• Nenhum resultado encontrado

3 FONTES E TECNOLOGIAS DE GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

3.2 GERAÇÃO FOTOVOLTAICA

3.2.1 Aspectos gerais da energia solar

A energia do Sol é originada em sucessivas reações de fusão nuclear. Segundo informado por Shayani (2006), a cada segundo, aproximadamente 6 × 1011 kg de H2 são convertidos em He, com consumo aproximado de massa de 4 × 109 kg e com liberação energética de 4 × 1020 J. De toda essa energia, cerca de 99% são emitidos na forma de radiação eletromagnética, sendo que cerca de 9% são de radiação ultravioleta, 40% localizam-se na região visível do espectro e cerca de 50% são de radiação infravermelha, com comprimentos de onda que variam entre 0,2 μm e 3,0 μm (Hinrichs e Kleinbach, 2003). Sabendo que a massa total do Sol é de aproximadamente 2 × 1030 kg, a projeção para a sua vida útil é de, no mínimo, 10 bilhões de anos (Sze apud Shayani, 2006), o suficiente para se considerar, ainda por muito tempo, o Sol como fonte inesgotável de energia e sem nenhum risco de contingenciamentos técnicos, econômicos, militares e(ou) políticos.

A Terra tem raio médio de 6.400 km, com superfície de interceptação da luz solar de aproximadamente 1,28 × 108 km2 e recebe, permanentemente sobre a superfície iluminada, 1,748 × 1011 MW. Com isso, anualmente, cerca de 1,531 × 1018 kWh de energia solar atingem a Terra. Essa energia corresponde a mais de 102.000 vezes o consumo mundial de energia elétrica, considerando-o igual a 1,50 × 1013 kWh/ano — correspondente ao consumo mundial de eletricidade em 2005 (MME, 2008b)21 —; e corresponde a mais de 16.600 vezes o consumo mundial de energia, considerando-o igual a 9,20 × 1013 kWh/ano — correspondente ao consumo mundial de energia em 2005 (MME, 2008b). Isso significa dizer que, a cada 6 min, a Terra recebe energia solar equivalente a todo o seu consumo anual de energia elétrica e que, a cada 32 min, a Terra recebe energia solar equivalente a todo o seu consumo anual de energia. A radiação solar incidente sobre a Terra a cada período de três dias está associada à energia equivalente à armazenada em todas as fontes conhecidas de energia fóssil, como o petróleo, o gás natural e o carvão (Aldabó, 2002).

21

Segundo MME (2008b), em 2005, o consumo mundial de energia foi igual a 7.912 × 106 tep (toneladas equivalentes de petróleo), dos quais 16,3% foram consumidos na forma de eletricidade, ou seja, 1.289,66 × 106 tep. Nesse relatório, foram utilizadas as seguintes relações: 1 tep = 11,63 MWh e 1 MWh = 0,086 tep.

Com todo esse potencial, é possível que sejam concebidos sistemas de geração de energia elétrica que não sejam dependentes dos recursos fósseis e que utilizem somente a radiação solar como fonte energética, seja de forma direta, obtida diretamente dos raios solares, seja de forma indireta, pelo uso de ondas, marés, ventos, força hidráulica e materiais de origem vegetal, como a biomassa, que são produzidos pelo Sol no processo da fotossíntese.

Uma vez na atmosfera terrestre, a radiação solar incidente no limite superior desta sofre, no percurso até o solo, os efeitos cumulativos de reflexões, dispersões e absorções, provocados por flutuações climáticas.

A incidência total da radiação solar sobre um corpo localizado no solo é a resultante da soma das componentes direta, difusa e refletida da radiação. Radiação direta é aquela que provém diretamente do disco solar sem ocorrência alguma de mudança de direção dos raios solares que não seja a ocasionada pela refração atmosférica. Radiação difusa é a recebida por um corpo após a direção dos raios solares ser alterada por reflexões nas nuvens ou espalhamento na atmosfera. Por sua vez, radiação refletida, ou albedo, é aquela recebida por um corpo após reflexão dos raios solares em superfícies adjacentes de prédios, árvores ou solos, sendo bastante dependente da forma e da textura da superfície refletora (Reis, 2003; Tiba, Fraidenraich e Barbosa, 1999). A Figura 3.2 mostra as componentes da radiação solar.

Fonte: HINRICHS, Roger A.; KLEINBACH, Merlin.

Energia e meio ambiente. Tradução técnica de Flávio Maron Vichi e Leonardo Freire de Mello. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. Tradução da 3. ed. norte-americana.

Em razão disso, os níveis de radiação solar em um plano horizontal na superfície da Terra sofrem influência de vários fatores, que incluem: (a) as estações do ano, em razão da alteração da inclinação do eixo de rotação da Terra em relação ao plano da órbita em torno do Sol; (b) características da região em que o plano se encontra, tais como a latitude, as condições meteorológicas e a altitude.

Existem instrumentos adequados à medição da radiação solar. O piranômetro é o instrumento mais utilizado na medição da radiação total, pois tem o sensor localizado no plano horizontal e recebe, então, radiações provenientes de todas as direções no hemisfério de atuação. Para a medição da radiação direta, utiliza-se o piro-heliômetro, instrumento provido de um dispositivo de acompanhamento do Sol e de um sistema ótico que admite apenas a energia proveniente do disco solar e de um estreito anel adjacente (Reis, 2003).

Em virtude da natureza estocástica da radiação solar incidente na superfície terrestre, é conveniente que se baseiem estimativas e previsões relativas à radiação solar em informações solarimétricas obtidas durante prolongados períodos de tempo. Os dados solarimétricos são apresentados habitualmente sob a forma de energia coletada ao longo de um dia, produzindo uma média mensal ao longo de muitos anos. Nesse contexto, o langley22 apresenta-se como unidade importante, e as unidades de medição mais freqüentes são langley/dia (Ly/dia), cal/(cm2.dia) e Wh/(m2.dia). Normalmente, a intensidade média diária é medida em W/m2, sendo que 1 Ly/dia ≈ 11,622 Wh/(m2.dia) ≈ 0,48425 W/m2. Segundo Palz (2002), em condições atmosféricas ótimas — céu claro sem nuvem alguma —, a insolação máxima observada ao meio-dia em um local situado ao nível do mar é de 1 kW/m2. Esse valor atinge 1,05 kW/m2 a 1.000 m de altura e, nas altas montanhas, chega a 1,1 kW/m2. Fora da atmosfera, essa intensidade eleva-se para 1,366 kW/m2, sendo denominada constante solar. Trata-se de um valor médio, porque ela varia com a trajetória da Terra em torno do Sol. Além disso, a radiação solar total incidente varia de um local para outro na superfície terrestre. Enquanto uma superfície horizontal no sul da Europa ocidental recebe a média anual de 1.500 kWh/m2 e, no norte, a média anual varia entre

22

O langley (Ly) é uma unidade internacional utilizada para medir a radiação solar, ou insolação, assim denominada em 1947, em homenagem póstuma a Samuel Pierpont Langley (1834 – 1906), astrônomo, físico e inventor americano (Wikipedia, 2007a). Um langley é exatamente igual a uma caloria termoquímica por centímetro quadrado: 1 Ly = 1 cal/cm2. No Sistema Internacional de Unidades, 1 Ly = 41.840 J/m2. Logo, 1 kWh/m2≈ 86,042 Ly e 1 Ly ≈ 11,622 Wh/m2.

800 kWh/m2 e 1.200 kWh/m2, uma superfície no deserto do Saara recebe cerca de 2.600 kWh/m2, em média, por ano, o que representa o dobro da média européia.

O Brasil possui ótima radiação solar, principalmente no nordeste. Na região do semi-árido nordestino estão os valores mais altos de radiação, que chegam à faixa de 200 W/m2 a 250 W/m2 de potência contínua, o que equivale à faixa de 1.752 kWh/m2 a 2.190 kWh/m2 por ano de radiação incidente. Com isso, o local pode ser considerado uma das regiões do planeta com maior potencial de geração elétrica a partir da energia solar.

3.2.2 Energia solar-fotovoltaica

A geração de energia elétrica a partir da energia solar pode ocorrer de duas formas: (a) indiretamente, por meio do uso do calor para gerar vapor que, expandindo-se em turbina a vapor, aciona um gerador elétrico em uma usina termelétrica — constituindo os sistemas termossolares; (b) diretamente, por meio do uso de painéis fotovoltaicos — constituindo os sistemas fotovoltaicos. Com isso, é importante ressaltar que, no caso da energia solar, a mesma fonte de energia pode suprir duas diferentes formas de geração elétrica. No primeiro caso, diferentes tecnologias poderiam ser utilizadas para gerar eletricidade em processo termelétrico. No segundo caso, apenas uma tecnologia habilita-se para tal: os painéis fotovoltaicos; sendo assim, esta última situação dispensa a diferenciação terminológica entre fonte e tecnologia, que serão simplesmente denominadas doravante tecnologia. A grandeza básica para o aproveitamento da energia solar é a radiação solar incidente no sistema de geração elétrica, seja ele termossolar ou fotovoltaico.

Segundo registram Reis e Silveira (2001), o uso da energia solar para geração termelétrica ainda é pouco utilizada, mesmo em centrais de porte razoável, principalmente nos EUA. Por sua vez, a geração solar-fotovoltaica tem tido muito mais aplicação, mesmo que em instalações de menor porte, não apenas nos países desenvolvidos, como EUA, Japão e Alemanha, mas também nos países em desenvolvimento, principalmente para o suprimento de eletricidade para pequenos sistemas isolados, em projetos-piloto e na eletrificação de equipamentos solitários, tais como radares e retransmissores de microondas. Embora o

custo inicial objetivo23 desta tecnologia ainda não seja muito estimulante, mostra forte tendência de diminuição com a evolução tecnológica e com a produção em larga escala. Apesar da enorme divergência dos autores quanto a esse assunto, Reis e Silveira (2001) acreditam que a geração solar-fotovoltaica pode ser considerada a forma não-tradicional de geração de eletricidade mais atraente para o Brasil e para o mundo no médio e no longo prazos, provavelmente em razão da grande disponibilidade de radiação solar no planeta e pela expectativa de grande redução no custo dos empreendimentos de geração fotovoltaica.

Ainda com relação ao custo da tecnologia, Scheer (2002) afirma, categoricamente, que se deve produzir, sem demoras nem limitações, o progresso da energia solar, não obstante todas as considerações econômicas, pois a demora implicará custo social maior que o custo para tornar realidade as energias e matérias-primas solares; quanto mais rapidamente as energias e matérias-primas solares substituírem as fósseis, maior será a economia para a sociedade, que não terá de custear as reparações de catástrofes fósseis, sejam por danos causados por furacões, inundações ou guerras energéticas, sejam por gastos crescentes devido à eliminação de resíduos ou devido ao custo da crescente burocracia ambiental. O autor ainda critica a forma pela qual a sociedade moderna, tão dada ao desperdício em muitos aspectos, preocupa-se em demasia com os preços da energia, impondo-se, assim, limitações relativas a fontes energéticas que, apesar de mais caras, são também mais compatíveis com a natureza.

A Tabela 3.1, a seguir, mostra a distribuição das fontes energéticas utilizadas em 2002 e em 2005 para a geração de eletricidade no mundo. Verifica-se que, em 2002, 81,5% da energia elétrica produzida no mundo advém da utilização de recursos fósseis — carvão, gás e petróleo — e nucleares; em 2005, esse número subiu para 81,8%. Essa constatação é coerente com a informação, também prestada pela IEA, de que, no período de 1973 a 2005, houve aumento percentual na participação de combustíveis fósseis para a geração total de energia elétrica no mundo. Essa tendência, que é antagônica às reconhecidas necessidades do planeta na redução da poluição ambiental e, principalmente, do efeito estufa, pode, ao menos em parte, ser explicada pelo período de crescimento pelo qual passa a economia global, com grande crescimento de muitos países emergentes.

23

O termo “objetivo” é utilizado aqui para criar uma qualificação específica para a expressão “custo inicial”, diferenciando-a da expressão custo inicial real atribuído, que será utilizada posteriormente. Essas duas expressões serão utilizadas e devidamente explicadas oportunamente.

Tabela 3.1 Geração de energia elétrica no mundo, em 2002 e em 2005, conforme as fontes utilizadas. 2002 2005 Fonte de energia TWh de geração Percentual da geração total TWh de geração Percentual da geração total Carvão 6.266 38,8 7.349 40,3 Gás 3.065 19,0 3.592 19,7 Hidráulica 2.677 16,6 2.918 16,0 Nuclear 2.661 16,5 2.772 15,2 Petróleo 1.161 7,2 1.203 6,6 Outrasa 303 1,9 401 2,2 Totais 16.133 100,0 18.235 100,0

Fontes: SHAYANI, Rafael Amaral. Medição do rendimento global de um sistema fotovoltaico isolado

utilizando módulos de 32 células. 2006. 205 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica)– Departamento de Engenharia Elétrica, Universidade de Brasília, Brasília, 2006. (modificada) IEA – International Energy Agency. Key world energy statistics 2007. Disponível em: www.iea.org. Acesso em: 24 maio 2008a. (modificada)

(a) Outras incluem geotérmica, solar, eólica, combustíveis renováveis e resíduos.

O caso brasileiro é bem mais favorável, sob esse ponto de vista, do que a média mundial, devido à existência de grande parque gerador hidrelétrico, que utiliza uma fonte primária renovável de energia. A Tabela 3.2, a seguir, mostra a distribuição das fontes energéticas utilizadas em 2002, 2005 e 2006 para a geração de eletricidade no Brasil.

Verifica-se que, em 2002, quase 87% da energia elétrica gerada no Brasil proveio de fontes renováveis de energia, número que subiu para pouco mais de 87% em 2005 e, em 2006, voltou a ficar abaixo dos 87%. De 2002 a 2005, houve aumento de 16,59% na geração total de energia elétrica, que teve contribuição substancial do aumento de 17,95% na geração hidrelétrica, em razão da melhoria das condições de hidraulicidade; de 2005 para 2006, houve aumento de 4,05% na geração total, com a contribuição do incremento de 3,36% na geração hidrelétrica.

De 2002 a 2005, destaques ambientalmente positivos podem ser feitos para a redução na geração com base em fontes não-renováveis: 28,77% na geração nuclear e de 51,46% na geração à base de óleo combustível, que aumentaram de 2005 para 2006. Também, houve aumentos na geração com base em fontes renováveis, como a hidrelétrica, já citada, e a

geração com base em bagaço de cana-de-açúcar, que cresceu 42,93% de 2002 a 2005 e, de 2005 a 2006, 9,08%. De 2002 a 2006, houve aumento de 47,17% na geração com base em gás natural, que, apesar de ser fonte não-renovável, é menos poluidora que os derivados de petróleo. Vale a pena ressaltar o recente conflito envolvendo o comércio de gás natural entre Brasil e Bolívia: trata-se de um exemplo em que uma fonte de energia importante sofre contingenciamento político-econômico. Finalmente, é importante destacar o enorme crescimento da geração eólica de 2002 a 2006, 288,52%, apesar de ela ser fonte de relevância muito pequena para a matriz nacional de geração elétrica.

Tabela 3.2 Geração de energia elétrica no Brasil, em 2002, 2005 e 2006, conforme as fontes utilizadas. 2002 2005 2006 Fonte de energia GWh de geração Percentual da geração total GWh de geração Percentual da geração total GWh de geração Percentual da geração total Hidráulica 286.092 82,76 337.457 83,73 348.805 83,18 Nuclear (urânio) 13.836 4,00 9.855 2,44 13.754 3,28 Gás natural 12.406 3,59 18.812 4,67 18.258 4,36 Óleo combustível 6.207 1,80 3.013 0,75 4.206 1,00 Óleo dísel 5.630 1,63 7.598 1,89 6.547 1,56 Bagaço de cana-de- açúcar 5.360 1,55 7.661 1,90 8.357 1,99 Carvão vapor 5.327 1,54 6.352 1,58 6.730 1,61 Outras recuperações 4.184 1,21 5.513 1,37 4.255 1,01 Lixívia 3.515 1,02 4.482 1,11 5.199 1,24 Outras secundárias 1.683 0,49 1.127 0,28 1.655 0,39 Gás de coqueria 693 0,20 450 0,11 458 0,11 Lenha 677 0,20 618 0,15 876 0,21 Eólica 61 0,01 93 0,02 237 0,06 Totais 345.671 100,00 403.031 100,00 419.337 100,00

Fonte: MME – Ministério de Minas e Energia. Balanço energético nacional (BEN) – 2003. Brasília: MME,

2007. Disponível em: <www.mme.gov.br>. Acesso em: 20 mai. 2007a. (modificada)

MME – Ministério de Minas e Energia. Balanço energético nacional (BEN) – 2006. Brasília: MME, 2007. Disponível em: <www.mme.gov.br>. Acesso em: 20 mai. 2007b. (modificada)

MME – Ministério de Minas e Energia. Balanço energético nacional (BEN) – 2007. Brasília: MME, 2008. Disponível em: <www.mme.gov.br>. Acesso em: 24 mai. 2008b. (modificada)

O fato de o Brasil possuir grande parte de sua geração elétrica com base em fontes renováveis de energia é conhecido há muito tempo. Também é sabido que esse percentual

já foi maior que os atuais 87%, antes do racionamento de energia elétrica ocorrido em 2001 e 200224. Então, resta a conclusão de que o Brasil, país de enormes potencialidades para fontes renováveis, percorreu o caminho oposto ao que era de se esperar: seguiu a tendência do restante do mundo, ao aumentar a participação de fontes não-renováveis na sua matriz energética para a geração elétrica.

O contexto da introdução das termelétricas no Brasil a partir de 2001 foi marcante: os investidores praticaram uma espécie de capitalismo sem risco, pois tiveram garantia do retorno financeiro, com generosos lucros, em operação altamente subsidiada pelo governo (Alves Filho, 2003). Não obstante isso, as termelétricas não são a melhor solução para um país que tem excesso de potenciais hídricos a explorar25, além de outros diversos potenciais de energia renovável: Alves Filho (2003) chega a denominar o Brasil de a “Arábia Saudita da Energia Renovável”, pelo fato de ser o país do mundo com o maior potencial hidrelétrico.

Sendo assim, o número 87% citado anteriormente deve ser avaliado considerando-se os benefícios que podem ser acrescentados pela GD. Conforme bem recorda Shayani (2006), o sistema elétrico brasileiro atual tem como base predominante a geração centralizada, o que contribui para o baixo IDH das comunidades isoladas, pois contribui para o grande número de localidades sem suprimento elétrico, para o pequeno desenvolvimento econômico na zona rural e para a grande quantidade de pessoas sem usufruir dos benefícios da energia elétrica, cerca de 15% da população brasileira, segundo Walter (2000).

Como paradoxo a ser analisado, a maior disposição em se investir na geração fotovoltaica encontra-se em países da União Européia, que não possuem os melhores índices de radiação solar. O Gráfico 3.1 mostra que 68% da energia gerada por meio de painéis fotovoltaicos encontra-se na União Européia, sendo a Alemanha a grande protagonista desse investimento. É possível que a explicação disso não se encontre exclusivamente na

24

O racionamento ocorreu entre junho de 2001 e fevereiro de 2002 nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste; na região Norte, ocorreu entre agosto e dezembro de 2001. Apenas a região Sul ficou formalmente fora do racionamento. Nesse período, o país experimentou, pela primeira vez em 50 anos, taxa negativa de crescimento do consumo de energia elétrica: –7,7% (Tolmasquim, 2005).

25

Segundo MME (2008a), o potencial hidrelétrico brasileiro é estimado em 260.093 MW; todavia, até o final de 2006, havia apenas 73.434 MW implantados, cerca de 28,23% do total, e aproximadamente 5.200 MW em construção, 2% do total.

engenharia: por trás dos grandes investimentos em tecnologia nova, promissora, e de enorme esforço em criar e divulgar uma matriz energética ecologicamente correta, estão, certamente, motivações ambientais, mas, também, grandes interesses econômicos, sendo correto presumir que o país desenvolvedor da tecnologia dominante para a GD no futuro terá vantagens econômicas importantes.

Demais países da União Européia 22% Demais países do mundo 15% Alemanha 46% América Latina 11% Canadá 5% EUA 1%

Fonte: IEA – International Energy Agency. IEA Energy Statistics. Disponível

em: <www.iea.org>. Acesso em: 4 dez. 2005. (modificada)

Gráfico 3.1 Contribuição percentual da geração fotovoltaica na geração total em 2002.

A geração fotovoltaica é uma tecnologia altamente modular, com ausência quase total de emissão de poluentes e de ruídos durante o funcionamento e baixa exigência de manutenção. O gerador fotovoltaico, usualmente conhecido por arranjo fotovoltaico, é constituído por módulos fotovoltaicos que, por sua vez, são constituídos por células fotovoltaicas, responsáveis pela conversão da radiação solar em eletricidade na forma de CC, conforme pode ser visto na Figura 3.3. Em um mesmo módulo, as células são conectadas eletricamente em série, e a quantidade de módulos conectados em série determinará a tensão de operação do arranjo fotovoltaico em CC. A corrente do arranjo é definida pela conexão em paralelo de módulos individuais ou de strings — conjuntos de módulos conectados em série. A potência instalada do arranjo, usualmente especificada em CC, é dada pela soma das potências nominais individuais dos módulos.

Por causa da baixa densidade energética envolvida com essa tecnologia, ela adapta-se melhor à GD que à geração centralizada, fato que evidencia um ótimo espaço a ser ocupado por ela, principalmente em localidades com altos índices de insolação.

Fonte: DOE – U.S. Department of Energy. Energy Efficiency and

Renewable Energy (EERE). Solar Energy Technologies Program. Disponível em: <www.eere.energy.gov/solar>. Acesso em: 2 jun. 2007. (modificada)

Figura 3.3 Modularidade dos sistemas fotovoltaicos: célula, módulo e arranjo.

Nos últimos vinte anos, a geração fotovoltaica atingiu o estágio comercial, sendo utilizada tanto em áreas isoladas quanto de forma conectada a rede elétrica existente. As taxas de crescimento da produção de módulos fotovoltaicos têm sido altas, da ordem de 15% ao ano desde 1983. No entanto, as taxas verificadas nos anos de 2000 e 2001 foram excepcionalmente altas, da ordem de 40%. Em 2001, a produção mundial de módulos fotovoltaicos atingiu os 401 MW, sendo que, em 2000, era de 287 MW, dos quais 172 MW no Japão. O Gráfico 3.2, a seguir, ilustra essa evolução.

0 100 200 300 400 500 600 700 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 Ano P r o d ã o mundi a l (e m M W p)

Fonte: LORA, Electo Eduardo Silva; HADDAD, Jamil (Coord.). Geração distribuída:

aspectos tecnológicos, ambientais e institucionais. Rio de Janeiro: Interciência, 2006. (modificado)

Gráfico 3.2 Evolução da produção mundial de células e módulos fotovoltaicos.

Com esse aumento de produção, os custos caíram muito: segundo Tester et al. (2005), a produção das primeiras células fotovoltaicas deu-se, em grande parte, em razão dos programas espaciais russo e norte-americano, e elas foram construídas ao custo de US$ 250/W; em 2003, mais de 700 MW de células fotovoltaicas foram fabricadas ao custo aproximado de US$ 2,50/W, o que representa uma redução de 100 vezes no preço das células fotovoltaicas.

Os sistemas fotovoltaicos que são instalados sem conexão a nenhuma rede elétrica, denominados sistemas fotovoltaicos autônomos, usualmente utilizam algum sistema auxiliar de armazenamento de energia, normalmente baterias, para manter o fornecimento total ou parcial de energia em períodos de radiação solar insuficiente ou inexistente. Esse