• Nenhum resultado encontrado

2. UNIVERSIDADE, TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E

2.4 Empreendedorismo

O empreendedorismo constitui uma máquina significativa de criação de empregos e crescimento econômico (FRIAR & MEYER, 2003). E segundo DOLABELA (1999:28), hoje o empreendedor é “‘motor’ da economia, um agente de mudanças”.

Entretanto, antes de compreender o papel que o empreendedor desempenha na economia mundial, é necessário entender o seu conceito. Para isto, DORNELAS (2001), citando HISRISH (1986), apresenta uma breve evolução história deste conceito, de acordo com o autor:

- na Idade Média – o termo empreendedor estava relacionado às pessoas que gerenciavam grandes projetos de produção, mas que não assumiam grandes riscos, pois geralmente os recursos proviam do governo;

- no século XVII – o empreendedor passou a assumir riscos. Ele estabelecia contratos com o governo para realizar serviços ou fornecer produtos e os lucros ou prejuízos cabiam apenas a ele;

- no século XVIII – houve uma clara separação entre os termos capitalista e empreendedor, talvez em decorrência da industrialização que iniciava-se no mundo;

- nos séculos XIX e XX – os empreendedores passaram a serem vistos como pessoas que organizavam as empresas a serviço dos capitalistas como, por exemplo, os gerentes.

Nos dias atuais os empreendedores são vistos com “heróis populares da moderna vida empresarial. Eles fornecem empregos, introduzem inovações e estimulam o crescimento econômico. (...) Eles são vistos como energizadores que assumem riscos necessários em uma economia em crescimento, produtiva.” (LONGENECKER et. al., 1997:3)

Para HISRICH & PETERS (2002), o empreendedorismo constitui um método para transpor a lacuna que existe entre a ciência e o mercado. No entanto, muitos empreendedores enfrentam dificuldades para superar esta lacuna e criar uma firma. Entre as barreiras enfrentadas destacam-se: a falta de talentos gerenciais, de conhecimento do mercado e/ou de recursos financeiros. Além disso, freqüentemente os empreendedores não sabem como interagir com os outros atores, como bancos, fornecedores, consumidores, capitalista de risco, distribuidores, e agências de publicidade.

Apesar de todas essas dificuldades, o empreendedorismo ainda é o mais efetivo método para superar esta lacuna, criando novas empresas, e trazendo novos produtos e serviços para o mercado (HISRICH & PETERS, 2002).

De acordo com DORNELAS (2001), no Brasil só a partir da década de 90 que a questão do empreendedorismo começou a ser tratada com mais profundidade. Isto iniciou-se com a criação do SEBRAE e da Softex, o primeiro visa dar suporte para quem quer iniciar uma empresa e o último tem o intuito de levar as empresas brasileiras de software ao mercado internacional.

Destacando o papel da universidade e da Softex, o autor afirma que “foi com os programas criados no âmbito da Softex em todo o país, junto a incubadoras de empresas e a universidades/cursos de ciências de computação/informática, que o tema empreendedorismo começou a despertar na sociedade” (DORNELAS, 2001:25).

O empreendedorismo nas universidades ganhou impulso e passou a se destacar mais a partir da década de 80. Segundo ETZKOWITZ (2004), o empreendedorismo acadêmico é, de um lado, uma extensão do ensino e da atividade de pesquisa e, de outro lado, a internalização das capacidades de transferência tecnológica, levando a universidade a um papel tradicionalmente desempenhado pela indústria, isto é, a universidade por meio da capitalização do conhecimento torna-se uma instituição empreendedora.

Complementando, JACOB et. al. (2003) afirmam que a universidade empreendedora é um novo termo que vem sendo usado para referir-se a universidades que possuem diversos mecanismos de suporte infra-estrutural para manter o empreendedorismo dentro destas organizações e que conclui a atividade empreendedora com a geração de produtos.

Além disso, uma universidade empreendedora também pode ser baseada no ensino, pela introdução do treinamento empreendedor no curriculum (ETZKOWITZ, 2004). DOLABELA (1999: 53), cita dez motivos para que haja o ensino do empreendedorismo nas universidades:

- a alta taxa de mortalidade das empresas que ainda estão nos estágios iniciais, de cada três empresas criadas, duas fecham as portas.

- a mudança nas relações de trabalho impõe aos novos profissionais que eles tenham uma visão global do processo e que saibam identificar e satisfazer as necessidades dos clientes;

- mesmos para aqueles que almejam ser empregados exige-se que estes sejam intra-empreendedores e que se tornem colaboradores melhores;

- a tradicional metodologia de ensino não possui uma forma adequada para habilitar empreendedores;

- é importante que as instituições de ensino se aproximem das empresas, órgão governamentais, financiadores, associações de classe tornando relações menos incipientes;

- os valores que permeiam o ensino brasileiro não apontam para o empreendedorismo;

- poucos percebem a importância das pequenas e médias empresas para o desenvolvimento econômico do Brasil;

- os cursos profissionalizantes e universitários geralmente enfatizam a busca de emprego nas “grandes empresas”;

- devido à grande importância dos empreendedores na sociedade e na economia, faz-se necessário que eles sejam guiados pela ética;

- a sala de aula deve proporcionar ao aluno a possibilidade de tornar-se um empreendedor comprometido com o meio ambiente.

Segundo VESPER & GARTNER (1997), nos Estados Unidos, até 1970, pouquíssimas universidades ofereciam cursos de empreendedorismo. A Harvard

Business School introduziu um curso em 1945, aparentemente em resposta aos

estudantes que estavam retornando do serviço militar prestado na Segunda Guerra Mundial para uma economia que estava em transição. O curso cresceu em popularidade embora no início os membros da universidade responsáveis por ele não previam um futuro acadêmico promissor.

De acordo com FINKLE & DEEDS (2001), a pesquisa norte-americana sobre empreendedorismo começou em 1958 com um programa de três anos apadrinhado pela Small Business Administration. E culmimou com a publicação da série “The Small

Business Research Series”. E em 1963 o “Journal of Business Management ” foi

fundado como a primeira revista científica acadêmica dedicada a publicações de pesquisa sobre pequenos negócios e empreendedorismo.

No início da década de 70, o empreendedorismo começou a emergir como a principal corrente na imprensa de negócios. O surgimento do Silicon Valey e

Silicon Entrepreneurs abasteceram o desenvolvimento de livros populares, artigos, e

empreendedorismo, como a Entrepreneur (1977) e a Inc. (1979) e seus crescimentos em circulação através da década de 80 deu nova proeminência ao empreendedorismo. E finalmente, nos anos 80 começou o desenvolvimento de estruturas para suportar o crescimento e desenvolvimento deste campo de pesquisa. Em 1981, a primeira Babson

Conference sobre empreendedorismo foi apresentada. Esta conferência tornou-se

instrumento no desenvolvimento e disseminação da pesquisa sobre emprendedorismo no mundo (FINKLE & DEEDS, 2001).

A despeito do significativo crescimento e desenvolvimento deste campo através das décadas de 50, 60, 70 e 80, existiam poucos departamentos formais de empreendedorismo dentro das universidades norte-americanas. Até o início da década de 90, apesar deste campo de pesquisa ter atraído significativa atenção, ele ainda estava distante de ser institucionalizado dentro das escolas de negócio e administração (FINKLE & DEEDS, 2001).

Entretanto, foi possível observar que o número de universidades oferecendo cursos de empreendedorismo nos Estados Unidos mudou drasticamente, em 1970 havia 16 e em 1995 este número cresceu acima dos 400 (VESPER & GARTNER, 1997).

Já em relação as universidades européias, nota-se que elas têm estabelecidos programas de empreendedorismo, projetados para criar firmas assim como para educar estudantes na nova disciplina. Vale ressaltar que, apesar da atenção que tem sido dirigida ultimamente ao empreendedorismo acadêmico, o papel dos estudantes no empreendedorismo acadêmico europeu não é no vo. Isto pôde ser observado na fundação de firmas químicas e ópticas na metade do século XIX por estudantes que deixaram a pesquisa acadêmica. Estas firmas tipicamente mantinham contato com a academia através de relações de consultoria que persistiam através das gerações (ETZKOWITZ, 2004 ).

Nas universidades do Brasil o foco sobre o empreendedorismo começou mais tarde. SILVA (2001) faz uma breve exposição das ações realizadas no meio acadêmico brasileiro para incentivar/estimular o empreendedorismo:

- FEA/ USP - em 1984 começou a oferecer o ensino de empreendedorismo na graduação e em 1985 na pós-graduação. Já em 1992 criou o Programa de Formação de Empreendedores;

- UFRGS – começou em 1984 a ser ministrada no Departamento de Ciência da Computação a disciplina “ Ensino de criação de empresas”;

- FGV – foi criado em 1989 o Centro Integrado de Gestão Empreendedora (CIAGE);

- UFMG - criou-se no início do sanos 90 o Grupo de Estudos da Pequena Empresa (GEPE) que visava estudar o empreendedorismo. Iniciou-se também o ensino do empreendedorismo no curso de graduação do Departamento de Computação;

- UFSC – em 1992 foi fundada a Escola de Novos Empreendedores (ENE), que hoje constitui um significativo mecanismo no ensino de empreendedorismo ao meio acadêmico;

- UFPE – com o intuito de aproveitar industrialmente os resultados acadêmicos foi criado em 1992 o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR);

- UNB – foi criada em 1995 a Escola de Empreendedores, que passou a ter um importante papel na sensibilização e ensino do empreendedorismo;

- PUC-RIO – em 1997 houve a inauguração do Instituto Gênesis para a Inovação e Ação Empreendedora, cujo objetivo era incentivar o empeendedorismo;

- UFSCar – com o objetivo de viabilizar a cooperação universidade-empresa foi criado em 1998 o Núcleo de Extensão UFSCar-Empresa.