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CAPÍTULO 4: Implantação do Modelo Neoliberal: Crise Institucional e

4.3. Balanço da Era Menem/FHC

O período da história Argentina, que se estende de 1999 a 2002 foi marcado pela radicalização neoliberal e instabilidade político-institucional e afasta-se do caso brasileiro no que diz respeito às particularidades do modelo de conversibilidade adotado, refletido no default ou falência de todo o sistema, que

culminou no chamado “curralito”, denominação popular dada ao confisco bancário das contas correntes e poupanças populares.85 Estes acontecimentos provocaram a mobilização „espontânea‟ dos pequenos poupadores impedidos de sacarem suas economias, engrossando o movimento dos excluídos - piqueteros, desempregados e Mães de Maio organizadas - num grande cacerolazo que se pode resumir pelos gritos “que se vayan todos!” , ouvidos da multidão de milhares de pessoas, em protesto pelas ruas de Buenos Aires.

No caso brasileiro, o sucesso do Plano de Convertibilidade, denominado Programa de Ação Imediata-PAI, conhecido como Plano Real, afasta-se do caso argentino na medida em que os formuladores do Plano Real tiveram a vantagem das experiências dos Planos Cruzado e Collor. Conforme Luiz Filgueiras, “..., aprenderam a não menosprezar a importância de algumas circunstâncias favoráveis que devem fazer parte da conjuntura econômica, quando da implementação e administração de qualquer plano de estabilização.” (FILGUEIRAS. História do Plano Real. 3.e. 2006: 100-1). Assim, o ajuste proposto foi gradual, em 3 fases. Entre o anúncio do Plano (7/12/1993) e o surgimento da nova moeda (julho 1994) ocorreu: um ajuste fiscal (1ª fase); a criação de uma Unidade de Referência de Valor (URV) (2ª fase); e, finalmente, a instituição da nova moeda-REAL (3ª fase). A criação da URV teve como finalidade o alinhamento dos preços relativos e dos salários, de tal modo a que, após a criação da nova moeda (Real), esta não fosse contaminada pela inflação passada - inflação inercial. Entretanto a passagem compulsória dos salários se fazia como nos planos anteriores, com base na média do salário real prevalecente no período imediatamente anterior, conforme a política salarial em vigor. (Id. Id. p.106).

O sucesso do Plano explica-se pelo controle inflacionário e a criação da nova moeda valorizada, o que assegurou a confiança das classes médias e dos trabalhadores, que se viram beneficiados pela estabilidade imediata dos preços. No primeiro momento, os membros das classes médias e trabalhadores com ganhos mais elevados, passaram a ter acesso ao consumo de artigos importados e artigos de luxo, como vinhos e queijos estrangeiros, e a possibilidade de

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Este período instável inclui a eleição de dois presidentes - Fernando de la Rúa (1999-2001) e Eduardo Alberto Duhalde (2002-2003) - e três presidentes interinos (Ramón Puerta e Adolfo Rodriguez Saá, em 2001; Eduardo Camaño, 2001-2002). Não nos detemos em sua análise.

realizarem viagens, inclusive para o exterior. O controle da estabilização inflacionária beneficiou igualmente o consumo relativo do proletariado urbano, facilitando o acesso a bens como geladeiras, televisão, microondas e outros, através dos sistemas de crédito e parcelamento. Este quadro, somado ao aumento do salário mínimo, garantiram êxito ao Plano Real, assegurando ganhos políticos ao Presidente FHC e ao seu Partido (PSDB) e aliados. 86

No caso da Argentina, o imaginário de que a anexação do peso ao dólar, moeda forte e permanente, garantia a população nas épocas de crise, podendo ser entesourado e resgatado com facilidade, foi fator determinante para a reeleição do Presidente Carlos Menem. Porém, analisados de perto, tanto o modelo argentino como o brasileiro permite algumas aproximações. Ambos se apoiaram em amplas reformas: Reforma do Estado (tributária, administrativa e previdenciária) e Reforma da Ordem Econômica, que incluía a quebra dos monopólios estatais, tratamento isonômico entre empresa nacional e empresa estrangeira e a desregulamentação das atividades e dos mercados até então considerados estratégicos e/ou necessários para a segurança nacional, incluindo a adoção de privatizações. (Id. Id. p.109). Em conseqüência, vários setores de produção foram sendo desativados, os produtos nacionais sendo substituídos por importados. Num primeiro momento, afirma Aloízio Mercadante, a economia brasileira foi beneficiada pelas exportações brasileiras que haviam crescido 12,4% entre 1990 e 1994. Porém, no período subseqüente ao Plano Real (1994 e 1996) as exportações aumentaram 4,7% apenas, enquanto as importações, afetando principalmente as indústrias de transformação, chegaram a 15,6%. O saldo comercial de US$ 13,3 bilhões, em 1993, se transformou em déficit de US$ 5,5 bilhões, em 1996, indicador da grande vulnerabilidade externa que atingia o país. (MERCADANTE. “Plano Real e neoliberalismo tardio”. 1998: 151).

Ancorado em uma política monetária de juros extremamente elevados, que contribuía para o acúmulo de reservas externas (objetivo perseguido durante o

86 Os salários de várias categorias profissionais, que deveriam sofrer recomposição anual no momento da adoção da URV (professores e bancários, inclusive), tiveram redução, calculados pela média dos salários reais, respectivamente dos meses de novembro/dezembro de 1993 e janeiro/fevereiro de 1994, sem levar em consideração a enorme inflação do período. Filgueiras demonstra que ao contrário do Plano Cruzado, que concedera um abono de 8% aos salários em geral e de 15% ao salário mínimo, depois de feita a média, o Plano FHC ignorou as perdas sofridas pelos trabalhadores e manteve a mesma relação distributiva existente previamente, de acordo com a política salarial em vigor e o nível de inflação existente no período pré-Real. (FILGUEIRAS. História do Plano Real... Id.).

governo de Itamar Franco), o Brasil demonstrava enorme vulnerabilidade não apenas através do saldo de sua balança comercial (negativo), como no déficit de transações correntes, elevado de US$ 600 milhões (1993) para US$ 1,7 bilhão (1994) e US$ 24,3 bilhão (1996). (Ibidem. Ibidem: 151-3). Neste período diversas indústrias nacionais, de setores menos correntes, faliram - caso da indústria de vidro Santa Marina, indústrias de botão e linhas, alimentos e massas, malharia etc – setores que empregavam maior número de trabalhadores. De mesmo, a indústria automobilística, indústrias de eletrônica, metal-mecânica e outras, indicativo da perda de competitividade tecnológica produzida pelas sucessivas quedas de investimento que ocorria desde o final dos anos oitenta. (COUTINHO, L. & FERRAZ, J. C. Coord. Estudo da competitividade da indústria brasileira. 2.e. 1994: 29-37).

A deterioração dos empregos provocada pelas sucessivas políticas recessivas (governos Sarney, Collor, Itamar, FHC), acompanhando a tendência internacional de reestruturação e queda salarial, aumentou o endividamento das famílias. O desemprego, agravado pelo fechamento definitivo de postos de trabalho formal (mudanças tecnológicas), saltaria para novo patamar estrutural, com redução de mais de 320.000 postos de trabalho, que atingiu, em 1996, 21% do total da população ativa. (MERCADANTE. “Plano Real e...”. Ibid. pp.157-8).

Por seu lado, o avanço de setores ligados ao terciário avançado fazia surgir “novas classes” de trabalhadores (analistas simbólicos, segundo Robert Reich) que, ao lado dos work collars (empregados ou burocratas do setor bancário, técnicos de informática, funcionários de empresas privadas e multinacionais, funcionários de seguradoras, profissionais liberais, como advogados, médicos etc) que trabalhavam nas corporações privadas, passaram a compor uma nova classe emergente, de maior poder aquisitivo e maior poder de compra.87

Estes novos postos de trabalho já nasciam com relações contratuais temporárias flexibilizadas, tendo como elemento diferenciador o grau de educação. Por outro lado, as falências, fusões e/ou modernização de diversos setores industriais levaram setores intermediários a adotarem práticas coletivas

87 Não incluímos nesta relação os quadros gestores profissionais do chamado “Terceiro Setor” (ONGs), que se diferem dos quadros voluntários na medida em que constituem “propositores-executores” de projetos

sociais e se enquadram nos pagamentos das ONGs. A respeito, KING, Anthony. Global Cities. (1990); FAINSTEIN, S. & CAMPBELL, S. Readings in Planning Theory. (2.e. 1997); SENNETT, R. O declínio do

de redução de jornadas de trabalho e salariais forçadas, o que fez com que o espectro do desemprego, bem como as condicionalidades materiais da pobreza passassem a fazer parte da realidade cotidiana de milhões de trabalhadores, forçando sindicalistas profissionais a fazerem acordos paralelos, por empresa, com os patrões. Assim, a burocracia partidária dos sindicatos tornava-se co- responsável com o novo sistema, o que confundia e permitiu uma melhor absorção do receituário neoliberal pela maioria da população.88

Em ambos países, Brasil e Argentina, a penetração do ideário liberal encontra um eixo explicativo na combinação entre os discursos simbólicos e a estruturação de suas classes. Nesse contexto, a repetição e divulgação dos discursos ideológicos neoliberais, pelos governos e imprensa, garantiram os cidadãos assistirem ao aumento das desigualdades, a perda dos direitos civis, jurídicos e sociais, e a desarticulação dos sindicatos, de maneira indiferente e distanciada. Para aqueles que sofreram os impactos diretos dessas políticas desagregadoras, motivações pessoais de premência pela busca de novo emprego (mesmo flexibilizado e sem garantias sociais) fizeram com que os impactos se restringissem à esfera dos dramas individuais-privados de cada qual, cada família, cada pessoa, já que a relação salário x tempo de inatividade tornava premente a busca e encontro de nova ocupação ou emprego.89

Portanto, em ambos os países, os processos desestruturantes da economia (desnacionalização, privatizações, fusões), que acompanharam as ações políticas convergentes de desconstrução do Estado, exigidas pelo “Consenso” e o FMI90, afetaram a estrutura social como um todo. Todavia estas reformas, em sua maioria, eram inconstitucionais e somente poderiam ser aprovadas via emendas constitucionais (casos Brasil e Argentina) ou medidas provisórias (caso Brasil). Luiz Figueiras no livro História do Plano Real, indica que,

88 Inúmeros autores analisam este processo. Entre eles, SADER, E. El nuevo topo. Op.cit.; ANTUNES, R.

Adeus ao trabalho? (2002); SENNET, R. A corrosão do caráter. (1999); GADELHA, R.M.A.F. “Impactos da globalização nos projetos das elites nacionais”. (1998); SEN, A. Desenvolvimento como Liberdade. Op.cit.; RIFKIN, J. O fim dos empregos. (1995); REICH, R. O trabalho das Nações. Op.cit., e outros. 89 Para os que dependem do salário para sobreviver, o drama do desemprego se torna individual.

90 Referimo-nos aos custos de renegociação das dívidas externas, pagos pelos países da América Latina. No caso do Brasil, a renegociação da dívida externa brasileira em 1994 e, após, as crises asiática e russa (1997/1998), o acordo firmado com o FMI em dezembro de 1998, quando o Brasil finalmente aderiu ao famigerado Plano Brady. Preço cobrado pelo Fundo para aceitar o refinanciamento dos juros e serviços da dívida externa brasileira. (FILGUEIRAS. História do Plano Real. Op.cit. pp.141-7; MERCADANTE. “Plano Real e neoliberalismo tardio”. Ibid. p.150-4).

ao contrário das reformas de ordem econômica, aprovadas pelo Congresso Nacional no primeiro ano de mandato do governo FHC, a aceitação e aprovação das reformas do aparelho de Estado foram mais lentas. A reforma fiscal somente começou a ser discutida após a crise de 1999 e as reformas administrativas e previdenciárias foram aprovadas no final do primeiro mandato. (FILGUEIRAS. Id. p.111). Mais radical seria o processo da Argentina, em que a gravidade da crise econômica e a urgência de mudanças – as Leis de Emergência Administrativa e Econômica – foram aprovadas pelas bancadas peronistas e radical, sem que a oposição se manifestasse. Apoiado pela maioria justicialista do Congresso, Menem intensificou a sansão dos decretos como de necessidade e urgência, mecanismos que lhe permitia adotar medidas de tratamento exclusivo do Congresso. Assim, em meados de 1989, somente a Corte de Justiça achava-se fora do controle governamental. Abriam-se os caminhos para a corrupção. (RAPOPORT. História Econômica... Op.cit. p.932-ss.).

Do ponto de vista macroeconômico, estas reformas foram acompanhadas por reduções drásticas das tarifas e barreiras às importações e exportações, simplificação dos sistemas tarifários, privatizações, liberalização e unificação de mercados de câmbio, com taxas fixas administradas ou com bandas de variação cambial prefixadas pelos Bancos Centrais, tornados independentes. Contudo, as sucessivas conjunturas de crises da década (Venezuela, em 1994; Argentina e México, em 1995; Brasil, em 1995/96 e 1998/99), obrigaram os governos destes países ampliarem ainda mais as concessões. Ao final de cada crise, novas liberações sempre retomavam com maior ênfase e intensidade, exigindo aportes cada vez maiores de capital externo, seja por meio do FMI, Banco Mundial e BIRD, seja por meio de vendas dos ativos públicos (privatizações). (FILGUEIRAS. Id. pp.141-7; FERRER. Id. pp.301-2, 322-7, 331-8).

Os efeitos perversos das crises financeiras, porém, também se refletiam na situação política, levando os governos abrirem mão da soberania e identidades nacionais de seus países. Se, por um lado, as crises do Sudeste asiático, da Rússia e do Brasil, do final da década, causaram efeito reativo nos mercados especulativos mundiais, cujos investidores começaram a vender títulos e a abandonarem os “investimentos lucrativos na América Latina”, por outro lado asseguraram a sobrevida de governantes neoliberais. Na Argentina, a reeleição

de Carlos Menem91 e o aprofundamento das metas de sua política durante o segundo mandato, foi determinante para a insolvência do país (crise de 2001/2002). A baixa internacional da taxa de juros, a subida dos preços das commodities e a valorização das moedas pode ser um dos fatores explicativos para a sobrevida dos modelos empregados. Portanto face a estas configurações econômicas e sua diabolização, poder-se-ia perguntar qual o escopo, os limites e vínculos reais da participação da tecnoburocracia de governos de países da América Latina com instituições financeiras como FMI, Banco Mundial e outras agências internacionais.

Discurso simbólico, justificador desta submissão, encontra-se em documento oficial do BIRD, assinado por seu Presidente James D. Wolfensohn, de 06/junho/1995.92 O documento é revelador de algumas das condicionalidades a que o Brasil teve de submeter-se no período, a fim de obter apoio e financiamento internacional. O escopo dito „social‟ do documento camufla as duras proposições das medidas impostas, que tiveram de ser aceitas pelo governo brasileiro, a fim de obter crédito, visando favorecer “a formação de capital humano e o desenvolvimento de infra-estrutura como principais armas contra a pobreza”. (BIRD. 1995: 5). O leque de reformas de caráter macroeconômico era amplamente abrangente: o Programa de Assistência para o Brasil envolvia a implantação de um Plano de Estabilização e aconselhamento sobre as necessárias reformas fiscais e de setores financeiros, seguridade social, política monetária e privatizações.93 Modificação e adaptação nas políticas públicas eram forçosas para promover reformas estruturais efetivas, “necessárias se o crescimento sustentado em um cenário de inflação baixa for atingido”. (Ibidem. Ibidem).

O Banco Mundial, portanto, insiste na necessidade de alteração do aparelho de Estado, como condição prévia para o “desenvolvimento do país e a

91 Além dos escândalos de corrupção de pessoas ligadas à sua pessoa, envolvidas inclusive em acusações de assassinato, atualmente Carlos Menem é também acusado de contrabando de armas para o Equador, Bósnia e outros países, ligações com a explosão do Consulado israelita de Buenos Aires, lavagem de dinheiro, pagamento de propinas a pessoas ligadas a sindicatos, etc.

92 BIRD. Memorando do Presidente do Banco para Reconstrução e Desenvolvimento para os Diretores

Executivos sobre uma Estratégia de Assistência a Países do Grupo Banco Mundial para a República Federativa do Brasil. 6 de Junho, 1995. Washington, D.C. 1995. 34 p.+Anexos. [Documento para uso

oficial, elaborado pela Divisão de Operações com Países do Grupo I, América Latina e Caribe].

93 Vide Quadro-Resumo dos programas de contingenciamento e transformações exigidos pelo Banco Mundial, In Anexo, final desta Tese.

focalização de projetos de combate à pobreza”. (Ibid.). Apesar de reconhecer o recuo da estatização no Brasil e o desenvolvimento das reformas já efetuadas, o documento explicita “mesmo em caso de empréstimos baixos” que “o trabalho de aconselhamento de políticas [BIRD e Banco Mundial] continuará a ser intenso”, pois o

“êxito dos preceitos norteadores do processo de democratização, o dinamismo econômico mundial exige atingir grande eficiência e ganhos de produtividade, à medida que a economia for se abrindo gradualmente, [...] e a necessidade de forjar um ambiente encorajador para os investimentos do setor privado será cada vez mais reconhecido”. (Ibid. Ibid. p.6. Grifo nosso).

O documento insiste de que a lentidão do Congresso em realizar as reformas fiscais e da previdência social, impedia “abrir a economia à participação privada e estrangeira”. (Ibid. Ibid.). Elaborado após a crise mexicana (1995), analisa os avanços da liberação política-econômica conquistada pelo país e reconhece que o “efeito tequila” fora discreto no Brasil. Entretanto, considera vital a criação de estímulos para os investidores, exigindo a realização de três reformas, consideradas prioritárias: (a) sustentação do processo de deflação e aumento da demanda interna; aumento da reforma fiscal, via liberalização do comércio, incentivo às importações e redução tarifária, com eliminação das tarifas intragrupais dos países do MERCOSUL; (b) reforma federal assegurando continuidade aos programas de privatização iniciados em 1991 e que já havia resultado na venda das ações governamentais de 30 empresas, com lucro de US$ 8,6 bilhões (equivalente ao valor de 1,5% do PIB); (c) privatização das Companhias Vale do Rio Doce-CVRD (mineradora) e da Petrobrás, além dos setores geradores de eletricidade, cujos “lucros serão usados para diminuição da dívida interna, e ajudar o ajuste fiscal”. (Ibid. Ibid. p.6).94

94 Descrevendo o processo de privatização brasileiro, o documento afirma: “As vendas concentraram-se nos

setores de metalurgia, petroquímica e fertilizante; o setor metalúrgico é agora totalmente privado. A participação estrangeira no programa de privatização até então tem sido mínima. A privatização de serviços – telecomunicações, geração e distribuição de eletricidade, exploração e distribuição de gás, água e parte do setor de transportes – constituem a maior parte da agenda não finalizada, e propostas estão sendo desenvolvidas ativamente dentro do governo. Passos já foram tomados para reduzir a participação do Estado

em vários setores da economia e para encorajar a competição e diminuir a regulamentação das atividades econômicas. Concessões no setor de transportes (rodovias) foram dadas ao setor privado; concessões para

estradas de ferro e água municipal e serviços de saneamento estão sendo contempladas. O sistema portuário, um dos mais regulamentados e caros do mundo, foi desregulamentado com a quebra do monopólio dos sindicatos em prestação de serviços e permitindo concessões privadas para serviços portuários. O projeto de reforma regulamentador está caminhando nos setores elétrico e de

Quanto à agenda das reformas nas áreas de políticas públicas, o documento cita como estratégia fundamental o combate à fome e investimentos na área da saúde. Nesta área, afirma, o objetivo “é ajudar o governo a melhorar o gerenciamento, viabilidade financeira e qualidade do sistema de saúde pública que atende à população carente; preencher seu papel como fonte de bens públicos; e encorajar os investimentos em grupos não-privilegiados e vulneráveis”, com a finalidade de “auxiliar o governo federal em realizar a transição de provedor de saúde pública a regulador”. (Ibid. Ibid. p.26). Para isso, o governo deveria garantir maior transferência de recursos federais para estados e municípios, através de um

“projeto de descentralização de um serviço de saúde modelo – SUS; reformas na área de seguridade social com transferência de responsabilidades sobre gastos para estados e municípios; melhoria da qualidade da educação básica em áreas não-privilegiadas e transferência de responsabilidade para municípios mais ricos.” (Ibid. Ibid).

Quanto à educação, recomenda o enxugamento nos gastos com educação superior que oneram o governo, priorizando o ensino primário (“espinha dorsal do país”); a intensificação da conscientização de médio prazo da população ribeirinha e o abandono de projetos de longo ou curto prazo com adoção de medidas que contornem “o entrave das „instituições ambientalistas federais, estaduais e locais”. E conclui, “tais esforços de descentralização devem ser encorajados e expandidos”. (Ibid. Ibid. p.12).

Como modelo de programa de combate à pobreza propõe o investimento do micro-crédito em áreas rurais, “incentivo à responsabilidade social de empresas privadas desonerando os gastos públicos” e um projeto de educação federal pela distribuição de livros-texto e merenda escolar e descentralização das finanças das universidades. (Ibid. Ibid. pp.15-21).

O Mapa da Fome, elaborado em 1994, estimava haver entre 31,7 milhões de pessoas (22% população brasileira) e 42 milhões de pessoas pobres no país (30% da população), considerada a população negra inserida na informalidade do trabalho. O Banco Mundial estimava, para as décadas de 1980 e 1990, em 24 milhões (17% da população) o número de pessoas reduzidas à condição de

telecomunicações, com objetivo de abrir estes setores para um maior envolvimento do setor privado”. (Ibid.

pobreza extrema no Brasil. O índice de GINI de 1990 estimava que, no Brasil, os 10% inseridos nos estratos superiores da população concentravam quase a metade da renda nacional, enquanto os 20% dos estratos inferiores detinham 3% apenas da riqueza nacional.

Segundo o documento citado, do Banco Mundial, o Nordeste e a Amazônia eram as áreas de maior carência e concentração de pobreza. Por isso, priorizava ações de combate à pobreza nestas regiões, mas sua eficácia dependeria “de uma estabilização macroeconômica sustentável”. (Ibid. Ibid. Anexo 1: p.2). Para as áreas urbanas, aconselha que as ações assistenciais de combate à pobreza deveriam ter como objetivo

“a criação de empregos dentro da economia; expandir programas pré-escolares e de creches para tornar cada vez mais fácil a participação de mulheres na força de trabalho; aumentar a produtividade do trabalho melhorando serviços de saúde pública (água/saneamento, gerenciamento de lixo sólido) em favelas e facilitar o acesso físico ao trabalho para os pobres através de melhorias no sistema de transporte coletivo.” (Ibid. Ibid).

Quanto às zonas rurais, a meta deveria ser o aumento da escolaridade das crianças. Considera que “Se mais crianças [...] fossem à escola e aqueles que