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CAPITULO 2 – ENQUADRAMENTO DA AMOSTRA

2.2 Nascimento do Banco Palmas: caracterização

2.2.2 O banco como indutor de inclusão social

O Banco Palmas está atento não apenas ao fator económico, como às questões culturais e sociais, preocupando-se com o coletivo. Através dos apoios concedidos pelo banco, a comunidade passou a fazer algo por si própria, o que trouxe consigo desenvolvimento e prestígio para o bairro e levou à sua transformação.

O Banco Palmas parte da conceção de que a economia solidária é exequível, favorece o desenvolvimento através do financiamento, contribui para a formação e informação na comunidade, promove o crescimento e a acessibilidade ampla da moeda social (as vendas e compras são realizadas na própria localidade através da moeda social, facilitando, valorizando e ampliando o comércio e o bairro), gera riqueza para a comunidade, desenvolve o comércio do bairro e cria emprego para os moradores.

No contexto da sociedade brasileira, verifica-se que, a par de uma economia moderna, subsistem bolsas de excluídos, o que se explica por razões maioritariamente económicas, sociais, políticas e culturais. O conceito de exclusão remete-nos para a questão da desigualdade e a constatação de que, não obstante as leis nacionais consagrarem direitos civis, políticos e sociais para todos, não garantem, efetivamente, o seu usufruto por parte dos excluídos.

Como já foi dito, a definição de cidadania e de democracia do “Estado Providência” reconhece esses direitos, contrariamente ao que acontece na democracia liberal clássica. O Capitalismo baseia-se numa relação social entre indivíduos que se posicionam de forma desigual face aos meios de produção e rendimentos: os pobres têm mais carências e encontram-se em situação de risco social, sem acesso às infraestruturas básicas de saúde, educação e emprego.

Por isso, como forma de acesso à cidadania, surgem mecanismos de participação, que conferem poderes aos que estão privados da cidadania; é o caso dos Movimentos Sociais. Estes sempre agiram e continuam a agir como educadores dos direitos sociais, formando lideranças e influenciando as camadas populares, colocando a ênfase nos sujeitos e explorando as reflexões críticas em torno da relação opressor/oprimido. Estes movimentos desempenham papéis distintos: por um lado, articulam-se com os partidos políticos, sobretudo na construção das políticas públicas; por outro, exercem uma função reguladora, criando as regras e condições para a viabilização da democracia participativa e representativa de modo a ampliar o acesso aos direitos sociais e para todos.

Podem ser definidos como uma ação coletiva de um grupo de pessoas que entre si se identificaram, e que, com as suas ideias, necessidades, valores e ideologias produzem, em conjunto, mudanças e transformações (Icaza, 2009).

A Economia Solidária está patente no Banco Palmas, através da organização da produção, distribuição, poupança e crédito e na sua estratégia de autogestão. As ações do banco reside na melhoria das condições de vida dos grupos em risco social que, deste modo, criam redes de confiança e de cooperação, sendo o banco, ele próprio, fruto dessa cooperação coordenada. Há, portanto, uma visão de bem-estar humano e social, a par deste, do empoderamento, solidariedade e colaboração da comunidade para um desenvolvimento mais justo e solidário. Como podemos verificar, o Banco Palmas tem uma oferta de serviços baseada nos moradores, numa rede de economia solidária e no desenvolvimento sustentável local. De facto, é através desta interação e aprendizagem que é possível gerar Capital Social e criar redes sociais; a confiança gerada imprime um caráter integrador, com uma lógica de procura de objetivos comuns.

A criação de trabalho e rendimentos é importante até na própria Incubadora Feminina, já que a profissionalização tem um impacto muito positivo na vida das mulheres. Quanto aos jovens, a ênfase é posta na educação, cultura e formação, contribuindo para que possam ser empreendedores no bairro.

No conjunto Palmeiras, verifica-se que as condições de vida melhoraram, as pessoas são mais participativas, confiam mais na comunidade, a autoestima é elevada, o consumo no comércio local é maior, bem como a riqueza que lá circula, ocorrendo não só aumento de capital económico, mas também social, entre todos.

Dos estudos de Cattani, Laville, Gaiger e Hespanha (2009), ressalta, desde logo, a noção de Emancipação Social, um processo que traduz uma libertação consciente, por parte de uma coletividade de pessoas, da subjugação política, social e económica instituída e exercida por outro grupo. Remetem para uma liberdade concedida, adquirida ou conquistada, para uma autonomia entendida como prática da cidadania plena, num estado de Direito., em que o trabalho e a educação representam os veículos centrais nos processos de emancipação e de domínio social (Cattani, Laville, Gaiger e Hespanha, 2009). Esta é a situação Conjunto Palmeiras, em que a comunidade cria redes de parceria, como, por exemplo, a Associação de Moradores, e há um empoderamento, tanto individual como coletivo, na medida em que existe uma luta organizada por direitos e novas conquistas sociais (a maioria da comunidade eram

pescadores expulsos da beira mar e deslocados para uma zona de mato e pântano, para dar lugar à construção de hotéis).

Na realidade, este banco, para além da criação de um sistema de crédito como aposta para a igualdade de cidadania, promove o desenvolvimento sustentável e o empoderamento dos cidadãos, sendo estes os agentes da sua própria mudança e da libertação da situação de pobreza, com base numa nova lógica – a da economia solidária.

Para que o impacto global seja o da justiça social, é necessário que haja, por parte dos consumidores finais, um grande esforço no sentido da alteração do tipo de sociedade em que vivemos, tornando-a mais igualitária em função do que consumimos, isto é, através de um consumo responsável e solidário.

A questão da prossecução do objetivo coletivo de melhorar a qualidade de vida, em geral, fez com que o local ganhasse uma nova identidade e cultura. A sinergia das relações desencadeou fenómenos de inovação e mudança, valorizando a solidariedade.

A metodologia criada no conjunto Palmeiras Palmas, pelo que é possível concluir da atuação do banco, foi reconhecida a nível governamental e teve impactos a nível nacional e mundial. Foi considerada uma estratégia a aplicar no combate à pobreza e à exclusão. No seguimento, surgiu o instituto Palmas, em 2003, que é responsável pela assessoria e consultoria a uma nova geração de bancos comunitários. O ponto seguinte refere, justamente, algumas ações de Inovação Social levadas a cabo pelo Banco Palmas.

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