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Base legal e a estruturação das atividades paradiplomáticas do Rio

A Constituição Estadual do Rio de Janeiro (1989), em sua versão mais atual e em seu Título IX, dispõe sobre a organização política dos municípios, como segue:

TÍTULO IX

- DA ORGANIZAÇÃO MUNICIPAL CAPÍTULO I

- DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES (arts. 343 a 354)

Art. 343. Os Municípios são unidades territoriais que integram a organização político- administrativa da República Federativa do Brasil, dotados de autonomia política, administrativa e financeira, nos termos assegurados pela Constituição da República, por esta Constituição e pela respectiva Lei Orgânica.

Art. 344. São Poderes do Município:

I - o Poder Legislativo, representado pela Câmara Municipal, composta de Vereadores; II - o Poder Executivo, representado pelo Prefeito. (Rio de janeiro 1989)

Do mesmo modo, a Lei Orgânica do Rio (Rio 2010) elenca as competências do município em seu Capítulo II6. Nele, há previsão para a atuação internacional do Rio no que diz respeito à

capacidade de legislar sobre assuntos de interesse local, irmanação com cidades estrangeiras, convênios e empréstimos internacionais, etc.

Fundamental, contudo, para se compreender a gênese da estrutura paradiplomática do Rio, direcionar o foco para um período um pouco anterior.

Em 1986, o então prefeito Roberto Saturnino Braga, por meio do Decreto No. 5752 de 8 de abril, alterou a estrutura do Gabinete do Prefeito, criando a primeira Assessoria Internacional (AI) da cidade, que passava, naquele ato, a incorporar as competências do Cerimonial (Rio 1986, 1).

A Figura 2, a seguir, apresenta fac-símile do documento que pode ser considerado um marco histórico na atividade paradiplomática do Rio.

6Capítulo II - Da Competência do Município

Art. 30 - Compete ao Município:

I - legislar sobre assuntos de interesse local;

II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; (...)

IV - dispor sobre: (...)

l) irmanação com cidades do Brasil e de outros países, a destes últimos com a audiência prévia dos órgãos competentes da União; (...)

VII - instituir, conforme a lei dispuser, guardas municipais especializadas, que não façam uso de armas, integrantes da Administração Pública Direta, destinadas a:

(...)

e) oferecer apoio ao turista nacional e estrangeiro; (...)

Art. 36 - O Município não firmará convênios, acordos, ajustes ou quaisquer outros instrumentos jurídicos nem manterá vínculos comerciais, culturais, esportivos, científicos e políticos com países que adotem política oficial de discriminação racial.

Art. 37 - O Município poderá, mediante aprovação da Câmara Municipal, participar da formação de consórcios intermunicipais para o atendimento de problemas comuns, inclusive visando à contratação de empréstimos e financiamentos junto a organismos e entidades nacionais e internacionais. (...)

Art. 119 - Antes do término de seu mandato e logo após a divulgação, pelo Tribunal Regional Eleitoral, dos resultados das eleições municipais, o Prefeito entregará a seu sucessor relatório da situação administrativo-financeira do Município, e garantirá a este o acesso a qualquer informação que lhe for solicitada.

(...)

IV - informação circunstanciada com relação ao estágio de negociações em curso para obtenção de financiamento em órgãos da União ou do Estado e instituições nacionais e internacionais;

(...)

Art. 290 - O Poder Público contribuirá para promover as condições adequadas ao desenvolvimento na Cidade das funções de centro de comércio e finanças nacional e internacional. (Rio 2010)

Figura 2: Decreto Municipal No. 5752, de 8 de abril de 1986..

Fonte: http://wpro.rio.rj.gov.br/decretosmunicipais/.

Pouco mais de um ano, contudo, essa mesma Assessoria Internacional foi extinta, como consequência da publicação do Decreto No. 6917, de 2 de setembro de 1987, que criou a Coordenadoria das Relações Internacionais e do Cerimonial, ligada diretamente ao Gabinete do Prefeito (Rio 1987, 1).

O Rio passava a figurar, então, como a primeira cidade brasileira a possuir uma estrutura formal e exclusivamente destinada a tratar do tema e teve como primeiro coordenador, o embaixador Claudio Garcia de Souza. A nomeação de diplomatas de carreira para o cargo de chefiar a Coordenadoria das Relações Internacionais e do Cerimonial se tornaria, a partir de então, uma tradição (Rio 2015).

Figura 3: Decreto Municipal No. 6917, de 2 de setembro de 1987.

Fonte: http://wpro.rio.rj.gov.br/decretosmunicipais/.

Em 2009, a gestão Eduardo Paes, que assumia o governo local para o seu primeiro mandato de quatro anos, lançou o Plano Estratégico da Prefeitura do Rio de Janeiro 2009-2012. Imperativo destacar que esse foi o primeiro a ser elaborado pela gestão pública local, e objetivou a “construção de uma visão de futuro para a cidade” (Rio 2009, 11). Com relação ao primeiro Plano Estratégico, Paes (2015, citado por Valor 2015, 17) afirma que o documento “foi fundamental ao construir a visão de onde quer chegar: tornar a cidade o melhor lugar para viver, trabalhar e visitar no Cone Sul”.

Tem-se, a seguir, a transcrição da Carta do Prefeito, em razão da natureza singular do documento pensado e publicado à época.

O Rio de Janeiro tem demonstrado através de sua história uma incrível capacidade de se reinventar. Foi assim com a chegada da família real, com a ida da capital pra Brasília, e com as inúmeras reformas urbanas que modificaram a topografia da nossa cidade. O Aterro do Flamengo, a duplicação da Avenida Atlântica, o Túnel Rebouças, as Linhas Amarela e Vermelha são demonstrações exemplares da capacidade de autocrítica e de reengenharia da cidade. O Rio é responsável pela criação das marcas brasileiras mais conhecidas no mundo: Maracanã, Copacabana, Ipanema, Corcovado, Pão de Açúcar, Samba, Bossa Nova. Sem mencionar a marca Rio, abrigada no imaginário de pessoas no mundo inteiro, e que fala por si só. Ninguém discute

a relevância cultural, econômica e histórica do Rio de Janeiro. Mas nós, que vivemos e fazemos esta cidade, precisamos questionar o presente e a realidade que nos cerca para novamente alimentar os sonhos de um futuro promissor. A expectativa de ser a capital da Copa 2014 e a conquista dos Jogos Olímpicos de 2016 estabelecem um momento oportuno para transformar esses sonhos em ideias, projetos, realizações. A Prefeitura, através do seu Plano Estratégico, propõe um caminho para alcançarmos esse objetivo. E convida a refletir o que somos, o que pretendemos e – mais importante – como podemos juntos, poder público e cidadãos, redesenhar nosso futuro. Não se trata de apresentar à sociedade apenas um documento. Queremos construir juntos os fundamentos de uma nova realidade no Rio de Janeiro. A Prefeitura não pretende apenas orientar e tomar decisões sobre políticas públicas, quer também recuperar seu papel de pensar a cidade, influenciando investimentos e inspirando empresas e pessoas a pensar como agente de mudança. O Rio tem muitas qualidades e enormes desafios. Neste momento, temos diante de nós o dever de enfrentá-los de forma planejada. E a convicção de que podemos vencê-los. É hora de recuperar a maravilhosa ideia de cidade que queremos e podemos ser: o Rio mais integrado e competitivo. (Rio 2009, 7, grifo nosso)

Dentre outras coisas, o Plano apresentava os objetivos centrais e os princípios de atuação do governo, para a cidade do Rio.

Objetivos centrais do governo

 Melhorar a qualidade dos serviços públicos prestados no município.

 Proteger e recuperar o espaço público e os ativos naturais da nossa cidade.

 Garantir maior igualdade de oportunidades para os jovens e as crianças cariocas.

 Estabelecer as condições necessárias para o crescimento econômico sustentável.

 Promover o desenvolvimento de setores estratégicos para a economia carioca.

 Tornar o Rio uma cidade mais integrada do ponto de vista urbanístico e cultural.

 Reduzir os atuais níveis de pobreza e indigência da cidade.

 Posicionar o Rio como importante centro político e cultural no cenário internacional.

Princípios de atuação do governo

 Colocar o cotidiano das pessoas como tema prioritário de governo.

 Assegurar uma gestão profissional de toda máquina municipal.

 Estabelecer uma perfeita integração entre as políticas públicas municipais, estaduais e federais.

 Garantir que os serviços públicos prestados pela Prefeitura tenham o mesmo padrão de qualidade em todas as regiões da cidade.

 Potencializar a capacidade de investimento da Prefeitura através de parcerias com o setor privado e outras esferas de governo.

Em 2012, após ser reeleito para o segundo mandato de quatro anos, Eduardo Paes lançou a segunda versão do Plano Estratégico da Prefeitura do Rio de Janeiro 2013-2016 “Pós 2016: o Rio mais Integrado e Competitivo”, documento composto de 56 metas e 58 iniciativas. Adicionalmente, o documento elenca os novos objetivos centrais do governo (Rio 2012a, 16):

 Evoluir na acessibilidade e na qualidade da prestação dos serviços públicos municipais.

 Transformar a cidade, dotando-a de equipamentos urbanos mais adequados às demandas e ao crescimento da população.

 Valorizar e garantir o uso sustentável do meio ambiente, da paisagem e do patrimônio natural, cultural e histórico no processo de desenvolvimento da cidade.

 Garantir maior igualdade de oportunidades para os jovens e crianças cariocas.

 Contribuir para a formação de um ambiente de negócios altamente competitivo e para o crescimento econômico sustentável.

 Promover o desenvolvimento de setores estratégicos para a economia carioca.

 Tornar o Rio uma cidade mais integrada do ponto de vista urbanístico e cultural.

 Reduzir os indicadores de pobreza na cidade.

 Posicionar o Rio como importante centro político e cultural no cenário internacional. Para se elaborar esse segundo Plano, a Prefeitura adotou postura participativa, por meio de pesquisas de opinião e reuniões com representantes da sociedade civil. Para além de todas as demais prioridades socioeconômicas da cidade, o novo Plano deixou mais explícita a importância do meio ambiente, além de reforçar aspectos competitivos e de promoção internacional do Rio.