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3. COMBUSTÍVEL DERIVADO DE RESÍDUO

3.5. Barreiras e Regulamentação da Utilização do CDR

Atualmente no Brasil, uma significativa quantidade de resíduo com alto poder calorífico como os plásticos, fibras, borrachas e biomassa, é diariamente aterrada em vez de ser utilizada como combustível alternativo. Para o correto aproveitamento dos resíduos, barreiras como a construção de UPR, logística de encaminhamento desses materiais para as unidades, amadurecimento das políticas públicas e a conscientização da fonte geradora quanto à segregação e reciclagem do material precisam ser vencidas. Serão discutidas a seguir as principais barreiras enfrentadas globalmente para a efetivação do uso do CDR.

3.5.1. Barreiras Técnicas

Em termos de composição, RSU e consequentemente o CDR além da heterogeneidade implícita, podem apresentar níveis de metais pesados (provenientes da contaminação por pilhas/baterias e lâmpadas fluorescentes) e outros contaminantes, que dificultariam assim o seu processamento, aumentando as preocupações operacionais para o seu uso como combustível para certas aplicações.

Com relação à logística, o abastecimento das UPR pode ser influenciado devido às singularidades de cada região, provocadas pela diferença do nível socioeconômico (quantidade e qualidade dos resíduos), da variação sazonal (estiagem ou período chuvoso) e temporal (feriados e épocas festivas). Além disso, mesmo adotando-se padrões de abastecimento idênticos com resíduos de mesmas características, as UPR utilizam equipamentos de diferentes modelos e tecnologias, o que ocasiona, durante a classificação e triagem, a variação na quantidade e qualidade do CDR processado. Outra alteração significativa no processamento ocorre na necessidade de tipos específicos de produtos para atender ao mercado, o que conduz os operadores das UPR a priorizarem a triagem de materiais mais rentáveis, alterando significativamente, seu processo de classificação.

A contaminação e impurezas (material inerte, metal ferroso, PVC, e restos de alimentos) são outras barreiras técnicas que prejudicam o processo de produção de CDR. Os metais não ferrosos, além de serem inertes, podem causar danos aos equipamentos e risco de incêndios nas instalações de produção. O PVC é conhecido por possuir cloro em sua composição e quando queimado em altas concentrações pode formar substâncias nocivas ao meio ambiente (Dioxinas e Furanos). Já os restos de alimentos atraem roedores e insetos, dificultando a logística de armazenamento e manuseio do material estocado ou processado (EC, 2003).

Essas barreiras exigem equipamentos de identificação mais sofisticados e robustos e métodos de triagem mais complexos, o que acaba aumentando os custos de produção. Uma das soluções adotadas é a mistura de fontes de resíduos conhecidas que, além de diluir problemas associados à contaminação, podem neutralizar as variações das características do resíduo processado. Para aumentar a qualidade do CDR, garantindo boas propriedades físicas e químicas para a combustão, novas tecnologias baseadas na engenharia de materiais vêm sendo empregadas, mas ainda a custos elevados. Atualmente, o estado da arte refere-se às tecnologias que identificam a concentração de cloro presente nos RSU processados.

3.5.2. Barreiras Econômicas

As variáveis econômicas estão relacionadas, principalmente, ao capital de custo para implantação da UPR, às tecnologias de transformação de resíduo em energia e às despesas com a logística de transporte.

A viabilidade da transformação dos RSU em combustível é diretamente influenciada pela soma da taxa que seria paga para a disposição final em aterros sanitários ao valor da receita obtida com a venda do CDR processado. Porém, em locais onde as taxas para disposição dos RSU são baixas, a implantação de uma UPR pode ser comprometida pelo estreito limite de receita. A distância entre a UPR e seus fornecedores pode aumentar o custo associado à logística do transporte. Além disso, os mercados imaturos com grande oscilação da oferta de resíduos para aproveitamento energético podem inviabilizar a produção de CDR na UPR, assim como a queda nos preços dos combustíveis convencionais.

3.5.3. Política e Regulação

Na Europa existe uma série de implicações jurídicas na utilização da fração de RSU com alto poder calorífico e que não tem viabilidade econômica no ciclo de reciclagem. Muitas vezes, as regras que se aplicam ao material para tornar-se CDR podem mudar m razão de uma simples etapa que ocorre dentro do próprio processo industrial. Compreender as dificuldades técnicas e econômicas entre a classificação do material frente às legislações vigentes permite uma maior confiança no mercado que utiliza CDR como uma fonte de combustível alternativo.

Diante do cenário global, essas dificuldades são ainda mais complicadas, já que existem regulações diversas devido à existência de conjuntos diferenciados de legislações e orientações. Várias nações adotaram normas bastante rigorosas que impõem limites sobre a composição do CDR (EC, 2003).

Em resposta aos diferentes padrões dos países, uma comissão técnica no âmbito do

Comité Européen de Normalisation (CEN) publicou em 2002 a norma CEN/TC 343 que

estabeleceu diretrizes europeias relevantes para regular o mercado de CDR com a elaboração de normas, especificações e relatórios técnicos preparados a partir de resíduos não perigosos

que serão utilizadas para a geração de energia em incineradores ou em plantas de recuperação energética, porém com uma nova designação, Combustível Sólido Recuperado (CSR) (do termo em inglês Solid Recovered Fuel (SRF)) (CEN, 2013).

O sistema de classificação estabelecido pela CEN/TC 343 levou em consideração aspectos econômicos relacionados ao poder calorífico, às características tecnológicas para processamento de cloro (Cl) e de emissões atmosféricas do mercúrio (Hg). As especificações foram baseadas nas propriedades do CSR e os valores limites foram estabelecidos em acordo mútuo entre produtores e usuários. O sistema de classificação do CSR adotado pela norma europeia CEN/TC 343 é apresentado na Tabela 3.2.

Tabela 3.2- Sistema de classificação do CSR conforme norma CEN/TC 343

Propriedade Unidade Classes

1 2 3 4 5 Poder Calorífico Inferior (PCI) MJ/kg ≥25 ≥20 ≥15 ≥10 ≥3 Cloro (Cl) % ≤0,2 ≤0,6 ≤1,0 ≤1,5 ≤3,0 Mercúrio (Hg) mg/MJ ≤0,02 ≤0,03 ≤0,08 ≤0,15 ≤0,50

Fonte: Adaptado de CEN (2013)

A média da composição do CSR pode ser observada na Tabela 3.3. Os dados foram baseados na análise dos principais combustíveis produzidos nos diversos países membros da União Europeia.

Tabela 3.3 – Média da composição dos diferentes tipos de CSR comercializados na UE

Combustível Sólido Recuperado (CSR) Poder Calorífico (MJ/kg) Cl (%) Hg (mg/MJ) Cd + Tl (mg/MJ) Com baixo teor de Cinzas 11,7 – 25,5 0,04 – 1,70 0,004 – 0,042 0,008 – 0,121

Com alto teor de Cinzas 3,2 – 10,0 0,07 – 0,77 0,050 – 0,406 0,260 – 0,930

Derivado de RSU 9,8 – 19,9 0,23 – 0,79 0,006 – 0,069 0,050 – 0,311

Derivado de resíduos comercial 13,0 – 31,0 0,04 - 0,60 0,004 – 0,019 0,008 – 0,060

Produzido para fornos de cimento 3,2 – 25,5 0,07 – 1,70 0,020 – 0,406 0,120 – 0,930

Capítulo 4

4. COPROCESSAMENTO

DE

COMBUSTÍVEL

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