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BASE DE CÁLCULO DO IPTU (POSSÍVEL)

No documento Materialidade e Base de Cálculo do IPTU (páginas 85-88)

8. BASE DE CÁLCULO POSSÍVEL

8.2. BASE DE CÁLCULO DO IPTU (POSSÍVEL)

Compete a lei complementar, nos termos da alínea “a”, do inciso III do art. 146 da CF estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre a definição de tributos e suas espécies.

Esse dispositivo constitucional (art. 146), ao entrar em vigor, em 5 de outubro de 1988, encontrou no ordenamento jurídico, vigendo e valendo, a Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966, veiculadora do denominado sistema tributário nacional e das normas gerais de direito tributário, o conhecido Código Tributário Nacional.

Operou-se, nesse aspecto, o fenômeno da recepção97, no caso com eficácia

reconstrutiva da hierarquia da norma, na medida em que as normas gerais de direito tributário contidas no CTN só podem ser derrogadas ou ab-rogadas por lei complementar.

Pois bem, uma vez recepcionadas as normas do CTN, inobstante, como salientado alhures, abalizadas opiniões em sentido contrário, certo é que não se pode desprezar os comandos emergentes dos artigos 32 a 34 da referida lei.

97 Michel Temer, Elementos de Direito Constitucional, 16ª edição, Malheiros, p. 38 “A Constituição

nova recebe a ordem normativa que surgiu sob o império de Constituições anteriores se com ela for

compatível. É o fenômeno da recepção, que se destina a dar continuidade às relações sociais sem

necessidade de nova, custosa, difícil e quase impossível manifestação legislativa ordinária. Ressalte- se, porém, que a nova ordem constitucional recepciona os instrumentos normativos anteriores dando- lhes novo fundamento de validade e, muitas vezes, nova roupagem...leis anteriores tidas por

O artigo 33 do Código Tributário Nacional estabelece, fazendo estribilho às normas constitucionais:

“Art. 33. A base de cálculo do imposto é o valor venal do imóvel.

Parágrafo Único. Na determinação da base de cálculo, não se considera o valor dos bens móveis mantidos, em caráter permanente ou temporário, no imóvel, para efeito de sua utilização, exploração, aformoseamento ou comodidade.”

Viu-se que a regra padrão de incidência derivada da Constituição aponta para o valor do imóvel como possível base de cálculo do IPTU. A lei complementar, nesse sentido, exerceu adequadamente a competência que lhe foi atribuída pelo legislador constituinte, buscando indicar aos legisladores municipais (e do Distrito Federal) a grandeza econômica passível de sofrer a incidência tributária desse imposto: o valor venal dos imóveis.

Mas o que se deve entender por valor venal?

Segundo Kiyoshi Harada98, “valor venal é aquele que o imóvel alcançará para compra e venda, à vista, segundo as condições usuais do mercado de imóveis”.

Aliomar Baleeiro99 ensina que “valor venal é aquele que o imóvel alcançará

para compra e venda à vista, segundo as condições usuais do mercado de imóveis...”

E a quase unanimidade dos doutrinadores trilham caminho idêntico:

“valor venal...é o valor normal que qualquer bem comercial obtém no mercado. A seu turno, valor venal do imóvel nada mais é do que espécie desse gênero, e como tal não foge às regras que ditam a apuração dos demais valores venais”. (Ives Gandra da Silva Martins100)

“Por valor venal haver-se-á de entender o valor pelo qual o imóvel pode ser negociado no mercado imobiliário. Para o fim de lançamento do imposto, referido valor deve ser definido pela Admnistração Municipal.” (Pedro

Roberto Decomain101

)

98 IPTU – Aspectos Jurídicos Relevantes, Ed. Quartier Latin, p. 349. 99 Direito Tributário Brasieliro, Ed. Forense, 11ª edição, p. 249. 100 Curso de Direito Tributário, Ed. Saraiva, 2000, p. 727.

“valor venal é o valor de venda do bem imóvel se fosse posto à venda, determinado pelo Município”. (Sérgio Pinto Martins102)

Não se nega a dificuldade que têm as administrações municipais em fixar individualmente, mediante análise anual de cada imóvel, a base de cálculo do IPTU. Essa dificuldade, é cediço, se agiganta na proporção direta do crescimento da população e decorrentemente do número de imóveis.

Cada vez mais os municípios recorrem a alternativas científicas e técnicas para conseguirem firmar, da forma mais real possível, o valor venal do imóvel, que irá servir de base de cálculo do IPTU.

Uma dessas técnicas, que em si envolve métodos científicos e cálculos complexos, informada em muitos casos por regras e procedimentos da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, é conhecida como planta, pauta ou tabela de valores. Os métodos, apenas para exemplificar, para se obter a avaliação e, portanto o valor venal do imóvel são inúmeros, como o comparativo direto de dados de mercado, método involutivo, método da renda, método evolutivo, método para identificar o custo de um imóvel, método da quantificação do custo, método comparativo direto do custo, etc.

A alternativa dos municípios de utilizarem as plantas de valores para a indicação do valor venal do imóvel, de resto como comanda o princípio da estrita legalidade tributária, só será possível com a fixação na lei municipal instituidora do IPTU não apenas da previsão de que essa será a base de cálculo, mas dos critérios de como atingi-la por ocasião do lançamento.

Por palavras outras, a lei ordinária municipal que desenhar o arquétipo de incidência do IPTU, apontando a matéria sobre a qual incidirá o imposto, em que espaço e tempo, além de indicar os sujeitos da relação jurídico-tributária que se instalará assim que suceder, no mundo dos fenômenos, a previsão abstrata da hipótese, indicará, com a alíquota, a base de cálculo, que deverá ser o valor venal do imóvel. Como “valor venal” não se apresenta preciso, comportando certa dose de

vagueza (qual o real valor venal?), a lei deverá, em respeito ao princípio da estrita legalidade tributária, exibir os critérios que serão utilizados pelo administrador para alcançar, através do ato de lançamento, a base de cálculo do imposto.

Misabel Derzi, em nota da obra de Aliomar103, explica essas circunstâncias: “Como é tarefa difícil para a Administração, em um tributo lançado de ofício, como é o caso do IPTU, avaliar a propriedade imobiliária de milhares de contribuintes, medidas de simplificação da execução da lei têm sido tomadas pelo Poder Executivo. Uma dessas medidas são as plantas ou tabelas de valores, que retratam o preço médio do terreno por região ou o preço do metro quadrado das edificações, conforme padrão construtivo, portanto o valor presumido do bem.”

8.3. A ATUALIZAÇÃO ANUAL DA BASE DE CÁLCULO DO IPTU E O PRINCÍPIO

No documento Materialidade e Base de Cálculo do IPTU (páginas 85-88)

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