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FUNÇÕES E ELEMENTOS INTEGRATIVOS DA BASE DE

No documento Materialidade e Base de Cálculo do IPTU (páginas 81-85)

8. BASE DE CÁLCULO POSSÍVEL

8.1. FUNÇÕES E ELEMENTOS INTEGRATIVOS DA BASE DE

Salientou-se que a base de cálculo é a grandeza econômica instalada no critério quantitativo e, dentre inúmeras funções, como a de estabelecer a discriminação das espécies tributárias, associa-se à alíquota para indicar o valor do tributo a ser pago.

Arremata, dizendo mais, Barros Carvalho95: “A base de cálculo é a grandeza instituída na conseqüência da regra-matriz tributária, e que se destina,

95 Curso, p. 327 e ss.

primordialmente, a dimensionar a intensidade do comportamento inserto no núcleo do fato jurídico, para que, combinando-se à alíquota, seja determinado o valor da prestação pecuniária. Paralelamente, tem a virtude de confirmar, infirmar ou afirmar o critério material expresso na composição do suposto normativo.”

E prossegue esse autor: “A versatilidade categorial desse instrumento jurídico se apresenta em três linhas distintas: a) mediar as proporções reais do fato; b) compor a específica determinação da dívida; e c) confirmar, infirmar ou afirmar o verdadeiro critério material da descrição contida no antecedente da norma.”

Ao conceber que a base de cálculo é a perspectiva dimensível do critério material da hipótese, Paulo de Barros Carvalho ressalta a sua função de mensurar, de medir as reais proporções do fato, vale dizer, traduzir em grandeza econômica ou financeira disposto abstratamente no critério material da hipótese de incidência, ou descritor da norma. Atrelada a esta função estaria aqueloutra, a comparativa, onde a base de cálculo, contraposta ao critério material da hipótese, poderia afirmá-lo (se o critério material apresentar-se obscuro, vago ou âmbigüo); confirmá-lo (ao apresentar identidade conceitual com o critério material); ou infirmá-lo (se não guardar qualquer identidade com o critério material da hipótese, e.g., o critério apontar para um tributo vinculado e a base de cálculo trouxer elemento absolutamente aleatório à atuação estatal prévia dirigida ao contribuinte).

Sem dúvida que a concepção desse autor foi influenciada pelas lições do saudoso Geraldo Ataliba. Do seu insuperável livro “Hipótese de Incidência Tributária” pode-se realizar reveladora resenha acerca do tema.

Consoante seus ensinamentos, base de cálculo, que preferia nominar “base imponível”96, se apresenta como uma perspectiva dimensível do aspecto material da h.i. que a lei qualifica, com a finalidade de fixar critério para a determinação, em cada obrigação tributária concreta, do quantum debetur. Ressalta: “É padrão... ou referência para medir um fato tributário.”

Segundo Geraldo, a base imponível é a dimensão do aspecto material da hipótese de incidência. Uma grandeza ínsita na h.i. É, por assim dizer, seu aspecto dimensional uma ordem de grandeza própria do aspecto material da h.i; é propriamente uma medida sua. Apregoava que o aspecto material da h.i. é sempre mensurável, isto é, sempre redutível a uma expressão numérica. A coisa posta na materialidade da h.i. é sempre passível de medição.

Juridicamente, a base imponível é um atributo do aspecto material da h.i., dimensível de algum modo: é o conceito de peso, volume, comprimento, largura, altura, valor, preço, custo, perímetro, capacidade, superfície, grossura ou qualquer outro atributo de tamanho ou grandeza mensurável do próprio aspecto matéria da h.i.

Salienta com argúcia que um estado de fato pode ter diversos atributos dimensíveis; a base imponível estabelecida pelo legislador pode considerar somente um ou alguns e não necessariamente todos.

Para esse autor, afigura-se evidente a posição central da base de cálculo pela circunstância de ser impossível que um tributo, sem se desnaturar, tenha por base imponível uma grandeza que não seja ínsita na materialidade de sua hipótese de incidência.

E remata: “Tão importante, central e decisiva é a base imponível que se pode dizer que – conforme o legislador escolha uma ou outra – poderemos reconhecer configurada esta ou aquela espécie e subespécie tributária.”

Influenciado pelo jurista espanhol Juan Ramallo Massanet e por Aires Barreto, Geraldo Ataliba empreende a diferenciação entre base de cálculo e base calculada. A propósito de perfilharmos, na esteira do que escreveu Augustin A. Gordillo, o entendimento de que as classificações no direito são úteis ou inúteis, é inegável que esses conceitos auxiliarão no arremate deste empreendimento.

A base calculada resulta da aplicação concreta da base imponível. Aires Barrreto a conceitua como “o resultado expresso em moeda da aplicação do critério

abstrato”. Já base de cálculo é um conceito legal de tamanho; base calculada é magnitude concreta, é a precisa medida de um fato.

Mas Aires Barreto, conquanto essencialmente não divirja das conclusões a que chegaram Barros Carvalho e Ataliba, dissente das premissas que aqueles lançam acerca da natureza da base de cálculo.

Disserta:

...sem embargo da logicidade jurídica dessa postura, parece-nos controversa a asseveração de ser a base de cálculo uma perspectiva dimensível da hipótese de incidência.

É induvidoso ser a hipótese de incidência a descrição abstrata de um fato suscetível de tributação.

Dizer pois que a base de cálculo é a perspectiva mensurável da hipótese significa afirmar ser aquela aparência do aspecto dimensível do abstrato. Ora, a característica do abstrato é exatamente a representação à qual não corresponde nenhum dado sensorial ou concreto. A abstração limita-se a expressar uma qualidade ou característica separada do objeto a que pertence (ou está ligada). Logo não se pode medir o abstrato.”

E conclui:

Calha melhor, por isso, conceituar base de cálculo como o padrão, critério ou referência para medir um fato tributário...com efeito a expressão base de cálculo significa “fundamento para cálculo”, “origem para cálculo” ou “apoio para cálculo”. Equivale a “critério para medir”, ou a “padrão para avaliar”...é a definição legal da unidade de medida, constitutiva do padrão de referência a ser observado na quantificação financeira dos fatos tributários.

Não obstante a dissensão apresentada, certo é que a base de cálculo, que deve constar como previsão expressa nas leis instituidoras dos tributos, deve conter abstratamente elementos que possam, uma vez submetidos à composição com a alíquota, resultar no tributo a ser pago pelo contribuinte.

Sem dúvida que a previsão normativa da base de cálculo não se confunde com a sua concreção, que se dará através do ato administrativo de lançamento praticado pela autoridade pública encarregada de administrar o tributo ou privativo do contribuinte, na consecução do que o legislador do CTN chamou de “lançamento por

homologação”; por isso a relevância do didatismo da diferenciação “base de cálculo” e “base calculada”.

A submissão, todavia, da regra que descreve a base de cálculo e do ato de solidificação, veiculador da norma individual e concreta do tributo, aos cânones da estrita legalidade, é irrefragável.

No documento Materialidade e Base de Cálculo do IPTU (páginas 81-85)

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