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2 ESTADO-DA-ARTE EM GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

2.6 BARREIRAS À GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

Pelo fato, já mencionado, de que a GD ainda é uma subárea não-consolidada dos sistemas elétricos de potência, barreiras das mais diversas naturezas acrescentam riscos e incertezas à avaliação econômica desse tipo de empreendimento, o que, via de regra, inibe significativamente os investimentos nessa modalidade de geração, principalmente quando ela está relacionada ao uso de novas tecnologias e(ou) de fontes primárias alternativas de energia.

As principais barreiras citadas pela literatura especializada da área podem ser classificadas da forma apresentada a seguir, adaptada de Romagnoli (2005), Rodríguez (2002), Dias, Bortoni e Haddad (2005) e Willis e Scott (2000), em que são apresentados exemplos relevantes. Algumas dessas barreiras demandam quebra de paradigma em âmbito mundial, enquanto outras apresentam-se mais como obstáculos locais, relacionados a modelos políticos ou de negócios no setor energético brasileiro. Sendo assim, a cada exemplo está associada a classificação atribuída por Romagnoli (2005): M – para o caso em que o paradigma a ser quebrado tem âmbito mundial; L – para o caso em que o paradigma a ser quebrado tem âmbito local, brasileiro, mas não mundial; L e M – para os dois casos anteriores simultaneamente. É claro que cada um dos aspectos negativos referidos anteriormente pode causar uma ou mais barreiras ao desenvolvimento da GD. Todavia, deve ser ressaltado que nem toda barreira existe em razão de um aspecto negativo das fontes de GD. Sendo assim, diversas barreiras são apresentadas e exemplificadas a seguir, mas sem que se faça correlação explícita de causa e efeito.

(a) Barreiras regulatórias: (a1) Ausência de legislação clara quanto a procedimentos de rede de distribuição – L; (a2) Ausência de legislação clara relacionada à contratação e comercialização de reserva de capacidade para os autoprodutores e os PIEs, que é a energia requerida dos sistemas de transmissão e distribuição da concessionária durante a ocorrência de interrupções ou reduções temporárias na geração elétrica dos geradores distribuídos – L; (a3) Insuficiência de regulação das tarifas vigentes para a conexão aos sistemas de transmissão e de distribuição de modo a assegurar a modicidade tarifária – L.

(b) Barreiras sociais e culturais: (b1) Subestimação do real potencial das fontes renováveis – L e M; (b2) Ausência de mensuração dos custos evitados e das externalidades sociais, que são benefícios que se repercutem para toda a sociedade mas não remuneram o investimento – L e M.

(c) Barreiras de ordem institucional: (c1) Estrutura tarifária das concessionárias que nem sempre refletem de maneira correta a real diferenciação dos custos do abastecimento – L e M; (c2) Carência de informações quanto às regiões dentro da área de concessão da distribuidora que possuam alto custo marginal para expansão – L e M; (c3) Existência de monopólio natural na distribuição – M.

(d) Barreiras ambientais: (d1) Dificuldades na obtenção de licenças ambientais – L e M; (d2) Ausência de mensuração dos custos evitados e das externalidades ambientais,

que são benefícios que se repercutem para toda a sociedade mas não remuneram o investimento – L e M; (d3) Necessidade de instalação de sistemas de atenuação de ruído, nos casos em que a fonte de GD causar poluição sonora inadequada à localidade em que foi instalada – L e M.

(e) Barreiras econômicas e políticas: (e1) Pequena quantidade de instituições financiadoras no setor – L; (e2) Modelos atuais de negócios cada vez mais orientados para horizontes de curto prazo – L e M; (e3) Tributação excessiva, que atua como forte desestímulo ao investimento – L; (e4) Mensuração otimista da volatilidade de preços dos combustíveis fósseis, que reduz o risco relativo a esse aspecto e torna injusta a comparação econômica com empreendimentos de GD17 – M; (e5) Elevados custos globais de aquisição de combustível, no caso de fontes de GD que o utilizam – L e M; (e6) Altas taxas para importação de equipamentos associados a diversas soluções que utilizam fontes alternativas – L; (e7) Existência de mais subsídios para as fontes convencionais que para as alternativas – L e M; (e8) Instabilidades macroeconômicas de diversas origens, que diminuem a probabilidade de haver investimentos em fontes novas – L e M; (e9) Insuficiência e(ou) distribuição inadequada de recursos destinados a projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) na área – L e M; (e10) Falta de infra-estrutura para implantação de fontes de GD – L e M; (e11) Ausência de mais programas de incentivo como o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), elaborados a partir dessa importante experiência – L; (e12) Elevados custos das tecnologias de GD e, conseqüentemente, elevados custos da energia gerada por essas fontes – L e M.

(f) Barreiras técnicas e tecnológicas: (f1) Pequena maturidade de muitas tecnologias, que pode acarretar elevados custos de implantação e(ou) apresentar índices de confiabilidade insatisfatórios, além de aumentar a falta de credibilidade da sociedade quanto ao potencial delas – L e M; (f2) Possibilidade de problemas relacionados à qualidade de energia, caso a operação de fontes de GD conectadas ao sistema não seja cuidadosamente planejada, especialmente no que se refere ao controle de freqüência e aos níveis de tensão – L e M.

(g) Barreiras à operação do sistema: (g1) Possibilidade de prejuízo à segurança energética do sistema quando são utilizadas tecnologias que possuem característica de grande variabilidade natural de geração, fazendo aumentar a fatia de mercado de

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Acerca desse aspecto, é interessante ressaltar a enorme, rápida e imprevisível elevação dos preços do petróleo ocorrida nos últimos meses.

fontes não-despacháveis – L e M; (g2) Maior complexidade operativa em função dos fluxos bidirecionais de energia e das novas topologias de rede para operação normal e para contingências – L e M; (g3) A pequena previsibilidade quanto à disponibilidade das fontes primárias de energia de caráter intermitente, tais como água, radiação solar e ventos, aumenta o investimento necessário e reduz o fator de capacidade das fontes – L e M.

(h) Barreiras de mercado: (h1) Falta de instituições de cunho profissional para, de forma organizada, pressionarem o governo e colaborarem com ele na adequação da legislação com vistas à redução de barreiras, especialmente as regulatórias – L; (h2) O nível de geração de energia é suficiente para atender à demanda solicitada pelo sistema elétrico ainda com certa folga, e isso não deixa de caracterizar uma situação global de normalidade, mesmo com risco de desabastecimento elevado, que desestimula a implantação de fontes alternativas – L.