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Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4 Ausência de efeitos tóxicos

4.1. Bases conceituais

É possível fazer uma analogia entre seres humanos e cursos de água e usar a “Teoria tridimensional do dano” para avaliar os últimos. Esta analogia permite uma nova organização das propriedades avaliadas usualmente, como as de qualidade físico-química da água e os parâmetros biológicos, e sugere a necessidade de consideração de novas propriedades ligadas à situação e igualmente importantes, mas que foram ignorados até o presente. Uma nova organização é útil também por possibilitar que se evidenciem relações entre propriedades, podendo simplificar novas metodologias e evitar indicadores redundantes, mesmo quando se tratam dos variados efeitos de uma mesma ação.

O que favorece a inclusão de novas propriedades é a definição da dimensão situacional, o que demanda uma visão do curso de água no seu contexto e representa uma evolução para a avaliação de cursos de água. A inclusão da situação como dimensão de avaliação pode ser muito útil na avaliação de cursos de água mesmo que não seja fundamental para a avaliação do estado ecológico.

No contexto deste trabalho pode-se conceituar dimensão como sendo um eixo de avaliação, conforme explicitado no próximo parágrafo; propriedade corresponde a uma qualidade intrínseca ou extrínseca do curso de água ou área adjacente, e, finalmente um indicador seria um signo ou sinal que apresenta informações complexas, eventualmente provenientes de diversas fontes, de forma sintética e simplificada, facilitando sua utilização nas análises, conforme definido no item 3.5.1.

Para a nova abordagem foram criadas definições para dimensões análogas a cada dimensão de Magalhães (1998) no contexto da engenharia de Recursos Hídricos: física, funcional, situacional e cultural. As dimensões física, funcional e situacional são análogas à suas homônimas e a dimensão cultural é análoga ao plano intrapsíquico. As novas definições estão apresentadas nos parágrafos seguintes.

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A dimensão física compreende as características físico-químicas do sistema tratando de sua estrutura e constituição. Visam-se aqui as características físico-químicas da água e dos sedimentos e a forma do curso de água em um estado aproximadamente estável. A avaliação desta dimensão é semelhante a um retrato do curso de água em um dado momento.

A dimensão funcional compreende as ações próprias ou naturais de qualquer curso de água, seja a coleta, transferência, evacuação ou estocagem de águas e matérias minerais ou orgânicas provenientes da erosão superficial, a autodepuração e o suporte à vida aquática e ribeirinha. Esta dimensão está relacionada à dinâmica dos cursos de água e aos processos que nele ocorrem. Exemplos de aspectos que podem ser avaliados nesta dimensão são a estrutura da fauna e flora e a hidrologia.

A dimensão situacional compreende os aspectos que relacionam características do curso de água às características do meio no qual ele está inserido, tendo em vista os seus potenciais de uso econômico, as situações de vulnerabilidade proporcionadas pelos impactos e possíveis impactos provocados por ações no trecho estudado, fora deste trecho. Aqui os aspectos sócio- econômicos e a relação entre a sociedade e o curso de água são importantes. Avalia-se a importância do curso para seu meio. Um aspecto pertinente dessa dimensão é a sua ligação com o tempo, por isso é sempre bom ter uma referência temporal bem definida ao se fazer a avaliação, já que as demandas podem mudar ao longo do tempo.

A dimensão cultural, análoga ao plano intrapsíquico de Magalhães, compreende os aspectos culturais associados ao curso de água, ou seja, aquilo que envolve o complexo de padrões de comportamentos, crenças, instituições, manifestações artísticas e intelectuais transmitidas coletivamente e típicas de uma sociedade (FERREIRA, 1993). Também no caso dos cursos de água, a avaliação desta dimensão é difícil e o tema não será abordado com mais profundidade neste trabalho. Ressalta-se que a reflexão sobre os aspectos culturais representaria mais uma evolução no campo da avaliação de cursos de água e que mesmo não sendo aprofundada, ela é pertinente e sua existência é evidente principalmente no caso de cursos urbanos, onde a população encontra-se mais concentrada, em sítios históricos e outros.

Além das dimensões, também é preciso definir escalas de avaliação espacial e temporal. Quanto à escala espacial, só se avalia o impacto no rio, porém é interessante que o estudo seja feito na escala da bacia, que deve ser analisada integralmente, pois existe uma grande variedade de fatores envolvidos nos impactos e estes fatores podem estar presentes em toda a

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bacia. Um exemplo disso é a questão hidrológica. Além disso, é importante verificar se o impacto no trecho estudado tem consequências a montante e a jusante do trecho.

No que diz respeito à escala temporal, para se estabelecer qual foi o impacto, é importante definir qual é a condição de referência que deverá ser comparada à situação impactada. Como já foi dito, é difícil definir um rio natural e podem não haver dados sobre a condição pristina e por isso é muito importante que se tenha cuidado na escolha da referência. A referência temporal bem determinada é importante, principalmente para as dimensões situacional e cultural, pois as necessidades associadas ao curso e a forma como ele é percebido podem mudar muito ao longo do tempo.

Com base nestas considerações, a Figura 6 mostra as dimensões cuja sistemática de análise está sendo proposta neste trabalho, e suas propriedades componentes.

Figura 6: Componentes de cada dimensão da “Teoria tridimensional do dano” aplicada a cursos de água

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