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Para melhor compreensão do objeto de estudo deste trabalho, escolhemos como referência o materialismo histórico dialético. O materialismo histórico segundo Trivinos (1987), é a ciência filosófica do marxismo que estuda as leis sociológicas que caracterizam a vida da sociedade, de sua evolução histórica e da prática social dos homens, no desenvolvimento da humanidade. O materialismo histórico significou uma mudança fundamental na interpretação dos fenômenos sociais que, até o nascimento do marxismo, se apoiava em concepções idealistas de sociedade humana. Marx e Engels

34 colocaram pela primeira vez, em sua obra A ideologia alemã (1845-46), as bases do materialismo histórico. Nela criticam os jovens Hegelianos e Feuerbach, que acham ainda que a história era resultado das ideologias e da presença dos “heróis”, ao invés de buscar nas formações socioeconômicas e nas relações de produção os fundamentos verdadeiros das sociedades. O materialismo histórico ressalta a força das ideias, capaz de introduzir mudanças nas bases econômicas que as originou. 1987.

Tal escolha deve-se ao fato de que essa concepção filosófica nos dará a oportunidade de desenvolver nossas investigações acerca da temática humana a partir do movimento imanente da história como produto das relações entre os homens em um dado estágio da produção de sua vida material. Assim, este trabalho investigativo pretende conhecer seu objeto a partir de sua concretude histórica e material.

[...] até as categorias mais abstratas, precisamente por causa de sua natureza abstrata, apesar de sua validade para todas as épocas, são, contudo, na determinidade dessa abstração, igualmente produto de condições históricas e não possuem plena validez senão para essas condições e dentro dos limites destas (MARX, 1999, p.43).

Assim sendo, segundo Mondolfo (1967), não se trata de um método materialista e sim de um verdadeiro humanismo, que coloca no centro de toda a discussão, o conceito de homem. Além disso, considera-o dentro de sua realidade efetiva e concreta, no intuito de compreender a existência dele na história, a qual é compreendida como realidade produzida pelo homem, por meio de seu trabalho e de sua inserção social no processo de formação e transformação do ambiente no qual se vive.

Para Marx, só importa uma coisa: descobrir a lei do fenômeno de cuja investigação ele se ocupa. E para ele é importante não só a lei que os rege, à medida que eles têm forma definida e estão numa relação que pode ser observada em determinado período de tempo. Para ele o mais importante é a lei de sua modificação, de seu desenvolvimento, isto é, transição de uma forma para outra, de uma ordem de relações para outra. Uma vez descoberta essa lei, ele examina detalhadamente as conseqüências [sic] por meio das quais ela se manifesta na vida social [...]. Por isso, Marx só se preocupa com uma coisa: provar mediante escrupulosa pesquisa cientifica a necessidade de determinados ordenamentos de relações sociais e, tanto quanto possível, constatar de modo irrepreensível os fatos que lhes servem de ponto de partida e de apoio (FRIGOTTO, 2010, p.86).

Analisando a assertiva de Frigotto (2010), podemos observar que a dialética materialista apresenta-se, ao mesmo tempo, como uma postura, um método de investigação e uma práxis, um movimento de superação e de transformação. De acordo

35 com esse autor, há um tríplice movimento: de crítica, de construção do conhecimento novo e da nova síntese no plano do conhecimento e da ação.

Enquanto método de investigação é na prática que os homens devem demonstrar a veracidade do pensamento, pois o critério de verdade da teoria está no seu caráter prático. Dessa forma, o conhecimento produzido através da compreensão da totalidade do fenômeno investigado deve apresentar elementos que contribuam para a compreensão e intervenção no real, efetivando, assim, o seu caráter prático.

De modo geral concorda-se com esse pensamento, pois é através da articulação entre reflexão teórica e inserções empíricas que se é capaz de recolher a matéria em suas múltiplas dimensões. De outro modo, enquanto práxis, o materialismo histórico dialético assume o pressuposto que a teoria é indissociável da prática, instaura-se como movimento crítico de desenvolvimento de conhecimento crítico que visa à alteração e transformação da realidade investigada, tanto no plano do conhecimento quanto no plano histórico-social. Dessa forma, a reflexão teórica sobre a pseudoconcreticidade investigada deve gerar ação transformadora. De fatos empíricos e reais a leis fundamentais, ao concreto de fato. Nessa ótica, a práxis é ação refletida e, assim, critério de verdade.

Gamboa (2010) corrobora nesse raciocínio ao afirmar que o conhecimento científico não é inócuo a uma determinada visão da realidade, com isso um método investigativo de pesquisa também não o é. No campo acadêmico, a escolha de um método de análise não se justifica por si só, pois mantém uma estreita relação com a visão de mundo que possuímos, assim sendo, escolher um método, significa optar por uma determinada classe social e os interesses dela.

Contudo, a escolha pela concepção do materialismo histórico dialético, enquanto método de análise, significa a compreensão por parte do pesquisador que a realidade não se apresenta finalizada e sim em transformação. Os métodos de pesquisa são determinados por diferentes concepções da realidade e de sujeito e, por isso, não se explicam por si só, nem são isolados dos contextos cognitivos, nem são abstrações e nem são neutros.

O método de análise, na perspectiva dialética materialista, não se constitui na ferramenta asséptica, uma espécie “de metrologia” dos fenômenos sociais, que aqui denomino de metafísica é tomada como garantia da “cientificidade, da objetividade e da neutralidade”. Na perspectiva materialista histórica, o método está vinculado a uma concepção de realidade, de mundo e de vida no seu conjunto. A

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questão da postura, neste sentido, antecede o método. Este constitui-se em uma espécie de mediação no processo de apreender, revelar e expor a estruturação, o desenvolvimento e transformação dos fenômenos sociais (FRIGOTTO, 2010, p.84).

Nessa perspectiva, antes de respondermos à questão fundamental – que sinaliza a natureza do processo dialético de conhecimento como concepção – é necessário colocarmos qual é o entendimento que temos da realidade social. Sendo assim, situamos este trabalho a partir do materialismo histórico dialético, visto que ele nos dará a possibilidade de irmos à raiz das determinações e leis mais fundamentais do fenômeno. Isso também considerando que a temática relacionada à EaD está inserida em um todo estruturado, em um universo social, com suas contradições, movimentos e conflitos; e desse modo será imprescindível a compreensão da realidade como suporte para ser racionalmente interpretada.

Feitas essas considerações, importa indicar os procedimentos que, efetivamente, permitiram a operacionalização da pesquisa. São eles: consulta a acervos de bibliotecas para a identificação das fontes de dados; seleção, revisão, análise da produção acadêmica e dos documentos levantados; e estudo dos referenciais metodológicos a serem adotados.

Estrutura da tese:

Com o intuito de atender aos fins desta pesquisa, ela foi estruturada em três capítulos e a conclusão, porém antecedidos pela apresentação do tema, dos objetivos geral e específicos, justificativa e descrição dos procedimentos metodológicos utilizados.

No primeiro capítulo discutiremos o trabalho no contexto da reestruturação produtiva do mundo laborativo em relação ao avanço das tecnologias. No segundo capítulo faremos um breve retrospecto histórico da EaD no Brasil, bem como seus marcos legais na constituição brasileira. Em seguida será realizada uma discussão sobre o trabalho dos atores envolvidos no processo de EaD, com ênfase na atividade do tutor no contexto das novas tecnologias, com foco sobre os conhecimentos, o papel e as competências exigidas dele. Já no terceiro capítulo realizaremos a análise e a problematização dos dados empíricos referentes ao trabalho do tutor do curso de Pedagogia a Distância, oferecido pela Faced/UFU. Por fim, apresentaremos a conclusão alcançada com a realização da pesquisa e sugestões para estudos futuros nesta área.

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2. O TRABALHO NO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA: O