comandada por Gil Eanes e por Lançarote de Frei- tas. Esta armada, tal como outras do mesmo período, tinha por objetivo não só a exploração, mas também a captura de escravos que depois podiam ser vendidos em Portugal por um bom preço. Não se sabe o que fez depois do regresso a Portugal, pois nada se sabe da sua vida até 1451.

Nesse ano, foi nomeado para o cargo de escrivão da carrea- gem real, nomeação que o aproximou ainda mais do serviço à Coroa portuguesa. Já nessa altura era referido como criado do rei D. Afonso V (1438-1481). Terá permanecido no reino até 1456, data em que partiu, em nova viagem, rumo à costa ocidental afri- cana, durante a qual comandou uma armada de três caravelas e foi acompanhado por João Gonçalves Ribeiro e Nuno Fernandes da Baía. Nessa ocasião, Diogo Gomes subiu dois rios africanos pela primeira vez: o rio Geba, na atual Guiné-Bissau, durante a viagem rumo a sul; e o rio Gâmbia, que atualmente divide a Gâmbia e o Senegal, na altura da sua viagem de regresso. É pos- sível que, ao subir o rio Gâmbia, tenha entrado em contacto com as populações locais e, desse modo, obtido informações sobre as minas de ouro do Senegal e do Alto Níger, sobre o entreposto comercial de Tombuctu, situado no atual Mali, bem como sobre as rotas sarianas do ouro.

Em 1459-1460, Diogo Gomes partiu de novo para a costa oci- dental africana. Nessa ocasião, explorou o rio Salum, situado no atual Senegal. Terá sido na viagem de regresso a Portugal, já em 1460, que Diogo Gomes, acompanhado pelo genovês António da Noli, terá descoberto algumas das ilhas do arquipélago de Cabo Verde, chegando mesmo a desembarcar na ilha de Santiago.

A vida e os feitos dos Navegadores e Descobridores

A viagem de regresso a Portugal seria atribulada, já que a sua embarcação, depois de fazer escala na Madeira, foi atingida por uma tempestade. António da Noli chegou primeiro ao reino e reivindicou a descoberta de Cabo Verde perante o rei. Seria, pois, o genovês a receber a capitania da ilha de Santiago enquanto recompensa e não Diogo Gomes que, até ao final da vida, terá reivindicado os seus supostos direitos.

Apesar de não lhe ter concedido a capitania de Santiago, o rei não deixou de lhe confiar importantes missões. Foi assim que, no final de 1460, Diogo Gomes foi enviado a Lagos para verificar o estado de decomposição do corpo do infante D. Henrique, seu antigo senhor, falecido a 13 de novembro. A sua missão pren- dia-se com a vontade do infante de que as suas ossadas fossem trasladadas para o mosteiro da Batalha, para ali repousar junto do pai, o rei D. João I (1357-1433), da mãe, a rainha D. Filipa de Lencastre (1360-1415), e dos irmãos, o rei D. Duarte (1391-1438) e o infantes D. Pedro (1392-1449) e D. João (1400-1442). A trasla- dação do corpo do infante viria a ser realizada em 1461.

Ao longo da sua vida, Diogo Gomes acumulou várias mercês régias. Em 1459, foi nomeado almoxarife de Sintra, cargo que viria a desempenhar até 1480. Diogo Gomes acabaria por ficar ligado a Sintra e à região circundante, apenas de lá saindo, em 1459, para participar numa nova, e já referida, viagem à costa ocidental africana. Em 1466, foi escolhido como juiz das couta- das, caças e montarias e, em 1479, já era referido como vedor do paço real de Sintra e juiz das sisas de Colares.

O serviço à Coroa também permitiu a Diogo Gomes ascender socialmente. Em 1463, era referido como escudeiro da casa real, mas, quando faleceu, por volta de 1502, já tinha ascendido a cavaleiro da casa real. Entretanto, o rei tinha-lhe concedido uma tença de 4800 reais anuais.

Boa parte do que se sabe sobre a vida de Diogo Gomes provém de um documento em latim, ao qual os historiadores convencio- naram chamar a Relação de Diogo Gomes. Esse documento, que

relata os principais acontecimentos da sua vida, tais como as suas viagens aos rios da região da Guiné, terá sido escrito algures entre 1484 e 1502, data em que Diogo Gomes já tinha falecido. Não se sabe se o documento terá sido escrito pelo próprio Diogo Gomes ou por Martin Behaim, um alemão originário da cida- de de Nuremberga. É possível que Martin Behaim, depois de conversar com Diogo Gomes, por volta de 1485, tenha escrito o documento a que nos referimos. São estas as duas versões pos- síveis para a existência deste documento que tão importante é para o conhecimento da vida do navegador Diogo Gomes.

Conforme já referimos, Diogo Gomes terá falecido antes de 6 de dezembro de 1502, provavelmente em Sintra, onde durante tanto tempo exerceu cargos em nome do rei. A sua longa vida, que cruzou os reinados de D. João I, D. Duarte, D. Afonso V, D. João II (r. 1481-1495) e D. Manuel I (r. 1495-1521), foi vivida, sobretudo, ao serviço da Coroa, que, de forma mais ou menos constante, sempre recompensou os serviços prestados com no- vas e importantes mercês. Assim sendo, Diogo Gomes é um claro exemplo dos homes que utilizaram o serviço ao rei e, neste caso particular, o serviço enquanto navegadores e descobridores, para ascenderem socialmente.