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2.4 Acordos da Basiléia

2.4.1 Basiléia I

O acordo da Basiléia I, oficialmente denominado International Convergence of Capital

Measurement and Capital Standards, foi firmado pelo grupo dos 10 maiores países

desenvolvidos (G10) e por iniciativa do Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia19 – subordinado ao BIS - em julho de 1988, após 14 anos de negociação, tendo sofrido 5 alterações até abril de 1998. Ele teve como principal objetivo reforçar a confiabilidade e estabilidade do sistema financeiro internacional por meio da introdução de um padrão uniforme para cálculo do capital regulatório mínimo requerido para os bancos internacionalmente ativos.

19 O Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia (BCBS) possui representantes seniores das autoridades de supervisão bancária e dos bancos centrais da Bélgica, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Luxemburgo, Holanda, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos. Apesar de sua secretaria localizar-se no prédio do Banco para Compensações Internacionais (BIS), o BCBS é formalmente independente do BIS.

Apesar de ter sido lançado em 1988, o Basiléia I foi implementado a partir de 1992. O foco principal desse acordo foi a ponderação dos ativos de acordo com o risco de não cumprimento das obrigações de uma contraparte, ou seja, o risco de crédito. Assim sendo, o acordo da Basiléia I foi constituído sobre um único pilar padrão de controle de risco de crédito que era padronizado, simplista e restrito.

O acordo de Basiléia I (BASIL I, 1998) definiu os seguintes principais conceitos:

 Patrimônio Líquido Ajustado (PLA): Para padronizar o conceito de capital próprio dos bancos, o acordo estabeleceu o que pode ser considerado como componente do capital. A soma desses componentes ficou conhecida como PLA, sendo composto pelas contas:

2 Nível 1

Nível

PLA 

o Nível 1: representado pelo capital social, reservas de capital, reservas de lucros (excluídas as reservas para contingências e as reservas especiais de lucros relativas a dividendos obrigatórios não distribuídos) e lucros ou prejuízos acumulados ajustados pelo valor líquido entre receitas e despesas, deduzidos os valores referentes a ações em tesouraria, ações preferenciais cumulativas e ações preferenciais resgatáveis.

o Nível 2: representado pelas reservas de reavaliação, reservas para contingências, reservas especiais de lucros relativas a dividendos obrigatórios não distribuídos, ações preferenciais cumulativas, ações preferenciais resgatáveis, dívidas subordinadas20 e instrumentos híbridos de capital e dívida21.

 Patrimônio Líquido Exigido (PLE): Pelo acordo, o PLE de qualquer banco pode ser determinado pela multiplicação do inverso da alavancagem pelo total do ativo ponderado pelo risco. Em termos matemáticos, pode-se expressar o acordo da Basiléia I pela função:

20 Dívidas subordinadas elegíveis a capital são aquelas não cobertas por garantias reais ou flutuantes e que são destinadas à captação de recursos financeiros para capitalização do banco, fazendo parte do seu patrimônio de referência (PR) – Exemplos: Certificado de Deposito Bancário (CDB), debêntures e outros títulos subordinados. 21 Os instrumentos híbridos são títulos que possuem, ao mesmo tempo, características de dívidas e de capital próprio. No caso dos USA, citam-se, como exemplo, as ações preferenciais que possuem uma remuneração fixa e, às vezes, não têm direito a voto. Todavia, ainda se caracterizam como capital próprio devido à sua maturidade, ordem de senioridade e outras características. No caso de liquidação, geralmente, elas estão subordinadas a todas as dívidas, porém, estão acima das ações ordinárias.

Inversodaalavancagemx Ativox Fatordeponderaçãoderisco PLE

o Inverso da alavancagem: Mostra a relação entre o inverso do capital (soma dos níveis 1 e 2) e ativo total que o banco deve manter. Se a alavancagem for definida em 12,5, o inverso será 0,08 (1/12,5) – essa razão mostra a relação entre capital e ativo que o banco deve manter. Se ela for definida em 8%, tem-se que, para cada 100 de ativos, o banco necessita manter 8 de capital. Em outras palavras, o capital do banco sustenta 8% do total do ativo, sendo o restante, 92%, financiado pela dívida – fundos de depositantes e outros credores.

o Fator de ponderação de risco dos ativos: a exposição ao risco de crédito dos ativos é ponderada por diferentes pesos estabelecidos, que variavam entre 0% e 100%.

Assim sendo, o volume adequado do capital dos bancos seria dado quando o montante do PLA fosse maior ou igual ao PLE, ou seja, se PLA  PLE.

De forma resumida, tem-se que o acordo estabeleceu parâmetros mínimos para a adequação do capital dos bancos, com base nos ativos que eram divididos subjetivamente em diferentes graus de risco, que variavam entre 0% e 100%, conforme apresentado no Quadro 2:

Quadro 2 – Fatores de ponderação de risco dos ativos segundo o Basiléia I Fator de

ponderação

de risco Operações Descrição

0% Caixa e títulos de governos

que pertencem à OCDE22 Refere-se, essencialmente, a reservas nos bancos centrais 20% Interbancárias que

pertencem à OCDE Esse tipo de empréstimo tem baixa ponderação de risco, devido ao baixo número de falências de instituições financeiras que faziam parte da OCDE na época

50% Hipotecas Sua baixa ponderação de risco deve-se ao fato de a garantia imobiliária permitir uma boa recuperação no momento do inadimplemento

100% Empréstimos Todos os demais ativos foram ponderados a 100%, não importando seu vencimento ou grau de inadimplemento FONTE: DERMINE, 2010, p. 210

22 A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma organização internacional formada por 31 países que aceitam os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado. Os membros da OCDE são economias de alta renda com um alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e são considerados países desenvolvidos.

A partir disso, estabeleceu-se um coeficiente de padrão mínimo de 8%23 entre o patrimônio líquido e esses ativos ponderados pelo risco, ou seja, passou a ser exigido dos bancos um volume mínimo de capital próprio de seus acionistas nas operações para, no caso de quebra, proteger recursos de depositantes e de outros credores.

8% risco pelo ponderados Ativos 2) nível 1 (nível Capital PLE  

No Brasil, a adesão ao acordo ocorreu, apenas, após o Plano Real, em 1994, por meio da resolução nº 2.099/94 do Bacen. A mesma definiu o capital regulatório como sendo o PLE. Assim sendo, as instituições autorizadas a operar no mercado brasileiro pelo Bacen deveriam constituir seu PLE, inicialmente, com um índice mínimo de 8% de capital multiplicado pelos fatores de ponderação de risco de seus ativos.

Conforme observado no Quadro 3, os fatores de ponderação de risco – que variavam entre 0%, 20%, 50% e 100% - eram diretamente atribuídos a cada conta do Cosif, não considerando outros aspectos como prazos, taxas etc..

Quadro 3 – Exemplo de fatores de ponderação de risco dos ativos por conta do Cosif Fator de

ponderação de risco

Conta Cosif Descrição

0% 1.1.1.00.00-9 Caixa Valores em moeda corrente

20% 1.1.2.00.00-2 Depósitos Bancários Depósitos bancários de livre movimentação mantidos em bancos

50% 1.2.1.10.25-6 Certificados de Depósito Bancário Aplicações em operações compromissadas com recursos próprios - posição bancada – títulos estaduais e municipais e de instituições financeiras

100% 1.2.1.10.65-8 Debêntures Aplicações em operações compromissadas com recursos próprios - posição bancada - debêntures e outros títulos

FONTE: RESOLUÇÃO nº 2.099, 2004

Por sua vez, a apuração do PLA foi definida pela resolução nº 2.543/98 do Bacen, em que:

 Nível 1: Representado pelo capital social, reservas de capital, reservas de lucros (excluídas as reservas para contingências e as reservas especiais de lucros relativas a dividendos obrigatórios não distribuídos) e lucros ou prejuízos acumulados ajustados pelo

23 Segundo Dermine (2010), a razão de capital de 8% é o resultado do desfecho de uma negociação entre os bancos centrais que participaram da elaboração do acordo.

valor líquido entre receitas e despesas, deduzidos os valores referentes a ações em tesouraria, ações preferenciais cumulativas e ações preferenciais resgatáveis.

 Nível 2: Representado pelas reservas de reavaliação, reservas para contingências, reservas especiais de lucros relativas a dividendos obrigatórios não distribuídos, ações preferenciais cumulativas, ações preferenciais resgatáveis, dívidas subordinadas e instrumentos híbridos de capital e dívida.

No entanto, desde a publicação da resolução nº 2.099/94, ocorreram várias alterações no cálculo do PLE. A partir de junho de 1997, o PLE passou de 8% para 10% e depois para 11%. Em 1999, o Bacen incluiu no cálculo do capital próprio o risco de exposição cambial e complementou com o risco de variações bruscas nas taxas de juros.

Para fins de harmonização dos conceitos sobre o termo capital – ou capital próprio ou patrimônio líquido - tratados neste trabalho, o Quadro 4 apresenta uma síntese deles.

Quadro 4 – Harmonização dos conceitos de capital próprio – patrimônio líquido

Finanças corporativas Cosif24 Basiléia – Res. Bacen 2.543/98

Capital social 6.1.1.00.00-4 capital social

Ações ordinárias 6.1.1.10.13-5 ações ordinárias país – Nível 1 Ações preferenciais não

cumulativas e não resgatáveis

6.1.1.10.16-6 ações preferenciais não cumulativas e não

resgatáveis – país Nível 1

Ações preferenciais

cumulativas e resgatáveis Demais ações preferenciais - país Nível 2 Reservas de capital 6.1.3.00.00-0 reservas de capital Nível 1 Reservas para reavaliação 6.1.4.00.00-3 reavaliação reservas de Nível 2 Reservas de lucros 6.1.5.00.00-6 reservas de lucros

Reserva legal 6.1.5.10.00-3 reserva legal Nível 1 Reservas estatutárias 6.1.5.20.00-0 estatutárias reservas Nível 1 Reservas para contingências 6.1.5.30.00-7 contingências reservas para Nível 2 Reservas para expansão 6.1.5.40.00-4 expansão reservas para Nível 1 Reservas de lucros a realizar 6.1.5.50.00-1 reservas de lucros a realizar Nível 1 Reservas especiais de lucros 6.1.5.80.00-2 reservas especiais de lucros Nível 2 Lucros/prejuízos acumulados 6.1.8.00.00-5 lucros ou prejuízos acumulados Nível 1

24 As contas apresentadas no Quadro 2 são apenas exemplificativas. O Cosif apresenta várias outras contas para cada característica específica das operações relacionadas aos conceitos dos níveis 1 e 2 dos acordos da Basiléia.