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BANCO MUNDIAL, 2001;

No documento INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO (páginas 36-39)

2.2 – Neo-patrimonialismo, Corrupção e “Má Governação”

41 BANCO MUNDIAL, 2001;

42 O conceito do neo-patrimonislismo consiste numa adopção do ideal-tipo weberiano do “patrimonialismo”, um tipo de dominação baseado, não em regras, mas numa pessoa que ocupa uma posição de autoridade. RODRIGUES, 1999; 43 CALLAGHY, 1990: 258;

44 CALLAGHY, 1990: 258; 45 CALLAGHY, 1990: 260;

Por outro lado e independentemente dos efeitos sobre a eficiência, a necessidade de manutenção do poder manifestava-se na tendência para favorecer determinados grupos: militares, estudantes, trabalhadores urbanos, população urbana, uma vez que eram estes que detinham maior influência quando se tratava de manter ou derrubar um determinado regime ou governo.

Após a descolonização, restaram Estados com fracas capacidades administrativas e com uma pequena classe de tecnocratas, muitas vezes pouco qualificados, que apesar de apelarem para a necessidade de reformas fiscal, da agricultura e de outras medidas correctivas, acabavam por não ter qualquer influência, perante o excessivo controlo político. Registavam-se também problemas graves na estrutura e na gestão do sector público. De assinalar o carácter centralizador por parte do Estado e a falta de comunicação entre os vários níveis da função pública. Por outro lado, o excesso de burocracia paralizava o sistema, constituindo, muitas vezes, ponto de passagem para a corrupção dos funcionários públicos.

Apesar de ser um fenómeno comum a todos os países, em África a corrupção sempre foi

enfatizada, chegando a ser considerada como algo cultural e natural entre os políticos africanos. São várias as causas que se podem atribuir à corrupção. Segundo Medard,46 uma delas é a

falta de tradição do Estado, uma vez que não existem instituições fortes e legitimadas pelos cidadãos, mas apenas, o resultado da “exportação” do modelo de Estado europeu para África. Muitas vezes, a corrupção é a única forma de garantir a subsistência. Por exemplo, não é de estranhar que num país como o Uganda, onde o salário de um funcionário público só garante um dia de despesas familiares, a sobrevivência passe, necessariamente, por outras fontes de rendimento.47 Por outro lado, a existência de um sistema judicial frágil, a falta de controlo e da

força do papel da lei propiciam este fenómeno.

46 MÉDARD, 1986: 124; 47 MÉDARD, 1986: 126;

É, também, interessante ter em conta que a fronteira entre o que é considerado “moralmente corrupto” e o que é “legalmente corrupto”48 nem sempre está bem definida,

variando consoante a cultura, os valores e as tradições. Isto transposto para os países africanos, diferentes dos ocidentais, pode significar uma outra concepção do que é ou não corrupto e até contribuir para a vulgarização deste fenómeno.

A própria existência de grupos étnicos diferentes pode ser favorável à corrupção, uma vez que cada grupo ou político tenderá a tirar partido da situação, fazendo alianças e beneficiando aquele que lhe trouxer maiores vantagens.

Apesar de haver quem defenda que este fenómeno pode ter aspectos positivos, contribuindo para a criação de uma classe social forte que garanta o investimento e o crescimento, de uma forma geral, a corrupção em África é vista pelos próprios africanos como algo de negativo e as suas consequências justificam a preocupação das instituições internacionais.

A corrupção provoca ineficiência na acção do Estado de várias formas: reduz a receita dos impostos e multas; enfraquece a capacidade de implementar políticas e leis (sempre que exista um grupo de opositores, dificilmente se passará da decisão à acção); influencia a qualidade das infraestruturas e dos serviços públicos; distorce a relação entre o preço e o serviço público prestado; afecta a utilização dos recursos públicos e põe em causa algumas das áreas fundamentais de regulação por parte do Estado (ambiente, segurança, etc.).

Os principais efeitos da corrupção são aqueles que afectam os cidadãos e a forma como estes vêem o Estado. Ou seja, quando se enfrenta um Estado corrupto, para que se consiga sobreviver a esta relação Estado-cidadão é necessário possuir dinheiro ou contactos, o que causa um sentimento de injustiça, de exploração e de desmoralização por parte dos cidadãos. É frequente que as políticas e programas não atinjam os que mais necessitam em função das influências, o que provoca a marginalização de alguns grupos sociais desfavorecidos (mulheres,

minorias étnicas,...).49 Isto reflecte-se na falta de legitimação do Estado, e consequentemente em

fenómenos como a instabilidade e a violência, pouco propícios ao desenvolvimento.

A corrupção têm, ainda, efeitos nefastos ao nível da iniciativa privada, uma vez que deprime o investimento, impedindo a manutenção de uma boa performance macroeconómica. Isto associado à excessiva burocracia, gera sobrecustos que advêm, por exemplo, dos pagamentos adicionais exigidos para a prestação de determinado serviço público e da incerteza que resulta do processo, uma vez que, mesmo após os pagamentos, não há garantia da obtenção dos resultados pretendidos, continuando os empresários sujeitos à chantagem dos funcionários.50

Por outro lado, a corrupção reduz a eficiência da ajuda externa, visto que parte dos recursos são desviados para gratificações e subornos. Seria interessante obter dados sobre a proporção da ajuda externa efectivamente utilizada!

O Estado africano em 1980 era corrupto, com todas as consequências que isto implica: “desviar a ajuda, subverter reformas políticas e minar instituições de mercado”51, o que

associado ao autoritarismo e à irresponsabilidade, se traduzia na ineficiência do sector público, na incerteza por parte dos agentes económicos e na depreciação da sua imagem perante os cidadãos.

Uma das causas da grave situação enfrentada pelos países africanos estava relacionada com a chamada “má governação”. No início dos anos 80, eram bem visíveis os sinais da

excessiva intervenção do Estado na economia, asfixiando o funcionamento dos mecanismos de mercado. A administração dos preços, a discriminação contra a agricultura, a falta de realismo salarial e a política de impostos e subsídios, penalizavam fortemente a iniciativa privada, desincentivando o investimento, desviando esforços para actividades menos rentáveis e encorajando o desperdício de recursos.

49 BANCO MUNDIAL, 1997: 4;

No documento INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO (páginas 36-39)