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2. UNIVERSIDADE, TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E

2.2 Cooperação universidade-empresa

2.2.5 Barreiras à Cooperação Universidade-Empresa

Apesar dos diversos benefícios que a cooperação universidade-empresa acarreta, deve-se entender que “nem tudo são flores” (GRYNSZPAN, 1999), pois os dois setores possuem dinâmica e objetivos bem distintos, que criam barreiras a serem superadas.

Corroborando, BRISOLLA (1998) afirma que entre o meio acadêmico e o empresarial percebe-se que há “dois mundos, duas culturas”. De acordo com a autora, a universidade é marcada por sua linguagem esotérica, seus rituais, seus mecanismos de legitimação e reconhecimento. Já as empresas caracterizam-se pelo pragmatismo na limpidez dos objetivos ditados pelo mercado concorrencial.

Para MARCOVITCH (1999), há dois mitos que atrapalham o convívio ideal entre a academia e as companhias privadas. Para muitos empresários, o pesquisador é um ser etéreo, descolado da realidade. Já entre os acadêmicos existe o mito de que os empresários desprezam a ciência.

Ainda segundo este autor, uma barreira no relacionamento universidade- empresa é a questão do prazo de entrega de resultados. Geralmente as pesquisas científicas realizadas pelos acadêmicos são de longo prazo, enquanto a demanda das indústrias por resultados abrange um horizonte de um a três anos. Isto ocorre porque as

universidades freqüentemente priorizam as pesquisas que favoreçam a resolução de problemas e o avanço global do conhecimento. O outra questão é que o professor universitário, além de ser pesquisador, tem outras tarefas a cumprir, como por exemplo, a carga didática, o planejamento de aulas, as provas a corrigir, a orientação dos alunos e as publicações em revistas científicas internacionais.

O grande dilema da cooperação encontra-se na interface do meio acadêmico com o empresarial, pois enquanto as empresas esperam que as universidades desempenhem papéis que não cabem a elas, como alguns projetos de curtíssimo prazo, a academia deseja que as empresas financiem seus projetos de longo prazo (MARCOVITCH, 1999).

Para VOGT & CIACCO (1998), os maiores entraves ao relacionamento entre as esferas acadêmicas e as empresariais são: o desconhecimento recíproco das possibilidades de cooperação tecnológica, a inexistência de mecanismos adequados para sua operacionalização e a falta de autonomia financeira por parte das universidades na gestão de seus recursos orçamentários.

De acordo com ASSAD (1998), existem algumas diferenças tradicionais entre o âmbito universitário e o empresarial, como a confidencialidade dos resultados de pesquisa e os prazos de suas execuções, que dificultam o relacionamento. Normalmente, os acadêmicos divulgam os resultados de pesquisa através de publicações em revistas indexadas, pois isto é um elemento importante na aferição da produtividade acadêmica. Já os empresários geralmente buscam proteger os resultados de pesquisa para que estes fiquem restritos a eles. Quanto aos prazos, pode-se dizer que as pesquisas possuem tempo diferenciados para as duas esferas em questão. No caso da universidade, normalmente, é de longo prazo e visa à ampliação do conhecimento, enquanto para as empresas, na maioria das vezes, é de curto prazo e voltada à solução de problemas mais imediatos.

Segundo AZEVEDO (1983), uma barreira existente entre os acadêmicos e os empresários é a falta de confiança recíproca, pois cada um considera que o outro não tem condições de entender perfeitamente o seu problema. Além disso, muitas vezes há um desconhecimento recíproco no que diz respeito a interesse, necessidade e capacitações do potencial parceiro.

Ainda de acordo com AZEVEDO (1983), o pesquisador é visto pela empresa como alguém que se envolve com assuntos não relacionados com a realidade empresarial, e os membros da academia imaginam que os problemas da empresa não representam atrativo para eles por serem muito específicos e resolvidos de maneira primária. Deve-se ressaltar também que muitas vezes as empresas criticam ferreamente a academia por esta não cumprir os prazos estipulados para a execução da pesquisa.

Outro forte obstáculo à cooperação universidade-empresa é que a falta de um relacionamento comercial entre estas esferas faz com que elas não se enxerguem como parceiras, mas sim como concorrentes, desejando um explorar o outro para conseguir vantagens unilaterais (STAL, 1995).

Para CHIESA & PICCALUGA (2000), os fatores que impedem a exploração, por parte das empresas, dos resultados de pesquisa gerados nas universidades são:

1. uma atenção muito forte em direção à exploração pode determinar um impacto negativo sobre a pesquisa básica: se todo pesquisador desejasse fazer coisas que podem ser vendidas, e já que as coisas que podem ser vendidas são aquelas que estão imediatamente prontas e “empacotadas”, pesquisa básica poderia ser severamente esgotada/empobrecida, e que é o tipo de pesquisa que é mais genérica, que cria variedade, e portanto alimenta as atividades que geram resultados com potencial de mercado;

2. similarmente, alguns pesquisadores podem estar preocupados com o fato de que conseguir os objetivos econômicos pode evitar a publicação de artigos científicos, e assim remover a fonte de reconhecimento, prestígio e melhoria na carreira deles;

3. disparidades podem surgir dentro das universidades entre estes pesquisadores/departamentos cujos resultados de pesquisa podem ser vendidos e aqueles sem eles;

4. a questão ética relacionada com estas questões é delicada e algumas vezes é argumentado que a exploração direta não é compatível com a missão da universidade. De fato, todo o cidadão financia a universidade pública – sendo um pagador de imposto – então não seria correto que uma empresa específica se tornasse

um proprietário exclusivo de alguns resultados da universidade. É verdade, contudo, que parte do trabalho de alguns pesquisadores é financiado por organizações externas;

5. particularmente por causa das dificuldades derivadas do último ponto e por razões administrativas e burocráticas, existem problemas legais nas universidades que ainda não foram solucionados e isso representa um obstáculo para promover o processo de exploração;

6. a falta de competências específicas assim como qualidades complementares na universidade para atividades comerciais também atua contrariamente à cooperação. Em outras palavras, a exploração é uma tarefa na qual as universidades não são capazes ou não podem realizar e que elas normalmente não querem arriscar dinheiro para tentar e aprender;

7. o crescimento do uso de fundos privados pode empurrar as universidades para vender pesquisa a seus custos marginais, sem administrar para cobrir custos fixos como a biblioteca, os laboratórios, etc.

Após a exposição de todas estas barreiras percebe-se que a relação entre estes dois mundos é um fenômeno complexo, pois eles se movem com quadros de referência muito distintos (CASSIOLATO & ALBUQUERQUE, 1998).