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1441

Nome: Antão Gonçalves.

Data de nascimento: Por volta da década de 1420. Local de nascimento: Portugal.

Data de morte: Finais do século XV. Local de morte: Talvez em Tomar.

Família: Pai de Simão, Garcia, Afonso, Valentim e Fernando.

Maior feito: Foi o primeiro europeu a trazer escravos negros

para Portugal.

Vida e feitos

Tal como para tantos outros indivíduos do período, não é pos- sível saber a data ou o local de nascimento de Antão Gonçalves. Nasceu, sem dúvida, em Portugal. Em 1441, era descrito como sendo ainda muito jovem, pelo que é possível que tenha nascido algures na década de 1420. A ter nascido nessa altura, Antão Gon- çalves veio ao mundo numa época em que os Descobrimentos se estavam ainda a iniciar. A Madeira tinha sido recém-redescoberta por volta de 1419-1420 e os Açores ainda permaneciam ocultos no Atlântico Norte. O cabo Bojador, na costa ocidental de África, permaneceria um obstáculo inultrapassável até à viagem de Gil Eanes, em 1434. Os portugueses tinham conquistado recentemen- te Ceuta (1415) em Marrocos e ainda reinava D. João I (r. 1385- -1433), o rei que muitos anos antes vencera a decisiva batalha de Aljubarrota (1385).

Antão Gonçalves desempenhou o ofício de guarda-roupa do

infante D. Henrique, integrando assim a casa4 de um dos nobres

mais poderosos de Portugal. Foi precisamente essa ligação pes- soal e próxima ao homem que iniciou os Descobrimentos que permitiu a Antão Gonçalves tornar-se navegador ao serviço do infante.

Em 1441, realizou a sua primeira viagem à costa ocidental africana. Dirigiu-se à região a sul do cabo Bojador para aí car- regar mercadorias locais, sobretudo óleo e peles de lobos-ma- rinhos, uma espécie de foca. Estes foram alguns dos primeiros produtos comerciais que começaram a chegar a Portugal, por causa das viagens dos navios do infante D. Henrique ao longo da costa ocidental de África.

Por esta altura, Antão Gonçalves decidiu ir com nove compa- nheiros ao interior do território, para ver se podia capturar al- guns mouros que lhe dessem informações sobre aquelas terras. O seu senhor, o infante D. Henrique, ambicionava ter ao seu dis- por todas as informações possíveis sobre aquelas novas terras. Antão Gonçalves e os seus homens avançaram três léguas para o interior, até se depararem, de noite, com um acampamento mouro. Usaram o elemento de surpresa para atacar e, no meio da confusão, conseguiram capturar dois mouros, um homem e uma mulher, que mais tarde viriam a libertar após o pagamento de um resgate. Foi assim que teve início a prática de captura de mouros junto à costa ocidental de África, prática essa que no futuro teria uma significativa importância económica, pois os capturados apenas eram libertados após ser pago um resgate apropriado.

No final dessa primeira viagem, e estando num local chamado

Porto dos Lobos5, encontrou-se com um outro navegador, Nuno

4 A casa não era a habitação de um nobre, mas sim todo o conjunto de membros

da família, servidores e bens que o rodeavam. Por isso, era normal dizer que um determinado homem pertencia à casa de um qualquer senhor.

A vida e os feitos dos Navegadores e Descobridores

Tristão, que estava em viagem rumo ao cabo Branco, situado na atual Mauritânia. Sabendo que Antão Gonçalves já tinha avança- do para o interior e capturado um par de mouros, Nuno Tristão convidou-o a acompanhá-lo numa nova viagem em terra para capturar mais algumas pessoas. Os dois navegadores e os seus homens encontraram um acampamento que prontamente ataca- ram. Sendo de noite, imperou a confusão. Foram mortos quatro mouros e capturados 10, de entre homens, mulheres e crianças. Entre os capturados encontrava-se um chefe local, chamado An- dahu, que forneceu aos navegadores informações sobre aqueles terras. Pelo auxílio prestado e pela coragem demonstrada du- rante os combates, Antão Gonçalves foi armado cavaleiro por Nuno Tristão, após o pedido de muitos dos seus companheiros. A partir de então, o Porto dos Lobos passou a ser chamado porto do Cavaleiro em sua honra. Pouco depois, Antão Gonçalves re- gressou a Portugal.

Os resultados da sua primeira viagem agradaram ao infante D. Henrique, que logo no ano seguinte, em 1442, o enviou numa segunda viagem à costa ocidental africana. Antão Gonçalves re- gressou ao local onde antes tinha estado e trocou os dois mouros capturados por uma dezena de escravos negros e um pouco de ouro. Ao que parece, tinha defendido perante o seu senhor que podia salvar as almas dos escravos negros convertendo-os ao cristianismo. No processo de resgate dos escravos Antão Gonçal-

ves tinha sido auxiliado por Martim Fernandes, alfaqueque6 do

infante D. Henrique e homem habituado a resgatar prisioneiros em Ceuta.

Em 1444, seguiu-se uma nova expedição, rumo ao rio do Ouro, situado no atual Sara Ocidental. Antão Gonçalves, que coman- dava uma caravela, foi acompanhado por outras duas caravelas, comandadas por Gomes Pires, patrão d’el-rei, que ia ao serviço do infante D. Pedro, e Diogo Afonso, membro da casa do infante

D. Henrique. Esta expedição não teve tanto sucesso como as an- teriores, pois apenas levaram de volta ao reino, óleo e peles de lobos-marinhos, bem como uns poucos cativos. Nesta viagem, Antão Gonçalves terá sido acompanhado por um escudeiro cha- mado João Fernandes, que foi deixado em terra para contactar com as populações locais.

A sua última viagem a África terá ocorrido em 1445. A arma- da era comandada por Antão Gonçalves, tendo cada uma das caravelas também um capitão: uma pelo próprio Antão Gonçal- ves, outra por Garcia Mendes e outra ainda por Diogo Afonso. O objetivo era, uma vez mais, o rio do Ouro, onde deviam ser capturados mais alguns mouros e negociadas algumas mercado- rias. Partindo do reino, as embarcações fizeram escala na ilha da Madeira e seguiram rumo ao cabo Branco. Uma vez chegados a esse cabo, decidiram ir capturar mouros à ilha de Arguim. Após um ataque surpresa a uma aldeia, uma vez mais lançado a meio da noite, foram capturados 25 mouros. Nessa ocasião, Lourenço Dias, morador em Setúbal, foi capaz de capturar sete mouros sozinho.

Pouco depois, a armada acabaria por recolher João Fernandes, o escudeiro que ali tinha deixado no ano anterior. As informa- ções recolhidas pelo escudeiro acabaram por colocar Antão Gon- çalves e os seus companheiros em contacto com um chefe local, de nome Aude Meimão, que com eles negociou, vendendo-lhes nove escravos negros e um pouco de ouro em pó. O local onde esses negócios tiveram lugar passou então a ser chamado cabo do Resgate.

A armada seguiu rumo ao cabo Branco onde, num ataque levado a cabo já ao amanhecer, conseguiram capturar 65 mou- ros, entre homens, mulheres e crianças, de um total de 70 ou 80 que encontraram. A falta de mantimentos obrigou a armada a regressar ao reino, o mais depressa possível, com os seus cativos, tendo sido recebidos em Lisboa com grande alegria popular.

A vida e os feitos dos Navegadores e Descobridores

Pelo seu bom desempenho ao longo das quatro viagens re- gistadas, o infante D. Henrique concedeu a Antão Gonçalves a capitania da ilha de Lançarote, nas Canárias. Antão Gonçalves ainda habitou naquela ilha em 1448, mas acabou por ter de a abandonar pouco depois. Por essa altura, o infante disputava com o rei de Castela a posse daquelas ilhas. Só o tratado das Al- cáçovas, assinado em 1479, para estabelecer a paz entre Portugal e Castela, viria a conceder definitivamente as Canárias ao reino de Castela.

Antão Gonçalves recebeu ainda uma comenda da Ordem de Cristo, da qual o infante D. Henrique era governador. Além dis- so, serviu como escrivão da puridade da Ordem de Cristo e foi nomeado alcaide-mor da vila de Tomar, sede daquela mesma ordem. Já no final da vida, Frei Antão Gonçalves, tal como era conhecido, por ser cavaleiro da Ordem de Cristo, foi responsável pela gestão da ordem durante a menoridade do novo mestre, D. Diogo, filho do infante D. Fernando (1433-1470), filho adotivo do infante D. Henrique. A 28 de setembro de 1473, ainda regia a ordem em nome de D. Diogo.

Tal como se percebe, Antão Gonçalves viveu a sua vida sem- pre muito próximo do senhor que servia, o infante D. Henrique, e esse facto valeu-lhe uma carreira distinta e recompensas sig- nificativas. A sua ligação à Ordem de Cristo, primeiro tutelada pelo infante D. Henrique e depois pelo infante D. Fernando, viria a torná-lo num importante cavaleiro e comendador da ordem, além de ter desempenhado o importante cargo de escrivão da puridade. Estaria no auge do seu poder quando, em inícios da década de 1470, geriu a ordem interinamente.

João Fernandes