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2. PRINCIPAIS IMPACTOS AMBIENTAIS INFLUENTES NA QUALIDADE DAS

2.2 Bacia do Acaraú

2.2.1 Barragem Acaraú Mirim

Na área de influência do açude Acaraú Mirim, que abrange um total de 112,86 km², destaca-se a presença abundante de espaços abertos devido ao desmatamento da vegetação nativa, formando áreas de pastagens. Atualmente, devido à seca que afeta a região, muitas dessas áreas encontram-se abandonadas e improdutivas, favorecendo o assoreamento do reservatório.

O processo de erosão reduz os horizontes superficiais do solo, que já são naturalmente rasos no semiárido, potencializando os efeitos das secas e cheias, uma vez que há uma significativa redução da capacidade de armazenamento de água no solo, que acarreta na diminuição da recarga de rios e açudes durante as secas. O assoreamento, causado pelo excesso de sedimento e resíduos sólidos carreados pela água, também aumenta as perdas por evaporação na medida que modifica

a morfologia do açude para uma forma mais aberta, diminuindo sua profundidade e aumentando o espelho d’água, dessa forma proporcionando melhores condições para o processo de eutrofização. A água do açude Acaraú Mirim também é utilizada para a dessedentação do gado que pasta às margens do reservatório. A presença de animais na bacia hidráulica, o que é comum em época de seca, quando o nível dos reservatórios diminui ou até mesmo seca, é um fator que potencializa a eutrofização, devido ao aporte dos nutrientes presentes em seus excrementos, que por estarem tão próximos ao corpo hídrico interferem diretamente na qualidade da água.

No que diz respeito às áreas cultivadas, a maioria delas se caracteriza por agricultura de vazante, que aproveitam a matéria orgânica depositada pelas cheias e a umidade do solo para o plantio de milho, feijão e hortaliças. Esse tipo de cultivo é impactante por estar muito próximo da bacia hidráulica, em APP, e por utilizar formas de manejo e tecnologias rudimentares que colaboram para exaustão e desgaste do solo. Além disso, a agricultura de vazante apresenta um risco potencial de contaminação das águas do reservatório, pela possibilidade de utilização de agrotóxicos nessas áreas.

No entorno do reservatório destaca-se a presença de comunidades, como Ticará e Salgadinho, com residências e estabelecimentos de cunho comercial (balneários e bares) irregularmente localizados em APP. Essas ocupações causam uma maior pressão nos recursos naturais da região, pois além de ocasionar a supressão da vegetação nativa, contribuem como fontes de poluição na medida em que realizam o despejo inadequado dos seus resíduos e esgotos domiciliares, devido a insuficiência dos municípios em atender e fornecer os serviços básicos de saneamento.

Não foram encontradas áreas de piscicultura na bacia hidráulica do reservatório em questão, apenas uma criação de tilápia em sua área de influência. A piscicultura em questão é de cunho familiar e localiza-se na fazenda Sonho Meu. Segundo informações fornecidas pelos funcionários desse estabelecimento, a produção está paralisada no momento devido à escassez de água na região, que atua como um fator limitante a produção de peixe. No entanto, durante o período chuvoso, quando o nível do reservatório se eleva, são produzidos até 3 mil peixes por mês.

2.2.2 Barragem Araras

Em toda a sua área de influência, que abrange um total de 863,523 km², observa-se a predominância de criações extensivas de gado bovino, que circulam livremente pela área da bacia hidráulica, configurando-se como o principal impacto observado no açude. A presença desses animais acarreta sérios prejuízos à qualidade da água, na medida que seus excrementos são facilmente lixiviados e carreados, causando o aumento do aporte de nutrientes e resíduos para o açude e, consequentemente, colaborando para a poluição das águas usadas para o abastecimento humano.

Além disso, quando presente em grande quantidade, como no caso do reservatório Araras, o gado é capaz de causar a compactação do solo, devido ao seu grande porte e ao constante pisoteio. Assim, a quantidade de escoamento superficial gerado durante eventos chuvosos aumenta, já que o processo de infiltração se dificulta, reduzindo consequentemente a recarga natural do açude. Junto a isso, têm-se a redução dos rendimentos das pastagens, que já não conseguem produzir a mesma quantidade de biomassa devido a aceleração dos processos erosivos nas camadas superficiais do solo.

As áreas de pastoreio estão diretamente ligadas ao extrativismo vegetal, principalmente de lenha, visto que anteriormente a criação dessas áreas é realizada a supressão de sua vegetação. Logo, essa atividade é responsável por grande parte da degradação da vegetação nativa, devastando inclusive áreas localizadas na APP do reservatório. Essas áreas desmatadas são mais susceptíveis a processos erosivos, acelerando o assoreamento e a lixiviação de poluentes, como os agrotóxicos. O desmatamento ainda favorece a devastação do bioma caatinga, além de destruir habitats naturais e prejudicar o forrageamento das espécies da região.

Verifica-se ainda locações onde se realiza ou onde era realizada a atividade de mineração de areia. Nas áreas ociosas foram detectados locais com solo exposto, que são mais vulneráveis aos processos de erosão, os quais, quando ocorrem, atuam dificultando a recarga natural do reservatório, além de favorecerem o carreamento de possíveis poluentes e resíduos para a bacia hidráulica.

No que diz respeito a existência de criação de peixes na área de influência do reservatório, foi identificada apenas uma piscicultura desativada desde 2010 devido a situação de escassez hídrica na região. A piscicultura em questão localiza-se às margens do açude e, de acordo com as

informações fornecidas por um funcionário do estabelecimento, o empreendimento contava com 240 gaiolas de dimensão 3 x 3 m, e cada gaiola tinha capacidade de produzir entre 1000 e 1200 kg.

Foram identificadas comunidades como Capoeirão, Riacho do Meio, Angelim, Jatobá, Riacho do Mato e Tubiba, que se localizam parcialmente ou inteiramente na APP do reservatório. A ocupação urbana nessas áreas causa uma maior pressão nos recursos naturais, devido a retirada da vegetação nativa e ao despejo inadequado de esgotos e resíduos por parte da população. Além disso, parte da população ribeirinha utiliza a pesca como atividade de subsistência, acarretando em despejos orgânicos de restos de peixes na região da bacia hidráulica, o que contribui para o aporte de nutrientes ao açude.

Com respeito às empresas identificadas na área de influência do reservatório, encontram-se a Cerâmica Feitosa LTDA ME e a Cerâmica Rancho do Tijolo LTDA. As duas empresas pertencem ao mesmo dono, o senhor Aureliano Ferreira de Araújo, e possuem uma produção mensal que soma 300 milheiros de tijolos. Na primeira, foi informado pelo funcionário responsável, que a água utilizada para a produção advém de um poço outorgado pela Cogerh. Na segunda empresa, observou-se que a areia utilizada na produção dos tijolos é proveniente de uma grande área de extração situada dentro dos limites da própria fábrica.

2.2.3 Barragem Jenipapo

No reservatório Jenipapo verifica-se a presença de troncos de árvores dentro da bacia de acumulação do açude, que em contato com a água acabam apodrecendo e se decompondo, aumentando a quantidade de nutrientes no corpo hídrico e podendo ocasionar a mortalidade de peixes. A presença desses troncos indica que as atividades de retirada da vegetação previamente a inundação da área foram realizadas de forma pouco criteriosa. Ademais, não foram identificados, através das visitas em campo, outros impactos potenciais capazes de afetar a qualidade da água do açude.

2.2.4 Barragem São Vicente

Na área de influência do reservatório São Vicente, que abrange um total de 19,85 km², destaca-se a existência de cultivos da agricultura familiar, localizados em áreas de vazante, aproveitando a fertilidade do solo que é favorecida pela matéria orgânica depositada pelas cheias e a umidade do solo para plantar milho, mandioca, batata e feijão. Apesar de não utilizar técnicas de irrigação, esse tipo de cultivo causa impactos por estar localizado sempre próximo a bacia hidráulica, ou seja, em APP, e por utilizar formas de manejo e tecnologias rudimentares que colaboram para a exaustão e desgaste do solo. Consequentemente, os processos erosivos são intensificados, aumentando a quantidade de poluentes e resíduos que são carreados superficialmente e/ou lixiviados para o reservatório, afetando a qualidade da água e diminuindo também a recarga para o açude a partir da redução do processo natural de infiltração.

Algumas áreas de pasto também foram identificadas na área de influência do reservatório. Boa parte delas encontram-se ociosas devido à atual situação de escassez hídrica da região, o que dificulta o pasto a ter um bom rendimento. Essas terras, por ausência de vegetação, ficam vulneráveis a erosão, o que contribui para o carreamento de nutrientes, poluentes e outros resíduos para a bacia hidráulica do açude, provocando seu assoreamento.

Também é possível observar desmatamentos e queimadas para fins de extrativismo vegetal, principalmente de lenha. Essa atividade é responsável por grande parte da degradação da vegetação nativa, devastando a APP e indo além dessa área, ao atingir as demais áreas de entorno do açude, o que corresponde a um raio de 1 km a partir da bacia hidráulica. Tal fato facilita o aporte de poluentes devido a remoção da vegetação, o que contribui para o assoreamento do reservatório, além de aumentar a quantidade de escoamento superficial, dificultando a recarga natural do açude.

2.2.5 Barragem Taquara

Na área de influência do açude Taquara, que abrange um total de 409,74 km², constata-se uma grande quantidade de áreas desmatadas, inclusive dentro da APP. A maioria dessas áreas, utilizadas para fins de pastagens, mineração e culturas agrícolas, atualmente se encontram abandonadas e improdutivas devido à escassez hídrica que acomete a região semiárida.

Nesse sentido, as poucas chuvas observadas nesse período de seca acabam por acentuar o processo de assoreamento que ocorre no reservatório, uma vez que podem ocorrer de forma torrencial sobre áreas desmatadas, ou seja, sobre solo exposto a erosão. Além disso, a perda de vegetação também contribui para a perda de nutrientes do solo, reduzindo sua fertilidade. Adicionalmente, os processos de recarga do reservatório são dificultados, já que o aumento do escoamento superficial gera uma diminuição da quantidade de água que infiltra e atinge o lençol freático.

No que diz respeito ao uso da água para dessedentação animal, é possível encontrar, mesmo que em número reduzido, gado bovino pastando nas redondezas do açude Taquara. Esse fato afeta a qualidade da água do reservatório, já que excrementos animais são ricos em nutrientes e podem ser facilmente lixiviados e carreados para dentro da bacia hidráulica. Nos locais distantes do açude, onde não é possível utilizar suas águas, observa-se a construção de barreiros para a dessedentação do gado.

Atenta-se para a presença de 3 lixões na área de influência do reservatório, sendo eles: o Lixão de Mucambo, o Lixão de Pacujá e o Lixão de Graça. A presença de lixões acarreta uma série de impactos, que vão desde os impactos estéticos, poluição do solo, odores desagradáveis e proliferação de vetores causadores de doenças, até a poluição do lençol freático por chorume, que pode percolar e contaminar os poços de abastecimento humano da região, por exemplo. Os lixões também ocasionam problemas sociais, como a presença de comunidades que dependem do lixo para o seu sustento, ocupando habitações insalubres localizadas geralmente em áreas de risco.

Além disso, tanto na região de entorno do reservatório quanto na zona urbana das cidades, observa-se o despejo inapropriado de resíduos domiciliares e de construção civil ou ainda o lançamento de efluentes domésticos no sistema de drenagem pluvial local. Esses resíduos afetam a qualidade da água e contribuem para a eutrofização do reservatório.

Destaca-se ainda a presença de 2 lagoas de estabilização em local afastado da zona urbana do município de Pacujá, que se apresentam sem mecanismo de impermeabilização, sem a supervisão de funcionários e passíveis de transbordamento, podendo acarretar nos mesmos

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