• Nenhum resultado encontrado

Catálogo Mañá C2b

5.2. O azeite africano

Embora ainda disponhamos de poucos dados, os recentes avanços na definição da mor- fologia dos contentores destinados ao transporte do azeite desta área e o estudo da sua dis- persão (Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2000; Benquet e Olmer, 2002; Asensio et al., 1998) levam a que se reavalie o papel da comercialização do azeite norte-africano da área da Tripolitânia na dinâmica comercial tardo-republicana. Esta zona, conhecida como a região das três polis (Lepcis, Sabratha e Oea), teve, durante a época romana, na produção oleícola, um dos principais recursos económicos. Conquanto essa produção se encontre bem documentada para a época imperial, os dados são escassos para o período republicano, sendo interessante recordar que, em 46 a.C., depois da vitória de Júlio César em Thapsus sobre o exército pom- peiano e os seus aliados númidas, é imposto à cidade de Lepcis um tributo de três milhões de litros de azeite (Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2000, p. 303), sendo esta medida bastante elucidativa da capacidade de produção desta área.

FIG. 28 – Fotografia de marca impressa em caracteres gregos, sobre uma asa de uma

5.2.1. Ânforas tripolitanas antigas

Caracterizam-se por um bordo ligeiramente esvasado, lábios verticais de secção trian- gular, ligeiramente oblíquos e moldurados. As asas são curtas, arrancando abaixo do lábio, e apresentam secção ovóide ou circular; o colo é pouco pronunciado, de secção troncocónica, de onde parte o corpo ovóide com tendência cilíndrica, terminando num fundo em botão. Apresentam uma altura entre os 60 e os 75 cm, um diâmetro máximo de 35 cm e uma grande capacidade, variável entre os 42 e os 49 l.

Na ausência de melhor classificação, têm-se denominado como tripolitanas antigas, um conjunto de ânforas de época republicana, de forma ovóide, que parecem inspirar-se em modelos produzidos na costa adriática de Itália e que se apresentam como a primeira pro- dução que antecede as típicas formas de exportação de azeite da área da Tripolitânia durante a época imperial (Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2000).

Identificados pela primeira vez por Empereur e Hesnard (1987)54, o seu estudo só recentemente mereceu a atenção de outros investigadores (Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2000), deixando adivinhar uma inusitada difusão, que leva a reavaliar a impor- tância da sua comercialização em época republicana. Partindo da análise dos numerosos exemplares identificados nos níveis republicanos da cidade de Valentia e da sua difusão no Mediterrâneo central e ocidental, G. Pascual Berlanga e A. Ribera i Lacomba (2000) situam o início da sua produção na primeira metade do século II a.C., embora seja a partir de iní- cios da segunda metade do século II a.C. que se encontram bem documentados na Penín- sula Ibérica, como demonstram os exemplares de Numância, Valência e os naufrágios da Ilha Pedrosa e Punta Scalletta, perdurando a sua comercialização até finais do século I a.C., quando é aparentemente substituída pela sua sucessora, a Tripolitana I.

Embora, até ao momento, não tenha sido identificado nenhum contentor deste tipo no território actualmente português, a semelhança das pastas e a morfologia dos lábios de um conjunto de ânforas recolhidas na estação de Chões de Alpompé, classificadas, embora com hesitações, entre as ânforas Mañá C1 (Classe 32) ou entre as Beltrán 85 (Fabião, 1989, p. 105, Fig. 14, n.os54 e 75; Diogo, 1993, p. 223, Est. II, n.os 25 e 26; Diogo e Trindade, 1993-94, p. 268, Est. II, n.os22 a 28 e n.os33 a 34) e os exemplares que classificamos como tripolita- nas antigas exumados em Lisboa levam-nos a questionar se muitos dos fragmentos de bocais publicados como do tipo Mañá C1 não serão antes tripolitanas antigas55. De facto, a similitude morfológica entre os bordos e os fabricos destas produções dificultam a sua classificação, impedindo uma correcta distinção entre as duas formas, a partir de frag- mentos de pequena dimensão.

Na antiga alcáçova de Lisboa, estes contentores encontram-se presentes no contexto E, onde foi identificado um fragmento de bocal (Est. 13, n.0102 e Fig. 29, n.03)56e, com algu- mas cautelas, no Contexto C, onde foi exumado um grande fragmento de bojo globular, que poderia corresponder a estas produções. Embora se encontre escassamente representado no presente conjunto (0,97%), a análise da totalidade das ânforas exumadas nas diversas inter- venções do Castelo de São Jorge (onde correspondem a 1,59%), assim como a sua presença em outras intervenções na cidade de Lisboa, nomeadamente na Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, Claustro da Sé de Lisboa e possivelmente no Teatro Romano (ver Diogo, 2000, p. 166, Fig. 4, n.os6 e 7) permitem-nos vislumbrar a sua importância no quadro das impor- tações de Olisipo para esta época.

Catálogo

1 – Fragmento de bordo, com início do colo.

O lábio é vertical, com 3,4 cm de altura, ligeiramente oblíquo e moldurado, circunscre- vendo um diâmetro externo de 14,5 cm. A pasta é compacta, homogénea, com poucos elementos não plásticos, constituídos por quartzos, grãos ferruginosos e elementos cal- cários. A cor é vermelho-clara (Mun. 10 R 5/8). Apresenta um engobe amarelo-claro (Mun. 10 YR 8/3), espesso e muito aderente em ambas as faces. Contexto F. C.S.J. P. Coz. 3673. Est. 13, n.0102 e Fig. 29, n.03.

5.2.1.1. Grafitos (Est. 17, n.0138)

Embora identificado num contexto habitacional de época islâmica, na intervenção da Praça Nova de Lisboa, foi possível individualizar um fragmento de fundo, que, pela mor- fologia e pelo seu fabrico, se enquadra dentro destas produções, evidenciando um grafito gravado na argila antes da cozedura. Ainda que se encontre incompleto, parece correspon- der a um símbolo mais complexo como os registados sobre ânforas deste tipo na costa da Catalunha (Asensio et al., 1998, p. 72, fig. 3, n.os16 a 18) e na cidade de Valência, na esca- vação de L’Almoina (Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2000, p. 313), cujo significado não se apresenta claro.

Catálogo

1 – Fragmento de bico fundeiro de ânfo- ra tripolitana antiga.

Fundo oco, afunilado, terminando em calote esférica. A pasta é compacta, homogénea, com poucos elementos não plásticos, constituídos por quart- zos, grãos ferruginosos e elementos calcários. A cor é vermelho-clara (Mun. 2,5 R 6/8). Apresenta um engobe ama- relo-claro (Mun. 10 YR 8/3), fino, homógeneo e aderente. C.S.J. P.N. 2760. Est. 17, n.0138.

FIG. 29 – Fotografias macroscópicas das pastas.

1

2