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Segundo Grant (1996), a contabilidade é uma das muitas formas de atividades técnico-científicas que visam/possibilitam coletar, classificar, resumir e divulgar dados de forma a fornecer informações para tomadas de decisão e gerar responsabilidades dentro das organizações, entre as organizações e para os interessados nestas. Trata-se, portanto, de uma atividade intrinsecamente associada aos processos de informação para capitalização e divulgação de dados e informações que, eventualmente, pode incluir também o valor econômico dos intangíveis.

Desta forma, diz ele, desdobramentos recentes dentro das disciplinas da contabilidade gerencial e contabilidade financeira são congruentes com esta concepção. Assim sendo, o Sistema de Informações Contábeis (SIC) pode ser a

base de todo fornecimento de informações sobre ativos tangíveis e intangíveis das empresas e, se bem modelados, constituem-se em um instrumento de integração. Neste sentido é que se concebe que se a modelagem dos objetos a serem controlados, dos dados a serem coletados e das informações a serem produzidas for realizada de modo profissional, este sistema pode, efetivamente, constituir o cerne do Sistema de Informações Gerenciais (SIG) de uma empresa, o que implica dizer que os contabilistas, neste e em muitos outros casos, devem agir de modo interdisciplinar com os informatas (pessoal ligado à área de informática e de sistemas de processamento de dados).

Grant (1996) sublinha esta noção ao desenvolver uma teoria supostamente baseada em conhecimento da empresa. No entanto, sua teoria leva em conta que o papel da empresa seja limitado apenas à integração do conhecimento, em contraposição ao que se constata atualmente, quando há um debate sobre o papel da empresa no que diz respeito também à criação e à disseminação do conhecimento, na medida em que esta se preocupe também com a veiculação de informações e o treinamento/qualificação de seu pessoal interno e, inclusive, com a produção de informações para o seu mercado fornecedor e consumidor.

Independentemente de qual seja a visão expressa aqui, o que em geral se sabe é que o relacionamento entre o conhecimento e o sucesso corporativo é articulado por meio da aplicação de mecanismos de controle baseados em conhecimento da parte visível dos empreendimentos, o que, afinal de contas, leva à formulação e implementação de algum tipo de estratégia competitiva, daí a ênfase tanto à comunicação interna como à externa (mercado e clientes), bem como na produção de informações baseadas também na parte invisível dos empreendimentos.

Para Grant (1996), a função da contabilidade gerencial é fornecer dados e informações e, portanto, se o capital intelectual (esta parte invisível) – seja na forma de capital humano, relacional ou estrutural – for utilizado para controle organizacional, relacional (clientes e fornecedores), então a informação deverá ser fornecida não apenas sobre este capital, mas também sobre como transformar capital humano em capital organizacional e capital relacional. E, disto se depreende que os processos e meios de comunicação empresarial devem ser cada vez mais

eficientes, à medida que atenderem ao todo da empresa, e não apenas sua parte visível.

Na sociedade de conhecimento pós-capitalista, chamada por Drucker (1999) de sociedade moderna, somente quando as organizações têm no conhecimento seu ativo mais importante, e somente quando controlam os processos de criação e integração de conhecimento, é que se pode pressupor a existência de um pré-requisito científico para o sucesso corporativo das mesmas.

Portanto, uma visão contemporânea sobre os sistemas de informações contábeis deve ser baseada na noção de que o mesmo deve ser capaz de fornecer informações para tomadas de decisão em todos os níveis decisórios e de que o seu desenvolvimento deve se dar de modo interdisciplinar e multiprofissional, principalmente no que tange às informações destinadas ao nível estratégico das empresas (LEV, 2001), o que também inclui informações orientadas para o futuro e informações não-financeiras; logo, também, informações acerca do capital intelectual.

3.7.1 Similaridades e interações entre o capital humano e o capital estrutural

A distinção entre capital humano e capital estrutural mostra muitas similaridades com a distinção entre conhecimento individual e conhecimento compartilhado. Em geral, o capital humano de uma empresa é baseado sobretudo em saberes individuais, enquanto seu capital organizacional (estrutural) se compõe principalmente de conhecimento compartilhado (DZINKOWSKI, 1998).

Como resultado disso, permanece a questão sobre a importância da transformação dos saberes individuais em conhecimentos compartilhados, ou seja, a transformação de capital humano em capital organizacional (estrutural), e da disseminação de conhecimentos estruturais para fins de integração técnica, operacional e administrativa das empresas.

Uma questão muito mais relevante que a diferença entre pares de conceitos (saber e conhecimento), no entanto, é se esta transformação deve ou não ocorrer por meio de cooperação, deixando a especialização funcional intacta, ou por meio de aprendizado cruzado entre membros da organização, criando um nível equalizado de conhecimento entre todos os membros da organização (GRANT, 1996).

Segundo esse autor, felizmente, as experiências atuais demonstram que o trabalho em equipe, a interação de pessoas e ações comunitárias têm apresentado melhores resultados que o estímulo à disputa individual, notadamente naqueles empreendimentos que dependem da integração de conhecimentos.

Também a divulgação em relatórios externos e internos pelas empresas, ou seja, a comunicação corporativa, segundo o autor, tem crescido substancialmente em importância nos últimos anos, em razão de mudanças nos ambientes organizacionais, da crescente globalização, da integração dos mercados de capital e da mobilidade tanto de recursos monetários como físicos. Então, os exemplos da Dow e da IBM anteriormente analisados são bastante interessantes de ser mantidos em foco quando se trata de produzir informações sobre o capital intelectual visando à integração de recursos e esforços humanos.

Neste sentido, Grant (1996) sublinha que a competição mais feroz, os desdobramentos tecnológicos e a importância de novos setores de negócios, a exemplo da tecnologia da informação e da biotecnologia, têm sido fatores-chave impulsionando a demanda por mais e melhores informações e pelo desenvolvimento de sistemas de informação gerencial. Uma conseqüência disso foi que uma mudança na natureza da geração de valor de fábricas e equipamentos para criação de patentes, para o desenvolvimento de empregados habilidosos e para o estabelecimento de relacionamentos estratégicos realmente aconteceu.

À medida que cresceu a complexidade do campo de atuação das empresas cresceu também a importância da divulgação de conhecimentos, e a lógica da geração de valor tem sido mais complexa; desta forma, a relevância de se divulgar informações relativas aos recursos de conhecimento em uma companhia também tornou-se cada vez mais evidente (GRANT, 1996) e cada vez existem menos limites para as informações corporativas.

No ambiente de negócios, no entanto, essas tendências são geralmente seguidas por uma crescente frustração com os relatórios financeiros tradicionais, tal como foi expresso no “Relatório Jenkins” (AICPA, 1994) e no trabalho de Steven Wallman (1995, 1996), ex-comissário da Securities and Exchange Commission (SEC), haja vista que parte dos dados tradicionais não consegue atender ao amplo rol de demandas de informações de que dependem uma empresa e seus usuários, investidores e o mercado em geral.

Edvinsson & Malone (1997), além de endossar as conclusões da grande maioria dos pesquisadores sobre os problemas desta área, reforçam, então, a necessidade da divulgação daquele capital que fica sob a superfície visível dos empreendimentos, o capital intelectual, assim como a idéia de que, por este caminho, poderiam ser melhorados os aspectos organizacionais e relacionais da empresa, tal como visto nos exemplos expostos.

Segundo estes autores, o controle por meio de capital intelectual, além de propiciar informações para a gestão e para o mercado, visa também, primariamente, invocar um comportamento tal que as estratégias e táticas da organização sejam formuladas e implantadas eficazmente, o que envolve tanto o público externo como o público interno e, fundamentalmente, tal como se viu nos exemplos analisados, visa ainda resolver problemas de comunicação, viabilizar canais de informações e, eventualmente, interesses pessoais, tanto em termos de concepção como de concentração de ações.