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3.3 Remoção de Subsídios à Alimentação

No documento INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO (páginas 72-75)

A concessão de subsídios à alimentação constitui uma das poucas formas de assistência social em África e tem como principal objectivo evitar situações de subnutrição que ainda afectam uma boa parte dos africanos.

Este tipo de subsídios, de âmbito geral, são considerados pelo Banco Mundial, “fiscalmente insustentáveis [pesam no orçamento público], distorcivos [ao subsidiarem determinados produtos desequilibram o mercado e restringem a concorrência] e regressivos [todos os recebem independentemente do rendimento]”,93 pelo que não é de estranhar que a sua remoção ou reformulação seja proposta nos PAE.

A aplicação de subsídios gerais levanta duas questões: primeiro, são muito dispendiosos, uma vez que o seu âmbito de aplicação é vasto e segundo, abarcam uma parte da população com alguns recursos que, provavelmente, não necessitaria de apoio. Este último aspecto dá origem a um erro que varia consoante os níveis de rendimento: se há uma pequena proporção da população com rendimentos baixos, então o subsídio geral tem subjacente um erro elevado porque abarca uma proporção considerável de indivíduos de “alto” rendimento.

Quando se trata de subsidiar um determinado bem é necessário ter em conta a estrutura do consumo – se existem diferenças entre os grupos mais ricos e mais pobres, provavelmente os efeitos sobre o bem-estar serão diferentes, consoante o bem subsidiado. O Banco Mundial aponta algumas vantagens quando se subsidiam os bens que são consumidos pelos mais pobres.

Uma das medidas reformistas mais comuns consiste na substituição dos subsídios à alimentação por subsídios-alvo, que se destinam, não à população em geral como os primeiros, mas apenas aos mais necessitados, envolvendo um volume de recursos menor e minimizando a regressividade.

No entanto, esta medida coloca um problema: a definição do grupo-alvo. Este tipo de subsídio seria mais eficaz que a atribuição do subsídio geral se estivéssemos perante um sistema bem articulado que definisse claramente qual o grupo dos mais pobres, quem seria incluído nesse grupo e quem ficaria de fora. Stewart define dois tipos de erros comuns: um deles quando não se consegue abarcar todo o grupo-alvo (erro por defeito) e o outro, quando se incluem nesse grupo não-pobres (erro por excesso). O problema da definição do grupo-alvo é que a principal preocupação está mais frequentemente associada ao sobredimensionamento do grupo e à minimização os “não-pobres”, que ao facto da redução destes implicar também a exclusão de alguns dos mais necessitados.94

As razões que estão na base do “erro por defeito” prendem-se com a falta de informação sobre o subsídio no grupo-alvo potencial, com os custos de adesão ao esquema (registos, viagens, ...), com os critérios de selecção do grupo (por exemplo, se grupo-alvo for definido pelo critério - moradores nas zonas de rendimento médio mais baixo – os pobres doutras zonas são excluídos e, ao mesmo tempo, há uma sobredimensão do grupo, porque dele fazem parte os indivíduos de rendimento elevado moradores na zona em causa) e por questões de estigma social (torna-se mais difícil admitir perante a sociedade que se recebe um subsídio, quando este apenas é atribuído aos mais pobres).95

Um bom exemplo serão as refeições escolares. Se passarmos de um subsídio mais geral para um outro em que cada aluno da primária tem direito ao almoço, aumentam aqueles que são excluídos – a taxa de escolarização é baixa, os excluídos são sobretudo raparigas e principalmente, provenientes das áreas rurais. O mesmo acontece se se estabelecer um sistema

em que para ter acesso aos subsídios, os indivíduos têm de se registar no centro de saúde - muitos e principalmente, os que vivem em condições menos favoráveis ficaram de fora, perante a dificuldade em fazê-lo.

Para além da diminuição do grupo de beneficiários, há uma outra forma de reduzir as despesas em subsídios, relacionada com o seu valor. Com as restrições orçamentais e com o menor apoio político resultante da diminuição dos beneficiários (ao restringir os grupos-alvo são excluídos os indivíduos de rendimento médio, a população urbana, que é aquela que tem maior peso na decisão política) tem-se verificado uma tendência para a redução do valor do subsídio. Este aspecto, vem condicionar toda a política de subsídios e influir nos respectivos resultados, uma vez que os custos da diminuição dos apoios ou da não inclusão dos mais pobres no grupo-alvo podem ser elevados, designadamente, os que resultam da subnutrição, um dos grandes problemas de saúde dos povos africanos - em média, 31% das crianças com menos de 5 anos, na África Sub-Saariana, têm peso a menos.96

Por outro lado, os subsídios-alvo têm também efeitos negativos ao nível da despesa pública, uma vez, que a definição dos beneficiários e a respectiva atribuição do subsídio envolve um maior volume de custos administrativos.

De uma forma geral, tem-se verificado a tendência para substituir os subsídios gerais por outros mais específicos (direccionados para grupos-alvo ou para fins determinados, como é o caso dos cupões de alimentos). Os principais efeitos a ter em conta resultam da exclusão de alguns dos prováveis beneficiários e sobretudo da redução do rendimento disponível de muitas famílias.

A abolição dos subsídios, nomeadamente dos subsídios à alimentação, aliada à liberalização do mercado e à subida dos preços dos bens alimentares, constituiu uma das causas do aumento do custo de vida em muitos dos países em ajustamento.

94 STEWART, 1995: 83; 95 STEWART, 1995: 83;

No documento INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO (páginas 72-75)