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O TRABALHO DO TUTOR NO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA: O AVANÇO DAS TECNOLOGIAS E A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇAO EM EDUCAÇAO

ALÍCIA FELISBINO RAMOS

O TRABALHO DO TUTOR NO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO

PRODUTIVA: O AVANÇO DAS TECNOLOGIAS E A EDUCAÇÃO A

DISTÂNCIA NO BRASIL

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ALÍCIA FELISBINO RAMOS

O TRABALHO DO TUTOR NO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO

PRODUTIVA: O AVANÇO DAS TECNOLOGIAS E A EDUCAÇÃO A

DISTÂNCIA NO BRASIL

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito para a obtenção do título de Doutor em Educação.

Área de Concentração: Trabalho, Sociedade e Educação.

Orientador: Prof. Dr. Robson Luiz de França

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil.

R175t

2017 Ramos, Alicia Felisbino, 1984- O trabalho do tutor no contexto da reestruturação produtiva : o avanço das tecnologias e a educação a distância no Brasil / Alicia Felisbino Ramos. - 2017.

198 f. : il.

Orientador: Robson Luiz de França.

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-Graduação em Educação.

Inclui bibliografia.

1. Educação - Teses. 2. Ensino Superior - Teses. 3. Ensino a distância - Teses. 4. Preceptores - Teses. I. França, Robson Luiz de. II. Universidade Federal de Uberlândia. Programa de Pós-Graduação em Educação. III. Título.

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or e por lia, por AGRADECIMENTOS

A concretização deste trabalho não teria sido possível sem a colaboração e empenho de diversas pessoas. Quero aqui expressar toda a minha gratidão e apreço a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para que ele se tornasse realidade. A todos a minha mais sincera gratidão!

Neste momento de tanta alegria para mim e para aqueles que me querem bem, a única coisa que me entristece – e muito – é saber que meu Paizinho não está aqui presente para comemorar mais esta vitória comigo. Meu Paizinho, que me viu entrar mais para o curso de doutorado, mas não me verá sair. De qualquer forma, agradeço a Deus por ter-me proporcionado a alegria de conviver anos bem vividos ao lado desta pessoa maravilhosa que foi meu pai e que Deus o recolheu no dia 16 de setembro de 2016. Paizinho, espero que em algum lugar, um dia possamos nos abraçar novamente. Amá-lo-ei para sempre!

A Deus, autor e sustentador da minha vida, por sempre me conceder sabedoria nas escolhas dos melhores caminhos, coragem para acreditar, força para não desistir e proteção para me amparar.

À minha grande família, especialmente aos meus pais. Digo “pais”, pois apesar do

falecimento do meu querido e tão amado Paizinho, sei que de onde ele estiver, está olhando por mim e comemorando este dia tão especial. Gratidão a essa família maravilhosa que tenho, sempre solidária, carinhosa e atenciosa. Agradeço vocês por diversas vezes suportarem meus desequilíbrios, meus surtos, minha presença ausente e minha ausência de fato. Na falta de palavras que traduzam com clareza tudo que quero dizer neste momento, deixo registrada aqui toda a minha gratidão por tudo e por um pouco mais.

Mãezinha querida, à senhora dedico toda a minha gratidão por seus sacrifícios para me oferecer o melhor, pelo amor, pela a arte de cuidar; mesmo estando longe, sempre arruma um jeitinho de demonstrar afeto nas palavras de incentivo e carinho, que são muito significativas em minha vida.

Reginaldo e Alexandra, meus irmãos queridos, gratidão a vocês pelo apoio, am serem verdadeiros companheiros mesmo a distância. Gratidão, minha famí simplesmente existirem em minha vida!

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orientou, apoiou, aconselhou, instigou e, principalmente, sempre acreditou na minha capacidade de trabalho, mesmo quando eu mesma duvidava. Ensinou-me que é possível primar pelo rigor científico e pela excelência de um trabalho acadêmico, sem perder a amorosidade e a preocupação sincera com o desenvolvimento do ser humano. Gratidão por me acompanhar em mais essa caminhada. Espero que a vida acadêmica nos permita muitas outras parcerias.

Ao professor Doutor Carlos Alberto Lucena e a professora Doutora Diva Souza Silva pelas ricas contribuições feitas durante o exame de qualificação. Gratidão pelos questionamentos e sugestões tão pertinentes que permitiram reencaminhamentos desta pesquisa, novas descobertas e compreensões que culminaram na tese aqui apresentada.

Ao professor Doutor Bento Souza Borges e ao professor Doutor Cílson César Fagiani que gentilmente aceitaram participar da defesa desta tese e que certamente trará valiosas contribuições.

Gratidão aos amigos que caminharam comigo, que me apoiaram e que sempre estiveram ao meu lado durante esta longa caminhada.

Agradeço também à Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia, casa que me abrigou desde a graduação e da qual tenho imenso orgulho de ter feito parte.

A todos os professores que fizeram parte da minha formação, fica aqui minha eterna gratidão pela oportunidade de aprendizagem e interlocuções estabelecidas e pela grande contribuição em minha formação acadêmica e pessoal.

Aos funcionários da Secretaria do Programa de Pós-Graduação pelo suporte e atendimento sempre generoso e cordial.

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DEDICATÓRIA

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RESUMO

Esta pesquisa discute como se tem configurado o trabalho dos tutores de cursos de educação à distância, levando em consideração a experiência vivida como tutora no curso de Pedagogia nessa modalidade da Universidade Federal de Uberlândia. Partimos da tese de que o trabalho do tutor sofreu profundas alterações no contexto da reestruturação produtiva e também foi impactado pelo avanço das tecnologias, principalmente no campo da educação a distância, sem o devido respaldo de regulamentação, plano de carreira e salários, resultando em profunda exploração do trabalho desse trabalhador. Esse profissional, que era considerado como apenas uma figura de apoio ao trabalho do professor, atualmente, como este estudo demonstra, criou importância fundamental no processo, a qual não foi acompanhada da valorização de carreira e de salário, bem como ausente qualquer regulamentação profissional. Acrescenta-se a exploração dessa categoria pelo capital, uma vez que esse trabalhador acumulou diversas atribuições muito além das configurações tradicionais por um lado e por outro a exploração dessa mão de obra revela-se na necessidade de aumento de lucratividade no campo da educação a distância. A importância deste estudo decorre da percepção de que, nos últimos anos, as implantações de cursos de graduação na modalidade a distância, em diversas instituições públicas de ensino, trouxeram à tona questões importantes relacionadas à figura do tutor. Sendo uma atividade nova, o tutor precisa acumular saberes relacionados ao ensino e também dominar as tecnologias de informação, os softwares, ferramentas e programas utilizados, a linguagem específica para o público em questão, eficiência na correção de provas e trabalhos. O estudo analisa a importância desse trabalho do tutor no processo de ensino-aprendizagem e fundamenta sua função nessa modalidade de ensino para conhecer e valorar seu trabalho, além de problematizar as condições vividas por esse profissional no exercício de suas atividades. Pensar nas dimensões do trabalho que vem sendo realizado pelo tutor e vislumbrar sua contribuição para o bom desenvolvimento do curso suscita vários questionamentos que são respondidos pelo estudo do trabalho no contexto da reestruturação produtiva com o avanço das tecnologias e o significado do trabalho do tutor nesse contexto, a partir dos anos de 1990. Assim, subtemas exploram o percurso de formação, qualificação e acúmulo de conhecimentos compõem o perfil do profissional que assume a tutoria nos cursos a distância; os requisitos publicados em editais e como tem sido o processo de seleção dos tutores; o trabalho e as atribuições exigidas do tutor; como está dimensionado o trabalho do professor e do tutor nos cursos à distância; como, quando e por quem o trabalho do tutor é avaliado; e à qual categoria profissional trabalhista o tutor está associado. Assim, o conteúdo desta tese foca-se no tratamento teórico dado às questões do trabalho em geral e do trabalho do tutor tanto no contexto da reestruturação produtiva brasileira, observada a partir dos anos de 1990, quanto na formalização do processo de educação a distância. Finaliza-se apontando que por ser uma atividade nova, a tutoria a distância está inserida em um processo complexo e com necessidade de revisões das condições de trabalho, de remuneração e vínculo dos profissionais com as instituições que trabalham.

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ABSTRACT

This research discusses how the work of the tutors of distance education courses has been configured, taking into account the experience lived as tutor in the course of Pedagogy in this modality of the Federal University of Uberlândia. We start from the thesis that the work of the tutor underwent profound changes in the context of productive restructuring and was also impacted by the advance of technologies, especially in the field of distance education, without the proper support of regulation, career plan and salaries, resulting in profound Exploitation of that worker's work. This professional, who was considered as just a figure in support of the work of the teacher, today, as this study demonstrates, created fundamental importance in the process, which was not accompanied by the valorization of career and salary, as well as absent any professional regulation. The exploitation of this category by capital is added, since this worker has accumulated several functions far beyond the traditional configurations on the one hand and on the other, the exploitation of this workforce reveals the need for increased profitability in the field of distance education . The importance of this study stems from the perception that, in recent years, the implantation of undergraduate courses in the distance modality, in several public educational institutions, raised important questions related to the figure of the tutor. Being a new activity, the tutor needs to accumulate knowledge related to teaching and also master the information technologies, software, tools and programs used, language specific to the public in question, efficiency in proofreading and work. The study analyzes the importance of this work of the tutor in the teaching-learning process and bases its function in this modality of teaching to know and value his work, besides problematizing the conditions lived by this professional in the exercise of his activities. Thinking about the dimensions of the work being done by the tutor and glimpsing their contribution to the good development of the course raises several questions that are answered by the study of the work in the context of productive restructuring with the advancement of technologies and the meaning of the work of the tutor in this context , Starting in the 1990s. Thus, sub-themes explore the training, qualification and accumulation of knowledge that compose the profile of the professional who takes the tutoring in distance courses; The requirements published in edicts and how has been the process of selection of tutors; The work and assignments required of the tutor; How the work of the teacher and the tutor in the distance courses is dimensioned; How, when and by whom the work of the tutor is evaluated; And to which professional category the tutor is associated. Thus, the content of this thesis focuses on the theoretical treatment given to the issues of work in general and the work of the tutor both in the context of the Brazilian productive restructuring observed since the 1990s and in the formalization of the process of distance education. It ends by pointing out that because it is a new activity, distance learning is embedded in a complex process, with the need for revisions of working conditions, remuneration and links between professionals and working institutions.

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LISTA DE QUADROS E TABELA

QUADRO 1: Gerações da Educação a distância. ... 80

QUADRO 2: Resumo da Equipe dos profissionais nos cursos de EaD e suas descrições ... 96

QUADRO 3: Valores das bolsas estipulados pela UAB ... 110

QUADRO 4: Cursos de Graduação a Distância em andamento ou concluídos da Universidade Federal de Uberlândia em 2015. ... 122

QUADRO 5: Cursos de Aperfeiçoamento a Distância ... 122

QUADRO 6: Cursos de Pós-Graduação a Distância ... 123

QUADRO 7: Cursos de Extensão a Distância... 123

QUADRO 8: Motivos apontados para a desistência do curso. ... 128

QUADRO 9: Agenda das atividades do Tuor a Distancia no curso de Pedagogia a Distância da Faced/UFU - PARFOR ... 139

QUADRO 10: Orientações para o acompanhamento do Ambiente pelos Tutores a Distância/Faced/UFU. ... 139

QUADRO 11: Agenda das atividades do Tutor a presencial no Curso de Pedagogia a Distância da Faced/ UFU – Turma Parfor ... 141

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1: Número de Instituições de Educação Superior de graduação a distância por categoria administrativa – Brasil 2002-2012. ... 89 GRÁFICO 2: Evolução da matrícula na educação superior por modalidade de ensino – Brasil 2003-2014. ... 90 GRÁFICO 3: Instituições que apresentaram aumento de matrículas, por categoria

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LISTA DE SIGLAS

Abed _ Associação Brasileira de Educação a Distância AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem

Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Cead – Centro de Educação a Distância

Consum – Conselho Universitário

Ctasp – Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público CUT – Central única Dos Trabalhadores

EaD – Educação a Distância

Faced/UFU – Faculdade de Educação da Federal de Uberlândia Fiesp – Federação das Indústrias de São Paulo – Fiesp

FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação IES – Instituição de Ensino Superior

Ifes – Instituições Federais de Ensino

Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira Ipes – Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais

LDBEN – Lei de Diretrizes de Base da Educação Nacional MEC – Ministério da Educação e Cultura

MEB – Movimento de Educação de Base NeaD – Núcleo de Educação a Distância

Parfor – Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica PIB – Produto Interno Bruto

PT – Partido dos Trabalhadores

Seed – Secretaria de Educação a Distância SNA – Sistema Nacional de Aprendizagem

TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação UAB – Universidade Aberta do Brasil

UFU – Federal de Uberlândia UnB – Universidade de Brasília

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1INTRODUÇÃO ... 13

Contextualização e justificativa da pesquisa ... 22

Memórias da pesquisadora ... 23

Origem: quem não sabe de onde vem não sabe para aonde vai ... 23

A graduação: um novo olhar a cada dia ... 25

Mestrado: exercício pessoal de encontro profissional ... 27

Doutorado: perspectivas de estudo e pesquisa ... 28

A experiência como Tutora a Distância ... 28

Problemática da pesquisa ... 30

Objetivos ... 32

Objetivo Geral ... 32

Objetivos Específicos ... 33

Metodologia ... 33

1.4.1 Bases teórico-metodológicas da pesquisa ... 33

Estrutura da tese ... 36

2. O TRABALHO NO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA: O AVANÇO DAS TECNOLOGIAS ... 37

Conceituações teóricas sobre a concepção de trabalho ... 37

O trabalho na sociedade capitalista ... 40

Mudanças no mundo do trabalho e a reestruturação produtiva ... 43

A reestruturação produtiva no Brasil... 55

A reestruturação produtiva brasileira a partir dos anos de 1990 ... 59

Formação do trabalhador no contexto da reestruturação produtiva ... 63

3 O SIGNIFICADO DO TRABALHO DO TUTOR NO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DO MUNDO DO TRABALHO EM RELAÇÃO AO AVANÇO DAS NOVAS TECNOLOGIAS. ... 69

Profissão docente e os desafios com as novas tecnologias da informação ... 69

Breve contexto histórico da EaD no Brasil ... 80

A legislação brasileira de Educação a Distância ... 84

A EaD e seus atores no contexto da Universidade Aberta do Brasil ... 94

4 TRABALHO DOCENTE E TUTORIA NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL: A EaD NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA ... 99

Educação a Distância na UFU ... 119

O curso de Pedagogia a Distância na Universidade Federal de Uberlândia... 124

A Tutoria no Curso de Pedagogia a Distância da Universidade Federal de Uberlândia...131

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 143

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ANEXO 1 ... 168

ANEXO 2 ... 180

ANEXO 3 ... 186

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1 INTRODUÇÃO

E não me esquecer, ao começar o trabalho, de me preparar para errar [...]. Meu erro, no entanto, devia ser o caminho de uma verdade: pois só quando erro é que saio do que conheço e do que entendo. Se a verdade fosse aquilo que posso entender - terminaria sendo apenas uma verdade pequena, do meu tamanho (LISPECTOR, 1978, p.46).

As categorias trabalho, educação e sociedade compõem as dimensões temáticas que abarcam a proposta investigativa desta pesquisa, cujo objetivo é analisar como se tem configurado a tarefa dos tutores de cursos a distância, a partir de resultados que tiveram como universo de investigação o curso de Pedagogia a Distância da Universidade Federal de Uberlândia.

É consenso geral que a importância da Educação a Distância – EaD1 torna-se

cada vez mais evidente, uma vez que é impulsionada pelas tecnologias de informação e comunicação, passando a ser muito utilizada e aceita em todo o mundo. A relevância dessa modalidade de ensino aumenta à medida que novas camadas da população buscam educar-se ou atualizar-se profissionalmente para acompanhar as rápidas mudanças e transformações nos campos do saber como forma alternativa e complementar para a formação humana.

Desse modo, a EaD faz parte das iniciativas pedagógicas previstas nas políticas públicas educacionais brasileiras e, até chegar ao modelo atual, ganhou várias

conceituações. Segundo Moran (2002, p.1), “EaD é o processo de ensino-aprendizagem,

mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou

temporalmente”. Ele prossegue:

EaD é ensino-aprendizagem onde professores e alunos não estão normalmente juntos, fisicamente, mas podem estar conectados, interligados por tecnologias, principalmente as telemáticas, como a internet. Mas também podem ser utilizados o correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o telefone, o fax e tecnologias semelhantes (MORAN, 2002, p.1).

1 De acordo com Landim (1997), Ensino a Distância e Educação a Distância são termos usados,

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Examinando o raciocínio desse autor, consideramos a EaD uma modalidade de ensino que é um caminho a mais para que as pessoas, independentemente de sua condição social e econômica, possam ter acesso à informação e também à educação, à medida que os sistemas digitais são utilizados para democratização e construção do saber.

A questão tem preocupado outros pesquisadores e especialistas. Para Souza (2004), a educação na modalidade a distância não está centrada no aluno ou no professor, pois diferentes sujeitos participam e estão envolvidos no mesmo processo, fazendo uso de diversos recursos e meios. Sendo assim, na EaD, além do professor responsável pela elaboração do material e acompanhamento do curso e do pessoal técnico administrativo, está presente também o tutor, figura de suma importância para o sucesso no processo de ensino-aprendizagem do aluno.

Por sua vez, Belloni (2003) lembra que nas primeiras experiências em EaD, quando os cursos eram oferecidos por correspondência, o ensino se inspirava no modelo fordista de divisão de tarefas, baseadas na transmissão de informação e calcadas no cumprimento de objetivos. De acordo com ele:

O aluno estudava por módulos instrucionais, que tinham a função de ensinar. Nesse modelo, a figura do tutor era praticamente inexistente e sem muito valor, já que ele desempenhava apenas o papel de

“acompanhante” do processo de aprendizagem do aluno. Esse modelo

de ensino repercutiu muito negativamente na aceitação da EaD, porque eram identificados, em seus processos, os elementos do modelo fordista da produção industrial (BELLONI, 2003. p.43).

Esse modelo também se transformou. Segundo constata Maggio (2001), a partir da década de 1980, acompanhando as mudanças sociais, novas concepções pedagógicas de ensino e aprendizagem passam a influenciar projetos e programas na modalidade a distância. A ênfase que era dada à transmissão de informação e ao cumprimento de objetivos foi substituída pelo apoio à construção do conhecimento e aos processos reflexivos. Surgiu a ideia de tutor como sendo aquele que dá apoio à construção do conhecimento, concepção aceita também por outros pensadores, tal como Sathler (2008):

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discentes, seja em grupos organizados para realização de tarefas ou nas trocas individuais de informações (SATHLER, 2008, p. 8).

Nesse sentido, a tutoria passa a ser considerada como um dos fatores fundamentais para o bom desempenho do aluno. Assim, o tutor tem sido objeto de estudo de diversos autores e, de acordo com as concepções pedagógicas do curso no qual ele está envolvido, recebe variadas denominações, tais como: orientador, professor, facilitador da aprendizagem, tutor-orientador, tutor-professor, e até mesmo animador de rede. Mesmo assim, o perfil de trabalho do tutor ainda não está completamente configurado e, nessa indeterminação de funções, o professor é quem tem ocupado esse lugar (BELLONI, 2003).

Entre as várias denominações pelas quais o tutor é conhecido, os estudiosos da área tentam estabelecer diferenças que possam melhor defini-lo. Para Litwin (2001), a diferença fundamental entre o professor da educação presencial e o tutor é mais institucional do que pedagógica, embora possam ser observadas consequências pedagógicas importantes nessa relação. Sendo assim, vale destacar que há diferenças entre professor e docente, pois embora as atividades de tutoria constituam-se como docência, o trabalhador-tutor não pode ser chamado de professor pelo fato de não haver aula propriamente dita na EaD, mas segundo Litwin (2001, p. 91), o tutor é

“legitimamente um docente”.

Essa autora aprofunda o tema afirmando:

Quem é um bom docente será também um bom tutor. Um bom docente cria propostas de atividades para a reflexão, apoia sua resolução, sugere fontes de informação alternativas, oferece explicações, facilita os processos de compreensão; isto é, guia. orienta, apoia, e nisso consiste o seu ensino. Da mesma forma, o bom tutor deve promover a realização de atividades e apoiar sua resolução, e não apenas mostrar a resposta correta; oferecer novas fontes de informação e favorecer sua compreensão. Guiar, orientar e apoiar devem se referir à promoção de uma compreensão profunda, e estes atos são responsabilidade tanto do docente no ambiente presencial como do tutor na modalidade a distância (LITWIN, 2001, p. 99).

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prática dos espaços tutoriais.

De acordo com Mill, Santiago e Viana (2008), apesar de se entender o papel realizado pelo tutor como uma função docente, na prática existe uma separação entre os que elaboram e os que executam o curso. Assim, a tendência é uma menor valorização dos tutores e tal fato implica em uma fragmentação do trabalho, ressaltando características que são especificas do modelo taylorista2.

Na EaD, a elaboração do material didático, a avaliação da aprendizagem, o acompanhamento das atividades, dentre outras, são algumas das muitas etapas do processo educacional, sendo que cada uma delas fica sob a responsabilidade de um profissional. Tais separações trazem algumas implicações, geralmente negativas, inerentes ao taylorismo e fordismo.

Assim, essa separação cria distinções entre os profissionais envolvidos nos cursos de EaD: os tutores fazem parte do processo ao mediar a elaboração do conhecimento a partir da interação do cursista com o ambiente do curso e o conteúdo; os professores conteudistas realizam outra parte do processo planejando o processo de aprendizado do aluno e suas etapas de contato com os conteúdos do curso; e outros profissionais também participam do processo oferecendo suporte técnico, participando nas atividades avaliativas, promovendo webconferências. Nesse sentido é evidente a separação de cunho taylorista entre quem pensa e quem executa as atividades na EaD (MILL, 2006).

O trabalho realizado tanto pelo docente quanto pelo tutor na EaD tem características específicas dentre as quais pode ser destacada a flexibilização de espaço e tempo. O acompanhamento de um curso a distância exige desses profissionais uma enorme disponibilidade de tempo, que será dedicado: à leitura do material; envio de orientações aos alunos; acompanhamento das atividades dos alunos no Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA, no qual o curso se realiza; interação nos fóruns; avaliação e devolução de atividades; além uma motivação particular, para manter o interesse dos alunos pelo curso.

2 O modelo taylorista visa à racionalização dos processos na empresa capitalista, aumentando a produção

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Particularmente, a modalidade de Educação a Distância (EaD), que está em grande expansão no Brasil, tem levado a uma alteração mais profunda no exercício da profissão docente, porque muda significamente o modo de relacionamento do professor com o trabalho. Nesta, mas também na educação presencial mediada por tecnologias digitais, tem ocorrido: maior intensificação do trabalho (fazer mais em menos tempo, ter mais alunos por professor); extrapolação dos limites espaciais e temporais para o exercício do trabalho (invasão de espaços e tempos não regulamentados como lugares e jornada escolares); alterações na relação com o conhecimento, com o processo de ensino-aprendizagem e com as dinâmicas de interação professor- aluno (MACHADO; MACHADO, 2008, p.61-62).

Para Fidalgo e Neves (2008), a maior parte das atividades nos cursos de EaD é realizada na própria casa do docente ou do tutor, fator que contribui para a precarização do trabalho, pois proporciona uma intensificação dele sem a valorização e remuneração condizentes dos profissionais. Por outro lado, a ausência de regulamentação profissional impossibilita qualquer garantia em termos de direitos e deveres que fazem parte do processo de profissionalização. Esses autores afirmam também que o trabalho realizado pelo docente na EaD possui especificidades, principalmente no que se refere ao controle do docente em relação ao seu trabalho e também da instituição que o contrata. A contradição explícita que é a divisão entre concepção e execução do trabalho pedagógico, que em muito se aproxima do modelo taylorista e fordista, ao mesmo tempo em que se assemelha de maneira significativa com o modelo flexível de produção, quando se considera a utilização das tecnologias como mediadora do processo de trabalho. Fidaldo e Neves (2008) argumentam que o próprio debate sobre o que é ser tutor e professor na EaD denuncia a fragmentação do processo.

Essas duas categoria de profissionais demonstram claramente o processo fragmentado do trabalho nessa modalidade, com enorme similaridade ao modelo Taylor-fordista, e que traz no formato do discurso pós-moderno as concepções conceituais de autonomia, tomada de decisão, trabalho em equipe e flexibilização do trabalho mediante as tecnologias, que na realidade pouco se configuram na atividade específica da docência virtual, já que existe a fragmentação do trabalho, com praticamente nenhuma autonomia do tutor, e trabalho isolado. O aspecto mais enfatizado é a flexibilização do trabalho, que remete a outras questões relativas aos tempos e espaços de trabalho, que nem sempre significa conquista, mas na maioria das vezes precarização ainda maior da atividade, uma vez que o sujeito deixa de ter um espaço definido de trabalho, realizando as atividades no espaço doméstico (FIDALGO; NEVES, 2008, p.5-6).

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às mutações sócio-técnicas no processo produtivo e na organização social do trabalho. A flexibilização e a desregulamentação dos direitos, bem como a terceirização e as novas formas de gestão da força de trabalho, implantadas no espaço produtivo, estão em curso acentuado e presentes em grande intensidade. Isso indica que o fordismo aparece ainda dominante em vários ramos produtivos e de serviços. Quando se olha o conjunto da estrutura produtiva, ele, cada vez mais, mescla-se fortemente com novos processos produtivos, em grande expansão, consequência dos mecanismos próprios oriundos da acumulação flexível e das práticas toyotistas que foram e estão sendo fortemente assimiladas no setor produtivo brasileiro (ANTUNES, 2004).

A regulamentação do trabalho subordinado do professor, está prevista nos artigos 317 a 324 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (BRASIL, 1943). De acordo com Machado e Machado (2008), a atual legislação trabalhista não traz mecanismos de proteção dos profissionais envolvidos na EaD. Tem ocorrido, inclusive, o equívoco de transferir o modelo presencial para a modalidade a distância na gestão do trabalho docente. Os diversos profissionais da EaD

Vendem sua força de trabalho de uma forma distinta do trabalhador convencional. Este novo grupo, conta com a possibilidade de conciliar duas jornadas de trabalho, uma formal com vínculo empregatício (geralmente a sua primeira e oficial fonte de renda, com tempos e espaços demarcados) e o teletrabalho que possui uma variedade de vínculos empregatício que podem ser precários ou não (contrato por curso, por aula, por material didático, por CLT ou como autônomo). Como o trabalho é virtual, há a possibilidade de trabalhar em tempos e espaços distintos determinados pelo trabalhador, desde que o mesmo tenha acesso à internet e a computadores (SILVA, 2013, p.6).

Também nesse sentido, o teletrabalho docente, segundo Alves (2014), é um campo novo de estudo. Há falta de uma disciplina específica para a relação de emprego do teletrabalhador docente, em especial no que toca aos seus direitos trabalhistas. Com isso, Tribunais Regionais do Trabalho têm sido favoráveis em relação ao teletrabalho, como exemplo, o de Minas Gerais, que assim entende o tema:

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envolvia execução de atividade especializada com o auxílio da informática e da telecomunicação3 (MINAS GERAIS, 2010, p. 201).

Pelos estudos feitos por esta pesquisa, pode-se ponderar que falta regulamentação para o teletrabalhador docente4, que verse sobre carga horária e jornada

de trabalho, números de alunos a serem atendidos, horários para os atendimentos, contratos de trabalho, remuneração considerando, inclusive, as despesas extras decorrentes do uso de equipamentos e instalações domésticos, atenção pedagógica e proteção contra danos à saúde. Nesse sentido, Silva (2010) confirma que

Embora a educação a distância esteja regulamentada num plano mais geral, ela carece de regulamentação em termos trabalhistas. Os sindicatos ainda se posicionam de forma vacilante no que tange à defesa dos direitos trabalhistas dos profissionais envolvidos neste processo. É necessária a difusão dos problemas trabalhistas que os profissionais que atuam na educação a distância têm sofrido para conhecimento de toda a sociedade. É necessário também a regulamentação dessa nova modalidade de trabalho, de forma que não cause malefícios para os envolvidos na educação a distância, assegurando condições mínimas de trabalho que levem em conta um dos princípios fundamentais da Constituição Federal do Brasil, qual seja o que preceitua o prestígio à dignidade da pessoa humana (SILVA, 2010, p. 13).

Por meio da implantação das novas tecnologias nas relações de trabalho, segundo Araujo (2012), existem alguns questionamentos arrolados à modalidade de trabalho a distância, principalmente os concernentes ao vínculo empregatício e aos direitos trabalhistas. Com a necessidade incontestável de existir uma norma que regulasse o teletrabalho, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania aprovou, no fim de dezembro de 2010, o Projeto de Lei nº 4.505/2008 (BRASIL, 2010), de autoria do Deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB-ES), que regulamenta o trabalho

3 MINAS GERAIS. Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais. Recurso Ordinário n. 31973/09, da

2º Vara do Trabalho de Pouso Alegre, 17 de dezembro de 2010, p.201.

4 Em que pese a publicação da Lei 12.551, de 15 de dezembro de 2011, que alterou o artigo 6º da

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à distância, conceitua e disciplina as relações de teletrabalho e dá outras providências. A Lei n. 12.551/2011, ao dar nova redação ao Art. 6º da CLT, equiparou os efeitos jurídicos da subordinação jurídica exercida a distância, por meios telemáticos e informatizados, à subordinação exercida por meios pessoais e diretos de comando, controle e supervisão do trabalho alheio. O Art. 6º passou a vigorar com a seguinte

redação: “Não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do

empregador, o executado no domicílio do empregado e o realizado a distância, desde que estejam caracterizados os pressupostos da relação de emprego”.

A referida lei teve por intento adaptar a ordem jurídica às transformações do mundo do trabalho que advieram da revolução tecnológica, conforme consta na justificativa do Projeto de Lei n. 3.129, de 2004, que deu origem a Lei 12.551/2011.

O teletrabalho docente é uma questão trabalhista típica dos dias atuais e, segundo Nascimento (2008), não há conceito legal de trabalho a distância, mas, por outro lado, a expressão é usada para designar o trabalho que não é realizado no estabelecimento do empregador, e sim fora dele, portanto, com a utilização dos meios de comunicação que o avanço das técnicas modernas põe à disposição do processo produtivo, em especial de serviços. Não há rigor conceitual porque ainda está por ser feito o estudo desses meios e a forma como ele vem sendo utilizado na sociedade contemporânea5.

Para tornar-se tutor na Universidade Aberta do Brasil – UAB, segundo a Resolução CD/FNDE n° 8, de 30 de junho de 2010, Art.9 (BRASIL, 2010) são necessárias as seguintes exigências:

Tutor: profissional selecionado pelas IPES vinculadas ao Sistema UAB para o exercício das atividades típicas de tutoria, sendo exigida formação de nível superior e experiência mínima de 1 (um) ano no magistério do ensino básico ou superior, ou ter formação pós- graduada, ou estar vinculado a programa de pós-graduação. O valor da bolsa a ser concedida é de R$ 765,00 (setecentos e sessenta e cinco reais) mensais, enquanto exercer a função. Cabe às IPES determinar, nos processos seletivos de Tutoria, as atividades a serem desenvolvidas para execução dos Projetos Pedagógicos, de acordo com as especificidades das áreas e dos cursos (BRASIL, 2010, online).

5 Para saber mais sobre a questão do teletrabalho e a implantação da Lei n° 12.551/2011, indicamos a

leitura do texto: ARAUJO, L. F. A equiparação entre o teletrabalho e o trabalho exercido por meios pessoais e direitos sob a visão da Lei n°12.551/2011. Disponível em:

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O que pode se inferir é que o tutor tem que acumular diversos saberes e também o domínio do conteúdo a ser estudado nas diferentes disciplinas do curso, mesmo daquelas que não fazem parte da sua área de atuação. Deve ter o domínio das tecnologias de informação, dos softwares, ferramentas e programas utilizados, da linguagem específica para o público em questão, eficiência na correção de provas e trabalhos, visto que na EaD os prazos para o desenvolvimento das atividades são muito curtos. Desse modo, soma-se a esses novos desafios emergentes a capacidade de lidar com eles, juntamente com as velhas questões e problemas enfrentados pela classe dos profissionais da educação: baixos salários, precárias condições de trabalho e prazos apertados (SILVA, 2010).

Nessa mesma linha de raciocínio, Mattar (2012) analisa que, ao enquadrar o tutor como bolsista, ocorre a precarização do trabalho dele, porque não há o vínculo empregatício entre trabalhador e instituição. Sendo assim, não há direito à carteira assinada e consequentemente perde-se o direito as férias, seguro-desemprego, 13º salário, licença-maternidade, tratamento de saúde, dentre outros benefícios.

Percebe-se que tanto o professor quanto o tutor estão diretamente relacionados com o processo ensino-aprendizagem dos alunos. Nesse sentido é importante destacar a urgência do reconhecimento de que o trabalho realizado pelo tutor, na maioria das vezes, caracteriza-se como atividade docente, evidenciando, portanto, a necessidade de sua regulamentação.

Sendo assim, a regulamentação das relações trabalhistas desse profissional, segundo Maia (2011), viria para resguardar tanto os tutores quanto as instituições. Isto porque, ao selecioná-lo para atuar em uma Instituição de Ensino Superior – IES, há um processo seletivo exigente, que visa desde a avaliação até uma classificação com prerrogativas eliminatórias, bem como a análise curricular para verificação de formação e qualificação dele. E mesmo assim não existe uma estabilidade trabalhista para quem ingressar na função, ficando apenas por um determinado período de tempo enquanto durar o curso.

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envolvidos neste processo serem adquiridos e respeitados. Compreendemos que os estudos já levantados sobre a EaD, e principalmente sobre a tutoria, poderão ainda ganhar novas contribuições e é nesse sentido que este trabalho foi pensado.

Portanto, partimos da tese de que o trabalho do tutor sofreu profundas alterações no contexto da reestruturação produtiva. E mais ainda: que esse trabalho também sofreu importante impacto pelo avanço das tecnologias principalmente no campo da educação a distância. E com um agravante: sem o devido respaldo de regulamentação, plano de carreira e salários. Sendo assim, o resultado foi uma profunda exploração do trabalho desse trabalhador.

Contextualização e justificativa da pesquisa

Sabe-se que a escolha de um tema de pesquisa deve, de certa forma, estar comprometida com alguma contribuição a ser oferecida para o avanço do conhecimento na área de investigação, à qual o pesquisador se propôs a investigar. Significa assim dizer que não bastam as razões pessoais para justificar a escolha do tema, sendo preciso também que se tenha clara a sua relevância social.

Desse modo, a questão se coloca a partir da importância que a EaD vem assumindo no sistema educacional brasileiro, sob a tese de que o trabalho do tutor sofreu alterações no contexto da reestruturação produtiva, além de ter sofrido impactos específicos dado ao avanço das tecnologias, sem o devido respaldo de regulamentação, plano de carreira e salários, o que resultou uma evidente exploração da mão de obra trabalhadora. Sendo assim, pretende-se neste trabalho discutir questões voltadas à EaD no Brasil, com ênfase no curso de Pedagogia, oferecido na modalidade a distância pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU, bem como analisar e fundamentar a função do tutor nessa modalidade de ensino a fim de conhecer e valorar seu trabalho e principalmente problematizar as condições de trabalho vividas por esse profissional.

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Memórias da pesquisadora

Na lembrança, o passado se torna presente e se transfigura, contaminado pelo aqui e o agora. Esforço-me por recuperá-lo tal como realmente e objetivamente foi, mas não posso separar o passado do presente, e o que encontro é sempre o meu pensamento atual sobre o passado, é o presente projetado sobre o passado (SOARES,1990, p.37).

Relembrar minha história de vida, embora não possa revivê-la na íntegra, é reconstruir as experiências de outrora a partir das concepções de hoje. É misturando o olhar entre passado e presente que relato minhas memórias com vistas ao futuro.

Trazer de volta essas memórias, mais que evocar o passado, configura-se como tarefa prazerosa de situar os personagens e seus muitos fatos que contribuíram entre momentos felizes e críticos para minha constituição histórica, social, cultural e profissional. Tal formação traz como resultado a escrita de momentos da vida pessoal, os quais relatarei em primeira pessoa do singular, e momentos da vida acadêmica e profissional, que serão relatados na primeira pessoa do plural por considerar o coletivo de profissionais (professores, orientador, colegas de estudo e trabalho), que tiveram participação direta em minha produção academista.

Transcrevo minha trajetória desde minhas origens – no seio familiar e inserção escolar – até às recentes incursões profissionais que me situam como Professora de Educação Infantil na Rede Municipal da cidade de Uberlândia-MG e Supervisora de Tutoria do curso de Pedagogia a Distância da Universidade Federal de Uberlândia.

Origem: quem não sabe de onde vem não sabe para aonde vai

Mineira de nascimento e crescimento, sou a filha caçula dos meus pais, nasci na cidade de Monte Carmelo e cresci na cidade de Abadia dos Dourados, onde ainda vive a minha mãe e viveu o meu saudoso pai, falecido em 2016.

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trabalho, nas atividades de serralheria. Tais dificuldades não foram empecilho para que ele constituísse uma família e comedidamente investisse na educação dos filhos.

Aos 23 anos, casou-se com minha mãe, nona filha dentre onze filhos nascidos com vida. Meu avô e minha avó materna moravam e tiravam o sustento da família através do trabalho braçal na roça, por isso dedicaram pouca atenção ao percurso escolar dos filhos mais velhos, incluindo minha mãe, que abandonou os estudos sem terminar o atual quinto ano do Ensino Fundamental. Como meu avô materno também faleceu precocemente, para ajudar no sustento da família, minha mãe foi morar e trabalhar em uma casa de família, na cidade de Abadia dos Dourados.

Após o casamento, minha mãe dedicou-se às atividades do lar e ao crescimento dos filhos. Como não tinha condições de trabalhar fora, prestava serviços de lavadeira e passadeira de roupas para algumas pessoas, sendo todo serviço realizado em nossa casa. Meu pai, dentre tantas investidas profissionais, firmou-se com uma nova profissão. Conquistou um cargo efetivo na Prefeitura Municipal de Abadia dos Dourados, passando então a exercer a função de motorista de caminhão, profissão que exerceu até se aposentar no ano de 2007.

Ressalto que no ano de 2009, minha mãe concluiu o Ensino Médio através do Ensino Supletivo, o que foi uma enorme satisfação para ela e para os filhos também.

Resumidamente foi nesse contexto que vivi desde meu nascimento, no ano de 1981, sempre incentivada a ampliar meus horizontes por meio do estudo. Apesar de pouco estudo e baixo poder aquisitivo dos meus pais, era comum o incentivo à participação em atividades culturais, cursos extraturnos e extracurriculares, propostos pela escola.

Recordo-me, com clareza, do empenho de minha família para que eu desfilasse nas Paradas Cívicas de Sete de Setembro. Aos cinco anos de idade fui destaque na

Escola de Educação Infantil “Pingo de Gente”, tocando bumbo e marchando em longa

avenida da cidade. Considero essa uma das mais significativas experiências que tenho de acesso à escola e suas manifestações culturais.

O incentivo à participação em diversos outros cursos oportunizou-me aprender um pouquinho de bordado, dança de salão, teatro, tocar violão e fazer bombons, cuja confecção e venda me davam uma renda extra, pois os vendi durante todos os anos de estudos.

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profissionalizante de Magistério, pois já tinha certeza de que o que eu queria mesmo era ser professora.

A graduação: um novo olhar a cada dia

Assim que conclui o magistério, mudei-me para a também mineira cidade de Uberlândia, com o objetivo de fazer o curso superior de Pedagogia. Enfrentei muitas dificuldades, principalmente em relação aos conteúdos exigidos nos vestibulares. Matriculei-me em um cursinho pré-vestibular pago pelo meu irmão, já que neste momento ainda não tinha uma profissão. Foi quando notei que os conhecimentos adquiridos – enquanto aluna egressa de um curso técnico de nível médio – estavam completamente descontextualizados daquela realidade, pois praticamente todo o conteúdo que os professores passavam para os alunos, eu nunca tinha ouvido falar. Enquanto a maioria dos alunos estava apenas revendo os conteúdos, eu teria que aprendê-los e o tempo de sala de aula não me permitia tal aprendizagem, já que o tempo determinado para cada disciplina era mínimo. Confesso que fiquei desesperada, pois se eu continuasse apenas com as aulas do cursinho, não iria conseguir ingressar no sonhado curso de Pedagogia tão cedo.

Perante tais dificuldades, conversei com o diretor do cursinho e ele gentilmente permitiu que eu assistisse às aulas como ouvinte juntamente com os alunos do ensino médio. Passava a maior parte do tempo na escola: das 14 horas às 18 horas assistia às aulas do ensino médio e das 19 horas as 22h:30 às aulas do cursinho. Com essa maratona de estudos, após longas três tentativas, finalmente ingressei no ensino superior.

Em 2003 cheguei à UFU, precisamente ao curso noturno de Pedagogia da Faculdade de Educação. Toda assustada, porém determinada! Era a primeira da família a ingressar em uma universidade pública.

A escolha pela graduação em Pedagogia se deu pelas vivências no curso de Magistério. As dificuldades relatadas anteriormente – que tive em relação ao curso técnico – foram realmente as de dar continuidade aos estudos. Em contrapartida, tal curso possibilitou-me – até mesmo sem grandes dificuldades – que conseguisse uma vaga no mercado de trabalho.

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curso de magistério, uma vez que, apesar de já não ser tão valorizado naquele momento, somava pontos para a classificação no processo seletivo do concurso.

Se por um lado estudar e trabalhar reduziram as possibilidades da dedicação exclusiva ao curso, por outro viés o trabalho como educadora infantil permitiu que eu vivenciasse, ao mesmo tempo, a teoria apreendida na sala de aula e a prática no contexto escolar geral e especificamente na sala de aula.

No ano de 2012, fiz transposição de cargo, passando da categoria de educadora infantil para professora, através de um novo concurso público. Atuo em turmas da educação infantil e essa profissão me faz imensamente feliz. Reconheço, nesse nível de ensino, os caminhos e possibilidades para um fazer docente investigativo, crítico e em constante modificação, por acompanhar o ritmo das crianças e seu intenso desenvolvimento. Por isso, a graduação foi significativa na minha formação, na medida em que me ofereceu subsídios para ampliação de conhecimentos no campo da educação. Durante a graduação, no período de 2003 a 2007, tive a oportunidade de participar como pesquisadora não bolsista – já que para ser bolsista, o aluno não poderia estar trabalhando – do Projeto de Iniciação Científica denominado “A reestruturação produtiva no mundo do trabalho: as lógicas conexionistas da escola e do mercado de

trabalho”, coordenado pelo professor Doutor Robson Luiz de França. Nesse estudo

foram analisadas as mudanças ocorridas no mundo do trabalho, bem como a questão da formação do trabalhador no Brasil no período de 1996 a 2005.

A iniciação científica foi fundamental para minha formação enquanto aluna da UFU, devido ao grau de conhecimento e relacionamento que nos são favoráveis na condição de aluno.

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Mestrado: exercício pessoal de encontro profissional

A intenção de dar continuidade a minha formação educacional, no ano de 2007, levou-me a participar, pela primeira vez, do processo seletivo do Programa de Pós- Graduação em Educação em nível de Mestrado, vinculado a Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia – Faced/UFU. Fui aprovada em todas as etapas eliminatórias e classificatórias.

Desse modo, em março de 2008, iniciei as atividades acadêmicas do Curso de Mestrado, conciliando-o, no primeiro ano, com as atividades do curso de especialização, já que optei por não abandoná-lo. Fui aluna bolsista do mestrado e como tive que pedir licença do meu trabalho foi possível conciliar os dois cursos sem grandes dificuldades.

Em 20 de agosto do ano de 2009, realizamos o exame de qualificação, um momento decisivo no andamento da pesquisa, que ganhou motivação e um rumo mais definido. Foram as críticas e sugestões dos professores, sempre construtivas, que trouxeram a qualidade final do trabalho. Foi uma fase fundamental para mim, enquanto pesquisadora, mesmo ressaltando que se trata de um momento de receio pelo qual atravessa o aluno da qualificação. Assim, em 4 de março, defendi a dissertação de Mestrado intitulada: Educação, Trabalho e Formação do Trabalhador de Nível Técnico: Políticas Públicas sobre Educação Profissional em Uberlândia – MG.

Posso dizer que o Mestrado foi um período de aprendizagem intensa. A equipe de professores, sempre questionadora, fazia questão de articular situações que me permitiam construir e desconstruir as certezas, gerando dúvidas que me faziam buscar respostas para os questionamentos que eram apresentados. A conclusão foi positiva: a excelência e comprometimento do corpo docente do curso refletiram na qualidade das atividades realizadas.

Enquanto aluna, tive a oportunidade de participar de vários congressos nacionais e internacionais, simpósios e afins. Na maioria dos eventos, apresentei trabalhos e consequentemente os tive publicados em anais. No ano de 2010, tive a oportunidade de

publicar um artigo intitulado “Trajetória política e social da educação profissional no

Brasil”, no livro “Inovação Pedagógica na Educação Brasileira: Desafios e

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Doutorado: perspectivas de estudo e pesquisa

As intenções e os motivos que me conduziram a esta proposta de tese não se manifestaram da noite para o dia e sim construídos a partir da minha própria vivência. Ter atuado como tutora virtual e atualmente como supervisora de tutoria do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – Pafor, no curso de Pedagogia a Distância da UFU, proporcionou-me a oportunidade de usá-lo como objeto desta investigação.

Percebi que o tutor possui relevância no contexto da EaD, mas sem a valorização profissional tanto no que se refere à carreira e remuneração quanto ao reconhecimento social. Na verdade o que nos parece ocorrer é a exploração do trabalho desse profissional, no sentido de ser apenas um personagem de apoio, quando na verdade pode ser considerado como fundamental no processo de efetivação da educação a distância.

Tenho como características pessoais, a atração pela inovação e pelos desafios instigantes que me levam a aprender coisas novas. Quando me deparei com a oportunidade de atuar no curso, não hesitei e a abracei decididamente. A trajetória como tutora e supervisora na EaD tem me propiciado uma experiência positiva em termos profissionais, levando-me assim a atualizar meus conhecimentos na área estudada.

Meu ingresso na tutoria iniciou-se em agosto do ano de 20116 e fiquei apenas

quatro meses nessa função, pois fui convidada, pela coordenação do curso, para assumir a função de supervisora de tutoria.

A experiência como tutora a distância

A experiência como tutora, apesar de ter sido por pouco tempo, colocou-me diante de algumas dificuldades e também de alegrias imensuráveis. Inicialmente, o desafio foi realizar, com destreza, as atividades7 sob minha responsabilidade no

6 O processo seletivo para a contratação de tutores aconteceu em duas etapas. A primeira foi a análise de

currículo, o qual o candidato teria que ter graduação em Pedagogia e especialização em áreas afins. A segunda etapa foi o curso de formação com duração de 30 dias; ao final do curso, o candidato teria que ter uma nota com média de 70 por cento para ser aprovado.

7 Neste momento não destacarei quais são as atividades realizadas pelo tutor, pois elas serão descritas e

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Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA8, tecnologia que é bem organizada no curso

de Pedagogia, inclusive com o emprego de diversas ferramentas para serem utilizadas no processo de ensino-aprendizagem dos alunos. O que é importante ressaltar nesse sentido, é que o próprio curso de preparação de tutores não foi tão eficiente quanto ao emprego dessas ferramentas. Eu sabia o que deveria fazer, mas não sabia como já que não tinha experiência em EaD, diferentemente das colegas tutoras que estavam trabalhando comigo.

Outra dificuldade foi conciliar minha vida profissional e social com as atividades de tutoria. Muito se fala em flexibilidade na EaD, principalmente no que se refere aos espaços e tempos dessa modalidade de ensino, mas não é bem assim. Há uma sobrecarga muito grande de trabalho devido ao excesso de atividades a serem realizadas em um espaço de tempo que ultrapassa, e muito, as 20 horas semanais obrigatórias que temos de cumprir. Isso acarreta uma jornada de trabalho excessiva, que acaba por comprometer nossos finais de semana, lazer e convívio familiar.

Com a ajuda de uma colega de trabalho, que já tinha experiência como tutora na EaD e com a prática das tarefas do dia a dia, logo essas dificuldades foram sanadas, o que melhorou bastante meu desempenho e comunicação com os alunos.

Apesar das dificuldades enfrentadas, foi muito prazeroso trabalhar com os estudantes da turma de Patos de Minas – 2. Posso dizer que me senti uma professora de verdade, apesar de ter que conciliar várias atividades diárias, procurava sempre estudar o material das disciplinas com antecedência para auxiliar os alunos na realização das tarefas, bem como sanar suas dúvidas. Foi muito bom rever todos aqueles conteúdos que fizeram parte da minha formação no curso de Pedagogia. Confesso que já estavam um pouco esquecidos na minha memória, já que havia concluído a graduação no ano de 2007. No entanto, bastava uma lida no material didático elaborado com muito cuidado pelos professores formadores do curso e os conteúdos eram logo relembrados. Dessa forma, recordei de minhas experiências enquanto aluna, aumentando assim meu conhecimento e ao mesmo tempo dar suporte e contribuir na formação daqueles alunos, que se mostravam tão entusiasmados e motivados pela busca de novos conhecimentos e

8 A expressão “Ambiente Virtual de Aprendizagem” está relacionada a sistemas computacionais,

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principalmente de uma formação superior.

A experiência como tutora me fez revisitar e reconstruir minha concepção a respeito do que é ser professora. Ao atuar como tutora a distância na UAB, continuei minha formação docente, participando dos seminários, cursos, palestras, reuniões com tutores e reuniões com professor-formador, momento em que podia discutir, estudar e rever minhas concepções a respeito de diversos temas que envolvem a atuação do professor e do tutor, independentemente do ambiente de aprendizagem.

Passaram-se quatro meses e fui convidada a assumir a supervisão de tutoria do curso e para isso tive que deixar a tutoria. Confesso que fiquei apreensiva e com certo medo de deixar algo que já conhecia e de certa forma dominava, além de ter uma boa aprovação enquanto tutora por parte dos alunos, para mergulhar em algo novo e ao mesmo tempo conhecido, já que procurava, sempre que possível, ficar por dentro de tudo que acontecia no curso, além do ambiente virtual. Mesmo com tão pouco tempo de atuação com os alunos, tive um carinho muito especial por parte deles no momento da minha despedida.

Com a nova função que passei a desempenhar, a partir desse momento deixei de ter um contato direto com os alunos e passei a relacionar-me mais com as tutoras. Uso esse termo no feminino, pois nesta turma, havia somente mulheres desenvolvendo o trabalho como tutoras. Foi a partir principalmente dessa minha experiência e pela importância que a EaD assume na atualidade que este trabalho foi pensado.

Problemática da pesquisa

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A EaD anunciada pela Secretaria de Educação a Distância – SEED, segundo Neves (2010, p.2), surge como modalidade com condições de atender demandas educacionais no contexto atual e com possibilidade de realizar uma mudança no

panorama educacional, pois ela “democratiza o acesso, promove equidade, aumenta a

flexibilidade, diminui custos, per capta, favorece a autonomia de aprendizagem para a

vida, a liberdade”.

Nessa mesma linha de raciocínio, Litwin (2001) argumenta que, na sociedade atual, a EaD vem ganhando destaque, seja pela emergência das tecnologias da informação, seja pela necessidade crescente de conhecimento e formação. A pesquisadora entende que as tecnologias usadas nos cursos a distância, sozinhas não são suficientes para garantirem o sucesso do aluno no processo de ensino-aprendizagem. Ao contrário, a EaD conta com o apoio e participação do tutor, que atua juntamente com o professor no sentido de promover aprendizagens significativas, motivar os alunos a participar das atividades propostas e fomentar discussões, entre outras atitudes que visam o aprendizado mais efetivo. Nesse sentido, Maggio (2001) afirma que o papel do tutor tem-se constituído como um dos aspectos mais debatidos na EaD e é comum surgirem as dúvidas a respeito do que significa ser tutor.

Pensar nas dimensões do trabalho que vem sendo realizado pelo tutor e vislumbrar sua contribuição para o bom desenvolvimento do curso suscitam vários questionamentos, entre eles: Qual percurso de formação, qualificação e acúmulo de conhecimentos compõem o perfil do profissional que assume a tutoria nos cursos a distância? Quais os requisitos publicados em editais e como tem sido o processo de seleção desses tutores? Como o trabalho, as atribuições do tutor são exigidas? Como está dimensionado o trabalho do professor e do tutor nos cursos à distância? Como, quando e por quem o trabalho do tutor será avaliado? À qual categorização profissional, trabalhista o tutor está associado?

Acreditamos que tais questões, somadas aos estudos já existentes, delineiam a possibilidade de novas compilações de dados, discutindo trabalho e, de modo específico, o trabalho do tutor, reconfigurando o cenário nacional e registrando-se, assim, indícios das peculiaridades trabalhistas e docentes que compõem a estrutura organizacional e institucional de um curso a distância.

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regulamentação, plano de carreira e salários, fica clara a exploração da força de trabalho desse trabalhador. É importante destacar que esse profissional, que era considerado como apenas uma figura de apoio ao trabalho do professor, atualmente, como nossos estudos buscaram demonstrar, criou importância fundamental no processo, mas sem a valorização de carreira e de salário, assim como sem o amparo de qualquer regulamentação profissional. Por este, fica clara a exploração dessa categoria pelo capital. Por um lado, esse trabalhador acumulou diversas atribuições muito além das configurações tradicionais e, por outro, a exploração dessa mão de obra revela-se na necessidade de aumento de lucratividade no campo da educação a distância.

Situar o trabalho do tutor como temática central desta proposta de tese resulta do acúmulo de experiências profissionais disponibilizadas a uma considerável parcela de docentes no cenário brasileiro. Para além do trabalho nas instituições de ensino formal, o professor tem descortinado outras possibilidades profissionais, ampliando territórios de atuação e dando origem a novas configurações trabalhistas no mercado.

Após percorrer trajetória profissional semelhante ao esboço acima, nos sentimos motivados em investigar as dimensões do trabalho tutorial que ora desenvolvemos e vislumbramos junto a Linha de Pesquisa Trabalho, Sociedade e Educação, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia, o lócus adequado para a materialização desta investigação e elaboração de novos conhecimentos.

Nesse sentido, devido à relevância do trabalho desempenhado pelo tutor no cenário da EaD, interessa-nos, dentre outros aspectos, analisar e discutir sobre a importância e a especificidade do trabalho do tutor no curso de Pedagogia a distância, oferecido pela UFU, uma vez que a função dele torna-se um elemento essencial para o próprio sucesso.

Objetivos

Objetivo Geral

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Objetivos Específicos

– Apresentar as principais mudanças no mundo do trabalho a partir da sua reestruturação ocorrida nos anos 1990.

–Apresentar o contexto histórico e de implementação da Universidade Aberta do Brasil bem como sua influência na EaD nas Universidades Públicas Federais de Ensino e Privadas.

–Discutir o significado do trabalho do tutor no contexto da reestruturação produtiva do mundo do trabalho e os impactos das Tecnologias de Informação e Comunicação.

–Identificar e caracterizar o perfil do tutor e as especificidades do seu trabalho.

– Descrever os conhecimentos, o papel e as competências exigidas do tutor da EaD. Problematizar as condições de trabalho desse profissional.

Metodologia

Com base em Schwandt (1997), sabe-se que a investigação social é uma práxis, distintiva, um tipo de atividade (como ensino) em que o fazer transforma a mesma teoria e objetivos que os guiam. Em outras palavras,

[...] no desafio de, “nas atividades práticas”, gerar e interpretar dados,

responder perguntas sobre o significado que outros estão dando, dizer e transformar aquela compreensão em conhecimento público, a pessoa leva inevitavelmente preocupações teóricas sobre o que constitui conhecimento e como será justificado, sobre a natureza e objetivos da teoria social, e assim sucessivamente. Em suma, agindo e pensando, prática e teoria são unidas em um processo contínuo de reflexão critica e transformação (SCHWANDT, 1997, p.198, grifo do autor).

1.4.1 Bases teórico-metodológicas da pesquisa

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34

colocaram pela primeira vez, em sua obra A ideologia alemã (1845-46), as bases do materialismo histórico. Nela criticam os jovens Hegelianos e Feuerbach, que acham

ainda que a história era resultado das ideologias e da presença dos “heróis”, ao invés de

buscar nas formações socioeconômicas e nas relações de produção os fundamentos verdadeiros das sociedades. O materialismo histórico ressalta a força das ideias, capaz de introduzir mudanças nas bases econômicas que as originou. 1987.

Tal escolha deve-se ao fato de que essa concepção filosófica nos dará a oportunidade de desenvolver nossas investigações acerca da temática humana a partir do movimento imanente da história como produto das relações entre os homens em um dado estágio da produção de sua vida material. Assim, este trabalho investigativo pretende conhecer seu objeto a partir de sua concretude histórica e material.

[...] até as categorias mais abstratas, precisamente por causa de sua natureza abstrata, apesar de sua validade para todas as épocas, são, contudo, na determinidade dessa abstração, igualmente produto de condições históricas e não possuem plena validez senão para essas condições e dentro dos limites destas (MARX, 1999, p.43).

Assim sendo, segundo Mondolfo (1967), não se trata de um método materialista e sim de um verdadeiro humanismo, que coloca no centro de toda a discussão, o conceito de homem. Além disso, considera-o dentro de sua realidade efetiva e concreta, no intuito de compreender a existência dele na história, a qual é compreendida como realidade produzida pelo homem, por meio de seu trabalho e de sua inserção social no processo de formação e transformação do ambiente no qual se vive.

Para Marx, só importa uma coisa: descobrir a lei do fenômeno de cuja investigação ele se ocupa. E para ele é importante não só a lei que os rege, à medida que eles têm forma definida e estão numa relação que pode ser observada em determinado período de tempo. Para ele o mais importante é a lei de sua modificação, de seu desenvolvimento, isto é, transição de uma forma para outra, de uma ordem de relações para outra. Uma vez descoberta essa lei, ele examina detalhadamente as conseqüências [sic] por meio das quais ela se manifesta na vida social [...]. Por isso, Marx só se preocupa com uma coisa: provar mediante escrupulosa pesquisa cientifica a necessidade de determinados ordenamentos de relações sociais e, tanto quanto possível, constatar de modo irrepreensível os fatos que lhes servem de ponto de partida e de apoio (FRIGOTTO, 2010, p.86).

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com esse autor, há um tríplice movimento: de crítica, de construção do conhecimento novo e da nova síntese no plano do conhecimento e da ação.

Enquanto método de investigação é na prática que os homens devem demonstrar a veracidade do pensamento, pois o critério de verdade da teoria está no seu caráter prático. Dessa forma, o conhecimento produzido através da compreensão da totalidade do fenômeno investigado deve apresentar elementos que contribuam para a compreensão e intervenção no real, efetivando, assim, o seu caráter prático.

De modo geral concorda-se com esse pensamento, pois é através da articulação entre reflexão teórica e inserções empíricas que se é capaz de recolher a matéria em suas múltiplas dimensões. De outro modo, enquanto práxis, o materialismo histórico dialético assume o pressuposto que a teoria é indissociável da prática, instaura-se como movimento crítico de desenvolvimento de conhecimento crítico que visa à alteração e transformação da realidade investigada, tanto no plano do conhecimento quanto no plano histórico-social. Dessa forma, a reflexão teórica sobre a pseudoconcreticidade investigada deve gerar ação transformadora. De fatos empíricos e reais a leis fundamentais, ao concreto de fato. Nessa ótica, a práxis é ação refletida e, assim, critério de verdade.

Gamboa (2010) corrobora nesse raciocínio ao afirmar que o conhecimento científico não é inócuo a uma determinada visão da realidade, com isso um método investigativo de pesquisa também não o é. No campo acadêmico, a escolha de um método de análise não se justifica por si só, pois mantém uma estreita relação com a visão de mundo que possuímos, assim sendo, escolher um método, significa optar por uma determinada classe social e os interesses dela.

Contudo, a escolha pela concepção do materialismo histórico dialético, enquanto método de análise, significa a compreensão por parte do pesquisador que a realidade não se apresenta finalizada e sim em transformação. Os métodos de pesquisa são determinados por diferentes concepções da realidade e de sujeito e, por isso, não se explicam por si só, nem são isolados dos contextos cognitivos, nem são abstrações e nem são neutros.

O método de análise, na perspectiva dialética materialista, não se

constitui na ferramenta asséptica, uma espécie “de metrologia” dos

fenômenos sociais, que aqui denomino de metafísica é tomada como

garantia da “cientificidade, da objetividade e da neutralidade”. Na

Imagem

TABELA 1: A Educação a Distância no Brasil: iniciativas pioneiras de 1923 a 1941 .
GRÁFICO 2: Evolução da matrícula na educação superior por modalidade de ensino –  Brasil 2003-2014
GRÁFICO 3: Instituições que apresentaram aumento de matrículas, por categoria  administrativa (%)
GRÁFICO 5: Motivos de evasão, por tipo de curso. 35
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Referências

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